01 - Say Your Name!

Love In West Coast

2014

NO FRIO ARTIFÍCIAL de meu quarto, o som estridente do despertar se tornou presente, retirando-me de meu precioso sono de exatas oito horas. Sentada no vaso, acabei adormecendo sem querer, mas tive meu sono cortado novamente, não pelo despertador, mas sim por minha governanta, que estava comigo desde o dia de meu nascimento. E com ela não adiantava chorar, implorar, subornar, ou era como ela queria, ou era como ela queria.

Mas mesmo sendo muito rígida, sabia que se não fosse por ela eu seria exatamente como minha melhor amiga. Como iria para um lugar sagrado era necessário tomar cuidado na hora de escolher minhas vestimentas. Recebendo a ajuda de Maria conseguimos um bom resultado; uma saia na medida certa branca e uma regata tendo um suéter rosa por cima. Em meus pés um par de All Stars salmon, e pendurado em meu ombro direito a pequena bolsa que havia ganhado semana passada.

Pensei muito se devia mesmo ir com aquela roupa, talvez a saia pudesse ser considerada curta demais e desrespeitosa, mas não tinha mais tempo, precisava comer logo se não iríamos perder o horário.
Mamãe e papai estavam em seus respectivos lugares na cozinha tomando café em silêncio. Helena estava uma verdadeira rainha trajando um vestido de comprimento longo, cor verde agua modelo imperial, suas madeixas escuras iguais as minhas caiam delicadamente por seu busto avantajado, apenas parando em sua fina cintura também igual a minha. Bruce tinha motivos para ser considero o West mais bonito entre os homens, seus olhos chamavam atenção a quilômetros de distância, me sentia grata por ter puxado iguais a eles, e tinha que admitir ele ficava um verdadeiro rei com seus ternos caríssimos.

— Princesa, não me leva a mal, não estou te criticando, mas não acha que essa saia é curta demais para irmos a missa? É a casa do Senhor, não a casa de suas amiguinhas. — E foi so pisar na cozinha que papai achou alguma falha em mim, eu deveria me acostumar, e entender que ele falava isso pelo meu bem, mas, não dava, era tão doloroso o fato dele sempre achar algo em mim para ser criticado.

— Querido pare de pegar no pé da garota, ela tem 17 anos não deve se vestir como uma mulher de 30 anos, essas são as roupas que as adolescentes usam. — Mamãe rapidamente me protegeu assim como sempre fez, mantendo um sorriso dócil ela estendeu a mão para mim e peguei a mesma, dando um beijo delicado — Deveria agradecer a Deus por uma filha tão linda e tão inteligente. Kylie é uma benção, nossa benção. 

— Sei disso querida mas temo o que os outros podem falar. Não quero que achem que minha filha é uma vadia.

— Helena já tinha feito muito em ter dito tudo aquilo, e se calou com as novas palavras de seu esposo, ela tinha tanto medo dele e não conseguia mais esconder isso, não de mim, e como ela não tinha coragem, sobrava pra mim.

— O tamanho da minha roupa não define meu caráter papai. O fato de usar roupa curta não faz de mim uma vadia. E o fato do senhor usar terno não faz de você um santo.

Sem mais uma palavra me sentei ao lado de mamãe, começando a desfrutar do gosto maravilho de meu cafe preparado com todo o carinho que Maria sentia por mim. Mastigando calmamente um pequeno pedaço de frango, elevei o olhar chegando em papai, até então ele olhava com ódio para sua esposa mas ao perceber que eu estava olhando, abriu um sorriso apaixonado pra mesma. E so me restou suspirar.

"EU NN QUERO IR PRA IGREJA PORRA CARALHO!"

Minutos dentro do carro apenas apreciando a beleza única de Los Angeles até sentir, ouvir meu celular vibrar dentro da Social Clutch, sendo a mensagem de minha melhor amiga que como em todos os domingos de manhã surtava apenas por ter que ficar 2 horas e meias agradecendo por estar viva. O que era um verdadeiro milagre se pensar na quantidade de drogas e álcool que ingeria diariamente a anos.

