Capítulo 38 👑

⚠Atenção . Esta história contém cenas de sexo e violência, o que não são indicadas para menores de 18 anos🔞. Não é permitido nenhum tipo de plágio. Não se esqueçam de votar, comentar e partilhar!
Boa leitura.

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Quase deixo cair as chaves e abro um sorriso largo, sentindo-me leve como se estivesse pronta para por os pés para cima e caminhar céu acima, mas o som a minha frente não deixa. Devo estar minutos ali, entre procurar e distinguir, o som de carros pela estrada como se a movimentação tivesse aumentado muito mais. Uma movimentação tão frenética e veloz, os carros em linhas retas e em direções opostas. Sinto a garganta secar, a estrada se alargando, o sol por cima fica mais quente, as vozes aumentam, gases quentes libertam-se em maior quantidade, os motores rugem com força e a minha tontura piora. Como se a rua me pedisse para voltar para casa. Como se a cidade me pedisse para voltar para minha antiga cidade, aquela em que vivi quando criança.

Começo a apertar os dentes quando sinto algo dentro de meu cérebro começar a estalar com tanta força, mais forte que o quente quando avisto o outro lado da estrada, que para no momento de abrir-se. Estou parada agora, o meio da cabeça doendo como se não parasse de parafusar de dentro. Faço o caminho do restaurante para a estrada com os olhos e refaço- a tantas vezes até meus olhos doerem e detenho-me desviando- os.

Preciso regressar.

Abraço meu corpo pronta para voltar quando estou olhando para uma mulher alta, elegante, de óculos escuros e chapéu de abas largas protegendo-a do sol e um pequeno sorriso no canto dos lábios. Estamos perto demais. Quase cedo um passo quando ela segura em meus braços, olhando para mim de debaixo dos óculos.

— Olá, Jane. Não tinha a ideia de assustar-te. — Depois o sorriso de antes desmancha-se duma vez e deixa uma pequena careta amarga para trás — Eu perdi o funeral. Se uma das meninas não me teria contado, eu não teria como saber. Já que nem tenho contato com vocês.

— O que faz aqui? — Pergunto tentando parecer rude e tento livrar-me de suas mãos.

— Ele era meu neto.

Balanço com a cabeça, essa mulher está aqui, atrás de nós, depois de tudo o que aconteceu, ela simplesmente finge que nada acontecera. Que ela nunca ameaçara minha vida. E a de meu filho. Sinto-me vivendo dentro de uma ruindade. Há semanas descobri que possivelmente meu marido faz sexo com homens. Meu irmão, incluindo. Não há o que pensar. Minha garganta fica de repente seca e falta-me ar. Eu fui atrás do Zack?

— Cheguei agora. Desci do carro quando te vi, assim olhando estranha para a rua. Andas tomando tuas medicações? Pareces-me mesmo apática.

Sinto-me invadida por uma grande pressão de que ela anda seguindo nossas vidas de longe e sabe muito mais do que desejamos. Como se refletisse um pouco, ela responde de seguida:

— Eu nunca tive a intenção de atentar contra a tua vida. Aquilo foi por um mero acaso. Estava resolvendo questão de negócios. Estou aqui para ajudar naquilo que posso.

Não respeito nada que sai de sua boca. Sei que mais cedo ou mais tarde ela trará de novo esta conversa.

— Vai embora.

Balança com a cabeça, olhando para mim.

— Não posso. Não vou deixar-vos vulneráveis outra vez. Então — Vejo-a pegando em meu braço com alguma delicadeza e puxar-me em direção à estrada, encostada ao seu corpo vejo-me presa e sem forças para lutar e pela primeira vez cedo-me a esta mulher. Tem um carro de prata com a porta aberta no banco de trás e ela faz-me entrar — Não vou deixar-vos ir.

