03 ◍ O trabalho
- E já encontrou alguma coisa?
- Ainda não. - resmunguei cutucando o espelho. Como era mesmo o truque do espelho falso? Ver o dedo grudado ou não ver o dedo grudado? - Cara, até o banheiro dela é cheiroso, quem tem a privada tão cheirosa assim?
Hoje era sábado, Ryunjin não havia me falado o horário que era para eu vir na casa dela e eu também não tinha o número dela, apenas o endereço, então decidi que quanto mais cedo a gente terminar esse trabalho, melhor, mas eu tenho muita dificuldade em acordar cedo, ainda mais em um sábado... Então o meu cedo acabou se tornando 15 horas da tarde.
A garota sorriu quando me viu e disse que não tinha problema, que eu era bem vinda o horário que eu quisesse, o que eu novamente estranhei. Por que ela é tão legal comigo?
Fazia uns 35 minutos que eu estava aqui e nesse tempo a garota só sabia ser legal comigo e compreensiva com a minha burrice, o que estava me deixando mal por tentar achar algum defeito nela como disse para as minhas amigas que iria encontrar.
Nosso trabalho era de história, sobre o povo nomadismo, a gente precisava criar uma apresentação e um cartaz, tudo que eu mais odiava! Só a ideia de ficar na frente da sala com todo mundo me olhando, incluindo o Jungkook, enquanto eu preciso explicar algo com a minha dicção de centavos, já me deixava a beira de um ataque cardíaco.
Por isso eu implorei para a Ryunjin para que me desse as menores falas do trabalho e ela gentilmente disse que não se importaria em apresentar o trabalho enquanto eu só falava os títulos e segurava o cartaz para parecer um pouco útil.
Ela estava sendo realmente muito legal comigo, na verdade, ela sempre foi muito legal comigo, então eu realmente deveria seguir o concelho das minhas amigas e deixar esse ciúmes de lado e tentar focar na amizade que eu posso construir com ela.
- Você cheirou a privada dela? - Jihyo perguntou rindo do outro lado da ligação.
- Não né idiota, mas deu pra sentir o cheiro quando eu levantei ela. - sussurrei ouvindo ela rir ainda mais.
- Você realmente precisa de tratamento psicológico.
- Quieto cão.
- Lucy? - ouvi a voz da Ryunjin e quase derrubei o celular na pia com o susto. Céus, que ela não pense que eu estou fazendo o número 2 na casa dela.
- Já vou. - gritei enquanto desligava a torneira que deixei ligada para ela não ouvir eu falando com a Jihyo. Parando para pensar agora, isso foi uma ideia bem idiota, o que ela iria pensar ao ouvir a torneira ligada por tanto tempo? Eu realmente sou uma pateta quando o assunto é ser uma "espião" - Depois falo com você, tchau.
Desliguei a chamada e respirei fundo saindo do banheiro. Seja legal com ela! Seja legal com ela! Porque ela é legal com você! Talvez vocês possam se tornar grandes amigas!
Assim que entrei na sala encontrei ela sentada no chão em frente a mesinha de estar onde estava nossos materiais e o computador dela. Ela me olhou sorrindo e sinalizou para eu me sentar ao seu lado.
- Você desenha bem? - ela perguntou mostrando uma folha branca e um lápis e eu fiz uma careta.
- Bem mal. - falei sincera fazendo a garota rir enquanto eu me aproximava para sentar ao seu lado, mas mantendo nossos corpos um pouco afastados - Acho melhor você desenhar e eu fico com a escrita.
"Me ache uma insuportável e seja rude comigo para eu me sentir um pouco melhor por ter tanto rancor gratuito de você"
Sebastian Stan, meu crush de infância e também minha consciência imbecil no tempo livre quase implorou e eu fechei os olhos tentando ignorar esse indivíduo.
- Por mim, tudo bem Lucy. - ela concordou sorrindo me empurrando o celular com a nota do que eu precisava escrever na cartolina. É, ela não me odiava mesmo, eu era a única imbecil aqui.
Mas antes que eu pudesse começar a escrever, eu me lembrei de algo que há tempos quero perguntar para ela, sobre algo que eu notei desde a primeira vez que conversamos.
- Posso te fazer uma perguntinha? - perguntei mordiscando a ponta do meu lápis, um costume horrível que tenho há anos e não consigo me livrar.
- Claro.
Você é piranha?
Quieto Sebastian.
- Por que você me chama de Lucy? - perguntei curiosa e a garota me olhou com o cenho franzido.
- Prefere Lucinda?
