CHAPTER I
O dia começou estranho para Penelope muito antes da confusão no Grand Canyon.
Quando ela acordou naquela manhã, algo já parecia errado. Sua mente estava confusa, e ela tinha uma grande sensação de que havia algo faltando. Não sabia dizer o que era, porém algo não parecia certo ao sentar-se na cama com a luz do sol batendo em seu rosto e encontrar sua colega de quarto, Piper, resmungando sobre sua demora para despertar e parecia procurar algo.
Isso não deveria ser estranho. Piper sempre resmungava e revirava os olhos para absolutamente tudo o que ela fazia ou dizia.
Estranho era ela ainda estar na cama, já que sempre acordava cedo para poder escolher sua roupa e fazer a maquiagem. Ou o fato de ela ter dormido com roupas que não eram seu pijama de seda.
— Você pegou meus elásticos de novo! — Piper exclamou e bufou irritada, caminhando na direção de Penelope, que franziu o cenho confusa ainda na cama.
A garota estava vestida com seus típicos jeans surrados e uma camiseta verde musgo, os pés descalços pisando duro no chão. Ela parou ao lado da cama e pegou dois elásticos de cabelo que Penelope não se lembrava de ter pego que estavam sobre a mesa de cabeceira.
Sequer se lembrava a que horas foi dormir na noite passada ou sequer quando voltou ao quarto. Sua memória estava péssima, o que também não era muito comum.
Piper começou a fazer uma trança nos cabelos castanhos repicados num corte que ela mesma fazia. Penelope permaneceu parada observando, ainda com a mesma sensação estranha.
Sua colega de quarto então olhou para ela e arqueou a sobrancelha.
— O que foi? Vai continuar parada aí? Vamos nos atrasar para o café da manhã!
— Bom dia para você também, Piper.
Penelope, enfim, levantou-se, ainda com aquela sensação. Parecia haver esquecido de algo, porém não conseguia pensar em qualquer possibilidade.
Toda a sua manhã pareceu robótica demais. Como se nada acontecesse, tudo seguindo um fluxo muito rápido. Ela mal percebeu o tempo passar até estar dentro do ônibus escolar em direção a uma excursão ao Grand Canyon, como se num momento estivesse no refeitório com seu café da manhã e no outro ela só piscasse e de repente estava ali sentada.
Piper estava logo atrás, de mãos dadas ao namorado, Jason, ao lado. O garoto estava completamente apagado como a Bela Adormecida durante toda a viagem.
Ao lado de Penelope estava Leo Valdez, inquieto como sempre. Seu amigo Dylan estava do outro lado do corredor conversando com outra de suas amigas.
Era uma viagem muito longa, então ela ficou boa parte do tempo com seus fones ouvindo Taylor Swift no último volume e tirou-os apenas quando viu o Treinador Hedge ficar de pé com seu megafone.
Ele era um homem velho, baixinho e mau-humorado, professor de Educação Física. Vestia uma camiseta polo laranja terrível com calças de caminhada azul e um boné. Até mesmo seu avô se vestia muito melhor para fazer suas corridas matinais.
Penelope sempre dizia que ele a lembrava muito ao sátiro do filme Hércules da Disney, só faltavam os chifres e as pernas de bode.
— Está bem, cupcakes! Ouçam!
— Levante-se, Treinador! — alguém exclamou ali do fundo do ônibus.
— Eu ouvi isso!
Penelope conteve uma risada, mas Leo não fez questão alguma disso.
O treinador olhou na direção que ela estava e fechou a cara numa carranca séria. Por um momento pensou que fosse por causa de Leo, mas então olhou para trás e viu que Jason já havia acordado e olhava na direção do treinador de volta.
Ele parecia estranho. Já não segurava mais a mão de Piper. Suas mãos, na verdade, tremiam e seus olhos se perderam entre as pessoas, parecendo confuso e atordoado.
— Chegaremos em cinco minutos! Permaneçam com seus grupos. Não percam suas planilhas. E se um de vocês, pequenos cupcakes, causar qualquer problema nessa excursão, eu vou pessoalmente mandá-los de volta para o campus do jeito difícil.
Hedge pegou seu taco de beisebol e agitou como se rebatesse uma bola.
— Você trouxe a sua planilha, não é? Usei a minha para fazer bolinhas de cuspe semana passada — Leo a perguntou.
— Eu sei. Boa parte dessas bolinhas foram parar no meu cabelo.
— Ele pode falar conosco desse jeito? — Jason perguntou.
Penelope franziu o cenho.
— Ele sempre falou assim.
— Essa é a Escola da Vida Selvagem, lembra? “Onde as crianças são os animais.” — Piper riu.
— Isso é algum tipo de engano — Jason falou. — Eu não devia estar aqui.
— Sim, certo, Jason. — Leo também se virou para eles. — Todos nós fomos enquadrados! Eu não fugi seis vezes. Penelope não mandou a mãe pro hospital.
— Eu não tive culpa!
— Piper não roubou uma BMW com ela.
— Eu não roubei esse carro, Leo!
— Oh, eu esqueci, Piper. Qual foi a sua história? Você convenceu o vendedor a emprestá-lo a você?
— Eu estava lá, ele literalmente entregou a chave na mão dela.
Leo riu e olhou para Jason com a sobrancelha arqueada, obviamente não acreditando na história. Penelope revirou os olhos e bufou.
Jason permaneceu calado, encarando-os fixamente com uma expressão perdida e confusa. Olhava entre Penelope e Leo de um jeito quase assustado, os olhos azuis como o céu levemente arregalados.
— Ei, por que está me olhando assim, cara? Desenharam na minha cara de novo?
— Minha maquiagem está borrada?
— Quem são vocês?
— Acho que a Bela Adormecida ainda não acordou direito. — Penelope riu.
— Eu não conheço vocês.
— Claro. Não sou seu melhor amigo. Eu sou o clone mau dele.
— VALDEZ! — Treinador Hedge gritou da frente. — Algum problema aí atrás?
— Vejam essa. — Leo virou-se para frente. — Com licença, Treinador! Eu estava tendo problemas para te escutar. Você pode usar seu megafone, por favor?
