20. Nunca confie em um pirata

Curiosidade: era bem difícil um motim acontecer. Como os piratas elegiam democraticamente seus capitães, muito raramente algum deles os incomodava o bastante ao ponto dos homens decidirem organizar um motim.

      Com um bocejo, Niall espreguiçou-se na cadeira, encarando Gina rodopiando em frente ao espelho pelo que pareceu ser a quinquagésima vez. O ruído fez com que a mulher olhasse para o irlandês através do espelho, sorrindo ao notar que mesmo com o tédio de vê-la se trocar repetidamente com as roupas novas, o homem tinha ficado. Com calma, ela tirou o vestido, não se importando em ficar apenas com a chamise e seu corpete.

      — Você pode sair, se quiser. Sei que precisa cuidar das suas tarefas. — A médica disse, aproximando-se do cozinheiro para sentar-se sobre suas pernas. — Chame Louis, acredito que ele esteja livre.

      Instintivamente, Niall abraçou a cintura de Gina, sorrindo. Aquela relação tinha se desenvolvido entre eles desde que ela tinha se tornado parte da tripulação, e apesar de nenhum deles assumir alguma coisa em frente aos outros, ambos estavam bem com aquilo.

      — Se não tiver problema, eu preferiria.

      Eles se aproximaram para um beijo rápido antes do pirata irlandês sair da cabine da médica, e enquanto esperava, Gina foi até sua cama para ver as outras coisas que havia comprado na última parada que a tripulação fizera, dias atrás. Ela tinha juntado o dinheiro que Harry fazia questão de dar-lhe, então quando encontrou aquela loja nas ruas estreitas da cidadela desconhecida, ficou feliz em poder gastar uma certa quantia com roupas novas.

      Quando duas batidas soaram, Gina exclamou para que a pessoa entrasse. Louis andou casualmente pelo quarto até chegar na médica, não estranhando a falta de roupas dela — até então, a Styles mais nova era a única mulher que tinha um contato tão íntimo consigo, por isso não parecia tão escandaloso quando eles se juntavam, às vezes, para beber e jogar cartas no quarto dela.

      — Niall disse que queria minha ajuda com algo.

      — Ah, apenas quero opiniões. — Gina sorriu, voltando-se para os vestidos. — Qual desses devo experimentar agora?

      O tritão se aproximou, vislumbrando as opções. Enquanto ele tomava uma decisão, a mulher pensou em algo que lhe despertou certa curiosidade.

      — Louis. — Chamou. — Você acha que um homem poderia usar as minhas roupas?

      — Elas só servem para cobrir o corpo, não é? E esquentar. — O tritão deu de ombros, acabando por apontar para o vestido vermelho-escuro com detalhes dourados. — Este é muito bonito.

      Gina sorriu enormemente, acenando.

      — Venha aqui.

      Foi daquela forma que ela conseguiu colocar Louis em algumas de suas roupas íntimas limpas e também no vestido escolhido por ele. Como esperado, o tritão não se importou nem um pouco, colaborando docilmente quando a médica pediu para que o corpete também fizesse parte daquele conjunto. Enquanto Gina apertava a peça, Louis soltava algumas arfadas e bufadas.

      — Como está ficando? — Ela indagou, concentrada naquela tarefa e aproveitando que o homem podia se ver pelo espelho.

      — Difícil dizer. — Ele resmungou, grunhindo audivelmente.

      — A vendedora da loja me disse que é a última moda em Londres. — Gina comentou animada.

      — As mulheres em Londres devem ter aprendido a não respirar. — Louis respondeu, ofegante.

      — Que porra…

      Ao ouvirem aquela terceira voz, Louis e Gina viraram-se em direção à porta, encontrando os olhos verdes de Harry bastante confusos e surpresos. O tritão permaneceu do mesmo jeito, sentindo uma fina camada de suor em sua testa, mas a médica parecia tensa. Rapidamente, Gina puxou o biombo para que seu irmão não pudesse ver Louis, e voltou a encará-lo.

      — O que você quer? — A mulher indagou. — Bata na porta antes de entrar, ao menos.

