Capítulo 30 👑
⚠Atenção . Esta história contém cenas de sexo e violência, o que não são indicadas para menores de 18 anos🔞. Não é permitido nenhum tipo de plágio. Não se esqueçam de votar, comentar e partilhar!
Boa leitura.
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Consegui ter alta naquela tarde e mesmo assim foi a tarde mais desastrosa e infeliz com que tinha -me deparado. Ainda tinha na cabeça as lembranças da dor e do choque que senti assim que vi o pátio de entrada e o banco de urgências. Os momentos ruins eu queria ter deixado presos ali dentro, mas tudo revivia em minha cabeça, minuto pós minuto. Do quanto eu quis pegar em meu filho e senti-lo em meus braços, a sua pele fina e quente, vibrante e emotiva, enquanto ele estaria a chorar e eu começaria a chorar feliz.
E ele não chegou a chorar. Deve ter liberado algum soluço antes da vida deixar de lhe pertencer de seguida. O que será que meu pai sentiria quando ele visse o próprio neto, antes que morresse, ou a minha mãe, o que ela sentiria da única filha, daquela que ela deixou para trás? Um pouco de orgulho talvez. Terão meus irmãos, seus próprios filhos?
Sem entrar no carro do Harry, já estou a chorar e ocupo assim o lugar ao seu lado, em meu silêncio, e olhando para a frente que sinto um misto de tantas emoções que chegam quase a rachar minha pele e a ela arrepia-se instantaneamente. Se for para sofrer até ao fim de minha vida pela morte do meu filho, eu sofrerei assim. Mas que o verdadeiro culpado seja condenado. A primeira culpada, que levou-nos a tudo isto, Vanda Thompson, minha sogra.
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Rui já está a nossa espera na entrada para o apartamento e confesso sentir um pouco de raiva só de ver para ele, queria ficar sozinha com o meu marido até amanhã, no enterro do nosso filho. Ele saúda ao Harry, como velhos amigos que são e depois aproxima-se de mim. Paro quase assustada junto à porta do carro e ele ignorando isso, justo a minha frente, segura em meus ombros e sorrindo leve, diz:
— Consigo ver toda essa má energia radicalizar em tua manta exterior. Vou preparar-te uma fusão para que durmas, está bem?
— Eu não quero dormir — Faço uma pequena birra na qual não tenho hábito e deparo com o Harry a olhar direto para mim. Ele está com má expressão e pronto a dizer algo. Simplesmente aceito a mão de Rui evitando qualquer situação de desconforto e entramos para o prédio.
A fusão de aromaterapia e um chá doce que engoli em dois goles, tranquilizou- me em instantes e Rui levantou-se satisfeito do meu lado. Ele e Harry trocam um olhar e desaparecem juntos para a cozinha deixando – me sozinha com minhas ideias sonolentas. Ao mesmo que tudo vibre devagar, pequenas peças tentam ir juntando-se até formarem lembranças e vejo-me quase a dormir. Harry não está a culpar-me, não por tudo, mas enfia meu irmão em toda esta história. Com os olhos quase fechando em nosso sofá novo, ouvindo ainda suas vozes baixas e mansas, com a cabeça apoiada no cotovelo, como se um potente calmante fizesse sucesso em meu sistema nervoso, pensamentos não param de maquinar, como se eu pensasse melhor assim do que realmente acordada.
— Eu vou fazer de tudo para ajuda-la. — Rui diz ao fim de algum tempo.
Eu sinto que preciso encontrar meu irmão e voltar a falar com ele. Será que ele ao menos dará as caras amanhã ao enterro, pelo menos para eu querer saber de algo mais? Solto um suspiro profundo e deixo cair a cabeça para trás no sofá fechando os olhos em seguida e sinto zumbidos nos ouvidos. A verdade tinha- me sido contada direta e fria por quem eu menos queria, mas mesmo assim segui adiante. Estava a sentir o perigo em nossas portas, e por um pouco nem importei-me em proteger meu filho. Havia muito a acontecer com essa criança para ela não nascer, inicialmente não estava ser aceita pelo pai, que negou por um tempo. Ele não queria um filho e eu desejei-o sozinho. Ou ele deixaria- nos sozinhos, e ele teria que lidar com graves consequências depois.
