Capítulo Um
(capítulo um)
Maeve observava atrás do volante enquanto Johnny fechava a porta do seu carro, sinalizando para os trabalhadores que os aguardavam onde deveriam colocar as caixas.
Ela se encostou no banco de couro do carro do pai, com a janela ainda fechada, enquanto olhava para o condomínio em ruínas — não muito diferente do seu próprio em Van Nuys.
Johnny coçou a orelha enquanto os trabalhadores tiravam as caixas do caminhão de mudança para dentro do complexo de apartamentos, depois suspirou com o novo pensamento de que sua vida seria muito diferente agora.
Ele não é um bom pai e sabe disso, mas Johnny não conseguia se conter ao pensar que a filha de seu melhor amigo estaria sozinha no mundo. Porque Johnny também esteve sozinho por muito tempo, e ele sabia como era essa sensação.
Johnny olhou para a menina dentro do velho Opala preto de Tommy, segurando um ursinho de pelúcia surrado contra o peito, e foi até a porta do motorista, batendo na janela para chamar a atenção dela.
— Quer entrar para ver seu quarto? Eu posso te ajudar a carregar algumas caixas para que você possa começar a acomodar, – Johnny tentou, e Maeve comcordou fracamente com a cabeça para ele.
É um progresso, pensou ele. Não é como se um cara de quem ela não se lembrava tivesse decidido hospedá-la por acaso.
Tirando as chaves do console, ela saiu do carro, e Johnny deixou que ela entrasse na frente dele. Maeve deu um sorriso apertado para os funcionários em cumprimento antes de entrar no apartamento.
Uma vez lá dentro, ela notou as paredes amarelas, muito parecidas com as do lado de fora, mas seus olhos perceberam a bagunça na cozinha, com uma pilha de pratos na pia. Havia um corredor com quatro portas, e Johnny a guiou para perto dele, os tirando do caminho do trabalhador.
— Você pode escolher qualquer um dos quartos nos fundos. A primeira porta à esquerda é o banheiro. E a primeira à direita é o meu quarto... O meu é uma suíte, então não precisa se preocupar com horários de banheiro ou qualquer coisa do tipo. – Explicou ele, e Maeve apenas assentiu novamente.
Ela caminhou cautelosamente, abrindo a segunda porta à esquerda, bem ao lado do banheiro, e olhou em volta.
Estava vazio, completamente vazio. As janelas e cortinas estavam fechadas, havia um leve odor de rigidez no ar, e Maeve podia ver que ele não havia limpado o chão recentemente.
E ela não podia culpá-lo também. Não era como se ele estivesse esperando ir ver o amigo e voltar com uma criança para cuidar.
Do momento em que Johnny chegou para ver o pai dela e até onde eles estavam no momento, ele não havia retornado à sua casa nenhuma vez. Johnny, Jimmy e Bob a ajudaram encaixotar toda a casa e chamaram o caminhão. Eles lhe deram três dias para se recuperar e nunca a deixaram sozinha durante esse período. Foi extremamente assustador, mas, no final, Maeve ficou grata quando saiu de seu antigo quarto e, em vez de ser acolhida pela solidão e o vazio que Tommy deixara, os três rapazes de quem seu pai sempre falava com tanto carinho estavam comendo pizza em pratos de papelão em sua cozinha.
Johnny saiu de trás dela, indo direto para as janelas e as abrindo, o ar fresco fluindo para dentro instantaneamente. Ele juntou as mãos e olhou para a silhueta dela no meio do quarto, abriu a boca, mas então um pensamento surgiu em sua cabeça e ele saiu do quarto.
Maeve olhou para fora, vendo o movimento dos carros e o concreto da rua. Uma árvore do lado de fora de sua janela cobria um pouco a vista de dentro, mas não o suficiente para impedir a entrada do calor que levantava do asfalto. Johnny voltou, com duas chaves na mão esquerda — que também tinham um chaveiro surrado — as entregando a ela.
— Esta que tem a etiqueta verde é a do banheiro, e a roxa é a porta do quarto, – ele apontou, Maeve moveu as duas em sua mão enquanto Johnny limpou a garganta. — Eu não tenho exatamente outra cópia da porta da frente para te dar... Tem aquela que está sempre na porta, mas farei mais cópias para você ainda hoje.
— Obrigada, – seu sorriso era forçado, e Johnny sorriu de volta, batendo as palmas.
— Tudo bem, vou pegar minhas ferramentas para remontar sua cama. Eles já a tiraram do caminhão.