Penelope virou-se rapidamente, já imaginando que Valdez havia aprontado alguma coisa. Treinador Hedge pegou seu megafone, parecendo feliz por ter uma desculpa para usá-lo. Ele continuou as instruções, mas sua voz saía mais como a do Darth Vader.
— A vaca diz muuu!
Todos começaram a gargalhar alto, e o treinador bateu no megafone.
Leo e Penelope voltaram a virar-se para os outros dois. Jason continuava com a mesma expressão confusa, enquanto Piper abafava o riso com as mãos que exibiam seu anel que usava desde que começaram a namorar.
— Gente, é sério — Jason disse. — O que estou fazendo aqui? Para onde estamos indo?
— Jason você está brincando? — Piper perguntou preocupada.
— Não! Eu não tenho ideia… Quem são vocês?
— Ah sim, ele está brincando — disse Leo. — Ele está tentando descontar daquela vez que tinha creme de barbear na gelatina, não é?
Jason olhou para ele com uma expressão ainda mais confusa.
— Não, eu acho que ele está falando sério — Piper tentou pegar a mão dele novamente, mas ele a puxou.
— D-desculpa — ele disse. — E-eu não...
Penelope franziu o cenho, confusa, pois aqueles dois praticamente não se desgrudaram ou soltaram as mãos nas últimas semanas. E ela percebeu mais um detalhe naquele momento.
Jason não usava o anel dele, apenas uma pulseira de ouro com pingentes de raios e golfinhos que ela não se lembrava de reparar vê-lo usando antes.
— E-eu realmente não sei…
— Acho que você dormiu demais.
— Você bateu a cabeça ou algo assim? — Piper perguntou bastante preocupada e tocou a testa dele dessa vez. Jason afastou-se confuso. — Realmente não sabe quem somos?
— Não sei quem eu sou.
— Definitivamente, bateu a cabeça ou dormiu demais… Ou encheu a cara, acontece com minha mãe quando ela bebe demais — Penelope disse e riu.
— Isso é sério, Penelope! — Piper a repreendeu irritada, logo voltando sua atenção totalmente preocupada para o namorado.
Penelope revirou os olhos para todo aquele drama e olhou para o lado, percebendo que Leo parecia num misto de confusão e tédio, dividido entre acreditar e achar que era só uma brincadeira do melhor amigo. Ele estava pendendo mais para a segunda opção.
Se realmente fosse apenas uma brincadeira, Jason poderia ter um grande êxito no ramo do entretenimento, pois estava fazendo uma ótima atuação. Sua mãe era atriz e conseguia ser tão convincente que ninguém saberia dizer se era real ou não o que ela dizia, nem mesmo seu pai que já trabalhava no meio há tanto tempo.
Foi assim que ela acabou ali, afinal.
Sendo atuação ou não, Penelope não estava com um bom humor o bastante para aturar um drama do casal. Sua manhã já estava sendo lhe transmitindo uma sensação estranha demais e estar naquele grupo para a excursão já era o bastante.
Não que tivesse exatamente algo contra eles, eram legais até, mas Piper principalmente nunca pareceu gostar muito dela por… Bom, por simplesmente saber quem é. Ora! Ela era filha de um diretor de cinema, herdeira de uma fortuna milionária e poderia usar todas as grifes que quisesse e sabia disso. Que mal tinha em falar a verdade e usar? Se a popularidade e outros benefícios viessem com isso, era um bônus a se aceitar.
E elas se conheciam desde que seus pais começaram a trabalhar juntos e dividiam o quarto, então precisam conviver de um jeito ou de outro.
— Jason, está começando a me assustar.
— Eu estou assustado! Acordei nesse ônibus indo para não sei onde com pessoas de quem eu não me lembro — Jason rebateu, realmente perturbado.
Ele olhou para a janela, a paisagem do deserto passando por eles. Em seguida, observou os arredores e encarou Piper ainda confuso, depois Leo e Penelope.
— Agora até eu estou me assustando. Quer uma água? — Leo falou e pegou uma garrafa d'água de sua mochila.
— Água… — Jason murmurou enquanto pegava a garrafa e a encarava como se fosse um objeto de outro mundo.
— Ainda bem que eu sempre carrego um pouco comigo. É quase impossível sobreviver sem nesse deserto infernal.
— Acho que seu amigo realmente bateu a cabeça e pirou de vez — Penelope sussurrou para Leo. — ou merece um Oscar.
Em meio a grande confusão, um momento de clareza passou pelo rosto do garoto, como se tivesse lembrado de algo.
— Darya.
— Quem? — Leo perguntou confuso.
— Darya… — A confusão retornou ao rosto de Jason.
— Acho que você confundiu os nomes. Essa aí é a Piper, eu sou a Penelope e esse aqui é o Leo.
— Quem é Darya? — Piper perguntou.
— Eu não sei… Foi o nome que me veio à cabeça.
Jason abriu a garrafa e bebeu quase metade da água de uma só vez antes de devolvê-la a Leo, parecendo ainda mais perdido.
O ônibus deixou-os em frente ao museu no Grand Canyon e todos desceram. Jason ainda continuava a dizer que não se lembrava de absolutamente nada e nem ninguém, e Penelope estava começando a acreditar que fosse verdade, embora a forma como Piper a todo momento tentava se aproximar e tocá-lo com aquela expressão preocupada como se o garoto estivesse a beira da morte enquanto ele se afastava fosse levemente entediante.
Penelope se aproximou de Dylan e outras garotas.
— Como vai com o grupinho dos perdedores, Penny?
— Não fale assim, Jane — ela rebateu. — Mas está um caos. Parece que o Jason de algum jeito bateu a cabeça com força e não se lembra nem da própria namorada.
— Se eu namorasse a Piper, também iria querer perder a memória — outra garota disse.
Penelope fechou a cara imediatamente. Aquela frase despertou uma grande irritação dentro dela de um jeito que raramente sentia.
— Calada, Hannah. Nem seus amantes te suportam e ninguém diz nada, e motivo não falta.
— Calma aí, Penny! O que deu em você?
— Acho que alguém levantou com o pé esquerdo hoje — Dylan riu.
— Quer saber? Vou voltar, meu dia já está cheio o bastante.
