FAIXA 01: ...READY FOR IT?
Saindo do metrô e andando um pouco apressada até a saída da estação Vila Mariana desviando da multidão, os passos de Bárbara se intensificaram ainda mais quando olhou a tela do seu celular que marcava 07:05 da manhã.
Ela só tinha vinte cinco minutos para chegar na escola, encontrar sua sala e amigas para colocar rapidamente o papo em dia antes do professor entrar.
Os muros da escola logo entraram em seu campo de visão assim que "Ready for It" começou a tocar, a multidão de alunos enchia a rua conforme alguns eram deixados pelos seus pais, ou pelo transporte escolar estacionado do outro lado da rua.
Com as bochechas coradas e um pouco ofegante por sua leve corrida, Bárbara passou pelos portões da escola indo direto para as escadas, como estava no terceiro ano significava que sua sala era no último andar.
E ela ainda não sabia se aquilo seria bom ou ruim.
Olhando novamente no celular e vendo que haviam passado dez minutos desde que saiu da estação, ela constatou que ainda daria tempo de passar no banheiro para se ajeitar antes da aula. O lugar estava vazio para sua felicidade, ela parou a música colocando o celular na mochila, usou uma das cabines rapidamente e lavou as mãos. Olhando-se rapidamente no espelho viu que calça azul escura do uniforme com a blusa branca ainda estavam impecáveis, para seu alívio ou sua mãe a mataria.
— Babi!
A voz de Cecília a chamando assim que saiu do banheiro fez ela sorrir e correr para abraçá-la. Fazia dois meses que ambas não tinham mais se visto pessoalmente desde que entraram de férias, visto que cada uma foi fazer algo com a família, sobrando apenas o grupo de mensagens para conversarem.
— Cecília! Você está linda, não acredito que cortou o cabelo — Yerin disse vendo os fios negros da amiga que antes eram longos, agora estavam um pouco repicados.
— E você fez franja!? Como isso aconteceu?
— Ato de loucura — deu de ombros — A Agatha já chegou?
— Já, e guardarmos seu lugar na sala — Cecília respondeu enquanto enchia sua garrafinha de água, um costume que tinha antes das aulas.
— Por favor, me fala que conseguiram pegar as carteiras da parede.
Bárbara adorava o lado da parede, ali podia encostar com tranquilidade na troca das aulas para conversar o que fazia essas carteiras serem bastante disputadas, só não mais que as do canto no fundo.
— Felizmente sim, quase que a Agatha arranja encrenca no primeiro dia.
— E quando ela não arranja?
— Vamos? — perguntou fechando a garrafa — Você não chegou a ver o horário no grupo da sala né?
— Já enviaram? Que rápidos.
— Nossa semana vai começar bem, as duas primeiras aulas são com o professor João — ela sorriu empolgada.
— Duas de química logo na segunda? Que merda!
— Como merda amiga? É o João esqueceu? Poderia ser pior.
— Ainda sim é química Ceci.
— Você é chata, não entende a importância dos átomos e nêutrons na vida.
Bárbara sorriu com a empolgação da amiga que tinha um crush pesado no professor desde quando ele entrou ano passado, na verdade boa parte das alunas do ensino médio olhavam para o João de forma apaixonada, ela diria que até algumas professoras também.
A sala estava começando a ficar cheia, as duas logo viram Agatha de longe praticamente fazendo guarda nas três primeiras carteiras da parede para que ninguém sentasse.
— Babi! Você chegou para alegrar minha manhã.
— E você está muito feliz para um primeiro dia de aula, para onde foi nas últimas semanas? — perguntou abraçando rapidamente a amiga.
— Longa história — revirou os olhos. O sinal tocou e alguns segundos depois os alunos começaram a entrar aos montes — Depois conversamos melhor.
Bárbara sentou no meio das duas, Cecília como a boa aluna que era preferia ficar na frente enquanto Agatha preferia ficar longe dos holofotes dos professores.
O professor João entrou na sala com um sorriso simpático, cabelos bem arrumados com uma mochila no ombro, fechou a porta e se dirigiu a sua mesa. Algumas alunas estavam sorrindo bobamente, outras até passavam um leve batom nos lábios e arrumavam os cabelos.
— Bom dia pessoal, acho que não temos calouros nesta sala né? — ele passou os olhos pela sala – Todo mundo me conhece, sou o professor João e dou aulas de química. Como sei que o cérebro de vocês pode estar enferrujado por conta das férias, vou dar uma rápida revisão somente hoje na matéria e algumas prévias do que virá para o terceiro ano. Copiem, por favor.
Ele pegou o material dele e começou a anotar na lousa o conteúdo, a sala estava parcialmente silenciosa se não fosse os burburinhos que vinham do fundo.
Bárbara pegou seu material, abriu na primeira divisória do caderno e destampou a caneta preta para começar a anotar o conteúdo quando sentiu um beliscão no ombro.
— Cutuca a Ceci e passa para ela — Agatha disse dando um papelzinho dobrado com um sorriso nos lábios.