♤♤♤

Subimos pelas escadas do apartamento, Vanda e o condutor de seu carro movendo-se atrás de mim, enquanto eu mantinha a mente longe, a dor reduzindo aos poucos de tanto colocar os olhos na estrada onde bati com o meu filho. Chego à porta e abro-a com tanta força que a chave nem se move na fechadura e de imediato é aberta no segundo a seguir, sem que eu verdadeiramente note. Quase que penso em uma desculpa gigante para o Harry. A mim não demonstra tanta preocupação quando abre-me a porta olhando diretamente em meus olhos. Está la de olhos em mim, e depois com passos leves de costas para mim e no meio da sala, como se eu tivesse interrompido algo com toda essa velocidade desastrosa. Retiro as chaves da fechadura com mais facilidade com que as coloquei e deixo a porta aberta para os dois entrarem no apartamento. Sem fazer barulho, olho para a televisão que chama à atenção, mostrando um filme quase mudo, jovens em um lago, apenas se encarando, expressões inexpressivas e olhos atentos. Olho para as costas de meu marido, os olhos dele na televisão, fixos e vidrados como fascinados por aquela cena tão indiferente e depois de segundos, começa a piscar e regressa a realidade. Ele olha para os dois integrantes que fecham a porta por trás de nós. Não diz nada. Suas mãos deslocam-se para os quadris e vejo a força com que seus dedos apertam como se contivessem algo e sinto-me inebriada pelo desejo intenso. O cabelo escuro alto, forte e volumoso que ele não penteara mais cedo, as costas largas e tensas e algo mais, tenho vontade de fazer sexo com ele pela segunda vez hoje. Mas ao mesmo tempo, outra vez invadida por ódio. Sinto-me exausta. Quando ele vai entender que salvei sua vida?

— Um agente da polícia esteve cá mais cedo. Já tinhas sumido por essa porta — Não sei o que mais ele possa estar pensando, saí tão rápido de casa depois de uma pequena crise de susto em meio a tantas recordações confusas.

Porque aqui estou eu com a sensação de ter sido arrastada pela porta fora e matado meu filho dentro de um engarrafamento de carros?

— Ele deve regressar de seguida — Viro a cabeça para trás e olho para Vanda no meio da sala, queixo firme em pé e o homem de pé na porta, com as mãos cruzadas atrás do corpo. — Como estavas sob o efeito dos antidepressivos, preferimos falar contigo quando estivesses melhor.

Troco um olhar sério com o meu marido. O meu homem. A minha obsessão. Balanço a cabeça um pouco, sentindo a leve dor de cabeça ainda lá. Sinto-me confusa, as peles quentes de minhas coxas ardendo por onde roçaram debaixo da calça, meus dedos formigando com as chaves e minha cabeça apertando. Alguém ri no filme e sinto-me estranha em um momento proposital como esse. Ele está ali de pé, outra vez ejetando seu peso de culpa para cima de mim, tentando esmagar-me e ambos sabemos de que isso não nos levará para lugar algum. Ele pode continuar a rejeitar-me assim, ou então livrará de mim e colocará outra aqui. Uma que não ouse ir contra as suas vontades. Uma que realmente o deixe sofrer até não poder mais. Engulo em seco e desvio o olhar outra vez para televisão, quase contente quando vejo uma menina de pele clara e alegre rir tanto para um rapaz. Eram os dois do lago. Ainda não estou pronta. Ainda não.

— Encontraram uma mulher morta pelo acidente no meu carro. Ainda ela não foi identificada. Fazes ideia de quem seja? Eu não entendo o que ela fazia contigo no carro.

E não, nunca estarei pronta para o que vem. Olho para os olhos dele. Respondendo pela segunda vez. Não havia mulher nenhuma ali.

— Não, não faço ideia.

♤♤♤

Não conseguia determinar o quanto o tempo na cidade vinha a correr tão depressa, tão velozes como se algo inédito fosse acontecer em um relógio cronológico. As semanas de gravidez acumulando- se trazendo meses e uma fartura ao meio. Ou de como os dias corriam rápido comigo ao trabalho, em grande parte do dia, como se nem parasse para piscar ou raciocinar. A minha vida mantinha-se atarefada com aquele restaurante, Harry mais trabalhador e longe de casa e de nós. Passei a vê-lo menos, ficando a maior parte da tarde para a noite sozinha, martilhando-se com as razões que pudessem leva-lo a fazer isso. Poderia ter amigos no trabalho, no nosso quotidiano e era somente o Rui, mas sim, haveria mais. Amigos ou quem mais que fosse.