Penelope rapidamente voltou para onde estava o trio, que ainda tentava entender o que acontecia com Jason.
— Sua família ou o órgão responsável por você decidiu que você era muito problemático, então te mandou para esta adorável prisão que chamam de internato em Armpit, Nevada. Isso te lembra alguma coisa? — Leo dizia.
— Não. Somos todos problemáticos?
— Piper odeia admitir que seja, eu sei que fugir seis vezes de casa é um belo problema. Ah! E aqui temos aqui a Penny, que jura que só está aqui porque a mãe não gosta dela, mas eu diria que está por esvaziar o estoque de todas as lojas da Califórnia como uma grande compradora compulsiva.
— Ei!
— Ela é colega de quarto da Piper, você é o meu. Você… — Leo franziu o cenho. — Por que você está aqui mesmo?
— Eu não sei!
Penelope tentou pensar e então percebeu que, realmente, não se lembrava da razão para Jason estar ali. Ele nunca havia falado sobre isso ou sua família, mas ela tinha certeza que sabia quem era. Assim como ela e Piper, ele também tinha parentes no ramo do entretenimento… Ela achava. Não tinha mais tanta certeza.
Talvez ela também estivesse com algum problema de memória, pois não estava conseguindo pensar ou lembrar de muitas coisas exatas sobre Jason. Aquela sensação de que algo estava faltando cresceu ainda mais em seu peito, era quase palpável, até doloroso diria.
— Você realmente vai continuar com isso, não é? Okay. Então, nós quatro entramos aqui juntos este ano. Você faz tudo o que eu digo, me dá sua sobremesa e faz meus deveres…
— Ele está brincando com você — Penelope cortou Leo.
— Okay, esquece a última parte. Bom, nós somos amigos, Penelope na verdade é amiga de todo mundo, é quase uma celebridade que todos conhecem e gosta de falar com todos, ganharia facilmente a insígnia de Borboleta Social dos Escoteiros.
— Eu ganhei, na verdade.
— E a Piper tem sido bem mais que sua amiga nas últimas semanas.
— Leo!
— O que foi? Vocês estão realmente namorando e não se desgrudam há semanas! Chega a ser irritante.
— Nisso eu concordo com ele.
— Calada, Penelope — Piper repreendeu.
Penelope não conseguiu mais abrir a boca para falar nem sentiu mais vontade de fazer isso.
— Ele está com amnésia ou algo do tipo — Piper disse. — Nós temos que contar a alguém.
Leo riu.
— Quem? O Treinador Hedge? Ele tentaria curar Jason batendo em sua cabeça.
— O que você bebeu ontem a noite, Jason? — Penelope perguntou.
— Eu não sei nem quem eu sou, acha que vou lembrar o que comi ou bebi noite passada?
— Não custava tentar, você pode ter sido drogado ou sei lá.
— Ele estava comigo noite passada, só bebemos refrigerante no terraço e ele me levou para o quarto e ficou comigo até eu dormir — Piper respondeu. — Você realmente não lembra?
— Desculpe, mas não. E tenho certeza de que me lembraria se tivesse uma namorada.
— Mas lembra de uma tal de Darya — Penelope falou e riu, pousando as mãos na cintura. — Parece que não é só para a Piper que você tem enviado bilhetes carinhosos.
— Darya não é minha namorada! — Jason exclamou rapidamente, quase que automático, mas logo franziu o cenho, como se nem tivesse percebido o que disse. — E-eu… Merda!
Jason levou as mãos a cabeça, passando-as por entre os fios loiros e depois pelo rosto.
O Treinador Hedge gritava mais a frente e soprava o apito ditando ordens. Eles começaram a seguir em fila para dentro do museu.
— Se você não se lembra de mim, significa que eu posso recontar todas as minhas piadas antigas. Vamos lá! — Leo comentou alegremente.
— Por favor, Leo, nem pense nisso!
— Ah, Penny! Pensei que minhas piadas eram nossa pequena ligação amistosa.
— Leo, não é hora para isso — Piper falou séria.
Leo bufou e então focou em seu trabalho de ficar mexendo com um monte de elásticos e limpadores de cachimbo que pegou da sala de detenção na última vez que estiveram lá, que no caso foi dois dias atrás. O professor que ficava de olho neles era uma verdadeira chaminé.
Eles caminharam pelo museu, e Penelope não prestou muita atenção em tudo, pois já esteve ali antes. Certa vez, seu pai estava dirigindo um filme em que montaram um set de gravações próximo ao Grand Canyon e ele a levou para acompanhar as filmagens e a guiou pelo museu no horário de almoço.
Nenhum deles parecia prestar muita atenção, na verdade. Jason estava ocupado demais tendo sua amnésia repentina, e Piper estava se ocupando em ficar extremamente preocupada, enquanto Leo estava… Sendo Leo e construindo alguma coisa tirando pregos do bolso que não fazia ideia de onde ele conseguiu.
Penelope aproveitou o momento que pararam para analisar alguma coisa exposta ali sobre o povo Hualapai, que cuidava do museu, para pegar seu pequeno espelho e retocar seu gloss e verificar se a maquiagem ainda estava okay.
Porém, sua atenção rapidamente foi tirada do espelho ao ouvir alguém dizer:
— Ei, Piper, a sua tribo cuida desse lugar? Você entra de graça se fizer a dança da chuva?
As garotas ao redor riram.
— Meu pai é Cherokee, não Hualapai — Piper retrucou rapidamente de punhos cerrados. — Mas é claro, você precisaria de alguns neurônios para saber a diferença, Isabel.
— Ah, desculpe. A sua mãe era dessa tribo? Ah, desculpe mais uma vez. Você nunca conheceu sua mãe.
Piper estava pronta para partir para cima dela, mas Leo a segurou e Penelope logo interviu:
— Onde está a sua mãe mesmo, Isabel? — a garota fechou a cara imediatamente , e Penelope sorriu travessa. — Oh, lembrei! Em um iate com o amante bilionário por quem ela largou o seu pai.
— Meus pais tiveram uma separação amigável.
— Chifre trocado não dói, não é? Quando vai ser o casamento do seu pai, por sinal? Dizem por aí que você até vai ganhar um irmãozinho!