"Meghan! Isso é tão irritante, todo domingo é a mesma coisa. Seus pais não te obrigam a ir, vai só porque quer. Não quero ser grossa mas você só vai para me encher o saco. Por favor, se for ficar conversando, sente longe de mim. Xoxo"

Admito ter me sentido mais leve ao enviar aquela mensagem, só que o arrependimento bateu e me desculpei logo em seguida, resolvendo desligar o aparelho. Notei que estávamos no bairro vizinho, a suburbia, reparei que tudo ali era tão diferente do bairro em que eu morava. Era tudo tão mal cuidado, deprimente e fedido. Me partiu o coração ver tantas pessoas sem teto, sujas, com fome, tantas crianças tão magras, e tantas mulheres se prostituindo. Mas me senti mais motivada a seguir com meu projeto. 

— Bruce, querido, já pedi para não pegar esse caminho, é muito perigoso, podem nos assaltar — A voz doce e assustada de mamãe me retirou de meus devaneios, e me fez olhar para frente, encontrando a mesma segurando sua balsa com força e olhando apavorada para a rua. 

— É um atalho querida, e quero mostrar a esses vermes o que eles jamais terão, nem em sonhos. Quero que saibam quem manda nessa merda. — O sorriso de papai era nojento, tão superior e frio, me deixou mal por ver o quão ridículo meu pai conseguia ser em certos assuntos, e claro que sobrou pra mim, tentar abrir sua mente. 

— Não são vermes papai, são seres humanos, sentem frio e fome assim como nós, tem sentimentos assim como nós. O senhor não tem direito de tratá-los dessa maneira, não sabe o tamanho das dificuldades que eles passam. O fato de nossas condições financeiras serem bem mais altas que as deles, não nos dá o direito de debochar deles. — Mesmo que por dentro estivesse queimando de ódio, não elevei o tom, nem mudei o timbre da voz, tentei me manter calma. 

— São marginais Kylie, okay!? Marginais nojentos que roubam nosso dinheiro, matam nossas famílias, sujam nossas ruas. Los Angeles seria muito mais bonita sem esses negros repugnantes. 

Não tive mais condições de lhe responder, se formou um nó em minha garganta e as lágrimas foram inevitáveis. Fugi daquele mundo horrível em que era obrigada a viver colocando os fones de ouvido, e colocando na música Gangsta, a que eu mais estava apaixonada ultimamente. No sinal vermelho, um pequeno e fofo garotinho de no máximo 6 anos se aproximou do carro trazia em suas mãozinhas sujas uma caixa que dentro continha trufas coloridas. A cor de seus olhos me chamou a atenção; era um tom de castanho único, no sol ficava cor de caramelo. E me apaixonei imediatamente por eles. 

Em questão de cinco segundos tirei de dentro da bolsa trezentos reais, iria usá-los para comprar um salto que tinha visto na vitrine de uma loja no centro, mas eles podiam esperar já tinha tantos mesmos. Abaixei o vidro e entreguei as três notas de 100 ao garotinho, o sorriso que ele me deu foi tão lindo, seus olhinhos brilharam perfeitamente e ainda recebi um beijo nas costas da mão. Enquanto nosso carro se distanciava pude ver o mesmo garotinho de pele escura correr até um homem, não consegui ver o rosto dele, mas vi uma pequena parte de suas tatuagens. 

De longe observava tristemente meus pais entre seus amigos, é eles estavam sorrindo, todos eles, mas eram sorrisos falsos. Dali podia ver toda vez que um olhar de inveja, raiva ou ódio era trocado disfarçadamente, ou quando alguém ria de modo malvado. No outro lado estavam seus filhos, ou como preferia chamar "Meus Falsos Amigos", se divertiam falsamente mas o que se esperar de pessoas tão plastificadas como eles? E mais no canto, meu namorado Luke conversando com Anne, uma garota totalmente sem cérebro. 

Meu companheiro a mais de um ano estava muito próximo daquela que jurava ser apenas sua amiga, ele abriu a mão na parede ao lado da cabeça da mesma e ela sorriu com malícia, beliscando o próprio lábio. Não iria ficar ali, observando aquelas cenas ridículas, então comecei a andar sem rumo, até perceber que depois de minutos estava no cemitério. E depois de mais minutos, estava em frente aquele túmulo sempre presente em meus piores pesadelos. 

