Capítulo 1: O Convite
Quantidade de palavras: 920
Era uma noite pesada com flocos de neve bailando com os ventos furiosos. No chão o tapete de neve se estendia, as copas dos pinheiros estavam brancos, todo o entorno era como um grande ponto sem cor.
No centro do cenário alvo, havia um castelo antigo feito de pedra escura, cujas torres, de telhados pretos, pareciam dedos de unhas finas apontando para o céu. No pátio de entrada não havia agitação de criados, tudo estava vazio, como se o local tivesse sido abandonado. Embora ainda houvesse uma criada.
Era Lenuta, a empregada mais antiga do lugar — sua aparência era jovial e bela, como uma flor recém-desabrochada, mesmo sendo tão velha quanto aquele castelo. Ela carregava uma carta numa bandeja de prata, os saltos de suas botas ecoavam pelos corredores vazios, a barra de sua saia varria o chão, que se encontrava impecável. O mármore preto era lustroso e refletia a luz das tochas fixadas nas arandelas nas paredes.
A criada parou perante um homem sentado numa poltrona de veludo roxo escuro, ele tinha um livro em sua mão direita e na esquerda uma taça de cristal com bordas em ouro.
– Uma carta da Madame Louise de La Vallière. – a voz da mulher era fria como o inverno.
O homem se mexeu, levando a taça de sua mão esquerda em direção à mesa de madeira. O líquido vermelho escuro ondulou, pesado, como se fosse mais denso do que um vinho comum. Enquanto o livro, em sua mão direita, foi fechado silenciosamente. Ele pegou a carta e a abriu num movimento.
" Caro Ivantie,
Há quantos anos (ou deveria dizer séculos?) não nos encontramos? Na minha mente, parece que foi ontem — dias ou anos são borrões que pouco considero. No entanto, sempre darei importância a uma boa amizade. E como tal, sinto-me no dever de conduzir meu bom amigo recluso rumo à diversão dos novos tempos. Está na hora de sair da sua caverna, meu camarada, e se divertir um pouco. Venha me ver, estou em Paris, na França e logo haverá a festa dos prazeres da ilha encantada, eu serei a 'rainha' mascarada e espero que venha comemorar a vida e o amor comigo. Estou apaixonada, Ivan.
Amorosamente, Louise de La Vallière.
P.S: O convite é para ser usado, Ivan. Não me faça ir aí, lançar um feitiço em você. Sabes do que sou capaz."
Ivantie apenas suspirou, festas ou qualquer lugar agitado não lhe apetecia.
Ele encarou o convite, uma festa dos prazeres da ilha encantada no Palácio de Versalhes, patrocinada pelo próprio Rei Luís XIV. Aquele monarca já levantava fofoca e histórias em seu entorno, seria um dos grandes nomes que a história não esqueceria? Ivan não saberia dizer, embora tivesse a certeza que se tratava de mais um humano rico e ambicioso, isso não era indicativo que seria bom.
Seus cabelos escuros sacudiram quando uma janela se abriu devido às forças dos ventos, a nevasca ficaria mais pesada de acordo com que a noite avançava. Era um clima divertido para começar uma viagem.
Olhos cinza, como prata, cintilavam de excitação. Dedos ágeis dobravam a carta, a colocando de lado sobre a mesa. A taça foi levantada, seu conteúdo denso sorvido num gole. Lábios vermelhos se arqueavam num meio sorriso.
– Sele os cavalos, partiremos essa noite.
Ivan e Lenuta avançavam pela estrada de cascalho, no horizonte uma imensa construção se mostrava em seus contornos brancos e seus detalhes em ouro, que refletiam a claridade solar. Os portões dourados pareciam guardar em seu seio um deus, que, após descer dos céus, resolveu residir entre humanos. Havia guardas nos portões, a entrada e saída de visitantes, sendo nobres ou plebeus, deixavam o lugar com ares alvoroçados.
Os viajantes foram parados pelos guardas, mas assim que suas identidades foram confirmadas, como convidados de Madame Louise, puderam entrar nas dependências do palácio. Contingentes de humanos passaram por eles, eram dançarinos e cantores que eram conduzidos por serviçais em direção ao interior da construção. Todos pareciam em frenesi, correndo de um lado a outro, levando flores, ou madeira em direção ao jardim.
O que Ivan mais odiava, além de sair de casa, era estar no mesmo local que uma multidão. Um certo incômodo cutucou suas entranhas, suas mãos apertaram os arreios do cavalo. Ele hesitava em descer do animal, talvez tenha sido uma péssima ideia ir até ali. Sentiu o olhar de Lenuta, ela mais que ninguém sabia da fobia social de seu senhor e também conhecia como havia piorado após a morte de sua senhora.
– Podemos ir para o casarão em Paris, já está comprado de qualquer jeito e assim, voltamos mais tarde. Ou podemos ir embora, se assim o desejar.
– Não, vim ver uma amiga e assim o farei.
Ivan desceu do corcel, sua capa preta raspou o chão empoeirado.
Um servo se aproximou, era um cavalariço em roupas surradas, ele mancava ao andar, mas era pouco importante visto sua aparência. Era um homem belo de não mais que 1,65m, tinha um par de olhos azuis-celestes hipnotizantes, capazes de confundir a mente de qualquer um, e não foi diferente com Ivan. Ele piscou aturdido, aquela cor o lembrava de sua falecida esposa, encanto deu espaço a tristeza. Desviou o olhar, perdendo a face de espanto e surpresa do plebeu.
– Não é possível! Ele realmente existe?– murmurou o plebeu para ninguém em especial, sua mão apertou a gola da própria camisa de linho surrada, espanto dando lugar a uma sutil felicidade.
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