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Nem sei há quanto tempo estamos aqui e nem como chegamos, não lembro não, e bom, e eu não penso muito sobre isso.
Mas a primeira vez em que te vi, é impossível de esquecer, você atacou meu coração, ele que sempre foi quieto começou a dar cambalhotas como num festival confetes e fogos de artifício.
Aaaahhh... Você ataca meu coração!
O relógio vermelho na parede marcava 10 em ponto. O mundo sempre foi cheio de cores saturadas ou pastéis, mas quando você chegou naquele jardim perfeito, tudo ficou mais vivo. E outro mundo se abriu.
Te segui por todo lado, descobri que você gostava de maçãs e que eu muito muito gostava de você.
Eu tinha maçãs para te dar, não eram vermelhas como as suas, verdes, porém ainda maçãs.
Esse seu ar misterioso me afetava, podia ver meu coração brilhar a cada movimento seu e as linhas das nossas vidas se juntando.
Te olhava de longe e aos poucos me aproximava para ver você mais de perto, de pouquinho a pouquinho eu mudava de lugar me aproximando enquanto você estava imersa e distante no seu livro que eu nunca consegui entender. Quando você, tão linda, Deus, como você é linda... notava minha proximidade e do nada me olhava confusa, eu tensa desviava o olhar no último segundo para frente.
Não podia negar e nem queria, foi amor a primeira vista.
Eu te observava lendo no corredor sombreado aquele mesmo livro, nossos uniformes amarelos e xadrez eram iguais, estávamos no mesmo lugar, no mesmo nível, mas você sempre pareceu inalcançável.
Batia fotos suas como uma celebridade, e algumas vezes quase fui pega, nesses casos fingia que eram fotos da paisagem desviando a lente da câmera.
Um dia você me pegou de surpresa através da lente, mesmo a metros de distância fitou diretamente e sorriu para mim.
Lançou sorrindo uma flecha de cupido certeira no meu coração de maçã verde. Confetes vermelhos explodiram do tiro e me jogaram no chão. Como você podia ser tão maravilhosa?!
Um movimento e eu me apaixonava mais, segredos apenas meus eu queria te contar, esse humor novo eu queria te contar. Desde que dei o primeiro passo em sua direção descobri uma nova "eu" que jamais conhecia.
Quero te dar as minhas maçãs, o meu amor, o meu coração. É tudo seu, pode levar.
Certamente você é o meu destino.
Deve ser essa a sensação, querida, tenho certeza de que você é meu destino. Deus, não consigo nem pensar é essa a tal de amar.
Ofereço timidamente a primeira para você que nem percebe ao ler o livro, coloco na sua frente sobre a mesa em que dividimos. Talvez eu deva ser um pouco mais extrovertida.
Tomo coragem e ofereço em voz alta mostrando ela para você, que ignora. Você come muitas maçãs, uma grande é a solução!
Trago ela em meus braços e ponho sobre a mesa, você nem muda de posição.
Estou irritada, ela é grande! Quase não cabe em meus braços e te ofereço sorrindo, contudo, você continua só nesse livro!
Estou decidida! Você vai me notar!
Observo mais e mais, te imito até nas roupas e na frente do espelho do meu quarto faço a mesma dança que te vi dançando na sala de prática.
Faço os mesmos passos e movimentos, porém não é como você, tudo que você faz é tão diferente de mim, e tão especial que nem sei dizer. Quando você sorrir ou até quando está sonolenta e fecha o livro para dormir com a cabeça encostada no vidro do ônibus escolar vazio, parece tão especial e mágico.
Eles dizem que você é um patinho feio, como alguém pode dizer isso?! Está na cara que você é o mais belo cisne! Eu sei disso! E você também...
Só tenho medo que quando comece a voar, eu não possa te alcançar, porque sou um pássaro como você, só que minhas asas não são longas o suficiente para voar. Meu possível é o chão.
Por isso deixo as nossas pelúcias próximas para que nunca esqueçam uma da outra. Claro que você não gosta muito da sua e até a lançou para longe com um taco de golfe, então não vi problema em pegar. Afinal, você não quer ela mesmo, quer?
Tentei fazer o mesmo com a minha dentro do meu quarto, não teve o mesmo significado.
Eu sempre volto a oferecer a maçã.
Quando foi que todo esse branco em mim ficou vermelho? Foi apenas com um mergulho seu?
Antes às 10 horas era o meu tempo, agora, às 24 horas completas são suas em meus pensamentos. Nem notei quanto tempo se passou, em tudo você se espalhou.
Quando penso em você meu coração se enche de alegria, danço sozinha no meu quarto, fico nervosa e inexplicavelmente contente. Sua voz é minha música preferida. Adiciono o seu canto na minha lista de favoritos com nota máxima imaginando poder fazer algo tão bonito assim por isso imito. Abraço o meu amor suspirando e feliz, como é bom te amar!
Sei que um dia estaremos juntas e você aceitará a maçã, e depois, poderemos comer morangos que é o que eu realmente gosto.
