15. Mancha-negra

Curiosidade: além do significado anteriormente citado dos brincos de ouro que os piratas usavam, havia a crença de que os acessórios protegiam seus ouvidos do barulho dos tiros de armas e canhões.

      Quando a tripulação do Octavius Medan fundeou em Singapura, depois de uma semana de viagem, Louis parecia um verdadeiro animal. Ninguém tinha permissão de entrar na cabine do capitão com exceção de Liam, e o seu esforço para conter o efeito da mancha-negra estava sendo extremamente fatigante; nos primeiros dias, ele não dormiu em momento nenhum para garantir que seu poder fosse fundido ao de Liam com o máximo desempenho possível para manter Harry a salvo, mas veio o tempo em que a prostração o venceu, e o tritão começou a dormir por algumas horas durante a noite — ainda que mantivesse sua mente um pouco consciente para ajudar Liam.

      Portanto, quando Gina bateu na porta da cabine para dizer que tinham chegado, Louis pediu para que o bruxo apoiasse sua magia para carregar Harry num envoltório de água e ar. Era mais fácil daquela maneira, sobretudo por aquela parte de Singapura ser construída sobre a água, todas as edificações suspensas por enormes vigas de madeira. A bem da verdade, era um pouco medonho porque a luz do sol não infiltrava muito bem, e as pessoas eram tão reservadas que não fizeram esforço para disfarçar seus olhares desgostosos sobre os estrangeiros.

      Os únicos que tinham saído do navio para ir até a casa de Dongmei eram Liam, Louis, Zayn, Gina e Niall. O restante dos marujos ficaram sob o comando de Tyson, que tinha deixado muito claro que aquela não era uma situação de folga: haveria proteção ao navio, compra de recursos que estavam em falta e, além disso tudo, a limpeza e reparação intensiva de todos os danos causados pelas necroínfas. Contratariam alguns homens cingapurianos para ajudar com algumas tarefas, assim sendo muito mais rápido e fácil de terminar os consertos para quando o capitão Harry Styles melhorasse.

      Em dado momento, Zayn indicou um canto onde poderiam deixar os botes para seguir a pé até Dongmei. Era uma grande subida em meio à mata fechada de uma montanha, cujo topo servia de moradia para a mulher; Liam estava consideravelmente menos cansado que Louis, e por isso sugeriu que seria melhor invocar um familiar para levá-los, a fim de economizar a magia do tritão que estava concentrada no envoltório que levava Harry. A arabela aceitou, e todos esperaram pacientemente por um curto período enquanto o bruxo recitava uma prece.

      O chão tremeu numa sequência, e em meio à vegetação, um enorme animal surgiu, quase da mesma altura que as imensas árvores. Louis nunca tinha visto um daqueles, e quando abriu a boca para perguntar, Liam foi mais rápido:

      — Ele é um macaco-cinomolgo. — O homem sorriu. — Só consigo invocar familiares típicos de onde pertencem, e esse tipo de macaco só tem aqui. Ele é manso, então todos nós podemos subir. Será mais rápido e seguro do que ir a pé, no meio do mato.

      Sendo assim, eles escalaram o corpanzil do mamífero gigante até suas costas, seguindo o caminho com uma maior rapidez, ainda que os movimentos lentos do macaco dessem a impressão contrária. Niall tentou puxar Louis para a conversa entre os outros, porém o tritão estava tão focado em manipular sua magia ao redor do corpo de Harry que o cozinheiro resolveu deixar para lá. Quando o sol tinha ficado um pouco mais ameno pelo entardecer, a casa que se revelou construída na copa de uma árvore diferenciava-se de todas as outras.

      Com um tronco e vários galhos super grossos se esticando como enormes braços em todas as direções, aquela árvore era magnífica; a sombra que suas folhas projetavam protegiam várias criaturas terrestres no chão, além dos pássaros coloridos que viviam em montes ali. Louis admirou, por um momento, um grupo de aves amarelas e vermelhas, pensando o quão bonitas eram suas cores. Não era fácil ver coisas como aquelas na profundidade onde costumava viver, no oceano. Apenas nas partes mais próximas da superfície.

      A casa, porém, bem no meio de toda aquela beleza, não poderia deixar de ser maioral. Iluminada por lamparinas em seu interior e exterior, era uma construção de bambu confortável o bastante para uma família numerosa.

      O familiar primata de Liam escalou a copa da árvore da melhor maneira que pôde, se equilibrando para deixar uma saída simples para eles.

      — Chegamos. — Zayn disse, pouco antes de deslizar pelo braço direito do macaco gigante até o chão.

      Louis e Liam desceram por último, cansados por suportar a magia que usavam para carregar Harry. Ainda assim, aguentaram o suficiente até Zayn bater à porta da casa e Dongmei atendê-los; ela era uma mulher chinesa que, apesar da idade avançada segundo o que Louis havia ouvido Niall comentar, parecia uma jovem em idade de casório, como Gina; o tritão imaginou que ela usasse algum feitiço de longevidade. Dongmei vestia-se com roupas vermelhas sedosas e em várias camadas, porém não parecia afetada pelo mormaço de fim de tarde.