— Eu posso ajudar. – Ela sugeriu, e Johnny balançou a cabeça, acenando com a mão em sinal de que ela não precisava. — Eu posso ajudar, Johnny. — Ela insistiu, e ele parou. — Por favor.
— Tudo bem, — ele concordou, apontando para ela para o ajudar a pegar a madeira da cama.
Maeve deixou seu ursinho de pelúcia no balcão da cozinha, pegando o lado dela enquanto Johnny pegava o outro, e eles caminharam com cuidado para não bater a madeira nas paredes.
Assim que a cama foi montada novamente, Johnny pegou o colchão e o colocou em cima do estrado, enquanto Maeve pegou todos os plásticos da embalagem e os jogou no saco de lixo. A próxima coisa que eles fizeram foi montar o guarda-roupa antigo dela — Johnny fez isso sozinho dessa vez. Maeve decidiu que seria mais fácil para os dois se ela apenas tirasse as roupas das sacolas e as dobrasse em cima da cama já pronta.
Quando Johnny terminou, ele entrou com a escrivaninha dela, depois com a cadeira e todas as outras caixas de papelão que tinham escrito quarto e banheiro na lateral e, no final, colocou o ursinho de pelúcia surrado dela em cima da cadeira.
— Olha, garota, – ele começou, e Maeve colocou as roupas em uma das gavetas, olhando para Johnny com curiosidade. — Tenho que sair para trabalhar. Não é muito longe daqui, e deixei todos os números do meu celular e do telefone do tranalho no balcão. Se você precisar de alguma coisa, pode ir ao apartamento número um, que fica ao lado do meu, e pedir a ajuda de Carmen. Ela é uma amiga e eu já falei para ela sobre você.
— Está tudo bem, Johnny, – respondeu ela com sinceridade, brincando com os berloques de sua pulseira. — Não sou uma criança, posso me cuidar sozinha. Mas obrigada.
Ela se moveu para pegar outra pilha de roupas e Johnny concordou com a cabeça, saindo do quarto, e logo Maeve ouviu o clique da porta da frente e o silêncio a envolveu mais uma vez. O vento da janela agora aberta fez com que os calafrios subissem por seu braço. A sensação de pavor se instalou.
Maeve engoliu a inquietação e abriu outra caixa e, assim que o fez, franziu a testa. Havia uma pequena foto com moldura de estrelas dela e de sua antiga amiga da quarta série, chamada Theodora. A garota de cabelos castanhos entrou na sala de aula errada e só se deu conta de que era a sala errada quando a professora começou fazer chamada. Quando a garota levantou a mão e disse à professora que ela não a havia chamado, a velha apenas olhou por cima dos óculos, lançou um olhar penetrante para a garota e disse a Theo que sua sala era do outro lado do prédio.
Maeve apenas revirou os olhos quando todos começaram a rir e ela se ofereceu para ajudar Theo a encontrar sua classe, dispensando as duas dos idiotas e formando uma boa amizade. Theo era a primeira amiga de Maeve, e ela sentia falta dos tempos em que sua única preocupação era saber se o refeitório teria torta de maçã como sobremesa.
Horas se passaram e ela finalmente conseguiu tirar tudo das caixas. O céu já estava ficando em um belo tom de laranja, e o estômago de Maeve roncou de fome quando ela dobrou outra caixa vazia. Ela foi até a pequena cozinha e abriu a geladeira, dentro havia apenas dois pacotes de cerveja gelada, uma garrafa de água e presunto velho — o cheiro tomou conta do pequeno espaço, e Maeve fechou a porta rapidamente para parar a ânsia.
A louça na pia também cheirava mal e seus ombros caíram ao pensar que aquela era sua vida agora.
O verão estava quase acabando e não havia tempo suficiente para que ela conseguisse um emprego de verão. E como ela não conhecia nenhum caminho, Maeve roeu a unha e se encostando no balcão, abrindo o mapa do celular e procurando a pizzaria mais próxima para fazer o pedido.
Maeve sorriu satisfeita depois de pagar pelo telefone, o deixando sobre o balcão e decidindo tomar banho enquanto esperava a entrega.
++++
Miguel mexia nas chaves em sua mão, seu humor havia piorado depois do encontro com o garoto na casa de Sam, mas quando dobrou a esquina, viu um motoqueiro parado na entrada dos apartamentos com o telefone no ouvido, xingando alto quando a pessoa para quem ele estava ligando não atendia.
— Ei, cara. Posso te ajudar? – Ele perguntou, e o motoqueiro olhou para ele.
— Você mora aqui? – Miguel concordou com a cabeça e o cara suspirou de alívio. — O dono do apartamento número 2 não está atendendo e eu tenho que ir embora, tenho outras entregas. Pega isso aqui?