      Sem falar nada, Harry fechou sua expressão e deu passos firmes até ela, empurrando-a para o lado a fim de afastar o anteparo de bambu. Louis aparentava estar confuso, ainda mais quando o capitão agarrou seu braço para puxá-lo até seu lado. A mão grande e cheia de anéis permaneceu ali, apertando.

      — Explique-se. — Harry disse entredentes.

      Pela primeira vez, Louis viu Gina recuar, e só então uma ponta de preocupação surgiu em seu interior. O motivo daquele conflito entre os irmãos Styles ainda lhe era desconhecido, porém. O aperto em seu braço estava começando a machucá-lo de verdade.

— É só uma roupa. — A médica disse com um riso nervoso. — Qual é o problema de eu ter posto Louis nela?

      — É sobre isso? — O tritão pensou alto, sua preocupação se tornando indignação. Ele olhou para Harry, com o cenho franzido. — Está me machucando por causa de uma roupa.

      — Isto é um vestido. — O pirata respondeu, não mudando suas feições desgostosas. — Caso queira se cobrir, use algo apropriado.

      Louis sentiu seu sangue ferver e, precisando fazer certa força, puxou seu braço, soltando-se.

      — Você é idiota ou o quê, Harry? — Ele exclamou, tocando o peito do humano com o dedo em riste. — É apenas uma roupa, Gina estava querendo opiniões e seja lá a razão de ela ter pedido para que eu provasse esse vestido, foi minha escolha aceitar. Portanto, se quer ser estúpido dessa forma com alguém, faça isso comigo, e não com a sua irmã.

      — Mesmo sendo sua escolha, é inconsequente. — Capitão Styles cerrou o maxilar, mas recuou um passo quando o tritão pressionou mais seu peito.

      — Por quê? — Louis sorriu com escárnio. — Se não gosta de ver meu corpo tão coberto por tecidos, seja mais discreto.

      — Louis… — Harry interrompeu, em tom de aviso ao que arqueou uma sobrancelha.

      O tritão soltou um riso amargo, olhando para Gina por cima do ombro. Por fim, foi até a amiga e começou a tirar o vestido.

      — Acredito que o vermelho ficará bom em você. — Ele entregou todas as roupas para ela, sorrindo sinceramente num pedido de desculpas

      — Eu… — Gina balançou a cabeça, com feições culpadas. — Sinto muito, Louis.

      — Não precisa. — O tritão a abraçou, ainda que estivesse nu, e tornou até Harry. Sem nenhum cuidado, Louis agarrou o colarinho da blusa dele, encarando-o com raiva. — E já que você insiste tanto que eu tenha minha pele exposta, vamos fazer isso na frente de todos. Que tal?

      O pirata congelou ao perceber o que estava acontecendo. Louis andou com passos firmes até a porta, e quando enfim a abriu, não pôde sair da cabine de Gina porque Harry foi mais rápido em agarrá-lo para dentro do cômodo novamente, batendo a porta.

      — QUE MERDA VOCÊ ACHA QUE ESTÁ FAZENDO?! — Berrou, seu rosto e pescoço ficando vermelhos. — Você tem noção de que está nu, não tem?

      — Não é você quem não quer ver meu corpo tão coberto como quando estava com o vestido? — Louis respondeu calmamente.

      Harry abriu a boca para retrucar, entretanto um aviso vindo do vigia da gávea chamou a atenção de todos:

      — CAPITÃO, NAVIO À VISTA! BANDEIRAS DA MARINHA REAL. NAVIO À VISTA, CAPITÃO.

      Olhando uma última vez para Louis, Harry estalou a língua no céu da boca.

      — Vista-se e vá para o porão. — O capitão olhou para sua irmã, erguendo o queixo. — Você também. Se descobrem que eu tenho uma mulher a bordo, uma que eles consideram uma bruxa, será apenas mais uma coisa a mais para ter meu pescoço pendurado na forca em praça pública.

      Assim, o capitão Harry Styles saiu da cabine, deixando-os a sós para que pudessem colocar todos os pertences femininos de Gina numa sacola e correr para o porão. Liam os parou na entrada para os fundos do navio, e disse que cuidaria de fazer uma barreira que os esconderia, mas era importante que não fizessem barulho.