      — Há quanto tempo não os vejo. — A senhora disse, dando espaço para que todos entrassem. — Mas vocês dois não me são familiares.

      — Meu nome é Liam, prazer em conhecê-la. — O bruxo olhou para Louis, em seguida, e vendo que o tritão continuava um pouco hostil, decidiu apresentá-lo. — Ele é Louis, consorte do capitão Styles.

      Dongmei arqueou as sobrancelhas, e só então notou o bolsão de água e ar que carregava o corpo desacordado do pirata. Que tipo de pessoa ele é?, pensou sozinha, encarando profundamente os orbes azuis de Louis. Uma magia tão grande passar despercebida nunca ocorrera-lhe. Por fim, a senhora sorriu e estendeu sua mão para Liam.

      — É um prazer conhecê-lo. — Cumprimentou, e o bruxo retribuiu.

      Quando ela estendeu sua palma aberta para Louis, o tritão apenas encarou-a sem esboçar reação.

      — É falta de educação, na minha cultura, não dizer olá propriamente. E eu acredito que você esteja com pressa.

      Cedendo àquilo a contragosto, Louis deu sua mão. Dongmei a agarrou com um pouco mais de rudeza, sem tirar sua atenção dos olhos dele, parecendo fazer algum tipo de análise.

      Oh, então é você que resolveu voltar. Que interessante, a feiticeira pensou.

      — É um prazer te ver. — A mulher disse, enfim, ignorando a dúvida que surgiu nos olhos de todos ali. — Então, o que aconteceu com esse garoto?

      — Mancha-negra. — Louis respondeu.

      Dongmei tensionou os ombros, olhando atordoada para Harry durante um momento.

      — Eu vejo. — Ela suspirou. — Por favor, tragam-no para cá.

      O cômodo que a humana tinha indicado era grande, com um colchonete no chão e alguns cobertores e travesseiros ficavam no canto do quarto. Não existiam muitos outros móveis, apenas uma mesinha e um armário, além de uma enorme janela. Dongmei ajudou Louis e Liam ao colocar Harry no colchonete, ajeitando-o de uma maneira que não sentisse dor. Por fim, a feiticeira pediu para que eles cessassem o envoltório pouco a pouco, para não causar um colapso no corpo do pirata.

      Enquanto os dois faziam aquilo, ela foi até o armário para pegar algumas coisas.

      — Como isso aconteceu? — Dongmei indagou, e apesar do seu tom de voz ser calmo, ela agia com certa urgência.

      — Precisamos cruzar o Vale Branco. — Zayn explicou num suspiro. — Se eu tivesse prestado mais atenção, teríamos desviado a tempo daquele lugar.

       — Bom, você já sabe qual foi o seu erro. — A senhora disse, com compaixão. — Esforce-se para não cometê-lo uma segunda vez.

      A sala mergulhou em silêncio, fora o tilintar dos fracos e outras coisas que Dongmei manuseava no canto do quarto. Gina tirou os olhos de seu irmão para fitar atentamente as costas da feiticeira, uma dúvida pairando em sua mente. Aparentemente, Dongmei era muito mais próxima de Harry e sua tripulação do que pensara, sobretudo após reconhecer os retratos que seu irmão costumava desenhar quando criança pendurados na parede daquele quarto em que estavam. Além disso, a velha tinha um ar bastante maternal com Niall e Zayn, constantemente perguntando coisas sobre suas vidas enquanto mexia com algumas ervas e líquidos que pegava do armário. Gina queria saber quem ela era, e qual a importância na vida de seu irmão.

      — Eu não vou derreter só de você me olhar, sabia?

      A Styles mais nova se sobressaltou, recordando sobre como Mama Zenabu também conseguia fazer alguns truques bizarros como aquele.

      — Você conhece o meu irmão há muito tempo?

      Dongmei foi até o colchonete, ajoelhando-se próxima à cabeça de Harry. Ela agradeceu Louis e Liam pelo bom trabalho, e conjurou um grande círculo vermelho luminoso sobre o pirata que continha alguns escritos estranhos — Louis assumiu que aquilo deveria ser sua língua nativa. Os símbolos começaram a girar, a luz daquela conjuração sendo a única dentro do quarto.

      — Quando o pai de vocês ainda era vivo, tínhamos uma amizade inabalável. — Ela sorriu, movendo suas mãos suavemente para fazer o círculo girar. — Harry ficava aqui várias vezes quando Heath achava melhor, fosse por uma viagem perigosa demais ou qualquer outra razão. Acho que fui como uma segunda mãe para ele, enquanto crescia.

      — Oh, então é por isso que conhece Zayn e Niall. — Liam concluiu.

      — Sim, esses dois vinham com Harry às vezes. — A feiticeira sorriu para o imediato e para o cozinheiro. — Meus três meninos de jade.