Já se fazia dois anos mas não conseguia superar, ia frequentemente no terapeuta mas não parecia funcionar, tentava seguir em frente mas não dava. Kendall estaria completando 19 anos amanhã, mas a pressão de meus pais e de todos lhe tirou a vida da maneira mais dolorosa possível. Era impossível não chorar, ver seu nome escrito naquela lápides branca e logo embaixo a frase que sempre dizia para mim; "não tenha tema seus medos, ame-os pois é graças a eles que você é forte". Era algo que me destruía.

Eu sempre levava para todos os cantos sua carta do suicídio, era algo que meu terapeuta não recomendava pois podia me prender ao passado, mas preferia que ficasse comigo do que com os outros. E meu choro só ficou mais forte ao ler todas aquelas palavras direcionadas para mim. Até em seus últimos momentos ela não deixou de pensar em mim, e era aquilo que me deixava muito mais triste. Kendall tinha sido o meu porto seguro, e com sua morte eu fiquei tão perdida, ainda estava tão perdida. As coisas seriam bem mais fáceis se ela ainda estivesse comigo, mas meus pais me tiraram ela e me deixaram sozinha novamente.

* * *

Dia seguinte.

15:23 SAI do ballet, e por ter dormido no cemitério junto de minha irmã mais velha foi uma tortura treinar por 5 horas sem descanso. 18:47 cheguei do Shopping aonde fiz minhas compras semanais e como em toda minha vida a casa estava vazia. 19:00 em ponto me sentei na primeira cadeira na terceira fileira e ali fiquei durante toda a aula de matemática, minha meteria favorita, por ser complicada e eu amar desafios. 23:56 coloquei os pés em casa, e no mesmo segundo, ouvi os gritos deles.

E como em todas as discussões mamãe estava de cabeça baixa enquanto papai gritava palavras cruéis contra ela, ofendendo sua aparência, diminuindo seu valor, dizendo o como ela era inútil. As suas mãos estavam sujas com o sangue da mulher que lhe deu as suas duas filhas, aquela pureza em seus olhos azuis não existia mais, apenas ódio, apenas vazio de sua alma escura. Não estava bem, e sabia que independente do cómodo que ficasse, iria escutar a briga, e decidi dar uma pequena fugida, afinal era o melhor a se fazer.

Tão envolvida em meus pensamentos aleatórios demorei a perceber que estava naquele mesmo bairro de ontem, era tudo mais assustador de noite e bem mais fedido do que parecia. Mas isso não me impediu de dar continuidade a caminhada, pelo contrário me motivou a continuar andando cada vez mais para explorar mais a área que pretendia ajudar. Era um dia raro pois estava usando roupas mais discreta, diferente das que estava costumar a usar, então não estava chamando atenção de ninguém.

Sem querer entrei em uma rua sem saída, com casas abandonadas e bem estreita, dei meia volta mas parei ali mesmo ao me deparar com um estranho um homem baixinho com roupas rasgadas e fedidas, sorrindo de maneira assustadora para mim — Carne nova na área. Gosto de uma vadia branca. Ainda mais quando a vadia branca é filha do Bruce.

Mesmo estando apavorada não demonstrei, só ergui a cabeça e comecei a dar calmos passos. Ia me retirar do beco quando aquele homem segurou meu braço com força e me jogou sem cuidado algum contra a parede. Devido o impacto perdi um pouco do ar e por ter batido a cabeça minha visão deu falhas uma atrás da outra, apagando e voltando, até se normalizar de novo. Mas enquanto ainda não voltava ao normal, vi distorcida a imagem dele abrindo o zíper da calça e depois de estar bem de novo, vi que ele já estava com seu membro para fora.

Tentei procurar algo para me defender, mas ele foi muito mais rápido, virando meu corpo e esmagando meu rosto com força contra a parede, assim como meus seios e apertando meus pulsos atrás de meu corpo. Sem saída, fechei os olhos com força, rezando para que algo ou alguém me salvasse, soluçando e chorando desesperadamente.