Isabel bufou irritada, enquanto suas amigas ao redor começavam a cochichar. Penelope sorriu vitoriosa.
— E Joana, se eu fosse você, não pesquisaria as últimas notícias sobre seu pai no jornal — falou para uma das garotas que havia tido com Isabel. — Aliás, a cor laranja não o valoriza muito bem.
Ela então seguiu junto dos outros, ajeitando os cabelos, enquanto todos a encaravam, especialmente Piper.
— Não preciso que me defenda.
— Não faz mal aceitar uma ajuda de vez em quando, Piper. E eu também já estava de saco cheio delas.
— Como você sabia tudo isso dos pais delas? — Jason perguntou confuso.
— O pai dela é Robert Pembroke, cara! — Leo quem respondeu.
— Quem?
— Diretor de cinema super famoso, três Oscars, super influente, praticamente o dono de Hollywood? Ele já trabalhou até para a porra da Disney!
— E o que isso tem a ver?
— Tem a ver que eu tenho uma grande facilidade de ficar sabendo sobre absolutamente qualquer coisa — Penelope disse com orgulho. — Piper, infelizmente, não gosta muito de usar as vantagens que vem com o pai dela.
— Ele é famoso também?
— Você não se lembra quem é o pai da sua namorada?
— Eu não me lembro nem dela… Er… Sinto muito por isso, aliás — Jason falou e rapidamente se voltou para Piper com uma expressão culpada.
— Nós vamos dar um jeito de resolver isso, okay? — Piper falou num misto de preocupação e carinho para o namorado.
— Certo, cupcakes — o Treinador Hedge anunciou. — Vocês estão prestes a ver o Grand Canyon. Tentem não quebrá-lo. O observatório aguenta o peso de setenta jatos, então vocês, pesos-pena, devem estar seguros lá. Se possível, evitem empurrar uns aos outros por cima da cerca, porque isso me daria mais papelada pra preencher.
Os quatro voltaram-se para o professor e o acompanharam quando abriu as portas para a grande passarela de vidro em forma de ferradura. O cânion se expandia diante deles em quase todas as direções numa vista de tirar o fôlego.
Quando estavam na metade da passarela, Jason apoiou-se de repente na grade enquanto observava o desfiladeiro e o rio vários metros abaixo e levou um das mãos à cabeça. Penelope revirou os olhos mais uma vez e suspirou.
— Jason, o que foi? Está se sentindo mal? — Piper perguntou tocando o ombro dele com cuidado.
— Você não vai vomitar, né? Penny, trouxe sua câmera? Eu esqueci a minha! — Leo disse.
— Está tudo bem, só… Uma dor de cabeça.
— Talvez realmente tenha batido ela com força — Penelope comentou.
O céu acima deles estava nublado, embora aos arredores estivesse limpo e tão azul quanto os olhos de Jason. Um trovão ecoou no céu, e Penelope saltou assustada, escondendo-se atrás de Piper.
Ela engoliu em seco. Não gostava de tempestades. Isso era só o que faltava para tornar o dia pior.
— Foi só um trovão, Penelope.
— Você sabe que eu detesto tempestades.
Na verdade, ela tinha um certo medo. Desde pequena ela sempre chamava seu pai em noites de tempestade e ficava agarrada a ele enquanto sentia um carinho em seus cabelos e ouvia a voz dele cantando baixinho para acalmá-la. Sua mãe sempre ficava irritada por ele deixá-la sozinha para ir ficar com ela nessas noites e dizia que era um medo bobo.
Jason olhou para o céu e analisou a tempestade, levando a mão ao bolso em seguida. Ele tirou de lá uma moeda de ouro e observou-a atentamente.
— Isso é ouro de verdade?! — Leo perguntou surpreso.
— É só uma moeda. — Ele guardou-a imediatamente.
Penelope mais uma vez reparou na pulseira em seu pulso, os pingentes balançando com o movimento de sua mão.
— Essa pulseira é nova? Onde comprou? É linda!
— Eu… Não sei — Jason ergueu o pulso e admirou a pulseira, confuso. Franziu o cenho, segurando entre os dedos um dos pingentes de golfinho.
Ele encarava fixamente o pingente como algo extraordinário. Sua respiração pareceu ficar mais pesada.
— Delphi…
— Delphi? Que Delphi?
— Darya.
— Oh, tem um apelido para ela também? Interessante sua amnésia seletiva. — Penelope riu. — Ela quem te deu a pulseira?
Jason deu de ombros.
— Mas quem é essa Darya? — Piper perguntou impaciente.
— Eu não sei!
— Eu acho que preciso de um pouco de ar.
Piper suspirou e se afastou deles. Penelope seguiu com o olhar antes de voltar os olhos para Jason, que ainda analisava demais sua pulseira. Era realmente muito bonita e parecia ouro de verdade, ela reconheceria uma bijouteria se visse uma.
— Fingir amnésia não é um bom jeito de tentar trocar ela por outra — caçoou.
— Não é isso! E-eu… Eu realmente não entendo o que está acontecendo.
— Nós muito menos. Isso tá estranho, cara! — Leo disse.
— Eu adoraria me lembrar de tudo e poder entender, mas não consigo! Tudo que consigo lembrar é… — ele não completou a frase, mas já era óbvia a resposta.
Eles tentaram focar na planilha de perguntas que tinham que responder, mas nenhum deles estava conseguindo pensar muito nisso. Jason estava confuso com sua amnésia e encarando a tempestade, Leo estava ocupado construindo um pequeno helicóptero e Penelope estava pensando naquela sensação que não abandonava seu peito.
Seus olhos foram para Piper, que estava afastada deles com sua própria planilha, respondendo e ao mesmo tempo parecendo completamente perdida.
— Falando sério — Jason falou — Nós somos amigos?
— Na última vez que eu verifiquei, sim — Leo respondeu.
— Você tem certeza? Qual foi o primeiro dia que nós nos encontramos? Do que nós falamos?
— Foi... Não lembro exatamente. Tenho TDAH bem fodido, cara. Você não pode esperar que eu me lembre de detalhes irrelevantes. Nós só… Ficamos nos demos bem de cara? Sei lá! Tirando Piper e Penelope que já se conhecem há anos, todo mundo se encontrou em algum momento na escola e aqui estamos.