      Portanto, enquanto todos os marujos se preparavam para receber os oficiais ingleses, Louis e Gina se esgueiraram pelo porão malcheiroso até a última cela, que ficava no canto. Ali, agachados com os corpos colados um no outro, ambos permaneceram em silêncio até mesmo quando uma enorme ratazana correu sobre seus pés.

      — Será que já estamos com a barreira que Liam comentou? — Louis sussurrou, depois de algum tempo.

      — Eu não sei, mas precisamos ficar quietos.

      — Queria poder ouvi-los.

      Assim que Louis terminou de falar, o som das botinas de couro soou pelo cômodo quase vazio. Um homem apareceu, vestido em seu uniforme vermelho e branco, que o tritão reconheceu de algumas cidades quando o navio atracava por necessidade de suprimentos.

      Quando esse encontro acontecia, Harry espalhava sua tripulação para que não fossem reconhecidos, preferindo se esconder em um motel barato onde ninguém o conhecia; logo na primeira vez fora explicado a Louis quem aqueles homens eram e o motivo de eles serem um perigo.

      Portanto, ao passo em que o oficial chegou mais perto da cela onde Louis e Gina estavam, o tritão sentiu-se tenso, repetindo mentalmente o desejo para que Liam os tivesse escondido como havia falado. Seu coração quis pular de seu peito, com certeza, de tão rápido que batia. Um aperto em sua mão aferreceu seu corpo, porém ele pôde relaxar ao notar que era Gina entrelaçando seus dedos. A médica estava pálida, seus lábios arroxeados, e apenas por precaução Louis olhou para seu torso, querendo assegurar-se de que ela ainda respirava.

      O guarda ergueu a cabeça, parecendo alerta a algo, mas logo baixou seus ombros. Com uma última olhada ao redor, o homem pareceu decidir que nem mesmo os ratos e cracas daquele porão eram uma ameaça, dando-se por satisfeito o bastante para retornar aos andares superiores.

      Somente quando o som das botinas se esvaiu completamente, Louis e Gina permitiram-se respirar.

      — Ora, ora, que encontro emocionante, devo dizer. — O homem de peruca branca falou, com um sorriso nojento nos lábios. Harry queria arrancá-lo com uma faca. — Você deve ser o capitão, sem dúvidas. Capitão Harry Styles, estou correto?

      — Aye.

      — Sou James Beckett. Comodoro, se preferir uma apresentação por títulos. — Ele riu pomposamente, estendendo sua mão para cumprimentar Harry.

      O pirata passou a língua azeda nos dentes inferiores, parando no molar que tinha uma cárie. Sem disfarçar ou adotar uma falsa expressão de simpatia, ele mensurou o homem de cima a baixo. O sorriso do comodoro vacilou por míseros segundos, mas quando se recuperou, havia uma pontada de acidez.

      — Acredito que tenha sido educado da boa e velha maneira inglesa, sir. Honre a educação que lhe foi dada e aperte minha mão.

      Com rudeza, Harry apertou a mão de Beckett sem medir sua força, mas como um comodoro não poderia demonstrar fraqueza alguma diante de um pirata, o sorrisinho infame continuou lá. A mesma falta de escrúpulos foi mostrada pelo oficial quando, tendo soltado sua mão, ele tirou um lencinho branco de seu bolso e limpou-se, como se o toque de Harry pudesse voltar a transmitir a própria Praga.

      — O que quer em meu navio? — O capitão indagou, ainda que tivesse uma leve ideia do motivo daquela visita.

      — Bom, senhor Styles, peço para que me leve a um local mais reservado para que possamos conversar sobre isso. — Comodoro Beckett disse, olhando para os marujos que haviam rido de sua fala.

      Todos estavam cercados pelos outros oficiais, mas ninguém estava tenso. Lidavam com coisas muito piores, então alguns canos de armas apontados para aqueles homens não era nada mais do que rotineiro.

      — Acredito que a boa e velha educação inglesa não ensine como as coisas funcionam nesse mundo, senhor. — Harry zombou. — É o meu navio, portanto as ordens são minhas. Volto a repetir… O que quer aqui?

