Singing In The Rain

Ando sozinha pelo pátio de concreto infinito, não, sozinha não.

Meu beta azul está comigo nadando calmamente em seu saquinho aquém de que estamos perdidos.

No horizonte há apenas o concreto juntando-se a noite e uma música crescendo longe demais para eu entender, estamos sem vento e sem estrelas no céu.

Estou perdida.

Ergo a sacolinha para o meu rosto observando o lindo peixe queria que ele me desse respostas de como sair daquele lugar, mas ele continua nadando e balançando as barbatanas sereno.

Começo a pensar que é um espaço muito apertado para ele. O que é uma sacolinha de água perto do oceano?

Através do do plástico vejo duas estrelas minguantes no horizonte longe da linha de encontro entre o concreto e o céu. Não parecem naturais, o ruído elétrico é constante e se mistura a música. Talvez sejam postes, e aquele um ponto onde eu posso me localizar.

No meio da respiração tenho a sensação de que alguém me vigia. Olho para o horizonte atrás de mim, não vi nenhuma câmera por aí. Em verdade, não vi um teto ou parede onde elas possam ser instaladas.

Contudo, eu corro e corro, um passo mais largo que o outro, eu e você estamos correndo seguindo o som.

A sacolinha continua no mesmo peso, porém a água rasa torna-se inesperadamente profunda assim como o ar a nossa volta se adensa.

Sinto o cheiro de íons da tempestade nascendo espessa acima de nós.

Corro, corro, corro, corro, os cabelos loiros uma cauda longa balançando atrás de mim, os sapatos escolares sentido o impacto do chão através das solas.

Não é noite, as nuvens engoliram o sol da tarde, a tempestade está cada vez mais espessa. Não há onde me esconder do temporal.

E eu estou bem aqui, tão quente.

Paro de correr, e ergo o meu rosto de olhos fechados para o céu. A primeira gota precipita e cai no meu olho direito, não ligo se ainda me observa, estou inebriada e viva.

Abro os olhos, estou em uma sala repleta de aquários sobrepostos com inúmeros peixinhos dourados, todos são iguais, o meu beta azul está num pote de vidro entre as minhas mãos.

Procuro um onde haja outro como o meu, não encontro, podia colocá-lo com os outros, mas não vou. Afinal o seu azul me envolveu.

Quero que ele faça o segredo, nosso segredo. Hoje. Chove lá fora.

No ruído branco da chuva a canção anterior se espalha.

Tudo é cinza: os peixes dourados, o mundo e eu, mas o beta continua azul no pote como uma mancha de tinta viva espalhada na água.

Queria que ele ficasse comigo para sempre.

Estou presa no meu próprio aquário vazio observando as estrelas ao meu redor e o azul espalhado entre elas.

Fico de pé com as minhas duas pernas, o pecado engoliu as estrelas e a música cai agora.

Canto na chuva. Estamos cantando na chuva, cantando na chuva, cantando na chuva.

Você espalhou o seu azul sobre mim.

Cantando na chuva.

E eu achando que era eu que o observava de fora do vidro.

Cantando na chuva.

A música cai agora! Cante!

Cante! Isso! Isso!

O último aquário da sala me chama atenção, está repleto de peixes dourados com uma distinção que apenas sinto. É o meu aquário.

Mergulho minha mão livre na água fria, os peixinhos abrem e fecham as boquinhas querendo, das bolhas soltas saem segredos e pedidos. Eles se apagam e voltam.

Minha mão está entre eles aproveitando a suavidade da água que se aprofunda em segredo. O que é um punhado de água perto do oceano?

Retiro a mão e observo o beta, ela toca o vidro do pote na direção do meu nariz, seus olhos profundos encontram-se aos meus.

O ar está molhado com a chuva colorindo a atmosfera. Não posso ficar com ele para sempre, ninguém pode.

Somos chuva.

O segredo está se aprofundando e caindo.

Abro o pote hipnotizada, quero fazer e farei. Ele se agita pronto.

Despejo no nosso aquário.

O sol vespertino foi engolido pelo pecado. Mas o dentro de nós está colorido.

Estou de volta ao aquário vazio, sozinha, o ar esquenta e vaporizo aos poucos sendo levada para cima. Me levando para cima.

Não há aquário, apenas o céu, e a água balançando meus cabelos, pés e cauda azul.

Estico meu dedo, estou bem aqui, tão quente.

A sacola ao meu redor se desfaz, estamos eu e você e a água sobre nós, em nós e conosco.

Me pego cantando na chuva.

Desde que o sol foi engolido pelo pecado, eu e você pertencemos um ao outro, pois você caiu e não pode voltar.

Mas eu caio e subo, caio e subo, não do mesmo jardim, pois minhas nuvens lá não alcançam, você caiu através de mim.

O sol que perseguimos foi engolido pelo pecado, você e eu pertencemos um ao outro.

Posso te encontrar.

Fique comigo esta noite, fique em mim a noite toda. Até ela acabar.

Cantamos na chuva.

O sol foi engolido pelo pecado.

Deixe-me espalhar o azul sobre o seu negro que também é o meu.

Cantamos na chuva.

Cantamos na chuva.

Caindo e seguindo.

Cantando na chuva.

A música parou.

Estou de pé molhada ao ponto dos cabelos pesarem, o uniforme escolar pinga, minha sacola está vazia finalmente comigo no meio de um deserto seco completamente encharcado.

A lua azul está sobre mim e em meu olho.

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