Capítulo 28 👑
⚠Atenção . Esta história contém cenas de sexo e violência, o que não são indicadas para menores de 18 anos🔞. Não é permitido nenhum tipo de plágio. Não se esqueçam de votar, comentar e partilhar!
Boa leitura.
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Desta vez eu lembro do dia em que casei com o Harry. Foi algo tão rápido quanto o batismo de uma criança, fazia-se presente um homem não católico em uma praia, que proferiu um par de frases para os noivos, os noivos de branco, roupas tão leves debaixo daquele pequeno sol que parecia estar soletrando algo para a praia, e as ondas apoiando, leves em pequenas espumas que mal saltavam pela areia, preguiçosas.
Eu estava com os pés nus, um dedão dolorido, não me lembro tão bem do quê e Harry sem deixar o homem terminar de falar, abraçou-me de lado e elevou os dedos dos pés longos para cima dos meus e senti-me muito estranha naquele momento. Estranha como se fosse a maior esquisitice estar comprometida de verdade com um homem. Virei para olhar para a sombra no rosto dele. Não sei se sorria. Ele tinha de comprometer-se a mim e a criança que crescia em meu ventre.
Onde está o meu filho?
Porque não consigo acordar?
Lembro-me que na nossa lua-de-mel, esquentei-me tanto para deixar minha marca no Harry, um chupão que ele ficou tão confuso mas nem sequer tocou no assunto para saber. Eu estava tão satisfeita que não parava de rir ao ouvido dele.
E lembro de muito mais coisas. De discussões, com Jessica, uma última com a irmã do Harry, Claire, em algum momento conheci a irmã mais nova deles, lembro do aparecimento do meu irmão mais velho, Zack, e falamos tanto, tantos assuntos, mas ele nem sequer tocou no fato de ter estado na prisão. Apenas dirigiu-se a mim como se estivesse há apenas semanas sem nos vermos. Fiquei muito boba em vê-lo, que nem sabia como me dirigia a ele. Maninho? Estranho? Ou fugitivo? Mas de uma coisa tenho certeza. Ele esteve na prisão por diversas questões que tenha vergonha de citar. E ainda mal conheço-o. Ele entrou em contato e fiquei atónica, e imaginei o melhor em seu retorno, havia chegado de outra cidade e estava a minha procura, mas revelou em nossa primeira conversa o que queria de verdade. A parte na herança do nosso pai. O que tivesse a restar.
Lembro de ter discutido com mais alguém. E nada me vem à mente, como se o opióide injetado em minha veia estivesse causando algum bloqueio mental.
Não quero dormir mais. As pálpebras pesam muito e pareço ter uma massa em lugar do meu corpo e tento mover meu pé. Sei que algo grave se passou e falta algo essencial. O pé se move e o outro segue de imediato o comando e fico satisfeita com esse pequeno movimento. Enfim, pelo menos descolo as pálpebras como se tivessem postas ali com algo, mas deve ser secreções e restos de lágrimas. Não sinto dor e quase rio. Aprecio -me com um calor agradável e lentamente meus dedos roçam pela maciez do lençol debaixo de mim. Como se fosse um vazio sobre uma cama. Consigo sentir tudo o que é punção pelos meus dois braços, um pequeno monitor apita a cada segundo à minha esquerda e movo os olhos de um lado ao outro tentando dar um reconhecimento à sala. Frascos de soros por cima pendendo, e por cima deles, uma luz tão fraca que mal ilumina o que eu quero ver. Tento mover a boca para falar, mas acho que nenhum som sai, lembrando-me que engoli uma parte daquela sombra como se fosse uma fumaça. E tudo aquilo fazia parte de um sonho. Estou nesta cama há muito tempo? Sonho desde que enterrei o meu pai. Desde que encontrei o Harry.