      — Como sabia quem eu sou? — Gina perguntou, depois de alguns segundos. — Você disse que só não conhecia Liam e Louis, mas eu nunca vim aqui antes.

      — Algumas coisas eu apenas sei. — Dongmei respondeu, simplória. Antes que a Styles caçula pudesse perguntar mais alguma coisa, a feiticeira pediu: — Por favor, podem nos deixar, agora? Eu cuidarei dele.

      Louis não queria sair do lado de Harry, mas entendia a importância de deixar que Dongmei trabalhasse em paz. Portanto, aceitou ir com Gina e Zayn até o comércio de Singapura para comprar algumas coisas e também pegar uma encomenda, a pedido da velha feiticeira. Niall e Liam decidiram ir a algum bar local, e depois voltariam ao navio para garantir que o resto da tripulação tivesse notícias sobre o capitão.

      Enquanto andavam pelas pontes de madeira e iam em algumas lojas, os três conversavam sobre como aquele lugar parecia ser obscuro. Louis prestou atenção em como algumas pessoas cumprimentavam Zayn animadamente, em meio a outros rostos tão indiferentes. O navegador respondia com o mesmo entusiasmo, sempre simpático. Eles pararam em uma taberna para comer e beber um pouco; nada parecia conseguir tirar a angústia e ansiedade de dentro de Louis, entretanto.

      — Qual, exatamente, é a relação entre o pai de Harry e Dongmei? — O tritão indagou, pegando um pedaço de pão em seguida para mergulhá-lo no molho de pimenta e curry.

      Zayn engoliu a própria comida com a ajuda de um longo gole de cerveja, arrotando no fim.

      — Eles eram melhores amigos, até onde eu sei. Amantes, para falar a verdade, mas o pai de Dongmei não queria que sua filha ficasse com um maldito pirata; ela se casaria com alguém escolhido contra a sua vontade, um homem bem mais velho e rico.

      — Ela é da China? — Gina perguntou. — Isso é levado bem a sério lá, não é? Essas coisas de casamento arranjado.

      — Aye. — O navegador disse. — Enfim, Heath Styles bolou um plano maluco para ajudar Dongmei a escapar, e quando ela se mostrou tão excelente quanto ele como uma capitã, os dois se tornaram Lordes Piratas na mesma época.

      — Lordes Piratas? — Louis franziu o cenho.

      — Existe algo chamado Irmandade. — Zayn começou a explicar. — A Irmandade é composta por nove Lordes Piratas, que têm o dever de manter a vida clandestina que levamos em segurança. São responsáveis por liderar qualquer batalha em defesa da pirataria. Dongmei disse que, quando ela se tornou a primeira mulher a ser um Lorde, os outros não gostaram muito da ideia. Ainda assim, ninguém negava o poder que ela apresentava.

      — Uau. — Gina disse, surpresa. — Eu não sabia disso, meu pai nunca comentou nada.

      — Heath não falava muito sobre isso com ninguém. Tudo o que eu, Harry e Niall sabemos foi contado por ela. — Zayn terminou sua caneca de cerveja, coçando os olhos. — Depois que ele morreu, Dongmei tomou a responsabilidade de cuidar de Harry, contanto que ele concordasse em retribuir o favor. Dongmei poderia pedir qualquer coisa, a qualquer momento. Até onde eu sei, ele ainda está em débito com ela. — O navegador explicou. — Harry aceitou, e então ela tornou-se a pessoa quem, além de Heath, o ensinou tudo sobre essa vida. Pilhar, saquear, lutar, estratégias… Não é à toa que aquela coroa seja tão respeitada.

      Louis mordeu o lábio, querendo saber o que poderia ser o favor que Dongmei pediria a Harry para saldar seu débito.

      — Imagino o quão estreita seja a relação entre os dois. — Louis comentou.

      Um barulho alto soou na porta da taberna, e foi possível enxergar um bêbado tendo iniciado uma briga com outro homem moribundo por causa de uma prostituta barata, que assistia tudo com um sorriso de diversão em seus lábios exageradamente vermelhos.

      — Ah, pode apostar. — Zayn continuou, voltando sua atenção para os dois na mesa. Aquele tipo de briga era algo tão comum que nem dava mais importância. — Harry sempre vem visitá-la pelo menos uma vez por ano, ou manda cartas e presentes. Dongmei faz o mesmo.

      Louis assentiu, virando seu rosto para assistir à briga. Os dois beberrões sequer conseguiram ficar em pé, socando um ao outro enquanto rolavam pelo chão sujo do estabelecimento. Ainda existem tantas coisas que não sei, pensou, refletindo sobre as vivências que seu capitão tivera com pouquíssima idade. Lembrava-se de Harry dizer que tinha 35 anos, e que aquilo, para um humano, era ser jovem.

      O tritão deitou a cabeça sobre a mesa grudenta, suspirando e passando a ponta dos dedos sobre a própria boca; ele queria que pudesse beijar seu capitão naquele momento.

