Capítulo 13 👑

⚠Atenção . Esta história contém cenas de sexo e violência, o que não são indicadas para menores de 18 anos🔞. Não é permitido nenhum tipo de plágio. Não se esqueçam de votar, comentar e partilhar!
Boa leitura.

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Quando me mudei pela primeira vez para a cidade, a cuidadora Jenny já suspeitava de meus planos por pelo menos três semanas antes. Tinha começado um novo emprego sem dizer nada aos outros em uma livraria aonde facilmente seria achada. Uma das filhas dela curiosamente entrou lá e me encontrou. A que nunca se dava ao trabalho de ler um livro. Ela saiu em silêncio e nem a mãe chegou a comentar comigo depois. Teria que ter dinheiro para comprar a passagem de comboio para a nova cidade e pagar o primeiro mês de renda no novo apartamento. Eu e a cuidadora Jenny convivíamos bem, mesmo que ela nunca me tirasse de dentro das confusões que as duas filhas me metiam. Quando meus irmãos foram embora, fiquei sozinha naquela casa com os filhos dela. A grande mulher lutadora que cuidava de cinco filhos de ex-maridos diferentes e a filha de uma vizinha, que fazia alguma intenção de não sair.

As coisas pioraram ali quando as irmãs não paravam de discutir o que fosse comigo, um verniz usado, alguma peça de roupa fora do lugar, as melhores cuecas teriam que ser para elas, e em momentos até desafiaram-me quanto aos garotos da nossa escola. Aqueles que nunca estava interessada. Mais discussões, mais crises, mais perdas de memórias, mais arrasante aquilo tudo era para mim. Cheguei a um momento de exaustão e tinha crises recorrentes de mutismo num espaço de duas horas, o que passou do normal e Jenny teve que intervir. E então que sucedeu a minha primeira crise psicótica que durara horas a fio quando eu tinha 14 anos. Quando passou, dormi um dia inteiro, de tão exausta. E quando eu acordei que descobri que o segundo filho de Jenny fora encontrado morto. Aquilo foi demais para mim.

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Pelo menos a Gina, como a empregada apresentou-me a própria cabeça, já tinha deixado de cantarolar e eu segui entrando pela porta adentro sem nem olhar para trás dessa vez. Abri-a sem escancarar tanto e espreitei para o interior do quarto. Fiz uma pequena careta quando passei o olhar pelos cómodos de dentro. Aquele quarto era um pouco daquilo que eu já imaginava e sorri enfiando todo o tronco e revirando o olhar pelo largo que ficava por trás da porta. Olhei para o roupão escuro do Harry que estava ali pendurado em uma cabide de pé, lembrando da noite que cheguei na casa e ele subiu até ao andar superior para acompanhar sua amante. Ele é muita areia para o teu camiãozinho. E o que mudava isso, Maya? Sorri um pouco mais, Maya a idiota que não sabe de nada, ela que nunca realmente entendeu dessas coisas, aquela desprezível que nem entende do próprio cabelo.

Entrei pelo quarto e dei de cara com um espelho grande e fixei em minha figura ali zanzando como um reflexo bisbilhoteiro. E o Harry despindo e vestindo suas roupas de frente a ele. E alguém como a Maya que queria estar ali. No quarto do homem elegante dos meus sonhos. Voltei a cabeça em direção à cama e levantei as sobrancelhas achando divertido quando vejo dois sapatos espalhados às desordens pelos pés da cama, como se aquele pequeno desastre trouxesse um pouco mais de sabor àquela perfeição que eu estava a encarar naquele momento.