— Fazes aquilo que podes — Harry responde e eles continuam a conversar mas deixo de prestar atenção assim que levanto do sofá, com sono e tontura e olho a volta da nossa sala do apartamento. Uma vida simples, ele queria, arrastou-me para o meio disso tudo, portanto, duvido que ele consiga fugir de tudo. Ele sabe, sabe bem, que a morte de Jimmy também está pesando em seus ombros. Num ponto, cada um de nós tem culpa de tudo. Em algum momento, entorto-me sobre um dos sofás e finalmente cedo-me ao sono.
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O que a sombra quer mostrar- me desta vez? Só que cansei de imagens ruins, apesar das poucas recordações boas estarem ali presentes. Desde que minha mãe saiu de casa, ao suicídio do Thomas, até a minha recente fuga para uma cidade pequena com meu marido e nosso filho no meu ventre. " Eu sempre cuido de tudo por ti"
Ela diz dentro de minha cabeça, coordenando o que a sombra deve ou não revelar para mim. E então pego-me respondendo de voz alta, para ela. — Então onde estavas quando tudo aconteceu? Sabes dizer o que aconteceu, não sabes?
Não obtive resposta.
Ela transporta-me desta vez para Savannah. Quando já não podia mais fugir de Vanda e as filhas delas conseguirem outra vez encontrar-me de novo e desta, com a mulher presente. Harry já sabia da minha gravidez na altura, teu erro, como ele o chamava e passei dias a pensar em uma criança crescendo como um gesto de erro e não como fruto de uma excitação minha. Mas ali, olhando para Vanda, que notei a fonte amarga do meu marido, aquele pouco que ele quase estava a completar, para se tornar insuportável como ela.
— Não precisava de muito para te encontrar — Disse ela, continuando a olhar para mim — Nem sei o que o meu filho aprontou desta vez. Devo-me sentir ruim por não ter-lhe ensinado mais que o suficiente? Antes que digas algo, serás capaz de me ouvires por algum tempo?
Eu não tinha mesmo o que dizer para ela, deixei-a conversar sozinha, ali mesmo, no meu trabalho. Deixando desta vez minha colega tomar conta do resto dos clientes.
— Fiz parte de diversas sociedades durante anos, quase 30 anos, sem parar. Fiz bastante lucro, nem imaginas — Ela sorri quando diz isso, como se fosse algo de grande valor e que me fosse de grande importância. — E o último deles, se foram juntando, uma pequena guerra entre os nossos, mais velhos foram ficando, jovens não aceitando o pouco, tivemos um ano de colisão imensa. Nem fazes ideia. Dinheiro que entrava e saía daquilo.
Pensando na forma como ela o diz, com essa quantidade, eu já deduzia alguma conclusão e algo me dizia que havia ilegalidade submersa ali. Meu corpo entrou em outro transe naquele momento que pensei nisso.
— Imagina no nosso pequeno mundo, como uma guerra imensa de clãs, como algo primitivo. Tivemos de organizar tudo aquilo e deitar abaixo os que estavam a postos e colocar novos, mas mesmo assim durante os anos seguintes, seguiu exatamente igual e tivemos de chegar a uma estratégia. Com uma parte das autoridades por cima de nós. Chamava a muita atenção. Precisávamos de um ponto em comum, sem muita atenção, um local discreto, mas com uma limitação de clientes.
Desde o início que eu sabia aonde essa conversa chegava e eu não queria ouvir a continuação.
— Como pôde colocar tudo isso para cima do seu filho? — Pergunto com a garganta ficando seca e ela apenas junta os ombros e olha por uns segundos na direção dos clientes presentes.
— Quando você está assim que percebe o que as pessoas realmente necessitam, e a maior necessidade é o prazer. Ela conta para tudo. Sem ela não existe felicidade.
Eu nego com a cabeça e abaixo a cabeça para o chão. A dor também faz parte.
— O que a senhora quer? Não aceita que seu filho tenha vendido o clube?
— Ele vendeu a Lux em um ato de desespero e covardia. Ele não o quis de forma alguma. Mas o seu pai, Cane, ele que levantou a Lux até aquilo que ela é hoje e colocou o Harry no posto. Por isso estamos lutando por aquilo que o pai ele e os antecessores lutaram por anos. Harry está a fugir de algo que ele não deveria. Eu preciso que ele reabra a Lux ou transfira os negócios para um outro sector imobiliário.
Custa-me acreditar em suas palavras, estranho ouvir alguém falar tudo isso, como se fosse a cena maluca de um filme, um bando de obcecados atrás de alguma mina de ouro.