      Quando a noite já havia caído sobre aquela parte do mundo, Zayn, Gina e Niall estavam no Octavius Medan, ajudando todos da tripulação e tinham decidido passar a noite por lá. Liam e Louis ficariam na casa de Dongmei, a fim de garantir uma ajuda extra caso Harry passasse por alguma complicação enquanto era curado pela magia da velha feiticeira. Era um alívio, honestamente, que apenas eles ficassem ao lado do pirata, uma vez que magia era algo que requeria muita concentração.

      Na sala da casa, Liam estava dormindo em um monte de cobertores grossos por causa do frio enquanto enormes pítons brancas serviam de travesseiros e apoios. Louis, no entanto, estava no quarto onde Harry residia, controlando o fluxo de água no corpo do cacheado para garantir a boa circulação do feitiço de cura que havia sido conjurado nele. Era algo fácil de fazer, e também permitia que o tritão dormisse quando quisesse descansar, a magia podendo ser controlada subconscientemente.

      Dongmei, quem assistia àquilo em silêncio da porta, sentiu algo viscoso se esfregar em seu tornozelo. Uma rã preta e azul tinha colocado a pata sobre sua pele, o que fez a feiticeira sorrir; com carinho, Dongmei agachou e esticou sua mão, não demorando nem um segundo para o pequeno anfíbio aceitá-la e subir em sua palma.

      Chegou a hora, então.

      Sem ser notada por causa da intensa concentração de Louis em Harry, a feiticeira saiu do quarto e fechou a porta, andando em direção aos fundos da casa. Baixinho, Dongmei cantava de forma suave.

      — O rei despertou a rainha do mar, num barco a acorrentou. — Ela passou por Liam, agradecendo às pítons por cuidarem bem do bruxo. — Por onde andares, são teus os mares. Quem ouviu, remou.

      Ela abriu a porta dos fundos, encarando a enorme floresta que se estendia no horizonte e lhe era como um quintal. A feiticeira ainda cantava, acentuando o refrão, e lançou um pequeno ponto de luz branca no ar; poucos segundos depois, os cipós mais grossos começaram a se mover em uma dança sutil, revelando suas verdadeiras formas como serpentes verdes.

      Uma por vez, as cobras-cipós se harmonizaram para carregar a feiticeira, que gentilmente aceitou sua ajuda para ir até onde precisava. A bela voz de Dongmei ressoava por toda a floresta:

      — Uns morrerão, outros vivos estão. Outros navegam no mar com as chaves da prisão e o Diabo de prontidão, remando sem cessar.

      Com um coro grave e uníssono, as vozes das criaturas da floresta lhe responderam:

      Yo, ho, todos juntos, nossas cores erguei. Ladrões e mendigos não aceitam morrer.

      Dongmei fechou os olhos, sorrindo com ternura enquanto as cobras-cipós a levavam pela floresta, suspensa no ar.

      — Da fossa profunda sobre o sino a tocar, ouço um som sepulcral. — A feiticeira abriu as pálpebras alguns segundos depois, a tempo de vislumbrar o enorme casulo formado por grossos e impenetráveis galhos de uma árvore ancestral, escondida no coração da floresta. — Vem convocar para retornar ao destino final…

      A última cobra-cipó abaixou seu corpo para permitir a descida de Dongmei, e ao pisar no único galho que saía do casulo, ela pôde ouvir a conclusão da canção saindo mais alta e mais grave pelas vozes da floresta:

      Yo, ho, todos juntos, nossas cores erguei. Ladrões e mendigos não aceitam morrer.

      Com um estalo surdo, o casulo abriu alguns galhos para que uma entrada se formasse. Dongmei fez uma curta reverência em agradecimento, e então entrou. O casulo era guardado pelos espíritos de dois tigres, familiares da feiticeira, que a serviam desde sua infância. Portanto, ao verem sua ama ali, os dois felinos voaram em sua direção com alegria. Dongmei acariciou suas orelhas, indo para o centro do casulo onde havia um baú redondo de porcelana branca, com gravuras chinesas pintadas em azul-escuro e outras de ouro.

      A feiticeira se ajoelhou em frente ao objeto, fazendo uma rápida prece antes de abri-lo. Dali, ela tirou um trançado grosso de linhas típico de sua cultura que, séculos atrás, era cheio de cores vibrantes, mas que agora encontrava-se cinzento. Os olhos pequenos de Dongmei encheram-se de lágrimas, e a mulher abraçou o trançado junto ao coração antes de fechar o baú, trancá-lo e se levantar para sair do casulo. Os dois tigres resmungaram tristonhos em um último pedido por algum carinho.

      Dongmei acariciou a coluna dos animais, dando um beijo no focinho de cada um, e libertou-os de seus serviços com o maior amor que tinha. Ver aqueles espíritos transformando-se em pequenos pontos de luz doeu em seu âmago, entretanto a dor estava misturada com a sensação de conforto. Por fim, ela passou pela fresta que os galhos do casulo tinham aberto para que pudesse entrar e chamou as serpentes mais uma vez.