Chamando a morena na sua frente e passando o papelzinho pelo canto da parede, ela pegou e poucos segundos depois virou para trás dando o dedo do meio para as duas. Agatha abafou a risada.
— O que estava escrito naquele papel? — Bárbara questionou confusa, para Cecília mandar um dedo do meio logo de manhã era sinal de que houve alguma provocação.
— Para ela fechar a boca ou vai alagar a sala com a baba dela, ai o professor vai morrer afogado.
— Você não presta.
— Nunca disse que prestava — o sorriso malicioso de criança que iria aprontar estava no canto dos lábios da garota.
O barulho da porta abrindo fez todo mundo virar para ela, inclusive Bárbara que sentiu seu coração acelerar levemente após ver quem era.
Timothée Chalamet entrou rindo acompanhado de Tom Holland.
— Bom dia meninos — o professor disse num tom sério chamando atenção de ambos — Um pouco atrasados, não acham?
— Desculpa professor, estava resolvendo algo na secretária porque não tô na outra turma, o Timothée estava me acompanhando — disse Tom — Acho que estou na lista de chamada do terceiro ano A.
— Deixe eu ver — o professor pegou a lista na sua mochila e correu os dedos pelo papel antes de concordar — Você está aqui sim Tom, pode se sentar.
— Obrigado professor.
Os olhos de Tom passearam pela sala, por alguns instantes ele focou em Bárbara por mais tempo do que ela imaginava fazendo-a corar. Timothée sentou na fileira ao lado, e antes que pudesse falar alguma coisa, o professor retomou a aula.
「♡」
— Vão descer hoje? Tô afim de ficar aqui mesmo — Cecília disse assim que a professora de história saiu da sala na hora do intervalo.
— Vamos ficar aqui — comentou Bárbara fechando o caderno — Então, como foram as férias de vocês? Qual é a história desse cabelo com pontas vermelhas Timmy?
— Perdi uma aposta que fiz com uns amigos e tenho que ficar assim até o carnaval — o Chalamet passou os dedos nos fios vermelhos falsos que se misturavam com os castanhos naturais dele — Não tá tão ruim né?
— Acho que não — Bárbara entortou a boca — Mas é estranho te ver assim, acostumei com seu cabelo natural, ele é tão bonito para você pensar em cagar ele.
— Provavelmente volta ao normal depois — ele deu de ombros — Até lá, temos que tirar fotos para eu aproveitar a minha era de cabelo pintado.
— Você vai se arrepender mais tarde, isso sim — brincou Agatha — Seus filhos vão olhar e falar "credo pai, que fase foi essa?".
Os quatro riram da voz que Agatha fez.
— Minha prima vai vir estudar aqui — comentou Cecília — Ela vem depois do carnaval porque minha tia precisa arrumar as coisas da mudança ainda, mas a matrícula dela está feita, acho que ela vai ficar no terceiro B.
— Ela é legal? — perguntou Bárbara.
— Pra mim é normal, conversei com ela poucas vezes antes dela se mudar para a Flórida. Meus tios se separaram.
— Que triste, mas apresenta ela pra gente, apenas para não ficar perdida no primeiro dia de aula, conheço um pessoal legal lá no B que pode ajudar ela — comentou Timothée.
— Caroline era bem popular na outra escola, acho que aqui não será muito diferente — Cecília deu de ombros e olhou para Agatha que estava séria — O que houve?
— Esse papo de família me fez lembrar que não contei para vocês, mas eu me assumi pros meus pais nas férias.
— Como foi? — perguntou Bárbara sabendo que aquele era um assunto delicado para a amiga.
Os três sabiam da bissexualidade da Barboza desde as férias de julho do ano anterior, quando a garota se sentiu confiante em falar sobre o assunto.
— Eu fui para Ubatuba nas últimas semanas de dezembro, ficamos num hotel e lá conheci uma garota que também estava hospedada. Eu a vi poucas vezes, só quando eu ia para a piscina até ela puxar assunto comigo, trocamos números e...
— Qual era o nome dela? — Cecília perguntou curiosa interrompendo.
— Priscila. A gente conversou na festa havaiana que teve, e rolou uma química entre as duas partes. Só não esperava que meus pais resolvessem aparecer na festa bem na hora que estávamos nos beijando.
— Eles brigaram feio com você? — perguntou Timothée.
— Minha mãe entendeu quando expliquei, meu pai não falou comigo até alguns dias atrás e cheguei até a pensar que poderia me expulsar de casa. Semana passada ele chegou do trabalho me dizendo que tentaria entender aos poucos, só pediu tempo.
Os três ficaram em silêncio enquanto Agatha tentava não fazer suas lágrimas caírem.
— Qualquer coisa que acontecer você pode morar lá em casa, tem bastante espaço — Bárbara disse pegando na mão da amiga que tinha os olhos cheios de água.
— Eu tô bem, mas agradeço Babi pelo apoio — ela limpou as lágrimas que começavam a cair — Pensei que seria um pouco pior, é que o silêncio dele me incomodou bastante, ele nem olhava na minha cara direito.
