19. Ultimato
Curiosidade: caso estivessem há vários dias navegando em meio ao nada, sem nenhuma ilha ao redor e sem entretenimento, era de praxe que, ao acontecer uma briga no navio, os piratas considerassem aquilo uma grande diversão (contanto que os marujos envolvidos na confusão seguissem as regras do código de conduta).
⚔
Dizer que tudo estava bem a bordo do Octavius Medan seria como dizer que porcos podiam voar. De uma forma discreta, todos os marujos sentiam-se agitados já que precisariam estar prontos para algo que nunca enfrentaram anteriormente, além do fato que seu capitão estava bastante enervado por ter de lidar com tudo aquilo. Claro que, fora a batalha com Naectro, seu relacionamento com Louis era um fator agravante para tudo.
Desde a reunião da Irmandade, ambos tinham passado a maior parte de seus dias juntos, fosse cumprindo tarefas diárias dentro do navio, jogando cartas com os outros tripulantes ou, até mesmo, escapando algumas vezes para longe de todos a fim de terem privacidade em momentos mais quentes.
Não dava para dizer que eram dias ruins — pelo contrário —, mas a tensão que Harry e Louis empurravam para debaixo do tapete estava começando a ficar saliente, e isso não ajudava em nada a deixá-los um pouco mais calmos. Ainda assim, os marujos sempre tentavam fazer com que as coisas fossem facilitadas. Um dia, Oliver e Mario convidaram o capitão para uma partida de um jogo de cartas, e quando Louis passou por eles carregando alguns sacos de batatas e cenouras, Harry não tirou os olhos dele até que o tritão tivesse sumido pela porta da cozinha.
Os dois irmãos entreolharam-se, acenando um para o outro como se pudessem conversar daquele modo.
— Capitano. — Mario chamou, parecendo escolher cuidadosamente suas próximas palavras. — O senhor já pensou em pedi-lo em casamento?
— Como? — Harry respondeu, erguendo sua cabeça.
— Nenhum de nós pode negar que exista amor entre vocês, senhor, é isso que meu irmão quis dizer. — Oliver apressou-se em explicar, apontando com o queixo em direção a onde Louis tinha ido. — Parece-me, senhor, que realmente só falta um casamento para que os dois estejam juntos perante a Deus, já que a religião é algo importante para o capitão.
— Aye, e Horan poderia realizar a cerimônia já que é católico. — Mario concordou, acenando. — Além disso, seria o primeiro matelotage na tripulação.
Harry vagou seus olhos para o mar, pensando sobre aquilo. Ele e Louis já tinham feito várias coisas que a Bíblia considerava imoral, mas não era como se o humano acreditasse em todos os dogmas cristãos que escritos naquele livro sagrado; a bem da verdade, um único mandamento lhe fazia sentido: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. O ódio era humano, e Deus certamente era maior do que tudo que poderia existir.
O pirata sorriu pequenamente, sentindo seu peito se agitar.
— Eu acho… — Ele suspirou. — Ainda assim, quero esperar até que essa situação sobre Naectro acabe. Corro o risco de jamais voltar a vê-lo, e não quero deixar aquele quem eu amo para trás, sobretudo estando viúvo.
— Isso é estupidez. — Zayn comentou, aparecendo de surpresa, e colocou uma garrafa de rum sobre a mesa que os três estavam usando para jogar, oferecendo um grande sorriso para o amigo.
— Você precisa parar de se intrometer. — Harry disse, mas puxou uma cadeira para que o navegador pudesse juntar-se a eles. Mario recolheu as cartas, começando a embaralhar tudo de novo.
— E você precisa parar de achar que pode controlar tudo. — O árabe arrancou a rolha da garrafa com os dentes, dando um longo gole na bebida antes de passá-la a Oliver. — Se entende que a possibilidade de morrer em combate existe, então para que perder tempo? Viva o que quer de uma vez, porque a amargura do arrependimento é o pior dos venenos, capitão.
— Malik tem razão, senhor. — Oliver disse, entregando a garrafa. — Nós não temos o controle do que aconteceu no passado, mas podemos moldar o futuro para que não seja tão ruim.
O navegador deu um tapa firme no ombro do amigo, agarrando sua nuca em seguida para fazer com que Harry o olhasse.
— Case-se com aquele homem de uma vez, Styles.
De supetão, enquanto Mario colocava as novas cartas em sua frente, Harry levantou e começou a se afastar com passos rápidos, ouvindo ao longe a pergunta de Zayn:
— Minha presença incomoda tanto assim?
— Vou falar para Niall preparar um jantar especial. — Respondeu de volta, elevando a voz para que o outro ouvisse.
Sem que o capitão percebesse, um sorriso brilhante e grande cresceu em seus lábios.
⚔
À noite, quando a lua salpicava tudo o que conseguia tocar com sua luz prateada e reluzente, o silêncio no navio tornava aquele momento muito mais especial. Louis e Harry tinham comido o que provavelmente havia sido o jantar mais bem elaborado de Niall, com purê de batatas, frango, frutas e algumas garrafas de vinho e rum, especialmente pilhados em um ataque a um navio italiano mercante.