      Sendo levada de uma cobra para outra, Dongmei assistiu o enorme casulo que construíra se desfazer ruidosamente, levando para as profundezas daquela floresta imaculada todos os segredos que tinham sido mantidos por mais de dois séculos de sua existência.























      De volta à sua casa, a feiticeira notou que Liam continuava em um profundo sono e que Louis também havia adormecido, ajoelhado e segurando a mão de Harry, ainda que mantivesse a magia sob controle. Com cuidado, a mulher afastou uma parte do cobertor que aquecia o corpo do pirata e colocou o trançado morto no bolso da calça do pirata, voltando o cobertor no lugar antes de chamar por Louis. O tritão despertou lentamente, seus olhos azuis muito mais claros e emitindo certa luminosidade ao encará-la. Quando percebeu quem era, seus oceanos também se acalmaram.

      — Venha comigo, por favor.

      Louis concordou, se levantando enquanto se esticava para aliviar um pouco da dor por ter dormido naquela posição. Dongmei o guiou, afinal, até uma sala no outro lado da casa, bem grande e cheirosa — capim-limão, como o sabonete que Harry usava ao tomar banho —, com nada mais além de um baú de porcelana pintado à mão.

      A feiticeira pegou duas almofadas redondas e finas, dando uma a Louis para que ele pudesse sentar. A mulher abriu aquele baú com muito cuidado, tirando dele alguns rolos de fitas e linhas coloridas.

      — Você sabe alguma coisa sobre a minha cultura? — Dongmei indagou, mesmo que tivesse uma ideia de qual seria a resposta.

      — Não.

      — Bom, eu vou te ensinar o que são Cordas do Destino, ou mìngyùn zhī xián, no meu idioma natal. — Ela sorriu. — Na China, fazemos uma espécie de trançado sagrado com linhas, fitas e até mesmo cordas bonitas que são abençoadas por alguma autoridade divina. Estas foram-me dadas por um amigo antigo, que governou meu país durante muito tempo.

      Louis tomou cuidado ao segurar um rolo de fitas verdes e brancas que Dongmei lhe entregou, prestando bastante atenção. Ainda que estivesse extremamente preocupado com Harry, sua curiosidade sobre as diferentes culturas humanas era grande.

      — Dependendo do poder da pessoa que trança esses materiais, são feitos pedidos às Cordas. Quase sempre eles são realizados, mas a intenção de quem pede precisa ser forte o bastante. — Dongmei fechou o baú após tirar tudo que havia nele, e olhou com serenidade para Louis. — Dá para ver o quão importante Harry é para você, então achei que seria interessante lhe ensinar a trançar uma Corda para que isso ajude vocês dois.

      O tritão arregalou os olhos, sendo tomado por uma sensação muito boa de esperança. Toda ajuda seria bem-vinda para salvar o pirata.

      — Eu aceito! — Exclamou, assentindo várias vezes. — Por favor, me ensine.

      — Tudo bem, mas primeiro quero ajudá-lo a ter mais forças em suas intenções, assim as chances de dar certo serão maiores.

      Assim, Dongmei recitou algumas orações chinesas que seus ancestrais haviam lhe ensinado, e depois de algum tempo, Louis sentia-se leve por dentro, mas não sabia que tipo de sensação era aquela. Ainda assim, agradeceu à velha feiticeira, que disse que havia um último passo antes que pudessem trançar as Cordas do Destino.

      — Essa tradição é provinda da honestidade total, e para que dê certo, é necessário que a pessoa não apenas coloque intenções verdadeiras a cada fio de uma Corda, mas também que saiba quem ela é. — Dongmei explicou, fitando profundamente os olhos de Louis. — Você sabe quem você é, Louis?

      O tritão franziu o cenho, sem entender onde a senhora humana queria chegar.

      — O que quer dizer?

      Sem dizer nada, Dongmei se levantou e foi até a janela sem vidro do cômodo, esticando o braço para fora e alcançando os galhos de uma árvore vermelha. De volta em sua almofada, a mulher amassou as folhas que havia pegado e entregou-as para Louis, pedindo que ele mastigasse aquilo sem engolir. Mesmo que estranhasse, ele obedeceu.

      Sem aviso prévio, Louis caiu para frente, no chão.

      Não sentia dor. A bem da verdade, não existia nada para ser sentido além de uma engraçada pressão em sua coluna, que o fez fechar as pálpebras com força. Logo, foi como se o chão sumisse, dando lugar a um solo mais terroso e áspero, além de um cheiro férrico alcançar suas narinas. Levante-se, disse uma voz em sua cabeça. Era a voz de Dongmei, mas havia algo diferente.

      De toda forma, ele obedeceu, aproveitando para abrir os olhos. A claridade era forte, mas não o incomodou. Onde eu estou?, quis saber, observando tudo ao seu redor. Era como uma caverna com joias e coisas de ouro e prata jogadas por todo lugar em pilhas altas, uma espécie de rio correndo no meio do lugar como uma divisória separando duas metades. A luz vinha de três grandes fendas e duas aberturas que deixavam o sol banhar quase que todo o interior da caverna.