Segui contemplando aquele quarto sem mover-me do lugar e mantive-me em silêncio à espera que algo acontecesse ou me saltasse à vista, mas tudo aquilo era o normal do quarto de um homem, nada que fosse fora do comum, nada que eu quisesse tocar ou levar dali. Enfrentei um passo, outro para perto da porta até que parei com o olhar fixo em baixo. Do lado da cama, fora da vista de quem estivesse parado à porta, estava algo além do pequeno desalinhar dos dois sapatos, mesmo que não parecesse tão importante, chamou-me à atenção, como uma pequena briga de crianças que precisa ser deixado de lado. Tinha sido atirado até ali com raiva já que dentro do quarto não parecia haver nenhuma pasta que armazenasse o monte de papéis atirados ao chão. Gina poderia ter passado pelo quarto e deixado aquele monte de papéis pelo chão do lado da cama? Olho a volta de onde poderiam ter caído, mas não havia nenhuma mesa de escritório ali. Ou talvez viessem do andar de baixo, e ficaram esquecidos no chão. Constituíam mais de duas dezenas de papéis dobrados de forma brusca alguns virados e outros possíveis de ser lidos. Aproximo para observar aquela bagunça e olho daqueles papéis caídos até a cama já a minha frente. Alinhadas com os papéis, alguém deixou um amasso de onde tinha sentado sobre o lençol e deixado tudo ali. Só teria que ser o Harry. Abaixo-me com uma mão no joelho e com a outra pego alguns papéis dobrados para baixo e viro a parte escrita para mim. Sinto a vista turva quando vejo tantas letras pequenas preenchendo linhas. Estreito o olhar sobre aquilo e distingo algumas palavras e quando abaixo para pousar os papéis de novo possibilito- me um sobressalto ao ver alguém, bem na minha frente. Olho para ela de joelhos no chão, cotovelos pousados sobre o ponto amassado do lençol. A jovem sorri para mim, tem uma roupa diferente e quase que quero fugir outra vez. De fora, ela não tem voz. Mas consigo entender o que diz: "são cartas".

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Encaro a estante como um monumento fanático no canto esquerdo da sala, leio cada um dos rótulos das garrafas, e, sedenta, seguro com um pouco mais de força a garrafa nas minhas mãos, a bebida que menos conhecia naquela coleção. Desço a mão para o balcão e meus dedos roçam às cegas pela borda lisa de um copo, e tentando segura- lo entre os dedos, ouço a porta por trás de mim abrir-se de forma rápida e com o susto deixo o copo cair. Arregalo os olhos com o baque que faz contra a madeira. Rezo para que não tenha dado nenhum lasco e pés aproximam-se de forma rápida de mim. Viro-me rápida segurando o gargalo da bebida estranha e encaro uma figura mais pequena que eu. Gina estreita os olhos gordos para a garrafa como se estivesse em uma discussão interna com ela e depois inclui-me na discussão.

— Desculpa dizer-te isso, mas devias estar na cama e não atropelando o Harry pela casa. — Eu nego com a cabeça e ela aproxima-se a passos sussurrantes e agarra a garrafa pela metade e olhando-me de um olho para o outro, consegue retirar-ma das mãos — Já disse para não fazeres asneira, menina.

Eu olho para baixo enquanto ela dá a volta pelo balcão e pousa a garrafa entre as outras. Era só curiosidade, penso e não digo.

— Não mechas nas coisas dele. Nem no quarto, nem aqui em baixo — Quando ela para ao meu lado, ouço-a batucar unhas contra a madeira do balcão e sinto sua presença junto a pele do meu braço — Não queiras entrar por toda esta confusão. Vai ser muita coisa para digerir. Um milagre que ele tenha deixado que ficasses aqui.

Ela afasta-se a dois passos e mantém o olhar pela frente e diz em voz baixa — Estou a pressentir que ele está a aprontar alguma. Tem uma boa noite, querida.

Só consigo retornar uma boa noite quando ela atravessa a porta e sai pelo outro lado da casa. As luzes de fora apagam-se todas e fico com a luz da estante e da clareira como enfoque dentro de casa. E os pensamentos começando a ficar lentos como se tivesse de verdade bebido. Permito-me ficar. E Harry chega logo de seguida. Não tenho respostas para suas perguntas.