— Sabe que as notícias não mudam. Harry não quer mais fazer parte disto.
Vejo um pequeno sorriso formar em seus lábios e outro arrepio pior atravessa-me de uma vez. Como farei para terminar esta conversa?
— Vieste atrás do teu pai e nem sabias porquê. Talvez porque achasses que ele tinha algo a oferecer-te. Chegas cá e dás de cara com uma boa herança. De todo o tempo que ele esforçou-se pelo bem daquela empresa e de nossa sociedade unida. E ele fez muito mais do que imaginaste. Teu pai trabalhou muito para nós. E está na hora de esforçares também. Pelo vosso bem. Harry simplesmente não tem opções. Precisas mostra-lo isso.
— Meu pai está morto — As palavras soltam-me aleatórias pela boca e ela encolhe os ombros sorrindo e de repente eu percebo-me entrando em algo tão ridículo como minhas ideias, encaminhando para algo que ela quer que eu faça e, negando com a cabeça, dou um passo atrás e revido nervosa.
— Peço que cale. Agora — Mas o efeito que eu quero não causa nada nela e continua naquele sorriso bobo e arrogante e querendo-me cada vez mais. — Meu pai foi enterrado. Todos sabemos disso. Foi uma decisão dele.
— E ele deixou tudo para trás. Provavelmente ele tenha mais um tesouro as escondidas por aí. E em breve, nós da sociedade também saberemos. Não tarda, querida. Então faz aquilo que estou mandando. Não tens tempo a perder.
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Nem tinha percebido o quanto dormi até que ouvi sons pelo quarto e acordando, quase vi quase tudo às escuras, e por um momento imaginei que ainda estivesse no hospital, ainda com aquele bip do monitor cardíaco em minha cabeça. Volto-me para a minha realidade e observando tudo, sinto aquele gosto amargo subir-me à boca quando relembro-me de tudo. Eu já sinto medo de amanhecer e deparar com o dia seguinte. Queria dormir e esquecer tudo. Tudo desde o início.
Harry está de pé com a luz da cabeceira acesa, e pendura seu roupão no cabide do quarto e olha para baixo, os cabelos salpicados e agora mais curtos e sua expressão não passa de pensativa e triste. Ele funga rapidamente e vira-se para sair, mas deve ouvir – me mover por cima dos lençóis e vira a cabeça um pouco, sem olhar diretamente para mim. Estranho- me com a agilidade que me vejo saindo de cima da cama e aproximar assim dele. Ele não move um músculo e juntando-me a ele, abraço suas costas e entrelaço as mãos, como se não permitisse sua saída. Encosto o nariz em sua roupa e contente inalo o cheiro dele, trazendo-me todas aquelas lembranças boas que tenho dele e sinto saudades. Saudades de tudo. Dele, da nossa vida antes do acidente, até da excitação que o medo me causava. Aperto a camisa entre os dedos. Devíamos estar mais juntos no nosso momento de luto, mas eu sei que ele acusa-me. Até que ponto, não faço ideia. Mas uma coisa eu quero. Quero ter a minha vida de volta. Quero tê-lo de volta. E haveria muito que fazer por isso. Muito a perdoar por isso.
— Deveríamos tentar ser mais conciliadores em um momento como esse, pelo nosso filho.
Deixo que ele desenvencilhe- se de mim e vira-se um pouco para mim.
— Não deverias ter-te levantado — Mordo os lábios nervosa quando noto que ele ignora minhas palavras e continuo mesmo assim.
— Eu quero- te de volta — Resmungo com os olhos fixos nos dele e por um segundo, ele perde-se como se considerasse minhas palavras, mas desvia- se livrando de vez de perto de mim.
— Volta para a cama e eu trago- te algo para comer.
Desaparece tão rápido pela porta como se fosse uma sombra e deixa-me sozinha com a luz acesa da cabeceira, e alguns cantos do quarto na escuridão. Pouco tempo depois ele volta com sopa quente e sento-me na cama para comer. Agradeço quando ele fica para fazer-me companhia. Nesse momento lembro-me de Gina e de suas sopas e percebo radiante que Harry aprendeu grande parte dos cozinhados dela e faz questão de ter tudo em ordens pela casa.
Não faz tanto tempo,volto a adormecer e sinto em algum momento Harry encostar-se ao meu lado, bemjuntinho a mim.
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