Lembro-me então de uma sexta-feira de um final de semana na qual eu não trabalharia e ele talvez. Depois de muito ter esquecido da chamada na madrugada e do carro perto do prédio. Decidi deixar isso para trás. Mas não porque deixara de acontecer, porque o carro por cinco noites seguidas estava lá, no mesmo horário, iluminando a parede e o armário do nosso quarto com os seus faróis. Decidi deixar isso para trás, fosse ou não paranoia minha. O estranho deixou de acontecer, o que foi um alívio para mim. Naquela sexta-feira, Harry trabalhou muito mais que o usual e imaginei que a partir das oito ele estaria saindo com os colegas, e sem me comunicar. Talvez eles fossem para algum pub que eu não conheça na pequena cidade, ou para o único restaurante. Ou para a casa de alguém?

Para mim como se os colegas dele não existissem, uma vez mencionou um "Eliot", que quase perdeu o emprego duas vezes por ser muito desajeitado. Fiquei a espera até as 21h e 40 minutos, o apartamento tão assombroso e silencioso quanto meu útero grávido, minha tensão aumentando e senti o Jimmy mexer um pouco. Tentei respirar profundamente procurando o alívio. De novo, em muitas semanas, ele estava a sentir meu enrijamento. Tentei não tocar meu abdómen. Ele não aceitaria minhas desculpas. Pus a vestir roupas e sapatos mais confortáveis, peguei as chaves do carro que ele nunca levava ao trabalho e desci para pegar o carro. Conduzi para o sul da cidade, atravessando direto o restaurante, o ponto ocupado por poucas instalações onde as casas eram de tijolos, grande maioria habitado por idosos e a construção mais alta era a fábrica.

Em poucos minutos, já estou lá, ouvindo antes de ver um guarda assobiando debaixo da pouco luz que saía para a rua. Harry nunca trabalhou até depois das oito da noite e a mim não parece haver movimento ali dentro. Fiz contato visual com o guarda a uns 10 metros do carro, mas ele apenas deu as costas e perdi minha oportunidade de obter alguma informação sobre a equipa que sai às 6 do trabalho. Com o motor do carro desligado, cutucando uma cutícula dolorosa do meu indicador, puxei o telemóvel do bolso para discar. Entrou de imediato uma chamada assustando-me com a música, tão semelhante a ouvi-la às duas horas da madrugada, dentro do quarto escuro e no silêncio da respiração do Harry.

E o número era reconhecido. O mesmo. Reconheci os três primeiros dígitos, que já não via há pelo menos uma semana e toquei logo para o ecrã, acabando por atender e levando a cutícula entre os dentes. Pela primeira vez, atendo sua chamada. Em vez de responder, mordo-a puxando para fora da pele. Ouvi uma respiração pesada do outro lado e a pessoa começou dolorosamente a tossir e quase escarra. Esperei e arranquei a cutícula. Ela é tão boa ao ser mastigada. O leito da unha queimou.

— Olá. — Encarei a frente do carro, surpresa ao ouvir uma voz de mulher cuja voz não reconheci, tão rouca pelo catarro e permaneci não respondendo.— Jane, estava tão assustada em não poder te contatar mais.

Deixei meu silêncio como resposta, não conseguia perceber nas dezenas de mulheres que conheço, qual delas se atreveria naquele momento a me ligar. Ainda conectada, virei a cabeça de ambos os lados da janela do carro, esperando notar alguém que não fosse o guarda ainda a assobiar. Não tinha ninguém.

— Desculpa te incomodar. Consegui o teu número — Ela limpa a garganta — eu sei que é tão tarde e que tu...

Não parei para ouvir o resto ainda atenta ao redor, da possibilidade de alguém ter-me visto e reconhecido. Harry também poderia saber que eu estava lá. Senti uma afronta ao pensar nisso, e sabia que estava tensa de novo, e logo Jimmy senti-lo-ia de novo. Até ao último nervo. Deixei cair o telemóvel sobre meu colo e liguei o motor, aliviada por ser um motor novo e veloz e quando revirei para tirar o telemóvel de cima de mim, com uma mão conduzindo o carro para fora do terreno, meus dedos tocaram o ecrã e ativou-se o modo de voz externa que invade o interior do veículo.

— Por favor, preciso falar contigo. Preciso de ti.

Enquanto ela continuava a falar, eu não parava de apertar as teclas sem tirar os olhos da estrada, e consegui desligar em um minuto e conduzi direto para o apartamento aonde me sentia segura. 

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