- Ah com certeza não! - fiz uma careta enquanto voltava a minha atenção para a cartolina começando a escrever o título - Mas é que geralmente as pessoas me chamam assim, mesmo eu não gostando, mas você já me chamou de cara de Lucy.
Eu odiava meu nome com todas as minhas forças, tanto que sempre precisava ficar corrigindo os outros, a minha mãe realmente não pensou no bullying que esse nome me proporcionaria quando colocou ele em mim. Lucinda foi a enfermeira que ajudou a minha mãe no parto, ela disse que a mulher foi tão gentil e atenciosa com ela que ela decidiu dar o nome dela para mim.
Ela só esqueceu que esse nome só era bonito na década de 40, não no século 21.
Quando eu conheci a Ryunjin, eu jurava que ela ia ser mais uma daquelas garotas que me chamaria de Lucinda só para torrar a minha paciência ou que nem ia se dar o trabalho de decorar meu nome e só iria me chamar de "garota", mas para a minha surpresa, ela sempre me chamou de Lucy.
- É que eu sei que você não gosta de Lucinda, então te chamei de Lucy. - ela explicou sem me olhar e eu a encarei ainda mais confusa.
Como ela sabe que eu não gosto de Lucinda? Tá bom que eu nunca disfarcei a minha cara de ódio quando um professor me chamava pelo nome, mas eu não os corrigia de qualquer forma. Me poupava logo disso já que há anos eu peço e eles nunca pararam, então não seria agora que eles iriam parar.
- Como você sabe que eu não gosto?
- Palpite. - ela deu de ombros e fez uma careta abraçando o estômago - Nossa, estou com fome, não está também? Eu vou pegar um lanche pra gente, pode pegar o livro de história ali em cima? - ela pediu apontando para uma estante cheia de livros que havia ali já que a mãe da Ryunjin era professora e tinha livros de tudo um pouco.
- Claro. - sorri pela primeira vez sendo sincera e me levantei indo até lá enquanto a garota ia até a cozinha.
Me aproximei da estante e notei a quantidade de fotos que havia dela ali, dela em concursos de dança, o que me deixou surpresa já que não sabia que ela dançava, pelo visto eu não sei quase nada sobre ela. Estive tão cega dessa inveja que tenho dela com o Jungkook que ao menos dei a chance de conhecer ela melhor.
É oficial! A partir de hoje vou gostar dela!
Ouvi ela se aproximar de mim e logo parei de catar a vida dela me esticando para pegar o livro que ela pediu mas ele estava muito no alto.
- Acho que vamos precisar de uma cadeira. - falei quando senti que ela estava atrás de mim, mas estranhei quando a sombra dela pareceu alta demais contra aquela estante.
- Deixa que eu te ajudo. - uma voz rouca soou atrás de mim e logo um braço masculino (e muito, muito familiar) parou ao lado do meu e pegou o livro sem dificuldade.
Travei no lugar e ainda pisquei algumas vezes abismada antes de virar para trás e quase desmaiar quando notei quem estava a poucos passos de mim, poucos mesmo!
Jeon Jungkook estava tão perto de mim que eu precisava olhar para cima para encarar seu olhos. Ele tinha um sorriso fechado nos lábios enquanto segurava o livro e eu me senti tonta ao ver que não era a Ryunjin me vendo tentar pegar aquele livro e sim ele.
Mas o que ele estava fazendo aqui? Na casa dela? Em um sábado?
Abri a boca algumas vezes sem saber o que falar, mas logo me apressei a tentar falar algo antes que ele me achasse uma esquisita, o problema é que a minha voz quase não queria sair de tão nervosa que ele me deixava.
- Obrigada. - falei baixinho, quase em um sussurro, quando ele estendeu o livro para mim.
- De nada. - Jungkook falou também baixinho mas com um sorriso lindo nos lábios - Como você está?
- Bem e você? - falei baixo e rápido.
- Bem também. - ele olhou para os dois lados como se procurasse algo e me olhou com as sobrancelhas franzidas - Por que estamos falando baixo?
Abri e fechei a boca me amaldiçoando mentalmente por nunca conseguir falar direito com ele, saco! Por que ele tem que ser tão bonito só ponto de me deixar tão tonta por ele?
- Você já chegou. - ouvi a voz da Ryunjin e virei para a porta da cozinha encontrando ela segurando dois pratos com sanduíches enquanto se aproximava de nós dois - Achei que ia vir só mais tarde. O sem casca é o seu, Lucy!
Só mais tarde? Ele iria vir só mais tarde em um sábado? Final de semana? Céus! Eles estão mesmo juntos?! Acho que estou passando mal, socorro Sebastian!
Você me mandou ficar quieto, agora aguenta
Por isso que você não tem um Oscar!
