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Qual é o som da esperança?
À medida que nos aproximamos da cidade, os cubos patrulham o perímetro. Tae e eu nos esforçamos para ser o mais discretos possíveis. Sabemos que será inevitável não ser ameaçados por eles, mas não queremos sucumbir ali, sem ao menos ter a chance de verificar se o bunker é real.
Avistamos a fila de carros abandonados e os prédios arruinados, vítimas dos cubos e do implacável tempo. Uma neblina acinzentada envolve as ruas, e o medo nos assombra em antecipação ao que nos aguarda. Tae me lança um olhar e sorri confiante:
"Vamos conseguir, amor."
Retribuo o sorriso, porém, não estou tão segura. Parece que algo dentro de mim sussurra que o fim está próximo. No entanto, quando ele aperta minha mão e me encara com tanto amor, sinto que juntos podemos superar qualquer obstáculo. Mesmo com toda essa destruição assolando o mundo, permanecemos unidos, prontos para enfrentar o que for necessário.
Trabalhamos em equipe. Tae monitora atentamente ao redor, atento a qualquer ruído que possa surgir, qualquer ameaça iminente. Enquanto isso, fico de olho no céu, preparada para uma possível aparição dos cubos, com a esperança de escaparmos ilesos.
Passamos por alguns galpões abandonados, encontrando um esconderijo temporário. Avisto um cubo ao longe e aviso Tae para ficar atento. A incerteza do que nos aguarda nos atormenta, porém a esperança de sobreviver é reconfortante. Nos últimos dias, viajamos temendo o silêncio mortal do mundo. Nunca me importei com a falta de som, mas o silêncio que agora domina o mundo é diferente. É a sensação avassaladora de vidas ceifadas, a incerteza do amanhã, a dor da perda dos entes queridos. Esse silêncio é aterrorizante.
"O cubo se foi, vamos", Tae sinaliza, e eu assinto. Precisamos sair dali.
Chegamos à fila de carros, uma área mais aberta, mas as outras entradas da cidade parecem bloqueadas. Talvez haja mesmo um bunker aqui, e os cubos tenham cercado os sobreviventes. Caminhamos entre os veículos, repletos de histórias perdidas. Ao passar por um Ford Ka branco, avisto uma cadeirinha de bebê vazia. Sinto um aperto no peito, a dor de saber que aquela criança não teve chance contra essas adversidades. Os humanos brincaram de ser deuses, e eis o resultado.
Ao nos aproximarmos da entrada, avisto algo se movendo entre os carros. Primeiro, assusto-me, sem saber ao certo o que está ali, mas percebo que a figura continua a se movimentar em passos largos. Cutuco Tae e aponto na direção em que vi o estranho corpo. Decidimos nos aproximar para investigar.
Ao chegarmos perto de uma van, o corpo se revela: é um coelho branco, de orelhas enormes e olhos vermelhos. Ficamos atônitos por um momento. Os animais foram os primeiros a sucumbir ao ambiente tóxico, mas olhar para aquele coelho nos traz esperança, a esperança de que a vida está se renovando.
"Isto é um sinal maravilhoso", Tae diz, com os olhos marejados. "A vida está retornando à terra", ele aperta minha mão, e sorrimos um para o outro. Sinto-me renovada ao presenciar tal cena, Tae está verdadeiramente feliz por ver este coelho.
Algo está acontecendo com o coelho branco. Seus pelos começam a chamuscar e ele se contorce diante de nós, perdendo a vida enquanto queima. À sua retaguarda, um cubo emite uma luz vermelha. Mesmo sem ouvir a voz de Tae, seu grito de horror ressoa dentro de mim. O pobre coelho se desfaz em pó, sem qualquer chance de escapar.
Imóvel, não consigo reagir. O choque de presenciar algo tão puro perecer de forma tão cruel é avassalador. O cubo avança em nossa direção, sinalizando que seremos os próximos. Tae me puxa pela mão, e juntos corremos em direção à cidade.
Recuso-me a olhar para trás, correndo desesperadamente pela vida de ambos, ciente de que o robô está nos perseguindo. Passamos por ruas e praças abandonadas, onde a natureza, apesar de sua apatia, continua a consumir tudo ao seu redor.
Ao longe, avistamos mais cubos. Como reflexo, Tae dobra a esquina, arrastando-me consigo. Todas as ruas parecem confusas e estranhas, como se estivéssemos correndo por um labirinto de concreto, enquanto a sensação de sermos alcançados não me abandona. O corpo de Tae o trai, parecendo incapaz de respirar e cai de joelhos. Me abaixo para verificar seu estado e avisto o cubo um pouco distante. Dou-lhe alguns tapas leves no rosto, instigando-o a se concentrar e se reerguer. Seu olhar pesa sobre mim, pedindo desculpas por fraquejar, mas não há tempo para isso. Abandono minha mochila e sinalizo para ele fazer o mesmo com as suas. Ele se desfaz da mochila de suprimentos, mas mantém firme a que carrega as roupas, e voltamos a correr.