O entregador perguntou e já entregou a caixa de pizza ao rapaz antes mesmo que Miguel pudesse responder, ele subiu na moto e foi embora. Miguel apenas piscou os olhos enquanto a pizza pesava em suas mãos, com as chaves tilintando.
— Sim, claro... – ele murmurou, revirando os olhos enquanto equilibrava a caixa na mão esquerda e abria a porta com a outra.
Típico do Johnny, pensou o garoto enquanto continuava a mexer nas chaves, destrancando a porta na expectativa de ver seu sensei sentado no sofá com uma cerveja barata na mão e seu laptop antigo no colo, mas, em vez disso, ele se sentiu estranho com a ausência de tudo isso, apenas a lâmpada da sala de estar acesa.
Mas antes que ele pudesse fechar a porta da frente, a porta do banheiro se abriu e uma nuvem de vapor escapou imediatamente, e com ela uma garota bem baixinha com uma camiseta grande do Metallica, shorts largos por baixo e o cabelo preso. Miguel se deteve por um momento, se perguntando se havia entrado no apartamento errado, enquanto observava a garota colocando a toalha no braço enquanto cantava baixinho algo para si mesma, mas quando seus olhos se voltaram para cima, ela pulou, dando um passo para trás, contendo um grito.
— Quem é você?! – Ela perguntou em voz alta, olhando perplexa para ele, seus olhos procurando algo para se defender.
— Quem sou eu? Quem é você?! – Ele perguntou mais alto, apontando o dedo para ela, com a caixa ainda em sua mão livre. Maeve apenas piscou.
— Você é o entregador? Como você conseguiu entrar? – Miguel olhou para a caixa e depois de volta para ela, ainda mais confuso.
— Eu sou o... Não! Eu não sou...
— Oi, garoto. – Uma voz atrás assustou os dois, e ambos olharam para Johnny, que tinha uma expressão um tanto vazia no rosto, entrando no apartamento e olhando para o garoto enquanto fechava a porta. — Caramba, ai sim!
Ele abriu a caixa e pegou uma fatia de pizza, dando uma mordida enquanto andava em direção à cozinha, abrindo a geladeira e tirando uma cerveja. Maeve ficou boquiaberta quando Johnny deu um peteleco na tampa e ela caiu no lixo, seus braços caíram derrotados ao lado do corpo.
Quando a garrafa foi colocada sobre a mesa, Miguel — que ainda estava segurando a caixa de pizza, mas agora com a tampa aberta — decidiu interromper o som da mastigação de seu sensei.
— Espera ai, o que que tá acontecendo? – Johnny olhou para seu aluno e depois de volta para a garota, a situação finalmente clicando em sua mente.
— Ah, é... – ele limpou a garganta e coçou a parte de trás da orelha, apontando a mão com a fatia de pizza para os dois. — Miguel, essa é a Maeve. Ela é filha do meu amigo Tommy.
Entendimento pareceu surgir no rosto do garoto, e Johnny continuou.
— Maeve, esse é o Miguel... ele é meu aluno e também mora no apartamento ao lado. – Ele tentou explicar o melhor que pôde devido à situação. Maeve se aproximou do garoto devagar.
— Acredito que a pizza é sua, então? – perguntou Miguel, e ela balançou a cabeça, pegando a caixa das mãos do rapaz.
— É sim, obrigada... – ela sorriu com firmeza, colocando a caixa sobre a mesa, depois abriu a tampa novamente e seu estômago revirou de fome, mas ela se voltou para o garoto. — Você vai querer um pedaço?
Por mais que ela tenha perguntado apenas para ser educada, Johnny sorriu, dando um tapa no balcão com a mão. — Sim, pega uma fatia! Talvez você possa contar à Maeve um pouco sobre você... hoje foi uma boa vitória, não foi não?
Miguel sorriu desajeitadamente, se movendo para ficar ao lado dela, a encarando enquanto ela dava uma mordida em uma fatia.
— A propósito, que aula que você faz? — Ela perguntou depois de engolir, olhando para ele por baixo dos cílios, com o cansaço aparecendo em seu corpo.
— Ah, Karatê. – Um sorriso surgiu em seu rosto com a resposta dele.
— Sério? – Johnny sorriu, dando uma piscadela para o garoto diante da reação dela.
Miguel queria revirar os olhos com a reação do homem, mas acabou cedendo à conversa, sua mente se distanciando completamente do assunto anterior na mesma noite.
Finalmente o capítulo um, né?
Perdão pela demora, mas espero que tenham gostado!
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