— Estamos sempre aqui para te apoiar Agatha, você é nossa esquentadinha favorita — brincou Timothée para aliviar o clima.
— Já que quer me apoiar, Chalamet, vamos ter que tirar foto desse cabelo ainda, porque com toda certeza um dia vai se arrepender de ter feito essa tintura — a garota secou as lágrimas e pegou o celular e virando na câmera frontal sem se importar com a expressão de choro, seria uma boa forma de lembrar que teria seus amigos ali para o que fosse passar — Todos estão prontos?
— Agora? Sem eu me arrumar? — Babi começou a passar a mão na franja e no comprimento do cabelo.
— Você está linda Babi, vamos logo — Timothée puxou a garota para o seu lado mantendo-a assim pela sua cintura, a garota teve que se segurar para não corar.
Cecília trocou olhares com Agatha, que sorria maliciosamente vendo os dois.
— Agora digam cachorro quente — pediu a Barboza.
— Cachorro quente!
A foto foi tirada e segundos depois o sinal tocou anunciando que o intervalo havia acabado.
「♡」
— Sério, acho que às segundas feiras ficará anotado na minha agenda como dias que eu posso faltar, ninguém aguenta duas de química, duas de história, duas de física e uma de matemática — protestou Agatha descendo as escadas junto com as duas amigas.
— Ah, não achei tão ruim — Cecília deu de ombros — Foi legal até.
— Legal? Fala isso por causa do professor de química — retrucou Bárbara — Não tem nada de legal, exceto história porque a professora explica de modo que não deixa cansativo.
— Quarta feira temos educação física na última aula, não sei se reclamo ou agradeço.
— Você adora esportes Agatha, por que reclamaria?
— Porque sei que ficaremos quebradas na quinta e sexta, isso não é legal.
As três passaram pelo portão da escola quando ouviram alguém se aproximando.
— Alerta, Tom Holland está vindo e encarando você Babi — Cecília comentou baixinho.
— Como?
Foi somente o tempo da garota virar para trás que se deparou com Tom atrás de si, ela olhou levemente para cima por conta dos centímetros de diferença que possuía entre os dois.
— Oi Babi, tudo bem?
— Hã...tudo sim, e você?
— Bem.
O garoto se calou olhando de Bárbara para as suas amigas e voltando para a primeira.
— Olha só a hora e o sol! Nós já vamos indo. Até amanhã, Babi, qualquer coisa manda mensagem — Cecília saiu com Agatha segurando uma risadinha, era mais do que óbvio que Tom queria conversar com a amiga sem as duas por perto.
— Eu queria saber se sábado que vem está livre? — Tom perguntou diretamente assim que estavam a sós.
— Acho que sim, não planejei nada até agora.
— Eu estava querendo ir até a Casa das Rosas para fotografar um pouco, queria saber se gostaria de ir comigo?
— C-com você? — perguntou arregalando os olhos surpresa — Tipo como… um… err… encontro?
— Sim, depois podíamos assistir um filme no Pátio Paulista ou no Cidade São Paulo, ou então andar um pouco pela Paulista enquanto conversamos. O que me diz?
Bárbara sentia suas mãos suando de nervoso, ela nunca havia passado por aquela situação antes. Um encontro? Com Tom Holland?
— E-eu…
— Se não quiser vou entender, acho que te assustei não é mesmo? — ele questionou, começando a ficar constrangido.
— Não! Só estou um pouco surpresa, nunca pensei em sair com você.
Certo, essa parte era uma levemente mentira porque Bárbara já havia reparado o quanto Tom ficou ainda mais bonito, principalmente no fim do ano anterior quando houve a feira de artes e ele apresentava as fotos do clube de fotografia com tanta maestria que era lindo aos olhos da garota.
Na verdade, não só aos olhos dela como das garotas do ensino médio inteiro, havia até uma eleição interna declarando que ele estava no top 3 dos mais bonitos da escola.
— Então, teremos um encontro sábado que vem?
— Sim, teremos — ela respondeu tentando fazer com que sua voz ficasse firme.
— Aqui meu número — ele disse estendendo um papelzinho dobrado — Podemos nos falar mais tarde?
— C-claro.
— Legal! Até amanhã Babi.
E num ato totalmente inesperado, Tom deu um rápido beijo na bochecha da garota antes de ir até um carro preto, a garota notou pela semelhança do motorista que aquele deveria ser o pai dele.
Guardando o papel num dos bolsos da mochila, Bárbara começou seu trajeto até a estação de metrô, desta vez com o coração flutuando.
「♡」
Notas da autora: Hey pessoal, como estão?
O que acharam do primeiro capítulo de Lover? Deixando claro que a história se passa no Brasil, especificamente na capital SP (onde está autora reside) então as ambientações serão bastante por aqui.
Dentro da música principal, do capítulo, tem outras músicas dentro que depois soltarei no capítulo playlist.
Me digam o que estão achando, amo ler comentários!
Até o próximo!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top