— Eu tenho quase certeza que você chegou com uma entrada triunfal digna de um filme de romance colegial — Penelope falou. Ela não se lembrava muito, na verdade, mas tinha essa impressão. Jason chamava a atenção por onde passava com a porra d um protagonista de Hollywood por quem todas as garotas ficam perdidamente apaixonadas.
— Mas eu não me lembro nada de vocês. Não me lembro de ninguém daqui. E se…
— Se você estiver certo e todo mundo estiver errado? — Leo perguntou. — Você acha que só apareceu aqui nesta manhã, e todos nós temos memórias falsas de você?
— Sinceramente, me parece bastante plausível.
— Você andou vendo muito o último filme do meu pai.
A primeira vez que seu pai resolveu se arriscar em ficção científica, disposto a dirigir e produzir o próximo Matrix. Ela diria que não deu muito certo, e os críticos também.
— E aí, Piper! Que tal uma ajudinha com minha planilha?
Penelope virou-se imediatamente ao ouvir, encontrando Dylan com os braços em torno dos ombros de Piper com um sorriso brilhante. A garota empurrou-o irritada.
— Vá embora, Dylan.
— Eu já volto — Jason disse.
— Jason… — Leo tentou impedir, mas não conseguiu.
Penelope, assim como Leo, pensou que ele iria até Dylan, mas ele foi para outro lado até o Treinador Hedge. Isso era realmente estranho.
— Acho que ele realmente bateu a cabeça.
— Ele passou a noite com a Piper no terraço ontem, não foi? Eu acho… Será que aconteceu algo quando voltou pro dormitório? — Leo indagou de cenho franzido.
— É, eles estavam lá… Talvez. — Penelope franziu o cenho.
— Eu posso não lembrar nem onde estava noite passada, mas o Jason é realmente um caso e tanto.
Ela também não se lembrava onde ela própria estivera noite passada. Isso com certeza não era normal.
Olhou para a direção de Jason, que conversava com o treinador que estivera encarando-os com estranheza a manhã toda… Bem, mais que o normal. Algo, definitivamente, estava errado com ele.
Ela voltou os olhos para Piper, que revirava os olhos para as cantadas de Dylan enquanto tentava escrever em sua planilha.
Os ventos, repentinamente, ficaram mais fortes. Os cabelos loiros de Penelope voavam e batiam em seu rosto. Ela tentava falhamente ajeitá-los, mas a ventania apenas aumentava. Então, um raio cortou o céu e a passarela estremeceu.
— Todo para dentro! — Treinador exclamou com seu megafone. — A vaca diz muu! Para fora do observatório!
Isso seria até engraçado se não fossem todos correndo desesperados para dentro.
Piper e Dylan correram para as portas e seguraram-nas abertas enquanto todos entravam. Leo quase perdeu o equilíbrio e caiu, mas Penelope o segurou pela jaqueta, e ele agarrou seus braços rapidamente.
— Madre de Dios! Obrigado.
Eles tentaram correr até as portas, mas o vento parecia lutar contra eles para impedi-los de chegar, empurrando-os para trás. Penelope agarrou-se ao braço de Leo, as mãos começando a tremer perante a tempestade a caminho.
Ela, definitivamente, odiava tempestades.
Quando a última pessoa entrou, as portas fecharam-se repentinamente e trancou-os para fora. Piper começou a bater no vidro e tentar abrir inutilmente, enquanto Dylan permanecia parado ao seu lado com um grande sorriso.
— Dylan, ajude! — Piper pediu.
— Sinto muito, Piper, estou cansado de ajudar.
Dylan ergueu a mão e acenou. Piper voou e bateu contra a parede ao lado da porta com força, deslizando para o chão da passarela.
— Piper!
— Jason, Leo, Penelope, fiquem atrás de mim — o treinador ordenou. — Eu deveria saber que era o monstro.
— O quê? Que monstro? — Leo perguntou.
O boné do professor havia voado pelo vento, agora revelando um par de chifres entre os cabelos. Ele ergueu seu bastão, que não parecia mais um bastão de beisebol.
— Você está velho demais para lutar, Treinador. Não foi por isso que eles te trouxeram para essa escola? Eu estive em sua turma o ano inteiro e você nem reparou. Você está perdendo seu faro, vovô.
— Acabou, cupcake. Eu vou te estraçalhar!
— Você acha que pode proteger três meio-sangues de uma vez só? — Dylan riu. — Boa sorte.
Dylan estendeu a mão e um tipo de nuvem arremessou Leo pela passarela, e ele bateu a cabeça com força na grade e caiu encolhido no chão.
Penelope olhou horrorizada para Dylan. Ele era seu amigo, se falaram durante as aulas e conversaram pelos corredores. Ela só poderia estar alucinando.
— Dylan…
— Hora de jogar, Penny. — Ele disse e apontou em sua direção.
Ela não teve tempo de reagir antes de sentir o jato de vento arremessá-la para fora da passarela até a parede do desfiladeiro. Um grito ecoou por sua garganta, enquanto suas mãos tentavam apressadamente agarrar alguma coisa.
Quando conseguiu segurar-se numa saliência entre as rochas na parede, as lágrimas já molhavam seu rosto e manchava toda a maquiagem. Uma das mãos vacilou e cortou-se na rocha, e ela deu mais um grito antes de voltar a segurar-se com força.
— ALGUÉM ME AJUDA! S-SO… SOCORRO! — gritou com a voz embargada.
Ela não conseguia ver o que acontecia acima nem ouvir muita coisa. O vento forte tornava muito mais difícil se segurar, e piorou quando as gotas de chuva começaram a cair, mas ela fez o seu melhor. Não parou de chorar nem um único segundo, soluçando alto.
Não ousou olhar para baixo. Sabia que, se o fizesse, cairia no mesmo segundo.
Suas mãos ardiam e doíam como nunca antes. Ela estava apavorada.
Ela ia morrer!
Ela só queria poder ligar para casa e correr para os braços de seu pai agora.
Então, Penelope avistou o treinador escalando como um bode montanhês. Porém, havia um detalhe… Ele realmente tinha cascos de bode no lugar dos pés!