      — Justo o bastante. — Beckett disse, mas era visível seu desgosto por estar cercado por aquelas pessoas. — Podemos, ao menos, ter um lugar para sentar?

      Com um suspiro impaciente, Harry andou até dois bancos velhos que estavam no convés e os levou até o comodoro, sentando-se primeiro. O homem torceu o nariz pela falta de decoro, contudo não demorou a estender seu lenço sobre o banco para acomodar-se ali.

      — Se seus pedidos de mordomia terminaram, comece a falar. — Depois de uma pausa, Harry fingiu estar embaraçado por perceber sua falta de educação. — Perdão: comece a falar, sir.

      James Beckett já não estava mais atuando, tinha decidido deixar a fachada cordial para trás depois de ter apertado a mão do capitão. Por isso, o nojo em sua face era completamente visível agora.

      — Sendo direto da maneira mais bruta que posso, capitão Styles, o motivo da minha presença aqui é a impaciência de Vossa Majestade, que há um ano atrás mandou-lhe para capturar o tritão que estava sob a posse espanhola. É algo que ainda se recorda?

      — Acho que se me contar mais, posso ter alguma lembrança. — Harry sorriu despreocupadamente.

      — O tritão, em questão, é a peça-chave para o ritual da vida eterna para que Vossa Majestade possa ser abençoado por essa dádiva. — O oficial suspirou. — Você foi convidado condignamente pelo próprio rei, que baseou essa decisão na incrível habilidade de escapar da forca que você demonstrou ter por todos esses anos.

      Com um aceno de mão sobre seu ombro, James Beckett chamou seu contra-almirante, que trouxe um papel perfeitamente dobrado. O comodoro limpou a garganta e abriu aquele documento, começando a ler em voz alta o que tinha sido escrito. Harry não prestou atenção, realmente, quando notou que era um documento sobre seu compromisso com aquela missão. Acham que eu sou tão burro assim?, pensou. Se fossem planejar algo, preferia que não subjugassem sua inteligência daquela maneira.

      — Comodoro Beckett. — O pirata interrompeu a leitura, recebendo um olhar reprovador do outro. — Eu preciso pedir para que você pare com todo esse teatrinho agora.

      — Como é?

      — Você disse que minha habilidade de livrar meu pescoço da forca foi o que fez o rei me procurar, não é?

      — Precisamente.

      — Pois bem. — Harry inclinou-se, apoiando seus cotovelos em seus joelhos. — Eu nunca coloco meu nome em documentos, dessa forma consigo evitar dores de cabeça como a que estou tendo agora, com sua presença em meu navio.

      Com a realização de seu erro, a atmosfera ao redor de James Beckett pareceu ficar substancialmente tensa. Isso foi divertido para o capitão pirata.

      — Isso é absurdo. — O comodoro riu, e uma pontada de nervosismo surgiu no ato. — Está aqui, é um documento oficial e…

      — Comodoro. — Harry o interrompeu de novo, sorrindo ladino. — Sinto muito desapontá-lo, mas não me lembro de prometer nada a nenhum reizinho de merda.

      Capitão Harry Styles sabia que tinha cruzado uma linha. Um limite. E sabia, também, que seria muito divertido.

      Quando as bochechas maquiadas com pó de arroz daquele oficial tornaram-se vermelhas e seus olhos marejaram de raiva, o pirata quis enfiar sua espada em sua garganta. Seria fácil, mas outros guardas da Marinha ainda tinham os mosquetes apontados para seus marujos. Portanto, Harry deslizou suavemente sua mão pela lateral de sua perna, agarrando a bainha de sua espada, e assobiou com o ritmo que usava para sinalizar um ataque inesperado.

      Com aquilo, a gritaria de vários homens, tiros de armas, espadas tilintando e grunhidos de dor se espalharam pelo navio. Harry adorava aquilo, secretamente, e a cada corte que sua espada causava no corpo daqueles homens, sua raiva do que acontecera mais cedo — a raiva de como se sentira mais cedo ao ver o corpo de Louis numa roupa tão extravagante quanto um vestido, moldando suas curvas daquela forma — era extravasada.

