FAIXA 05: RED

O metrô foi parando conforme a estação Saúde se aproximava. Bárbara levantou do banco com a mochila nas costas, os pés batendo levemente no chão enquanto esperava as portas se abrirem. A garota foi para a escada rolante, que a leva até a saída do metrô e com os fones de ouvido tocando "Red", ela avistou Timothée esperando ao lado de fora da catraca.

E a frase "loving him is red" nunca fez tanto sentido em sua vida ao ver aquela imagem.

— Oi — ela tentou fazer as palavras saírem de forma clara — Está há muito tempo esperando?

— Ah não, faz uns dez minutos que cheguei.

— Fui a primeira? — falou passando a catraca.

— A única na verdade, Fred mandou mensagem a pouco tempo dizendo que não podia vir. Jorge está no interior ainda. A Agatha ainda está na praia?

— Sim, e a Cecília mandou mensagem que ia levar o Dear John no médico, parece que ele engoliu uma bola de pêlo e deu algo errado.

— Acho melhor irmos então — falou Timothée pegando a mochila nas costas dela e colocando nas suas — Vai ficar muito tarde e não vamos curtir nossa saideira de férias.

Os dois saíram da estação indo até um estacionamento pago, Timothée acertou as contas e foi andando com os braços no ombro da garota até o carro.

— Pegou o carro com seu pai?

— É, não queria que fôssemos andando até em casa.

— Já disse que gosto de ter um amigo com carteira de motorista? — questionou.

— Não — Timothée riu — Vou tentar não me ofender com esse fato.

Bárbara sentou no banco da frente, Timothée tomou o assento do motorista e começou a dirigir pelas ruas que era familiarizado, com "Só Hoje" da banda Jota Quest tocando em volume ambiente.

— Ansiosa para seu aniversário amanhã? — o Chalamet questionou, olhando de canto para ela.

— Não muito, sabe que não curto muito meus aniversários desde aquele dia.

— Sinto muito — o rapaz coçou a nuca com uma mão enquanto dirigia com a outra — Você ainda não fala com seu pai?

— Já faz um tempo, mas não.

Bárbara se lembrava de tudo perfeitamente a cada 19 de agosto. Era para ser o dia mais feliz de sua vida porque seus quinze anos haviam chegado, e ela por mais que não tivesse uma grande festa como era um certo costume, queria que o dia fosse ao menos especial e memorável.

Mas não daquele jeito.

A memória de ver seu pai traindo sua mãe em um carro estacionado perto de sua casa lhe assombrava, foi como se todo o dia ensolarado se transformasse em uma grande tempestade que durou um bom tempo.

Ela queria dizer que havia reagido, feito um escândalo, gritado ou quebrado o vidro como fez em sua mente, mas não fez nada daquilo. Ficou parada com os olhos cheios de água e a raiva borbulhando dentro de si.

Seus pais se separaram oficialmente no mês seguinte, e ela ficou com a mãe na capital enquanto seu pai havia ido para Campinas.

— Vai convidar ele pra formatura?

_ Se eu não convidar, vou ouvir até minha próxima reencarnação. Acho que não tenho muita opção no final das contas, mesmo sabendo que ele não vai — deu de ombros tentando ignorar as lágrimas que ameaçavam cair.

Timothée notou que ela estava ficando sensibilizada com o assunto, e pensava várias vezes que naquele ano, ela não sofreria na data.

Não se dependesse dele, ao menos.

— Neste aniversário você não lembrará dele, prometo — Timothée lhe disse de forma tão segura que Yerin quase acreditou.

Ela queria acreditar.

— Trouxe roupa pra dormir? — o Chalamet perguntou, tentando amenizar o clima, se referindo a mochila roxa no banco de trás.

— Era o combinado, acho que peguei até demais. O que vamos ver?

— Não sei, você pode escolher pré aniversariante.

— O que você estava vendo no Netflix?

— Brooklyn 99.

— Não terminou ainda?

— Eu não tinha assistido dublado antes, só legendado.

— Sorte sua que eu também não, podemos ver juntos?

— Claro, já até deixei meu quarto arrumado com tudo pra dormir lá.

— N-no seu quarto? — respondeu um leve gaguejar.

— É, você já foi nele. Algum problema? — ele notou o quão tensa ela havia ficado.

— Nenhum.

Bárbara tentou não corar. Havia vários problemas em entrar no quarto do rapaz e passar uma noite lá, somente os dois. Tudo bem que já havia feito isso algumas vezes, mas agora era diferente, Timothée parecia diferente aos seus olhos.

A forma como ele batia os dedos no volante e conduzia o carro com uma mão fazia a barriga dela tremer, ou os dedos trocando a marcha do carro com tanta facilidade que parecia que o garoto sabia desde o berço.