Ela só poderia estar alucinando. O pavor da morte iminente, a dor que estava sentindo… Estava vendo coisas, estava ficando completamente maluca.
— Vamos lá, Cupcake. Segure minha mão e suba nas minhas costas.
Penelope apenas balançou a cabeça negativamente, não confiando em sua voz. Um soluço alto escapou de sua garganta.
— Você não vai querer cair e se quebrar inteira lá embaixo, vai? — Ela negou com a cabeça mais uma vez. — Então vamos!
Ela hesitou, mais uma vez encarando as patas de bode.
Definitivamente, estava ficando maluca.
Ela agarrou a mão do treinador e conseguiu apoiar-se e subir em suas costas. O peso não pareceu atrapalhá-lo, pois logo estava subindo mais uma vez tão habilidosamente quanto desceu.
Eles retornaram à passarela, e Penelope desabou no chão de vidro aos prantos. Por pouco ela não morreu naquele maldito desfiladeiro. Seu amigo de algum jeito, mesmo distante, a jogou daquele lugar para morrer.
Seus olhos percorreram o lugar em busca dos outros.
Leo aproximou-se cambaleante dela. Piper segurava o bastão do treinador. Jason segurava… Uma espada? Onde ele conseguiu aquilo?
E Dylan… Aquele ali não era Dylan, não podia ser.
O que deveria ser seu amigo, agora era uma forma monstruosa de um espírito feito de fumaça com olhos brancos.
— Maldição, menino! — Treinador Hedge se virou para Jason. — Você não deixou alguns para mim? Eu gosto de desafios!
— Treinador, nós definitivamente não queremos mais desafios! — Leo exclamou. — Puta merda, Penelope! Suas mãos estão sangrando!
Penelope encarou suas mãos. O sangue delas manchou o vidro e suas roupas, e um feio corte ardia em sua palma.
— Vocês não fazem ideia de quantos inimigos despertaram, meio-sangues. Minha mestra irá destruir todos os semideuses. Esta guerra vocês não podem vencer! — disse Dylan. Ele olhou para o céu enquanto um buraco se abria entre as nuvens. — Minha mestra me chama de volta! E você virá comigo!
Dylan avançou contra Jason, mas Piper o atacou por trás, conseguindo acertá-lo em cheio mesmo sendo feito de fumaça. Ele urrou furioso e lançou uma corrente de ar que derrubou a espada de Jason para longe e lançou o Treinador, Penelope e Leo para o chão.
E Piper foi atirada contra a grade, mas conseguiu segurar-se e ficar pendurada sobre o cânion.
— Piper!
Penelope não soube de onde encontrou forças, mas ela ficou de pé e correu até Piper. As mãos dela começaram a escorregar pela grade, prestes a fazê-la cair.
— Peguei você! — Penelope exclamou ao agarrar os braços de Piper, que encarou-a com os olhos arregalados, assustada.
Ela a puxou de volta para a passarela, e as duas desabaram no chão, hiperventilando. Piper xingou tanto que seu pai provavelmente lavaria sua boca com sabão se ouvisse, os olhos ainda expressando o susto repentino.
Penelope nunca soube descrever de que cor eles eram exatamente. Ora pareciam azuis, outra verdes ou castanhos, um verdadeiro arco-íris multicolorido.
— Obrigada — Piper agradeceu num tom baixo. Penelope ainda segurava seus braços.
— Oh, você sabe me agradecer?
— Ah, vai se ferrar, Pembroke!
Ela soltou-se de Penelope, então olhando para as manchas de sangue em seu casaco de snowboard.
— Desculpa por isso…
— Tudo bem, eu lavo depois. Como estão suas mãos?
Penelope encarou as própria mãos, esperando encontrar algo bem feio. Porém, ela percebeu logo que não estavam mais tão doloridas. Na verdade, o corte parecia já começar a cicatrizar lentamente, não mais saindo tanto sangue mesmo que não tivesse usado nada para estancar.
Ela franziu o cenho confusa, e então olhou para Piper. Sangue escorria da lateral de sua cabeça da batida contra a parede na primeira vez que Dylan a atacou.
— Você também está sangrando! — exclamou preocupada e imediatamente levou a mão ao ferimento.
— Eu estou bem. — Piper afastou-se e empurrou sua mão.
Penelope engoliu em seco e então olhou para cima. Depois de tantas coisas, ela ainda conseguia ficar surpreendida com o que via diante de seus olhos.
— Er… Piper?
— O que foi?
— Desde quando seu namorado sabe voar?
***
O dia de Jason estava sendo péssimo.
Primeiro, ele acordou sem lembrar de absolutamente nada sobre sua vida. Ele não lembrava nem o próprio nome completo!
Ele aparentemente tinha uma namorada, mas ele não fazia a menor ideia de quem ela era e não conseguia sentir nenhuma mínima impressão de que já a tinha visto alguma vez na vida. Tinha amigos de quem também não se lembrava e estudava numa escola para jovens problemáticos, e ele não conseguia sequer imaginar um motivo para estar ali.
Bem, ele se lembrava de um nome: Darya.
Mas ele não sabia quem ela era, não sabia onde ela estava, apenas tinha a sensação de que ela era muito importante e que precisava encontrá-la. Uma sensação que causava uma grande angústia em seu peito.
E agora, para piorar tudo, ele foi atacado por espíritos feitos de fumaça. Maravilha!
Tudo já começou a ficar ainda mais confuso quando ele decidiu conversar com o Treinador Hedge.
Desde que acordou, o professor sempre o escrava com estranheza, como se ele não devesse estar ali. Aquela era sua única pista. E a conversa foi bastante reveladora.
— Então… Você não me conhece?!
— Eu nunca te vi até você aparecer naquele ônibus. Você tem um grande poder sobre a Névoa, garoto, para fazer todos acreditarem que te conhecem.
— Névoa?
Ao mesmo tempo que isso parecia explicar muitas coisas, também não fazia o menor sentido.
— Então… Você é o pacote espacial? Tenho farejado um monstro há semanas, mas você não cheira como um. Você é um meio-sangue.
— Eu não estou me sentindo muito especial no momento. Não me lembro quem eu sou, nem de onde eu vim. Você tem que me ajudar!
