prólogo
(prólogo)
As flores brancas ao redor do caixão contrastavam com o ar sombrio que os cercava. A garota sentava no banco da frente, olhando para a foto sorridente à sua frente.
Johnny notou que pouquíssimas pessoas caminhavam até o caixão e prestavam suas homenagens, davam à garota palavras gentis e reconfortantes e iam embora. De vez em quando, Johnny também notava como ela inclinava a cabeça para a frente e como seus ombros tremiam, enquanto ela tentava ao máximo se manter forte ao ser observada pelas pessoas que Tommy conheceu durante sua vida.
Mesmo que fossem muito poucas.
O Lawrence se lembrava de quando Tommy recebeu a notícia de que seu pai havia morrido durante o serviço militar e de como Kristen Cooper ficou abatida nos meses que se seguiram à sua morte. Tommy não era muito diferente. O que Johnny não sabia era que, dez anos após a formatura, a mulher também viria a falecer, deixando Tommy completamente sozinho.
Ele não tinha certeza de quando eles perderam o contato durante esse período, mas podia supor que isso se devia ao fato de que ele não se importava com as pessoas ao seu redor durante os vinte e poucos anos e início dos trinta, enquanto Tommy tinha que trabalhar todos os dias para continuar vivendo.
Johnny só ficou sabendo da menina quando seus velhos amigos o chamaram para uma reunião e Tommy teve de levá-la consigo porque não tinha ninguém para cuidar dela.
Ele se lembrava de olhar confuso para a menina de quatro anos quando ele pegou a cerveja na geladeira da casa de Dutch e, quando fechou a porta, ela pediu que ele pegasse a jarra de leite com chocolate para ela. No final, ele teve que ajudá-la a colocar no copo, pois ela quase derramou tudo sobre a mesa. Tommy lançava-lhe olhares de advertência toda vez que um palavrão saía de seus lábios e, somente depois que a menina adormeceu no sofá, com o pai cobrindo o corpo dela com sua jaqueta de couro, ele chamou os outros três homens de lado para colocá-los a par da situação.
Johnny não se lembrava de tudo, é claro, mas sabia o suficiente. Ele estava namorando uma garota, ela engravidou e, quando a menina tinha apenas um ano de idade, a mulher foi embora.
Johnny odiava a semelhança com sua própria vida.
Mas ele não podia relacionar isso, porque mesmo que quisesse fazer parte da vida de seu próprio filho, ele sabia que faria merda. Então ele simplesmente desistiu. Ele nunca teria a coragem que Tommy teve de lidar com a situação da maneira que ele fez. E ele não tinha nada além de respeito por seu velho amigo.
Os anos se passaram e os quatro estavam fadados a perder contato novamente, afinal, eles tinham suas próprias vidas para cuidar, e não foi difícil para os grandes olhos castanhos e seu rosto se perderem nos rastros do tempo.
Foi só depois do telefonema de Bobby que ele percebeu que deveria ter sido um amigo melhor para Tommy.
E mesmo com tudo isso, Tommy ainda abriu seu coração para Johnny, contando sobre seus sentimentos há muito tempo perdidos por sua ex-amante, e como Tommy estava assustado e preocupado enquanto implorava para que Lawrence cuidasse de sua filha. Porque Maeve não merecia ficar sozinha - não ter ninguém quando ele também a abandonasse, mesmo que tenha se esforçado tanto para não fazê-lo.
Johnny só conseguia pensar nas lágrimas nos olhos de seu agora falecido amigo quando ele falava sobre ela.
E agora os três estavam parados a alguns metros dela, Bobby com uma carranca no rosto e Jimmy com os braços cruzados.
— Não podemos deixá-la assim, – disse Jimmy após alguns momentos de silêncio. — Não podemos deixar que ela seja mandada para um orfanato...
Bobby coçou a nuca.
— Ela não tem outra família, – continuou Bobby. A possibilidade de Jimmy ou Bobby a acolherem já havia sido mencionada na conversa, mas foi rapidamente descartada por causa de suas próprias famílias, que não teriam condições de pagar. — Posso tentar falar com um dos membros da igreja...
— Eu posso levá-la. – Johnny olhou para os dois e eles pararam por um momento.