     Lá fora, vislumbrou a imensidão do horizonte do oceano e do céu se encontrando ao longe.

      Louis olhou para baixo, para os pés humanos que possuía, notando que eles estavam muito diferentes do que o normal. Não eram mais da mesma cor, sendo agora de uma pele de um tom tão escuro de marrom que parecia reluzir sob o sol de uma forma magnífica. O quê…

      Foi quando notou, também, que seu tronco estava descoberto, livre de qualquer roupa, e que parecia muito com o corpo de Gina. Havia seios, e não havia mais um pênis entre suas pernas. Ele assumiu que aquilo seria o órgão genital feminino, por mais que nunca tivesse visto um. Esse corpo é meu?

      — É, minha senhora. — Uma voz disse, e Louis levantou a cabeça. Havia uma ninfa ali, ruiva e com a pele escura como a sua. — Bem-vinda de volta.

      — Quem é você?

      — Eu não tenho nome.

      — Então, quem sou eu?

      A ninfa sorriu com paciência.

      — Você é a senhora dos mares. Acredito que sua confusão seja totalmente normal depois de tanto tempo longe de casa.

      — Casa? Aqui não é minha casa, eu nasci…

      — No mar, sim, senhora. Nós sabemos. — Outra ninfa disse, surgindo em meio às joias. Ela era branca por inteiro, desde da pele e olhos até o cabelo. — Não se lembrará tão facilmente.

      — Eu não estou entendendo.

      Elas se entreolharam, mas não demonstraram nada além de paciência e compaixão.

      — Aqui é a Ilha de Ogígia, o lar de sua alma. — A primeira ninfa disse. — Seu nome é Calipso, deusa dos mares e oceanos. Nós somos suas servas. — Ambas se curvaram, endireitando-se depois.

      — Cada vez que seu espírito reencarna, as lembranças de quem você realmente é são guardadas em segredo e segurança para que não atrapalhem sua jornada como mortal. — A outra disse. — Nunca tinha acontecido antes de vermos a senhora antes do tempo estipulado.

      — Acredito que isso é uma ocasião especial. Estamos felizes por vê-la bem, mas é necessário que sua alma volte ao corpo em que reencarnou dessa vez, senhora.

      — Mas eu ainda não entendo! — Exclamou, sentindo certa irritação. — Quero saber quem sou, o porquê sou e como eu sou.

      A primeira ninfa aproximou-se, tomando suas mãos femininas entre as próprias. Por fim, sorriu.

      — Até breve, minha senhora.

      Como se um soco tivesse acertado seu estômago, Louis voltou à casa de Dongmei, no mesmo cômodo onde estavam antes. Ainda era noite, fazia frio e não havia mais nenhuma ninfa ou pilha de tesouro ao seu redor; apenas o mesmo baú de porcelana. A feiticeira olhava-o com ternura, como se esperasse alguma coisa intensa para acalmar. E foi o que aconteceu quando Louis desatou a chorar, sem nem saber o motivo. Com plenitude, Dongmei o acolheu em seu colo, permitindo que aquelas lágrimas libertassem todas as emoções que o tritão havia sentido durante sua viagem espiritual.

      — O-o que foi aqui-quilo? — Ele soluçou, um pouco mais calmo após uns minutos.

      — Você se conheceu. — A feiticeira disse, com seu rosto jovem de uma mulher de vinte anos. — Calipso é a deusa dos mares, como você ouviu, e desde que você existe, o espírito dela está dentro de você, numa reencarnação. Ela te escolheu.

      — O que isso quer dizer? — Louis indagou, fungando. — Eu sou alguém que sequer conheço?

      — Sim e não. — Dongmei ajudou o tritão a se sentar, estendendo uma caneca com água para ele. — Calipso reencarna de diversas maneiras, em diferentes criaturas, e acredito que é a primeira vez que ela fez isso em um ser vivo consciente de si mesmo. De toda forma, você tem sua própria essência sendo Louis, mas divide seu corpo com o espírito dela. É possível que Calipso influencie pouquíssimas coisas através de você, mas não dá para saber ao certo o que e nem quando.

      — Então… Ela só está dentro de mim, mas não quer dizer que eu seja definido por ela.

      — Exato. — Dongmei assentiu. — Você fala e age por si mesmo, enquanto o espírito da deusa fica recluso em seu corpo, como uma parte independente. Eu creio que ela te ajude em algumas coisas, como sua magia, mas é muito difícil que passe disso.

      Louis engoliu um tanto de água e sentiu dor ao fazer isso, mas ajudou a relaxá-lo e a respirar melhor. Era uma informação tão difícil de acreditar que ele sequer sabia o que fazer.

      — O que isso implica para mim? Preciso mudar minha vida agora que sei que compartilho meu corpo com Calipso?

      — Ah, não, querido. — A feiticeira sorriu. — Ela é inofensiva, não faria sentido ir contra aquele que aceitou sua alma no próprio corpo.