Perco a noção do tempo que passamos correndo, até que Tae aponta para um prédio com a porta aberta. Olho rapidamente para trás e não vejo o cubo. Esta é nossa chance de escapar. Adentramos o prédio e nos escondemos entre móveis empoeirados. Pouco depois, avistamos o cubo passando direto. Permanecemos em silêncio por um tempo, constatando que ele se foi. Um sorriso de alívio brota em nossos lábios, teremos um momento para descansar.
Tae sorri e gesticula: "Você viu o que eu vi?" Negando com a cabeça, ele continua: "É o Empire Express... o prédio comercial... lembra do que nos disseram?"
"Atrás do Empire Express, há um condomínio. Siga o condomínio até a última rua e encontrarão uma trilha. Essa trilha levará ao Bunker." Repito todas as informações que recebemos, e Tae sorri.
"Vamos conseguir, Jieun. Vamos sobreviver", ele me puxa e nossos lábios se encontram.
Sua pele está mais seca que o normal, seu olhar branco cada vez mais apático. Temo por sua vida; sei que ele está se enfraquecendo. Precisamos chegar ao Bunker logo.
"Vou procurar água", sinalizo, e ele assente.
Entramos em um prédio residencial e, por sorte, encontramos barrinhas de cereal ainda válidas, um pacote de Doritos, vinho lacrado e muita água. Tanta água que conseguimos até limpar nossos corpos, algo que não fazíamos há muito tempo. Quando tínhamos sorte, usávamos lenços umedecidos encontrados nos saques, mas no fim do mundo, aprendemos na marra a nos desapegar de coisas como um bom banho. Decidimos passar a noite no prédio, escolhendo um apartamento próximo ao térreo, nos fundos - um local bom para se esconder e mais rápido para fugir.
Tae está estirado no sofá, aparentemente aliviado por ter encontrado um lugar mais adequado para descansar. O ambiente está bem arrumado, um apartamento comum, com móveis de classe média, objetos pessoais e decorativos no lugar, enfeitados pela poeira. É estranho estar tudo tão em ordem. Talvez, infelizmente, essas pessoas tenham sido as primeiras a morrer ou fugiram para o bunker.
Meu amado chama minha atenção e eu o encaro. Em seguida, ele gesticula: "Aceita um vinho, minha cara noiva?" Sorrio e me aproximo dele. Tae desenrolha a garrafa de vinho e toma um gole generoso, fazendo uma careta em seguida devido ao conteúdo quente. Deixo escapar um riso suave e pego a garrafa de sua mão, inclinando-a para beber, me arrependendo logo em seguida. O sabor ácido me faz engasgar, e Tae se aproxima rindo para me ajudar.
"Vai com calma, princesa, isso quente é venenoso," ele diz, tomando a garrafa de minha mão e colocando-a de lado.
Sento ao seu lado no sofá, e sua mão acaricia minha perna. Nossos olhares se encontram, e ele afaga meu rosto com delicadeza.
"Eu quero te amar de novo, como fazíamos antes de tudo isso," ele mal termina de mover seus dedos, e eu o beijo.
Nosso beijo apaixonado nos envolve, permitindo que nossos sentimentos fluam enquanto nossos corpos relaxam. Desabotoo sua camisa, tocando sua pele quente, conectando meus desejos e anseios a ele. Meu mundo inteiro é ele, e mesmo que houvesse muitos de nós, ninguém me amaria como ele.
Por um breve momento, esquecemos da radiação nos matando, dos cubos nos caçando, do mundo se acabando, e apenas o nosso amor importa.
☢️☢️☢️
Tae me acorda e sinaliza que precisamos partir. O céu está mais escuro do que o normal, o que é preocupante. Juntamos as provisões e seguimos pelos corredores vazios até a entrada do prédio. Tae coloca a cabeça para fora, a fim de verificar se está tudo bem. Ele faz sinal para continuarmos e seguimos em direção ao condomínio. As casas estão todas destruídas e saqueadas, ao contrário do prédio onde passamos a noite, que parece intacto.
Caminhamos rapidamente, ansiosos na esperança de encontrar um lugar seguro. Talvez a pressa tenha nos impedido de perceber o cubo atrás de nós. Avistamos a trilha, e Tae se vira assustado; o cubo está muito próximo. Meu noivo pega na minha mão, e começamos a correr, subindo a trilha.
Apesar de nossos esforços para alcançar o nosso objetivo, o cubo se move rapidamente, perseguindo-nos como se fôssemos a presa. Minhas pernas doem, e sinto o calor irradiando de sua superfície de metal em minha pele. Por um instante, pensei que nosso fim havia chegado, mas Tae aponta à nossa frente; há um cervo ali. O cubo para e avança de forma feroz em direção ao cervo, tentando fazê-lo desaparecer.
Aproveitamos a oportunidade e continuamos a correr, ignorando a queimação em nossos pulmões; só precisamos fugir. Avistamos um prédio bastante deteriorado, cercado por móveis, eletrodomésticos, lixo e papéis espalhados por todos os lados. Há também uma piscina, e a água parada exala um odor fétido. Não temos escolha senão correr para dentro e procurar abrigo.
O prédio parece abandonado, sua estrutura demonstra estar comprometida com rachaduras e buracos por várias partes. Avançamos pelos corredores escuros até chegarmos a um salão enorme, onde nos deparamos com...
Amanhã tem o capítulo final. Beijo beijo tchau tchau
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