É claro que ninguém esperava que ele, dentre todas as pessoas, oferecesse sua ajuda. Eles podem ter amado Johnny, mas também sabiam o quanto ele era inadequado para isso, principalmente porque ele nunca cuidou de seu próprio filho, e também por isso ele nunca foi uma opção.
—O quê? – Bobby perguntou enquanto trocava olhares com Dutch.
— Ela pode vir comigo, eu posso levá-la. – Johnny tentou novamente, e Bobby suspirou.
— Johnny, eu não acho que...
— Não é pra achar nada! Você disse que ela não tinha família, ela não pode ir para o orfanato, você não pode acolhê-la, eu estou oferecendo, – ele listou, com a mão na frente deles enquanto contava os dedos. — Vocês dois discutiram isso entre si, por que eu não era uma opção?
— Temos muitas razões para isso, e a primeira delas está listada mais de uma vez na delegacia de polícia, – respondeu Jimmy, e as sobrancelhas de Johnny se juntaram enquanto suas mãos caíam ao lado do corpo.
— Olha, eu sei que não parece muito bom, mas ela não tem ninguém além de nós agora, – ele apontou para ela com o polegar. — Eu já estraguei minha vida inteira, e sei disso, ok? Mas Tommy me pediu para cuidar ela, não posso estragar tudo também.
Ele olhou entre os dois, enquanto Jimmy franzia as próprias sobrancelhas. Bobby estava com as mãos na cintura e olhava para baixo, pensando.
— Posso não ser o candidato mais apto para isso, mas também sou a única opção que temos, e você sabe disso, – Johnny continuou, com a mão direita pousada no ombro de Bobby. — Vamos lá, cara. Você pode ajudar com isso, falando bem de mim. É da pequena Cooper que estamos falando agora. É a única coisa que nos resta do Tommy.
Bobby olhou para seu amigo e depois para a garota por alguns instantes. Ele sabia que Johnny estava certo, mas isso não parecia aliviar sua mente da preocupação com o que poderia acontecer.
— Tudo bem. – ele concordou depois de um longo silêncio, balançando a cabeça. — Vou fazer algumas ligações.
— Obrigado.
— Não me agradeça ainda, talvez você precise fazer um check-up semanal de bem-estar por um tempo. – Johnny poderia lidar com isso, pensou Bobby. Ele ainda se certificaria de checar uma ou duas vezes por semana.
Johnny caminhou a passos lentos até o primeiro banco, enquanto Maeve não desviava os olhos nem uma vez da foto do pai. Ele podia ver o contraste entre as olheiras roxas e o vermelho dos olhos dela por causa do choro, o papel fechado em seu punho para impedir que ela tremesse e a óbvia jaqueta de couro grande demais que cobria toda a seu corpo.
Tudo o que Johnny conseguia ver era um reflexo de si mesmo quando sua mãe morreu.
Ele limpou o nó na garganta e se sentou ao lado dela, deixando um espaço confortável entre eles. Maeve olhou brevemente para o lado e o cenho franzido se aprofundou quando ela notou o homem.
Quando os três homens entraram pela porta do quarto do hospital e seu pai desconectou as máquinas de seu corpo, ela soube. Quando ele a puxou para um abraço apertado e deu um longo beijo no topo de sua cabeça, dizendo que a amava. E quando ele saiu, Maeve sabia que seria a última vez que o veria.
Isso não facilitou em nada quando ela teve que recolher os últimos pertences dele no hospital. Dirigindo o velho Chevy dele de volta ao apartamento alugado, ela ficou deitada olhando o relógio, esperando.
Maeve se abraçou um pouco, pois o silêncio era grande entre os dois. Johnny não queria dizer nada, pois sabia que não havia nada que ele pudesse dizer que pudesse aliviar a dor no coração dela, pois ele já havia passado por isso.
Então, ele estendeu a mão esquerda, pousando-a no ombro dela e dando um leve aperto, um de tranquilidade, um para dizer que ela ficaria bem, para dizer que ela poderia chorar. Um aperto que ele gostaria de ter recebido quando era ele que estava sentado ali, olhando para a foto da mãe, enquanto o padrasto conversava com os convidados para manter sua imagem.
Ele podia sentir o tremor sob sua mão quando a garota se inclinou para a frente novamente, com a mão sobre o coração e um soluço saindo de seus lábios.
O prólogo finalmente foi postado!
Não vou mentir para vocês, mas eu estou ansiosa para poder escrever esses dois!
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