Depois de darem-se por satisfeitos, os dois tinham sentado no chão da cabine, no escritório, perto dos armarinhos onde Harry guardava alguns livros e itens pessoais, conversando casualmente sobre momentos passados em suas vidas. Harry mostrou algumas gravuras que Gemma havia feito das flores que Heath costumava dar como presente em suas estadias em casa. Em dado momento, Louis encontrou uma pasta velha e com cheiro ruim, cheia de papéis dobrados com escrituras.
— O que são estas? — Ele perguntou, mostrando a Harry.
— Cartas que meu pai mandou para mim. — O pirata explicou, mas não parecia querer falar sobre aquilo em específico porque, engatinhando, chegou perto o bastante de Louis para começar a distribuir beijos e mordidas em seu pescoço.
O tritão não conseguiu segurar a pasta em suas mãos, decidindo colocá-la num canto e agarrar o corpo do humano em seus braços. Com os dentes do pirata sendo arrastados por sua pele e os apertões que as mãos cheias de calos e machucados distribuíam, Louis sabia que não demoraria até a vermelhidão surgir sobre sua tez bronzeada. A virilidade com a qual seu corpo era tratado não o incomodava, porém. Quando dizia-se respeito a Harry, era estúpido esperar qualquer coisa dócil e calma.
Portanto, depois de tornarem-se um só no chão cru da cabine, ambos deitaram-se lado a lado, encarando as estrelas levemente distorcidas pelo vidro da janela, e Louis sentia a ardência do amor de Harry em seu corpo, lembrando-o do que tinham feito. Ele virou o rosto para observar o pirata, que tinha as pálpebras fechadas e a mão repousada sobre o peito brilhoso pelo suor.
— O que será de nós dois, Harry?
As florestas verdes despertaram, e voltaram-se para os oceanos tranquilos.
— O que quer dizer?
— Nossa relação. — O tritão disse. — O que acontece agora?
O pirata engoliu em seco, tornando a olhar para o céu. Depois de alguns segundos, ele suspirou.
— Não tem como saber o que acontecerá quando eu precisar lutar, e tampouco poderei rezar para Deus porque sei que tudo já está planejado, ainda que nada saia como queremos. — Harry segurou a mão de seu amante, piscando lentamente. — Mas eu tenho devoção a você, Louis. E contanto que você também tenha fé em mim, poderei lutar com mil inimigos sem temer a morte.
— O Deus de quem você fala é o mesmo que Calipso? — O tritão indagou.
— Eu creio que sim. — Harry disse. — Para ser honesto, não acho que haja um jeito de rotular o que é Deus. Ele aparece de várias formas para as pessoas, e existem religiões que cultuam a essência Dele à sua própria maneira.
— O que é Deus para você, então?
— Amor. — O pirata respondeu, sorrindo amargamente. — Durante toda a minha vida, ouvi que eu era odiado por Ele porque me deitava com homens, e que a Bíblia repugna isso. Mas, acredito que, se o jeito que eu amo é tão errado, eu não estaria aqui por tanto tempo. Deus é um ser de amor, para mim, que perdoa e ensina ao invés de julgar e condenar, como a maioria dos religiosos diz.
Louis encarou as estrelas, absorvendo aquilo, sem saber o que pensar.
— Eu fui sincero quando falei aquilo, há um tempo atrás. — A arabela disse, sentindo os dedos de Harry se apertarem levemente nos seus. — Ulisses foi apenas um jeito de fazer com que eu sentisse paixão pela primeira vez. Você é muito mais do que isso e posso dizer isso porque os sentimentos dela também são os meus.
Com a visão periférica, Harry notou quando o corpo ao seu lado levantou apenas o bastante para que fosse até ele, deitando-se em seu peito nu. O pirata suspirou ao notar o quão brilhantes os olhos azuis estavam, quase como se emitissem luz, e a voz que soou por toda a cabine era gutural, feminina e masculina ao mesmo tempo.
Louis e Calipso estavam cientes de si mesmos simultaneamente, daquela vez.
— Eros deve ter se aborrecido comigo. — Eles sorriram de maneira nostálgica. — Uma vez, o desafiei que jamais me apaixonaria de verdade, mas agora estou recebendo a prova de que o poder dele é maior do que pensei.
O pirata franziu as sobrancelhas, sentindo-se nervoso por aquela situação.
— Como assim?
Com um brilho ciano ainda mais forte, cheio de amor e refletido em ondas que giravam em torno das pupilas pequenas, os olhos da arabela pareceram parar o tempo, sugando todo o espaço para que não restasse nada além dos dois.
— Eros é o deus do amor. — As vozes continuavam falando juntas. — Da paixão, do erotismo. O que eu quero dizer é que meu coração, meu corpo e minha alma estão entregues a você, Harry.
O ar pareceu acabar nos pulmões do pirata, que ofegou alto. Suas mãos trêmulas foram para as ancas da arabela, aceitando o beijo casto que veio em seguida. Quando seus rostos se afastaram, ele soube que agora estava olhando apenas para o homem que amava.
Assim, para provar que seus sentimentos eram tão ardentes quanto os do tritão, o humano rolou suas posições e, por mais três vezes naquela noite, fundiu seus corpos sobre o chão, tendo o mar, a lua e as estrelas como únicas testemunhas.
⚔
Ahoy, marujos!
Não se esqueça de VOTAR e COMENTAR para que eu possa saber o que você está achando da história :) Isso me ajuda muito.
Até o próximo capítulo, amo vocês. ♥
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top