— Chegamos.

A garota concordou e sorriu de canto pensando mentalmente que precisava acalmar seus hormônios.

「♡」

O quarto de Timothée estava arrumado e cheiroso. Até mais que o necessário na opinião de Bárbara.

A cama tinha uma colcha escura e um colchão arrumado no chão, tudo de frente para a televisão na parede.

— Como amanhã é seu aniversário e eu sou um amigo excelente, vou deixar você dormir na minha aconchegante cama.

— Não precisa Ti, posso ficar no colchão mesmo — ela disse colocando sua mochila em um canto.

— Nada disso, onde estaria a boa educação que minha mãe me deu?

— Onde estão seus pais? — perguntou a garota tirando as roupas da mochila, tinha trazido até uma toalha para tomar banho no dia seguinte.

— Eles quiseram dar mais privacidade aos adolescentes e saíram — o Chalamet deu de ombros — Falaram que iam chegar tarde.

— Ah…

Bárbara raciocinou que estaria somente os dois sabe lá até que horas, e isso fez ela ficar um pouco mais inquieta.

— Vou colocar meu pijama no banheiro, já volto — ela saiu do cômodo sem olhar nos olhos do amigo.

「♡」

— Cansei de ver série, podemos ver outra coisa tipo um filme? — perguntou a garota quando assim que o episódio finalizou.

_ Por que? Cansou de ver crimes misturados com um pouco de comédia? — questionou o garoto limpando os dedos no guardanapo antes de pegar no controle.

— Mais ou menos — ela balançou a cabeça, concordando com o amigo.

— Ok, o que tem em mente? 

— Animação.

— Qual delas você quer? – Timothée perguntou desconfiado, sabia que viria alguma coisa somente pela feição pensativa da Jung, principalmente na forma que ela mordia os lábios.

Ele desviou o olhar rapidamente antes que ela notasse que ele estava secando-a.

— Enrolados.

— Sério?

— Ué, é legal e tem uma história bastante envolvente — cruzou os braços.

— Uma princesa com poderes mágicos, mantida numa torre por uma velha doida que, depois, acaba se apaixonando pelo ladrão. Com certeza é envolvente Babi — ele disse com ironia.

— Sabe que é mais do que isso, tem a questão da conquista da Rapunzel pela tão sonhada liberdade — Babi argumentou pegando o controle da mão do rapaz — E como pré aniversariante, tenho o poder maior de escolher.

— Tudo bem, tem razão. Como seu servo esta noite, eu vou pegar outra pipoca — ele se levantou chutando a coberta e saiu meio cambaleante do quarto.

A garota aproveitou para ver as mensagens, mandou rapidamente uma para sua mãe dizendo que estava tudo bem e recebeu apenas um "juízo" de volta.

Quando uma notificação de Ceci apareceu na tela, ela rapidamente abriu para ler o conteúdo.

| Acho que você está com o Timothée 

| Então aproveite que estão a sós

| E divirta-se 😉

Babi arregalou os olhos surpresa mas antes que pudesse falar ou fazer mais alguma coisa, o mencionado na mensagem voltou com uma bacia cheia de pipoca fazendo-a automaticamente bloquear o celular.

— Tá tudo bem? — ele perguntou ao ver que ela estava com os olhos arregalados.

— Tá! — respondeu de imediato antes de tossir disfarçando — Eu tô legal, só vi algo bem interessante aqui que me deixou surpresa.

— O que houve? A Taylor lançou música surpresa?

— Ah não, é só um negócio que as meninas me mandaram — desconversou.

— O que? — ele perguntou colocando um pouco de pipoca na boca.

— Hã… vamos ver o filme? — tentou desconversar novamente.

Para que o assunto se encerrasse, rapidamente Bárbara pegou o controle dando play na animação.

「♡」

— Meia noite — Timothée disse olhando no celular — Feliz aniversário e….

— Shhh — ela interrompeu o garoto — Eu já agradeço todas suas felicitações, deixa só passar a melhor parte do filme.

Timothée notou os olhos brilhantes da garota quando ela apontou para a tela, que mostrava uma lanterna de luz começando a voar no ar e a música tocando de fundo.

Bárbara não resistiu e começou a cantarolar junto com a Rapunzel a música que ela sabia de côr.

Tantos dias olhando das janelas

Tantos anos presa sem saber

Tanto tempo nunca percebendo

Como tentei não ver

Mas aqui, a luz das estrelas

Bem aqui, vejo o meu lugar

Sim, aqui consigo sentir

Estou onde devo estar

Vejo enfim a luz brilhar

Já passou o nevoeiro

Vejo enfim a luz brilhar

Para o alto me conduz

E ela pode transformar

De uma vez o mundo inteiro

Tudo é novo pois agora eu vejo

É você a luz

— Levanta — Timothée a puxou para ficar em pé e os dois se posicionaram como se fossem valsar.