Estava sem reação, não conseguia pensar em nada que pudesse me salvar, e meu estado de puro pavor piorou de maneira inexplicável ao sentir sua mão entrando em minha calcinha por debaixo da saia, saindo de mim um grito rouco. 

— Larga ela Kan.

Como um cachorro que obedece seu dono, aquele monstro obedeceu o dono daquela voz rouca magnífica.

Escorreguei até o chão, abraçando meus joelhos, fechei os olhos com mais força, tendo medo de abri-los e escondi a cabeça com os braços desabando em um choro de pavor e alívio. Por um tempo ouvi os dois discutindo, aparentemente aquele que me salvou era tío daquele que abusou de mim até que ouvi som de passos se distanciando e só abrir os olhos vi que nenhum dos dois estava ali.

Milésimos para me recompor e sai do chão sujo, começando a correr até o mais alto e parando em sua frente. Sua aparência me fez levar um susto, ele era tão lindo, a pele branca reluzia com o brilho da luz, seus olhos me faziam lembrar de alguém, mas ao mesmo tempo eu nunca tinha visto olhos tão lindos, dois finos riscos em sua sobrancelha esquerda lhe davam um ar mais descolado. Demorei um pouco para sair do transe causado por sua beleza, e ao sair, limpei o residuos de lágrimas de meu rosto e sorri verdadeiramente.

— Muito obrigado por ter me salvado. É sério não tem ideia do tamanho da gratidão que sinto. Não seria o que seria de mim se aquilo tivesse mesmo acontecido.

— Ele iria te matar vender seus órgãos pra comprar drogas ou depois de comer iria te vender a um traficante de mulheres, o pai dele.

O jeito tranquilo que ele disse aquilo me assustou mas nem tive tempo para me afastar pois ele mesmo começou a andar na direção contrária da que eu tinha vindo. Precisava saber seu nome ele tinha salvado minha vida e dei um grito chamando pelo mesmo, só que ele não parou. E tive que correr, porém na hora de segurar seu braço ele puxou o mesmo e se virou mostrando os olhos repletos de raiva.

— Não entendeu ainda o que vai acontecer com você se ficar aqui garota? Vai pra casa caralho aqui não é lugar pra patricinha mimada. Você é carne nova eles vão te querer, garota igual você vende fácil, então vai embora antes que te façam algo. E eu não vou ficar te salvando só dei um jeito nele porque sou tio dele e ele tem que me obedecer, mas nem todos me obedecem então some daqui.

— So me diz seu nome, por favor e eu vou embora, nunca mais piso aqui nem de día nem de noite. Apenas me diga seu nome, ou seu sobrenome, qualquer coisa.

— Meu nome? — Seu olhar mudou aquela raiva evaporou no ar dando lugar a curiosidade até parecia surpreso, vi uma ponta de desejo misturada com luxúria e senti meu rosto queimar com o jeito em que o loiro olhou todo o meu corpo, da cabeça aos pés. Droga! Devia estar mais vermelha que o batom em meus lábios

— Sim, seu nome. O meu é Kylie, Kylie Jenner, mas prefiro que me chame apenas de Kylie, ou Ky.

— Kylie? Nome legal. Diferente e erótico — Notei a malícia em sua voz ao pronunciar a última palavra, também notei que ele reprimia uma sorriso. Outra coisa que percebi é que estava tentando mudar de assunto ou até mesmo acabar com o mesmo, mas eu era bem insistente quando queria.

— Obrigada, e qual o seu? Tenho certeza que deve ser bem legal. É bem... Erótico também...

— Eu tenho vários nomes gata e se vira pra descobrir um deles. Sozinha. Agora vai pra casa — Novamente ele deu as costas, enfiando as mãos nos bolsos da calça mas antes colocou o capuz do moletom, abaixando a cabeça enquanto se afastava em passos um tanto quanto rápidos.

— Pelo menos me diz um apelido.

— Me chama do que quiser gatinha.
 
E então ele sumiu de minha vista cruzando a esquina e quando fui ver se ainda estava ali nem seu cheiro qual não consegui sentir durante a conversa pois ele fazia de tudo para se afastar de mim. Não fiquei mais dois segundos ali, corri com toda força sem olhar pra trás, segurando a saia para não mostrar demais. Até enfim estar segura em minha casa.

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