Assim que vejo um homem sentado torto sobre uma cadeira, percebo que minha cabeceira pode estar mais alta do que pensei. Quase arrepiei quando reconheci aqueles olhos que já me encaram de volta. Ele tem uma mão debruçada sobre a boca e tenho a perceção que morde-a com algum nervosismo, e em seguida levanta a cabeça me assustando e consigo ver todo o seu rosto. Lembro de tudo menos dele. Ele deve perceber alguma confusão em meu rosto que seus olhos calmamente se desviam para a minha direita. Sem baixar muito a guarda, viro a cabeça para o lado oposto ao meu monitor que continua naquele apitar insistente.
Encaro outro homem bocejando com uma expressão tão fatigada que quase para os movimentos de levantar os braços quando nota que estou acordada. As linhas em volta de seus olhos parecem relaxar-se.
Sinto uma inundação de alívio.
— Jane — ele desencosta-se do sofá trazendo-se para perto de mim e mesmo no meio de toda a minha pequena confusão mental, com pouca luz, observo seu rosto inchado e uma de suas mãos desliza-se delicadamente pela minha nuca, como se procurasse ferimentos. Uma expressão alegre surge afastando um pouco minhas dúvidas e quase sorrio de volta — Estás bem?
Essa não era a pergunta certa a ser-me feita, não no momento. E abano com a cabeça, defrontando com a realidade agora que estou acordada, eu quis acordar, mas com medo de tudo isto. Ela voltaria em um momento como a colisão de um veículo.
— Eu tive um acidente... — Comecei a falar para mim mesma, e abaixei um pouco os olhos sentindo dor. Parecia muita dor, mas a minha cabeça ouvia meus gritos de onde eu bati com o carro do Harry. Eu gritei muito até perder a consciência. Foi o pior momento que deparei na minha vida. Tinha muito sangue dentro do carro. Gritei quando sabia que não tinha técnica para nos salvar e alguém sairia do seu carro no meio da estrada. Para nos salvar. Mas só conseguiram salvar a mim. Tinha tanta tontura por ter batido com a cabeça no volante, um choque tão violento que quase nos esmagou aos dois. Ele era um rapaz. A dor dissipa-se em lágrimas fortes. E agora foi-se. Matei meu filho em um acidente porque eu simplesmente fui persistente.
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Chorei tanto que eu vi o homem na cadeira em um momento levantar-se em uma pose forte e parar-se ao meu lado, e esfregar uma mão em meus dedos.
— Respira, Jane — Engolindo um soluço forte, desvio o rosto de Harry e olho para ele de pé, as últimas lágrimas caindo e encaro- o de forma direta, de mais perto, para uma expressão tranquila, olhos escuros orientados, e empáticos e sinto como se o pequeno monstro da tristeza finalmente aliviasse meu peito e deixasse-me respirar. Ele finalmente dá um pequeno sorriso. E sinto algo crepitar dentro de mim. Um pequeno soluço escapa. — Tenta respirar com calma, o melhor que podes.
— Certo — Respondo entre soluços e fico surpresa por ter conseguido libertar uma palavra e ele assente desviando o olhar para o meu marido — Ela vai precisar.
— Obrigada, Rui — Procuro Harry agora com o olhar, mas sinto dificuldades, não apenas algumas limitações corporais, mas como se uma energia atrativa viesse do homem de pé que fosse difícil de desligar. Mas ao mesmo tempo, ouvir e sentir a presença do Harry ao meu lado trouxesse algo parecido. Uma energia semelhante nos dois. — Podes deixar-nos a sós, por favor.
— Claro — Não olho para o homem até ouvir a porta fechar-se e Harry levanta-se para sentar-se sobre a cama. Encaro seus olhos e encontro o que já esperava. Ele está magoado. Sinto aquilo outra vez pesar sobre meu peito e tento arranjar coragem para fazer duas coisas: pedir-lhe desculpas e tocar meu abdómen agora flácido e vazio. Apenas deixo as lágrimas subirem de novo aos olhos.