— Eu não sei quem você é, sei o que você é. Essa manhã, me enviaram uma mensagem dizendo que uma equipe de extração estava vindo do acampamento e que teria um pacote especial, mas não deram detalhes.
— Acampamento…
Aquilo trouxe uma grande pontada na cabeça de Jason, como se fosse uma informação importante. É, ele conhecia um acampamento.
Talvez encontrasse Darya lá e entendesse porque se lembra do nome dela.
— Os três que estou observando são mais poderosos, mais velhos que a maioria. Eu sei que eles estão sendo perseguidos, posso sentir o cheiro de um monstro no grupo. Imaginei que esse fosse o motivo para de repente o acampamento estar tão apressado para buscá-los. Então… Você é o pacote espacial?
— Eu não sei…
Jason levou ambas as mãos à cabeça, a dor apenas piorando. Ele tentava se forçar a lembrar, mas não conseguia.
Foi quando a tempestade começou. Todos começaram a correr para dentro e a porta se fechou no instante que o último aluno entrou, deixando para fora apenas Jason, Treinador, Dylan e os três que estavam com ele quando acordou.
Quando Penelope foi atirada para o desfiladeiro e Leo e Piper caíram atordoados depois de serem jogados e batido as cabeças, Jason soube que eles estavam muito ferrados.
— Eu não sei quem é você, garoto, mas eu espero que você seja bom. Mantenha aquela coisa ocupada enquanto eu pego a Penelope.
— Você sabe voar?
— Escalar!
Ele tirou os sapatos, revelando cascos de bode no lugar dos pés. Jason arregalou os olhos.
— Você é um fauno! — Jason não fazia ideia de como sabia disso.
— Sátiro! — ele corrigiu e pulou a grade, começando a escalar com seus cascos em direção a garota.
Jason olhou na direção de Dylan. Ele jogou o bastão do treinador e conseguiu acertá-lo, mas não fez tanto efeito quanto gostaria. O garoto logo estava de pé outra vez, sangue dourado escorrendo da sua testa.
Ele apenas riu. A passarela estremeceu, e o corpo de Dylan começou a se dissolver em uma fumaça escura, os olhos agora completamente brancos e brilhantes. Abriu grandes asas e se elevou acima de todos.
— Você é um ventus, um espírito da tempestade.
Jason ainda não fazia ideia de como sabia.
— Bom vê-lo de novo, Jason.
— Você me conhece? — a voz dele vacilou.
— Estou feliz por ter esperado, semideus. Eu sabia de Leo, Piper e Penelope há semanas. Eu poderia tê-los matado a qualquer momento, mas minha senhora me disse que havia um terceiro a caminho… Alguém especial. Não imagina o quão bom será enfim te matar.
Mais dois espíritos surgiram e se transformaram em venti exatamente como Dylan.
— Volte um pouquinho… De onde nos conhecemos, mesmo?
— Oh… Realmente não se lembra? Isso é interessante.
— Seria mais interessante se você me dissesse. Adoraria saber por que quer me matar.
— Três anos atrás você teve aquela maldita cria de Netuno para te salvar, hoje não terá essa sorte.
Foi como um estalo em sua mente. Jason sentia que sabia exatamente de quem ele estava falando, porém ele não teve tempo de dizer.
Dylan estendeu a mão e raios de eletricidade saíram dela em sua direção. Em segundos, Jason estava caído no chão com um gosto amargo na boca e o cheiro de algo queimando.
Ele percebeu que suas roupas estavam fumegando, e um de seus sapatos havia simplesmente explodido com a descarga elétrica.
Devia ter calçado as botas de sola de borracha, ele pensou. No momento instante ficou confuso com o próprio pensamento, a sensação de não ser a primeira vez que pensa nisso.
Ele sentou-se no chão e retirou o outro sapato, ouvindo as risadas dos espíritos enquanto observava os dedos sujos de fuligem. Ficou de pé e viu Piper tentando inutilmente acertá-los com o bastão, que apenas passava reto por eles.
— Tudo bem, vamos jogar, então — Jason disse, sua mão indo instintivamente ao bolso.
— Como você está vivo? Essa eletricidade era o bastante para matar um exército! Nem mesmo um filho do Senhor dos Ventos suportaria.
— Minha vez.
Jason tirou a moeda do bolso e jogou-a para o alto, como se já tivesse feito isso milhares de vezes. Quando pegou-a no ar novamente, não era mais uma moeda e sim uma espada de puro ouro reluzente, o cabo coube perfeitamente em sua mão.
— Matem-no!
Os espíritos o atacaram. Ele atravessou o primeiro com a espada e o viu se dissolver em pó dourado. O segundo atirou uma descarga elétrica, e ele pegou-a com sua própria mão, atirando-a em direção ao céu. Um trovão ecoou, seguido por um rádio cortando as nuvens de tempestade antes de começar a chover.
Jason desviou quando o monstro avançou em sua direção, usando a água da chuva para deslizar sobre o chão de vidro e cortar o espírito ao meio, que se desfez em pó exatamente como o outro. Ele encarou Dylan, que olhou-o furioso de volta.
— Isso foi irado! — Leo exclamou.
— Jason… — Piper olhava-o alarmada, em completo choque.
O treinador voltou com Penelope, resmungando sobre Jason não ter deixado nenhum espírito para ele. O garoto apertou o cabo da espada, pronto para avançar em Dylan.
Então, um buraco se abriu em meio às nuvens no céu. Dylan disse que estava sendo chamado por sua mestra.
Quando ele avançou em sua direção, Piper o atacou em cheio antes que pudesse agir, e então foi atirada sobre a grade, enquanto a espada de Jason voava para longe e o treinador, Leo e Penelope iam ao chão.
— Hora da minha vingança!
Dylan agarrou o braço de Leo e ergueu-o no alto, começando a voar e levá-lo para cima. Ele começou a gritar.
— SOCORRO! ME SOLTA… NÃO PERA! NÃO SOLTA, ME COLOCA NO CHÃO!
— NÃO! — Jason gritou ao perceber o que Dylan faria ao vê-lo sobrevoar o desfiladeiro.
Ele voou cada vez mais alto e então soltou Leo, que começou a despencar pelo cânion, gritando desesperado.