      Entretanto, quando quase todos os oficiais tinham sido mortos e aquele sentimento mal passava de um leve incômodo, a imagem de Louis ali no meio daquela matança fez Harry congelar. Seu corpo se aqueceu ao sentir-se mais irritado do que antes.

      — Você ficou louco?! — Gritou quando conseguiu chegar perto dele.

      — Cale a boca! — O tritão respondeu simplesmente, se afastando para jogar um dos oficiais para Oliver.

      Harry quis socá-lo por ser tão petulante. Eram amantes, mas acima disso existia uma hierarquia em um navio que não podia ser quebrada. Olhando em volta, capitão Styles notou que sua irmã não estava em lugar nenhum, então o tritão claramente havia decidido ser o único a desobedecer suas ordens diretas sem pensar nas consequências.

      Assim, Harry fez questão de impedir que Zayn matasse o último guarda e o deu a ordem para que fosse atrás de Beckett. Com raiva, chutou o mosquete para longe do inimigo e deu um tiro para o alto, fazendo seus homens se calarem. Os olhos agitados de Louis o alcançaram, mas a rebeldia deles desapareceu quando o pirata arrastou aquele oficial para perto de si.

      Harry soltou o homem apenas para dar-lhe um coice em seus joelhos, o que produziu um som de estilhaço agonizante, e ele não pôde mais ficar em pé com seus ossos quebrados, gritando de dor. O capitão ignorou-o, voltando sua atenção para Louis.

      — Até agora, você apenas os jogou para nós, esperando que terminássemos o trabalho. — Falou, assustadoramente controlado, se referindo à maneira que Louis machucava os inimigos, mas nunca os matava.

      — Harry, eu… — O tritão começou, mas foi interrompido por outro tiro para o alto. Assustado, calou-se.

      Se o humano se descontrolava, era fácil prever suas ações. Mas ele estava calmo, e isso era insanamente pior.

      Dando dois passos, Harry estava quase grudado ao corpo da arabela, parecendo maior o bastante para engoli-lo. De modo áspero, ele agarrou o pulso de Louis para abrir sua mão e colocar uma pistola em sua palma, afastando-se para postar-se atrás do oficial caído. Com força, Harry pisoteou as pernas do homem, que berrou novamente.

      — Ainda sou o capitão, e estou falando com você. — Capitão Styles rugiu, seus olhos selvagens encarando a figura de Louis com um brilho demoníaco. — Quer mostrar-se tão indisciplinado a ponto de desrespeitar-me na frente dos meus homens, como se não fosse nada demais? Ótimo, mas prove-me, primeiro, que tem os culhões necessários para matar alguém.

      O tritão arregalou os olhos, analisando Harry à procura de um sinal que aquilo era apenas uma brincadeira de mau gosto. Não encontrou nada, e recuou com seu peito começando a subir e descer mais rápido. De repente, se pegou desejando que Zayn ou Niall parasse de somente assistir àquela cena, que um deles interrompesse, mas sabia que não aconteceria; eles eram homens leais ao seu capitão, e não ousariam contradizê-lo enquanto ensinava bons modos a alguém que não tinha autoridade ali dentro.

      — Harry, por favor, deixe-me ir…

      — Capitão. — O pirata interrompeu, corrigindo-o entredentes. — Agora, mate o homem, ou cale-se de uma vez.

      Sua respiração estava entrecortada, e enquanto levantava seus braços para mirar no peito do oficial, Louis quis se agachar e chorar por sua mente parecer tão barulhenta. Sim, Harry tinha sido um completo idiota ao se alterar por um mero vestido, mas era verdade que ele não poderia deixar ninguém desrespeitar sua autoridade dentro de seu próprio navio. Foi a primeira vez que Louis desobedeceu uma ordem tão séria — ele não sabia quase nada sobre aqueles homens que queriam pegá-lo, não sabia do real perigo, e mesmo assim decidira ignorar todas as consequências —, além de dirigir-se a ele pelo primeiro nome em frente aos marujos que não eram tão próximos de seu relacionamento.

      Poderia ser ele no lugar daquele guarda. Poderiam ser as suas pernas sendo quebradas, o seu peito sob a mira de uma pistola. Ao invés disso, Harry quis puni-lo poupando sua vida para que ele mesmo tirasse a de outra pessoa.