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Acordo com dor de cabeça e demoro mais do que normal escovando os dentes e retalhando mentalmente cada um dos planos para o projeto que começarei a trabalhar para a semana e quando saio em direção ao quarto, reconheço a mesma impressão que tive assim que cheguei na casa. Uma mulher está na casa e não é a Gina. Desta vez ouço sua voz no andar inferior aos arredores da cozinha. Seco o rosto com minha toalha e solto um suspiro desejando ter tomado um banho para estar mais apresentável. E paro no meio do corredor. Não o vejo de verdade há dois dias e ele também não parece ter tomado seu banho do dia, e a expressão amargurada em seu rosto denuncia algo ruim. Ele é o homem elegante que eu conheço há semanas. Uma única tatuagem sai do seu antebraço por baixo da t-shirt escura e olho para ela com curiosidade. Harry tem os olhos claros fixos em meu rosto e a mão em forma de punho enfia- se para dentro do bolso de suas calças e em silêncio sai de perto da porta do quarto e desaparece do meu campo de visão em direção às escadas. Solto a minha respiração ainda assimilando sua feição cansada e o aspeto desleixado logo pela manhã. " O que foste procurar lá no meu quarto?" " Eu não sei". Eu simplesmente gaguejei.

Avanço em passos rápidos e entro para dentro do quarto que durmo e atiro a toalha às pressas para cima da cadeira ao lado da cama e refaço o caminho para o andar de baixo. Entro para a cozinha em uma curva rápida e apercebo-me da minha rapidez desnecessária quando Harry e uma mulher sentada ao balcão com uma xícara de café nas mãos olham para mim com as expressões confusas. Gina vem de outro quarto e para ao meu lado. Espero ouvir algo desagradável mas ela toca em meu braço delicadamente e sorri calma para mim.

— Não sabia que estavas com uma mulher aqui — Diz a mulher com uma xícara e quando viro a cabeça ela está de olhos fixos no Harry de pé perto do fogão. Analiso -a com mais obstinação e descubro que sua cara é tão reconhecida e não recordo-me do lugar que tenha-a encontrado. Sua posição inquisidora e olhar questionador não agradam-me tanto e tomo a posição de entrar dentro da cozinha para procurar algo para cortar o jejum e evita- la. Revirar nas coisas do Harry são uma coisa, e seguir meus instintos são outras. E uma coisa, meu instinto sempre é bom.

— Quando terminares já sabes onde é a saída. — Responde Harry frio de frente ao balcão deixando-me um pouco surpresa com sua atitude e quando aproximo um pouco mais do fundo da cozinha ele vira-se para mim e estende-me uma caneca de café fumegante. Seguro um sorriso de gratidão. Ele prefere a mim ali. Mesmo que não olhe tanto para meu rosto, deixa claro. Seus olhos estão frios sobre a mulher e ele não parece tão acolhedor. A caneca quente em minhas mãos parece ficar mais quente ainda e eu viro-me para coloca-la sobre a mesa e sem querer encaro os olhos da mulher em mim. Abaixo os olhos para a xícara dela. Suas mãos finas tremem e ela recolhe-as para o colo e diz com uma voz baixa, pacífica e trêmula.

— Vais fazer-me perder este trabalho.

— Não quero que comentes nada com mais alguém, Jessica. Estou a confiar em ti. Prometo que serás recompensada no final. Encontramo-nos no Clube. — Ele dá a conversa ao final quando caminha para fora da cozinha e eu fico a sós com a Jessica. Talvez ela fosse uma funcionária e estava ali para implorar por trabalho. Talvez Harry não fosse um patrão tão plácido como eu alguma vez pensei. Nossos olhos encontram-se de novo e naquele fundo odioso lembra-me de Maya. Ela abre a boca e seus olhos estudam cada fisionomia de meu rosto e ela levanta-se repentinamente passando a alça de sua bolsa pelos ombros e empurrando o prato com a xícara.

— Isto é uma loucura. — Diz para si e faço uma expressão de desentendida quando arrasta-se com seus saltos para fora da cozinha. Observo-a distanciar-se com o canto dos olhos e demora um tempo até chegar a porta de saída. Pelo menos eu já tinha percebido que tudo aquilo não passava de loucura, mas sim de um padrão de acontecimentos tão confusos quanto o monte de cartas no quarto do Harry. 

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