Jason não saberia dizer como, ele agiu por puro instinto enquanto era tomado por uma grande sensação de déjà vu. Ele correu e pulou sobre a grade.
Ele caiu em direção a Leo, mas não era exatamente como uma queda. Sentia uma força ao redor de seu corpo, como se os ventos estivessem o ajudando a chegar até o amigo.
Ele alcançou Leo e agarrou-o no ar, e eles pararam de cair, o vento sob seus pés mantendo-os flutuando metros acima do rio.
— Hijo de puta! Porra! — Leo xingou abraçando os ombros de Jason. — ESTAMOS VOANDO, CARALHO!
— Sim, nós estamos.
— Meu melhor amigo é o Superman, e eu não sabia?! Podia ter dito antes, eu adoraria ser o nerd da cadeira!
Jason não sabia se era um bom momento para rir, mas ele riu.
— Cara, ia ser uma queda feia!
— Tecnicamente, ainda foi. Uma queda de vinte metros ainda é uma queda, chegando ao chão ou não.
— Eu tô vivo, porra! Isso que importa! Voa pro chão, bora! — Leo deu tapas em seu ombro.
— Tudo bem.
Jason pensou em uma ordem. Alto!
Os ventos o obedeceram, e ele voou de volta para a passarela. Sobrevoou o local, vendo Penelope e Piper encarando-o em choque, então levou Leo de volta para o chão.
Ele olhou em volta em busca do treinador ou de Dylan, mas os dois haviam desaparecido. Avistou apenas sua espada e a pegou rapidamente. Girou o cabo em sua mão, e ela voltou a ser uma moeda.
— Esse dia está realmente muito louco! — Leo exclamou.
— Aquelas coisas… — Piper tentou dizer.
— Venti — Jason disse. — Espíritos de tempestade.
— Você agiu como... Como se você já tivesse visto eles antes. Eles te conheciam! Quem é você?
— É isso que eu estava tentando te dizer. Eu não sei.
A tempestade parou. Jason respirou fundo e guardou a moeda de volta.
— Dylan, ele… Céus! Eu não acredito que esse tempo todo ele era… — Penelope dizia desacreditada. — Ele era meu amigo!
— Ele nos chamou de… Semideuses?
— Eu não estou me sentindo muito divino — Leo comentou. — Jason com certeza deve estar. Cara… Você voa! Você é tipo um super-herói!
— Eu não sou um herói.
— Eu estou ficando maluca ou aquilo são cavalos voadores? — Penelope apontou para o céu.
Todos eles olharam na mesma direção. Era verdade. Ao longe vinham dois cavalos alados puxando uma espécie de carruagem… Uma biga, na verdade, um tipo de caixa com duas grandes rodas.
— Reforços! Hedge disse que uma equipe de extração estava a caminho.
A biga pousou na passarela, e os cavalos recolheram suas asas e galoparam sobre o vidro até eles. Dois adolescentes desceram dela.
Um era uma garota alta, a pele negra destacada pela camiseta laranja que vestia junto aos jeans, os longos cabelos de tranças loiras caindo por suas costas e olhos cinzentos que pareciam ter o poder de analisar sua alma. Ao lado dela vinha um garoto pálido de cabelos escuros e olhos azulados, vestindo a mesma camiseta laranja junto a jeans pretos rasgados com uma corrente como cinto e coturnos.
A garota pegou uma adaga e avançou na direção deles, enquanto o garoto vinha logo atrás aparentemente desarmado.
— Onde ele está?
— Ele quem? — Jason perguntou.
Ela olhou em volta, parecendo não aceitar a resposta.
— E o Gleeson? Onde está o seu protetor, Gleeson Hedge?
— Foi capturado por venti, espíritos da tempestade.
— Os anemoi thuellai? Esse é o nome grego. Quem é você?
— Olha, eu adoraria poder responder essa pergunta, mas eu não sei — Jason respondeu com certa impaciência.
Ele deu o seu melhor para explicar tudo, e a garota olhava-o com uma expressão séria e quase intimidadora. O outro garoto parou ao lado dela de braços cruzados, encarando-os com desinteresse.
— Ela me disse que ele estaria aqui. Ela disse que se eu viesse aqui, encontraria a resposta! — ela exclamou insatisfeita.
— Quem estaria aqui?
— Annabeth — o garoto chamou e apontou para os pés de Jason. — O garoto sem sapatos. É a resposta.
Jason franziu o cenho e olhou para seus pés descalços depois que a eletricidade explodiu um deles e ele tirou o outro.
— Não, Mikhail. Não pode ser! Eu fui enganada.
Annabeth olhou para o céu, furiosa.
— O QUE VOCÊ QUER DE MIM? — ela gritou. — O que fez com ele?
— Annabeth, nós precisamos voltar. Os espíritos da tempestade podem voltar. No acampamento resolveremos isso.
Ela olhou para Mikhail por alguns instantes e então suspirou pesadamente, afastando-se de volta para os cavalos com as mãos na cabeça. Ele olhou novamente para os outros.
— Vamos indo, vocês precisam sair daqui — disse e virou-se para ir também.
— Com ela? Ela parece que quer me matar! — Jason apontou para Annabeth.
Mikhail bufou e voltou-se para eles. Ele, definitivamente, não queria estar ali.
— Ela só está frustrada. O namorado dela desapareceu. Ela teve uma visão sobre vir aqui, onde Hedge estava, e encontraria um garoto sem sapatos que seria a resposta.
— Bem… Sinto muito decepcioná-los, mas eu não sei quem é o namorado dela ou onde ele está.
— Vamos indo. Todos descobrem quem é Percy Jackson quando chegam ao Acampamento Meio-Sangue.
O garoto mais uma vez virou-se e seguiu para a biga, deixando quatro jovens completamente confusos para trás.
————————
Olá, semideuses!
Tudo bem?
E aqui iniciamos oficialmente Lost Way! Espero que tenham gostado desse primeiro capítulo.
O que vocês esperam para os próximos capítulos? Algumas coisinhas serão diferentes como podem ver!
Estou muito ansiosa por essa história e espero de verdade que gostem. Não esqueçam de comentar bastante!
Em breve retorno com mais!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top