— Sério isso? — ela questionou quando começaram dois para um lado e dois para o outro.

— Sim, o seu aniversário comigo sempre será como os contos de fadas. Eu prometo. 

A garota iria continuar a cantar se não fosse surpreendida por Timothée, que começou a cantar no dueto olhando para ela. Bárbara sorriu com a cena, ela sempre achou a voz dele uma das melhores coisas e tinha a absoluta certeza que se seguisse a carreira profissional se daria muito bem.

Tantos dias, sonhando acordado

Tantos anos, vivendo a vida em vão

Tanto tempo nunca enxergando

As coisas do jeito que são

Ela, aqui, à luz das estrelas

Com ela aqui, vejo quem eu sou

Ela que me faz sentir que eu sei pra onde vou

Ignorando a cena que passava na televisão, os dois cantaram olhando um para o outro. 

Vejo enfim a luz brilhar

Já passou o nevoeiro

Vejo enfim a luz brilhar

Para o alto me conduz

E ela pode transformar

De uma vez o mundo inteiro

Tudo é novo pois agora eu vejo

É você a luz

Timothée foi chegando mais perto e acariciou o rosto de Babi, tão delicadamente que parecia abrigar uma revoada de borboletas em seu estômago.

É você a luz

— Timothée, talvez você me odeie por causa disso, mas… eu quero tentar algo que eu penso já tem um tempo — ela falou baixinho antes de colar seus lábios no do rapaz.

Na hora Timothée travou e não soube o que fazer. Tudo bem que ele já tinha imaginado várias vezes como seria beijar Babi, e chegou até planejar em alguns encontros com a garota que terminaria nos dois se beijando, mas ver ela tomando a atitude foi o que lhe surpreendeu.

Antes que ela pudesse se afastar, uma mão dele foi para a sua nuca enquanto a outra se dirigiu para a cintura iniciando assim, um passe livre para aprofundarem o beijo.

Bárbara se sentia aquecida e mole como uma gelatina por dentro, que começou a agradecer o fato de Timothée segurar sua cintura, tentava manter um pouco de sanidade enquanto apertava a camiseta dele com suas mãos, e seu coração batia tão forte que por um momento pensou que iria morrer.

Mas se fosse de amores por Timothée Chalamet, ela aceitava.

— Feliz aniversário Babi — ele disse com a voz rouca quando o beijo finalizou.

— Obrigado Ti — ela sorriu tímida — Acho que esse não era seu presente de aniversário, ou era?

— Não – ele riu — Nem de perto, mas espere um pouco.

O rapaz saiu do quarto dando tempo de Bárbara recuperar a consciência e seu corpo voltar a funcionar direito, ou pelo menos era isso que ela acreditava que aconteceria porque o que aconteceu instantes atrás ainda estava fresco em sua mente.

— Eu beijei o Timothée, céus! Eu beijei mesmo ele — falava consigo mesma se abanando com a mão.

— Você está passando mal Babi? — o Chalamet questionou olhando preocupado para a garota, que estava bem até segundos atrás.

— Só estou com calor, está quente aqui? 

Ele sorriu ao vê-la com as bochechas coradas se abanando, seu ego chegou até a inflar porque sabia o motivo dela estar assim.

— Feliz aniversário — ele estendeu a caixa para a garota — Espero que goste.

— Ah… não precisava ter gastado comigo — comentou sem graça abrindo o objeto.

Após afastar os papéis, sua boca se abriu em um perfeito "O" após ver que era uma jaqueta jeans personalizada nas costas com a frase "Fearless" e a frente decorada com uma mistura de corações amarelos junto com estrelas brancas.

— Gostou? 

— Eu amei! Foi você que fez? — Babi perguntou passando a mão pela decoração da jaqueta que tinha detalhes tão minuciosos que a garota começou a se perguntar no trabalho que Timothée teve.

— Sim. Eu queria te dar algo original da Taylor, mas imaginei que algo inédito lhe cairia bem.

— Com toda certeza — ela abraçou a jaqueta — Não sei como lhe recompensar isso.

— Não preciso de nada Babi, só de ter você aqui comigo já é o suficiente.

— Vamos ver o restante? — ela apontou para a tela que já passava as cenas perto do final do filme.

O Chalamet se aconchegou perto de Bárbara deitando a cabeça no ombro da garota de forma natural, e mesmo com os olhos na tela, a Kim sabia que depois daquela noite Enrolados nunca seria o mesmo para ela. 

「♡」

Os corredores estariam em um completo silêncio pois as aulas já haviam começado, se não fosse por passos apressados de tênis no piso.

— Timothée! Estamos atrasados! 

— Eu sei.