      O tritão estremeceu, tentando notar se existia algo de diferente agora que sabia o que estava acontecendo. Nada surgiu, então ele fitou Dongmei com apelo.

      — Pode me explicar mais sobre isso? Sobre quem ela é.

      A mulher sorriu, concordando.

      Alguns dias depois, os olhos verdes de Harry, enfim, se abriram. Com dificuldade no começo, mas o esforço valeu a pena depois que ficou mais fácil. Ele piscou algumas vezes, reparando que não estava mais no navio, e levou alguns segundos para que ele começasse a reconhecer aquelas paredes e aquele teto feitos de bambu. Além do mais, ele sentiu um peso sobre seu tronco, e ao olhar para baixo, enxergou Louis dormindo sobre seu estômago. A imagem fez um sorriso singelo brotar nos lábios do pirata, mas quando reparou na enorme e saliente cicatriz em seu peitoral, uma sensação ruim se instalou de leve.

      Ouvindo um barulho ao seu lado, Harry mudou seu foco de visão. Dongmei estava colocando um prato de buns, pãezinhos típicos da China que ela costumava fazer sempre que Harry a visitava. O homem se moveu, ajeitando-se numa posição em que ficasse sentado, mas sem acordar Louis. Dongmei sentou-se ao lado do colchonete em que estava e estendeu uma caneca com café.

      — É bom tê-lo acordado. — Disse.

      — É bom estar acordado. — Ele brincou, segurando a caneca entre as mãos para aquecê-las. — O que aconteceu?

      — Uma necroínfa te deu uma mancha-negra, mas por sorte sua tripulação conseguiu trazê-lo até mim no tempo certo. — Explicou Dongmei, comendo um bun. Ela apontou para o peitoral desnudo. — Agora, você tem uma nova menina para mostrar com orgulho de ter chutado a bunda da morte.

      O pirata deu risada, e sentiu um incômodo leve na área da cicatriz. Inconscientemente, uma de suas mãos foi para a cabeça de Louis, fazendo um carinho nos cabelos castanhos do tritão. Dongmei sorriu, reparando no ato, e ofereceu um bun para o pirata.

      — Sabe, preciso te explicar algo sobre o seu amado. — Ela disse, feliz em ver Harry comer algo sólido depois de apenas receber nutrição através da magia de Liam.

      — O quê? — O pirata indagou, preocupado. — Algo de ruim?

      — Não, nada ruim. — Dongmei o tranquilizou. — Há um tempo, em uma noite, o convidei para caminhar na floresta. Louis estava muito preocupado e sua magia não agiria de maneira comportada se ele continuasse daquela forma. Nós conversamos sobre várias coisas e, bem, descobri que esse peixinho está servindo de recipiente para Calipso.

      Os orbes verdes de Harry se arregalaram, totalmente surpresos.

      — Como…

      — Eu tinha percebido a presença dela dentro deste corpo quando apertei a mão dele, no dia em que te trouxeram. Você estava num envoltório de água que eu só notei depois que vi Louis. — Dongmei suspirou ao terminar de tomar seu café, satisfeita. — Então, o mandei numa viagem espiritual para conhecer o berço de Calipso. Expliquei tudo o que Louis precisava, e que não tem nenhum perigo em compartilhar seu corpo com ela.

      Harry encarou o tritão adormecido em seu colo, e sentiu orgulho. Louis parecia estar descansado, e o pirata torceu para que aquilo fosse um sinal de que ele estava bem com aquela condição. Meu querido homem…, ele pensou. Dongmei os analisou com cuidado, e decidiu que seria melhor manter aquela versão parcialmente verdadeira da história, além de não falar acerca das Cordas do Destino. Era provável que Harry não aceitasse muito bem os pedidos que Louis fizera para os trançados sagrados.

      “Quero que, toda vez que algo ruim acontecer com ele, minha magia de cura o ajude. Não importa como eu esteja, mesmo que isso signifique dar meu último suspiro de vida para tentar salvá-lo.

      A feiticeira deixou sua caneca vazia de lado, no chão, e suspirou ao sentar-se de maneira mais despojada, sem estar sobre seus joelhos.

      — Você sabe, há uma notícia se espalhando rapidamente entre os Lordes. — Harry voltou sua atenção para Dongmei, a ouvindo atentamente. — Seu menino foi enganado por Naectro, não foi? Você sabe quem ela é?

      O pirata engoliu em seco.

      — Sim, ele foi, e por isso que os espanhóis tinham o achado antes de nós. Mas eu não sei muito sobre ela.

      — Entendo. — Dongmei cruzou as pernas. — Bom, Naectro é a tal notícia entre os nove Lordes. Séculos atrás, um grupo de bruxos humanos a machucou seriamente, e aprisionou sua essência no corpo de uma enguia. Não faz muitos anos desde que Naectro se livrou dessa prisão, e passou todo esse tempo recuperando suas habilidades para sua vingança.

      — Os Lordes irão atrás dela, não é? — Harry indagou, sério.