E você não tem namorado.
- Minha mãe pediu para eu buscar a taça que ela esqueceu aqui ontem, ela tem várias, mas hoje decidiu que quer aquela. - Jungkook falou se aproximando da garota e eu fiz uma careta. A mãe dele esqueceu uma taça aqui? Ela esteve aqui ontem?
Céus, é tão sério assim? Por que eu fui me apaixonar logo por ele? Olhando agora para os dois, é nítido demais a intimidade que eles tem e eu idiota aqui pensando que era só coisa da minha cabeça! Como sou estúpida.
- Ah tá. - Ryunjin murmurou largando os pratos sobre a mesinha e fez um sinal para o Jungkook seguir ela até a cozinha - Vamos ali pegar.
Soltei uma suspiro frustrado e voltei a me sentar no chão encarando os sanduíches que ela havia feito para nós e notei que até a casca do pão ela havia retirado para mim o que também me deixa confusa por ela saber disso. Como ela sabia tanta coisa sobre mim? Se a gente quase nunca se falava, foram raras as ocasiões que trocamos algumas palavras e mesmo assim ela agia como se até a minha cor favorita ela soubesse.
Fiz uma careta e peguei o sanduíche dando um mordida generosa nele enquanto ouvia a risada dos dois na cozinha. É oficial, eu sou uma lesada.
Fui tirada dos meus pensamentos quando os dois passaram na minha frente e o Jungkook me olhou, ele parou e ficou me olhando como se quisesse falar algo e eu passei a mão por cima da minha boca. Será que estou suja de pão e ele está tentando me avisar de um jeito educado?
- Tchau Lucy. - ele falou por fim e eu sorri fechado, com medo de ter pão grudado no meu dente, dando um tchauzinho com a mão.
Capaz de eu tentar falar algo e acabar gemendo no processo já que ele estava com aquele sorriso irresistível nos lábios enquanto passava a mão pelo cabelo daquele jeito sedutor que só ele tem.
- Desculpa por isso. - Ryunjin falou se sentando ao meu lado depois de ter acompanhado ele até a porta.
Não pergunta, não pergunta. Isso não é da sua conta!
- Por que ele estava na sua casa? - perguntei antes que pudesse me controlar, céus, eu era um desastre quando o assunto era discriminação - Vocês namoram?
Ok, eu podia não ter perguntado essa última parte, já que foi totalmente invasiva, mas saiu antes que eu pudesse controlar! Eu estava curiosa demais a respeito deles, queria saber como alguém que está aqui há tão pouco tempo já conseguiu se relacionar logo com um dos garotos mais desejados da escola, enquanto eu estou ali há anos e o máximo que fiz foi dar uns amassos em dos alunos do curso de robótica na arquibancada do campo de futebol.
Pena que depois disso ele mudou de escola e eu nunca mais tive notícias dele. Ele era um nerdola, mas tinha uma pegava totalmente desumana.
- O que? Não. - Ryunjin riu alto pegando o seu sanduíche enquanto se escorava no sofá atrás da gente - O Jungkook é meu primo.
De repente tudo ao meu redor ficou em câmera lenta... Primo? Eles são primos??? Então a mãe dele estava aqui não por eles terem algo amoroso, mas sim por serem parentes?
- Seu primo? - exclamei não conseguindo disfarçar a surpresa no meu tom de voz.
- Sim, ele é um mala inclusive. - ela revirou os olhos, mas fez uma expressão pensativa enquanto olhava para a cartolina - Mas ele sabe desenhar.
OBRIGADA DEUS PELO PÃO DE CADA DIA! OBRIGADA DEUS PELA SAÚDE E A FAMÍLIA!
- Sério?
- Sim, talvez eu peça ajuda para ele para o nosso trabalho se ele não estiver muito ocupado.
- É uma boa ideia. - falei depois de engolir em seco a vontade de gritar um "Sim! Por favor! Sim! Chama ele!"
Eu ainda não consigo acreditar que eles são primos! E eu com esse ciúmes idiota totalmente desnecessário! Nossa, se antes eu já estava me achando uma idiota, agora eu estava me sentindo ainda mais pior!
- Esqueci o refrigerante. - Ryunjin falou fazendo uma careta e se levantou para ir até a cozinha, aproveitei e peguei meu celular para mandar uma mensagem para o grupo que tenho com as garotas.
: ELE É PRIMO DELA! PRIMO! ELES NÃO TEM UM CASO!
Jihyo: Não esquece do ditado popular.
: Que ditado?
Dahyun: Deus criou os primos para não comermos nossas irmãs.
: Depois sou eu que preciso de terapia, suas problemáticas do caralho.
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