— Então por que está tão calmo? — ela parou no meio da escada vendo que o garoto ainda não havia pisado no segundo lance.

— Já estamos atrasados mesmo — ele deu de ombros subindo os degraus de forma calma.

Bárbara bufou e puxou o garoto pela mão escada acima tão rápido que o fizera tropeçar algumas vezes nos degraus.

— Espera! — ela falou tentando recuperar a respiração e arrumando a mochila no ombro — Eu nem fui ao banheiro me olhar, acho que estou toda bagunçada e suada.

— Não, está linda toda vermelhinha desse jeito — ele disse abrindo a porta antes que ela dissesse alguma coisa — Com licença professor João.

— Eerr… bom dia professor — Bárbara disse entrando atrás do rapaz — Desculpe atrapalhar a aula.

— Vejo que chegaram juntos — falou o professor cruzando os braços — E estão ofegantes, subiram as escadas correndo?

A algazarra na sala fez com que os dois virassem ainda mais, mas logo foi interrompida pelo professor.

— Sim, subimos a escada correndo — Babi fez uma careta — Desculpe.

— Tudo bem, só se sentem e comecem a acompanhar a aula.

— Pode deixar — Timothée sorriu indo para o seu lugar, não sem antes conduzir Bárbara com as mãos entrelaçadas, ato que não passou despercebido por nenhum dos alunos.

Babi se sentou e pegou o material ignorando os olhares, principalmente de Cecília e Agatha, que sorriam animadas.

「♡」

O sinal do intervalo bateu e em menos de três minutos, os alunos saíram pela porta  animados pelo curto tempo de descanso que teriam.

— Hey Babi — Timothée chamou a garota — Deixa que hoje eu te deixo em casa, ok?

— Beleza — ela concordou e o observou sair da sala junto de Tom, que lhe deu uma rápida felicitação antes de se juntar ao amigo.

— Amiga! Feliz aniversário — Agatha abraçou a garota por trás — Muitas felicidades!

— Parabéns Babi! — felicitou Cecília, abraçando logo depois.

— Obrigado meninas, amanhã é o seu Ceci.

— Mas até lá tem um pequeno chão — a garota abanou as mãos — Mas agora a pergunta que não quer calar, o que houve entre você e o Timothée para chegarem juntinhos com direito a mãos dadas?

— Ofegantes ainda por cima — observou Agatha com um sorriso malicioso — As escadas são uma boa desculpa para disfarçar pegação.

— Não! Foram as escadas mesmo — Babi logo se defendeu — Mas… ontem a noite, a gente estava assistindo Enrolados e... nos beijamos.

— Não creio! Melhor presente de dezoito anos! — Cecília comemorou — E você retribuiu?

— Na verdade eu que tomei a atitude.

— Essa é minha garota! — Agatha bateu palmas — Finalmente tivemos um beijo desses dois!

— Vocês estão namorando? Me fala que sim, por favor, tenho que preparar meu vestido de madrinha do casamento — Cecília comentou animada — Eu mesma vou desenhar tudo.

— Pode tirar o cavalinho da chuva que o posto de madrinha é meu — Agatha disse cruzando os braços — E eu vou cantar no casamento, tenho que treinar bastante Enchanted.

— Enchanted? — perguntou Babi.

— Esqueceu que tudo começou na aula de artes com o quadro do Speak Now? Tem que ser Enchanted.

— Já que é assim, vou desenhar o vestido de noiva inspirado no vestido da Taylor no álbum ou do clipe de "I Bet You Things About Me'', ficará sensacional — vibrou Cecília.

— Gente não viaja, não estamos nem namorando e foi só um beijo — Babi falou cabisbaixa — Um beijo muito bom.

— Sem detalhes, por favor — Agatha beliscou o braço da amiga de provocação — E a jaqueta? Gostou?

— Sim e… espera — a garota olhou desconfiada para as duas — Foram vocês duas que ajudaram?

— Bom, Timothée não sabe tanto sobre as músicas da Taylor como nós — Cecília comentou como se fosse óbvio — Só demos a ele uma lista com as suas favoritas e os conceitos deles, o resto foi todo mérito dele.

Bárbara sorriu animada, Timothée estava a surpreendendo mais e mais.

E ela gostava bastante disso.

O sinal bateu interrompendo a animação das garotas que ajeitaram suas coisas para o segundo tempo.

「♡」

Notas da autora: Hey pessoal, como estamos?

FINALMENTE TEVE BEIJO! UMA SALVA DE PALMA! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

Avisando que falta somente 4 CAPÍTULOS PARA O FIM DE LOVER! E espero que vocês estejam gostando viu? Tem muito carinho envolvido nesta fic.

Me digam opiniões, quero saber de tudo!

Até o próximo! 💕

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