      Concentrando-se naquele ideal incerto de benevolência, Louis disparou.

      Seus ouvidos sequer se incomodaram com o barulho alto, mas seus olhos permaneceram hipnotizados de uma forma horrorosa no corpo sem vida do oficial inglês, que caiu num baque surdo sobre o deque. O tritão sentiu seus próprios membros leves demais, como se não tivesse tato algum. O sangue começou a formar uma poça ao redor do cadáver, contudo Louis só conseguiu reagir quando Harry se aproximou. Encolhendo-se, entregou a pistola para o pirata quando a mão humana se estendeu em sua frente.

      O capitão foi até James Beckett que, ainda vivo, encontrava-se acorrentado e mantido no lugar por Zayn. O navegador se afastou quando pedido, e os dedos de Harry agarraram o colarinho do uniforme amassado do comodoro. Aproximando sua boca da orelha do oficial, falou num tom grave e severo:

      — Volte às Inglaterra e ensine ao rei essa regra valiosa que aprendeu hoje: nunca confie em um pirata.

      Soltando o homem, Harry ordenou com um só grito para que descessem o comodoro Beckett em um bote e o dessem um par de remos para que pudesse voltar para casa.

      — Capitão. — Oliver aproximou-se. — Por que deixá-lo ir? Podemos pegar o navio para nós.

      — Quem disse que não vamos nos apossar do navio?

      Oliver sorriu, entendendo a ordem.

      — Quem mais, senhor?

      — Leve seu irmão e mais cinco homens. Escolha quem quiser com exceção de Liam, Niall, Zayn, Tyson, Gina e… — Quando suas florestas vislumbraram aqueles oceanos tão familiares o encarando de volta, Harry completou: — E de Louis. Vamos para Ogígia o mais rápido que pudermos.

      — Aye, capitano.














      Quando tudo tinha se acalmado, todos os cadáveres jogados no mar e o convés limpo, Harry agarrou Louis para arrastá-lo até sua cabine. O tritão sentou-se na cama enquanto o pirata dava-lhe um sermão, ainda parecendo assustador com suas pupilas dilatadas, narinas se mexendo rápido e rosto e pescoço vermelhos. Entretanto, ele já tinha entendido a gravidade de suas ações e, agora, apenas conseguia remoer a memória de ter matado alguém a sangue frio.

      Percebendo o silêncio por parte do tritão, Harry o olhou adequadamente pela primeira vez, e ao fazer menção de perguntar se pelo menos estava sendo ouvido, o pirata percebeu o quão letárgico Louis estava. Enfim, Harry suspirou pesadamente, sentindo toda raiva em seu interior perecer.

      — O que eu estou fazendo? — Murmurou para si mesmo, passando as mãos rudemente por seu rosto. Ele cobriu a boca, decidindo sentar-se ao lado de Louis. — Venha cá.

      O tritão não pareceu pensar uma segunda vez, e como uma criança corre arrependida para o colo da mãe, ele engatinhou até colocar uma perna de cada lado dos quadris de Harry, abraçando-o e escondendo seu rosto na curva do pescoço do humano. Logo, o choro e os soluços de Louis começaram a soar pelo quarto.

      — Eu sei que sensação é essa. — O capitão segredou, acariciando as costas do consorte de maneira suave. — Não nasci sendo insensível à morte. Mas, a vida no mar é muito mais cruel do que isto, e matar um único homem não é o suficiente para assegurar sua sobrevivência.

      — Eu sei. — Louis murmurou, tendo se acalmado com a voz do pirata. Ainda assim, seu corpo tremia por inteiro. — Sinto muito por ter desrespeitado você na frente de todos. Eu sei que nunca devia ter feito aquilo.

      Harry beijou o ombro ferido do tritão, cheirando a pele de sua clavícula.

      — É melhor pensar sobre o quanto pode aguentar, se realmente quer viver ao lado de um pirata, Louis.

Ahoy, marujos!

Não se esqueça de VOTAR e COMENTAR para que eu possa saber o que você está achando da história :) Isso me ajuda muito.

Até o próximo capítulo, amo vocês. ♥

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