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Preocupações...
Spencer estava zangado consigo mesmo. Quer dizer, o que aquela garota brasileira tinha que despertava o pior e o melhor nele, a um só tempo? Não podia estar interessado nela. Não, com tanta garota maravilhosa no seu próprio país... O que ele tinha que procurar sarna pra se coçar no terceiro mundo? Uma latina, ainda por cima!
Certo, ele estava sendo preconceituoso. Mas, e daí, a garota nem sabia sambar! Ainda se fosse uma autêntica brasileira... Sabe, daquelas dispostas a tudo...
"Caramba, Spencer! Você está sendo preconceituoso em dobro".
-E aí, cara! - Salésio apareceu do nada, trazendo a própria prancha de surf. Spencer tinha que reconhecer que o cara era um surfista de primeira.
Pelo que soube, o brasileiro estava de férias e quando deixava de lado a pose de comandante dos Atobás, era um sujeito muito diferente... Um cara relaxado e fácil de conviver.
-Vamos atacar aquelas ondas? - ele perguntou, apontando para o mar.
Os dois correram, furando as ondas, atirando-se, remando com os braços, vencendo a corrente além da rebentação, até o ponto onde só havia paz... Eles se deixaram embalar pelas correntes aparentemente mansas, ouvindo os gritos das gaivotas.
"Cara, como eu amo o mar", Spencer pensou, contemplando a praia e os prédios atrás de si. Eles viraram as pranchas e esperaram.
Spencer olhou para seu parceiro de surf. Salésio lhe pareceu um pouco incomodado. Se havia uma coisa que Spencer aprendeu como tempo, era ler os companheiros de profissão, fosse de que país fosse.
-O que tá pegando? - perguntou.
Salésio não respondeu de imediato. Continuou contemplando o quebrar das ondas mais adiante, vigiando o momento em que a onda ideal apareceria. Spencer pensou que ele não iria responder, mas, inesperadamente, o brasileiro disse:
-Cara, eu sei que você tá de olho na Gislaine.
Por essa, Spencer não esperava.
-Eu não...
-Relaxa - Salésio gesticulou, de leve. - Não foram muitas as pessoas que perceberam os fogos de artifício estourando, toda a vez que vocês dois chegam perto um do outro.
Ele estava ironizando?
-Ainda não sei se vocês querem se esganar mutuamente ou se querem ir para cama. Além do mais... – Salésio sacudiu a cabeça, sorrindo. - Não é da minha conta. Só não cometa o mesmo erro que eu.
Spencer franziu a testa.
-Eu tô de olho numa mina... – prosseguiu Salésio, explicando a seguir: - Alexandra, amiga da esposa do meu comandante.
Spencer esperou.
-Temos um lance complicado. - Salésio meneou a cabeça, pensativo.
Spencer riu. - E quando não é complicado?
Salésio riu também.
-A gente conversa pela internet. Ficamos juntos quando ela está de férias... - Ele se calou.
Spencer esperou.
Como não veio nenhum comentário, perguntou:
-E...?
-E ela ficou subitamente fora do ar... Acho que tem a ver com o irmão, que não deu mais notícias. Ele está no Iêmen.
Spencer lançou-lhe um olhar significativo.
-Pois é... - Salésio encolheu os ombros. - Aleka disse que viria para o casamento, mas até agora nada. Nem atende o celular. Mas se eu não receber notícias nos próximos dias, vou ter que cobrar alguns favores.
-Entendo. O que eu puder fazer para ajudar, é só dizer, bro.
-Valeu - ele estendeu o punho fechado numa saudação, que Spencer retribuiu.
-É só dizer – repetiu.
Uma sucessão de vagas boas se formou, ondulando sob as pranchas. O tempo de conversa acabou. Eles começaram a remar para aproveitar as ondas, em meio ao crepúsculo do litoral leste.
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