Ele parece estar dececionado e levanta-se da cama e dá a volta em direção a cadeira aonde Rui antes estava. Raspo as unhas contra o colchão. Sinto- me nervosa.
— Quanto tempo passou? — Pergunto como se as palavras quisessem voar para fora da boca.
— Mais de 20 horas — Responde rápido e direto e desvio a cabeça para observa-lo. No que estas últimas 20 horas fizeram com ele. Engoliu a raiva que tinha de mim, pelo menos pelo bem-estar do filho, que agora jaz sem vida fora do meu útero, aonde prometi protege -lo, a mulher cheia de dor e ferimentos fazendo o que pode para manter o feto vivo. Jimmy faria 35 semanas neste fim-de-semana, ele já era completo, preparando seu pequeno pulmão para viver no nosso mundo. E isso foi arrancado dele brutalmente. Por minha culpa.
Harry agora tem a cabeça encostada em uma pequena janela para o exterior, os braços cruzados e a silhueta torta, como se estar ali fosse muito melhor do que ocupar a posição na cadeira ao meu lado. E aquela imensa vontade de voltar a chorar. O rosto inchado dele revela sua tristeza e o pouco descanso. Enfim, fecho os olhos e levo as mãos até ao meu abdómen tentando engolir qualquer angústia e a sombra amiga está lá para me revelar verdades.
Eu conheço o Rui. Sei que conheço- o quando vejo seu rosto limpo e de forma mais clara na manhã seguinte no momento que a médica conversa comigo e capto palavras como " hemorragias ", " suturas" , e a minha cabeça enche-se de novas. Olho para o rosto da médica, anos mais velha que eu, procurando aquele pequeno ar arrogante que poderia notar em sua expressão jovial, mas a sua é dócil e compreensiva. Ela lamenta mais que uma vez e escuto tudo em silêncio. O Jimmy já é um menino, em algum momento ela fala no enterro dele e sinto uma tontura tão forte que tento imaginar que tal é pouco possível. Ele não nascera por vontade própria, é pequeno, e não vejo a coragem para algo tão nefasto. Em menos de um ano vi meu pai ser enterrado, e agora meu filho seguia o mesmo destino sem ao menos ter sua pequena chance de vida. A médica arregala os olhos enquanto encara-me, vendo as lágrimas molhando minhas bochechas e os soluços ininterruptos e sem saber tanto do que fazer procura Rui com o olhar que ainda encontra-se perto da porta. E eu quero a presença do Harry. E pedir – lhe todos os perdões possíveis que pudesse ter causado tudo isto.
Ao menos se eu conseguisse lembrar dos últimos momentos antes do acidente. Depois de sair das compras. De tanto fugir, com medo que mais alguém estivesse atrás de nós ou que a mãe de Harry soubesse já aonde estaríamos. Ainda não cansamos de fugir sem rastros. E o Rui entrou na nossa vida para ajudar.
Dobro o corpo para frente e aperto a mão no abdómen sentindo saudades daquela maciez redonda que antes vivia ali, meu desespero parece aumentar mais desde que acordei e não encontrei o Harry no quarto. Ele não surgiu desde então e ainda chorando procuro arranhar o lençol por baixo de tanta raiva, e aliviada que ninguém tenha vindo para cima de mim pedindo para parar. A raiva é tão forte que nem se compara com nada que eu tenho sentido até agora, e eu sei que toda aquela sombra que vi em meu sonho fazia parte de todo aquele sentimento negativo que venho a carregar há anos, deixando para trás tudo o que possivelmente me deixaria feliz. Quem será o prejudicado da próxima vez? O Harry. A ideia assusta-me e de repente eu sinto medo que ele entre no quarto de novo, ou é capaz de machucar-se. Somente por estar ao meu lado. As palavras de minha mãe estão lá de novo, em minha cabeça, torturando- me.
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