      — Sim. — Dongmei respondeu, sorrindo de uma maneira dolorosa.

      Capitão Styles não gostou daquele olhar no rosto da velha amiga, ficando preocupado sobre o rumo daquela conversa.

      — O que é? Não está me contando alguma coisa.

      — Cheque seu bolso, por favor.

      Harry franziu o cenho, mas enfiou a mão no bolso direito de sua calça. Não sabia que tinha deixado algo ali, mas quando sentiu algo macio, agarrou o objeto e levantou-o na altura de seus olhos. Era uma Corda do Destino, só que estava completamente sem vida.

      — O que é isso?

      — Você sabe o que é. — Dongmei sorriu. — Te contei, no seu aniversário de dezoito anos, que isto era a minha Corda. Era ela quem me garantia a longevidade e, agora que tenho quase 215 anos de idade, meu tempo acabou, Harry. Na próxima primavera é meu aniversário, e então eu não estarei mais aqui.

      Uma bigorna imaginária pesou no peito do pirata. Ele se lembrava. Dongmei era o humano mais velho que existia na Terra, provavelmente, por causa de um pedido que ela fizera àquela Corda do Destino quando ainda era uma aprendiz de artes místicas.

      — Você não pode impedir isso? — Ele indagou, arfando. — Pedir por mais tempo, eu não sei.

      De certo, ele não esperava que a feiticeira risse baixinho. Tampouco que respondesse o que respondeu.

      — Harry, querido, por que eu faria isso?

      — Ora! — Ele exclamou, ainda tomando cuidado com Louis. — Para não morrer, porra.

      — Mas por que, Harry? — Dongmei suspirou com um sorriso na boca. — Você já é um homem crescido e, sinceramente, por mais que eu tenha um corpo de uma mulher de vinte anos, eu não fiquei jovem até agora por dentro. Me sinto cansada disso tudo, sou só uma loba do mar que desistiu de navegar e comandar tripulações.

      O pirata fechou a boca, sentindo-se egoísta. Portanto, virou o rosto na direção de Louis, encarando a face adormecida do tritão em busca de algum conforto.

      — Por que me mostrou isso?

      — Essa Corda morta é a minha Peça de Oito. — Dongmei disse, e se inclinou para pegar algo no bolso da camisa de Louis. Era outra Corda, uma que o tritão fizera para o pirata. — Agora, esta é a sua. — A mulher disse ao entregar o trançado para Harry.

      Levou alguns milésimos de segundo para que capitão Styles entendesse o significado daquilo. Enfim, ele voltou-se lentamente para Dongmei, os olhos cheios de emoções diferentes.

      — Não. — Sua voz falhou, soando como um sussurro. — Eu não… Não sou digno.

      — Você é o capitão mais competente que conheço, Harry. — Dongmei disse. — Por favor, tome o meu lugar na Irmandade e torne-se um dos nove Lordes Piratas. É meu último pedido para você, meu favor.

      — Isso é injusto. — Ele chorou, não contendo os soluços baixos. — Está sendo mesquinha, não é justo.

      A feiticeira assentiu, ainda com seu terno sorriso nos lábios. Dongmei esticou a mão para acariciar o rosto do pirata, que inclinou-se ao toque.

      — Eu sei. Peço desculpas, mas preciso fazer isso.

      Os dois mergulharam em um silêncio que era quebrado vez ou outra por algum ruído vindo do lado de fora da casa, ou então por Louis, que permanecia dormindo, mas que resmungava inocentemente, alheio ao que acontecia no mundo real. Harry não sabia o que pensar, existiam muitas coisas indo e vindo dentro de sua mente naquela hora. A única frase que conseguiu formular foi uma pergunta:

      — O que você fará até seu aniversário?

      Dongmei suspendeu as sobrancelhas, mas suavizou sua expressão logo em seguida.

— Esperarei que você melhore, e então procurarei por Naectro. — Respondeu, fazendo com que o pirata subisse seu rosto rapidamente para olhá-la. — Quero enfraquecê-la, para que os demais Lordes consigam mais segurança. Não diga nada sobre isso, está bem? É decisão minha ir.

      Harry até mesmo abriu a boca para contestar, mas decidiu não fazê-lo. No lugar disso, apenas concordou com um aceno de cabeça; Dongmei sorriu em agradecimento, e pediu para que ele se aproximasse. O pirata assim o fez, a feiticeira tocou o polegar em sua testa, recitando em mandarim com a voz cheia de amor:

      — Com a benção daquele que o acompanha, aquele que é a verdadeira reencarnação de Calipso, torno-te parte dos que são protegidos por seus poderes. A Irmandade o recebe.

Ahoy, marujos! Esse capítulo foi um dos que eu mais gostei de escrever. Espero que tenha sido legal pra vocês ;p

Não se esqueça de VOTAR e COMENTAR para que eu possa saber o que você está achando da história :) Isso me ajuda muito.

Até o próximo capítulo, amo vocês. ♥

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top