Quando estou desinibida e entediada danço e corro ao seu redor que mexe no celular distraída, eu sei que você me vê pelo canto do olho e volta a tela fingindo que não.
Sua atenção é tão difícil, nesse jardim nunca me faltou nada e eu nunca quis nada, por que agora tudo que eu quero é o que eu não tenho e é tão difícil de se ter?
Você é tão inalcançável, estou perto e você está longe com esse ar de quem lhe falta algo? Sua mente é tão dispersa e sonhadora e seu olhar é tão triste para baixo. Olha para aquele outro mundo tão nostálgica e isso é como o seu livro, simplesmente não consigo entender.
Você sonha com o novo. Posso fazer parte desse sonho?
Tudo que é meu se encaixa em você, meus padrões estão todos em você, é claro que é o destino. Sou o seu príncipe, venha ser o meu.
Os dias seguem iguais, a maçã cresce na medida do meu amor e você continua não a querendo. Está mais distante do que o comum, agora não me enxerga, não apenas ignora. Você não me enxerga e nem nada ao meu redor, a cada mordida das suas maçãs vermelhas fica mais distante.
Me note!
Aceite uma das minhas, são maçãs, ora!
Você foi embora, e eu estou aqui abraçada com a minha maçã verde, tudo parece o fim da tarde, largada aos corredores e salas, em todos os lugares que ficávamos.
Fiquei com raiva, por que não aceitar a maçã verde que eu te oferecia? Era uma maçã! Tão boa quanto a outra. Fiquei com muita raiva, até lancei para longe seu patinho de pelúcia com o taco como você para ver se eu parava de sentir isso.
Tanto tempo se passou e essa porcaria de maçã ficou enorme no meu quarto! Amaldiçoei ela mil vezes e a chutei mesmo sabendo que de nada adiantaria, ela estava gigante demais para ser lançada assim. Eu nem conseguia empurrar ela para fora, é maior que eu!
Por estar feliz nem percebia que ela era gigante... AAAAAAHHHH!!!
Droga!
Só consigo te olhar pela janela de vidro que nos separa, você parece tão feliz agora que está aí, aprecia tudo com um ar de novo e sorri muito, só falto grudar a minha cara na janela, minhas unhas roçam na superfície.
Você não vê, não me escuta.
Saber disso acaba comigo, tudo está tão frio desde que foi, minha respiração embaça o vidro.
Danço para tentar chamar atenção de qualquer jeito, você continua olhando para outra coisa que não é eu, admirada com o novo mundo ao seu redor, era o que queria.
Desisto disso, apenas me agacho perto da janela, você não vai me ver, você não queria ficar no jardim onde era apenas um pato feio com um pinguim desengoçado a seguindo. Cisnes são livres.
Não me achava presa no nosso jardim, acho que nunca achei muita coisa. Uma das minhas maçãs está comigo lustra no seu verde.
Nunca foi vermelha. E você só gostava das vermelhas.
Entendo, Yves é Yves, eu sou eu.
Mordo finalmente a minha.
Tudo é tão frio, escuro e silencioso.
Frio.
Estamos juntas.
Ela não queria uma cópia dela, não é assim que funciona.
Rimos, pulamos, soltamos confetes e abrimos presentes enquanto a neve está lá fora e aqui dentro é quente, ela sorri para mim e eu continuou suspirando e babando por tudo que ela faz, não porque quero ser como ela, mas porque a amo. Me oferece o meu morango e eu o mordo tão feliz que explodirei, eu ofereço outro e ela... o morde!
Ela aceitou!
Continuo a olhando encantada.
Nos abraçamos rindo e ela me oferece outro.
Meus dentes arrancam o pedaço da maçã vermelha.
Alguém me acordou sacudindo meu ombro.
Não sei onde estou.
Levanto tirando a neve de mim, a minha maçã no chão que está mordida continua verde, não entendo o que houve.
Que barulhos são esses?
Estou na Terra?
Pela janela não há ninguém, apenas nossas pelúcias juntas observando o lado de fora.
Estou na Terra! Como isso é possível?
Oh, Deus... Nem posso acreditar! Foco. Tenho que ir atrás de alguém.
Me pego dançando sobre a luz da janela nesse mundo invertido. É uma das poucas vezes em que me sinto livre.
Me pego pensando em coisas que eu não deveria pensar.
Me pego vendo coisas que não deveria ver sempre de algum canto desse jardim suspenso.
Se tudo isso é proibido, por que posso ver?
Não sou feliz como era antes, se é que um dia fui, acho que o que eu tinha antes se tratava de ignorância. Abri meus olhos e eles viram mais do que deveriam. Nunca mais fui a mesma.
Chuu não entende, não tem o porquê de eu tentar explicar o que sinto, às vezes ela olha para o mesmo lugar que eu lá embaixo e não vê a mesma coisa, diria que ela não vê nada.
Ela é como uma criança mais nova que não sabe que o amiguinho cresceu e não gosta mais de brincar, ela me imita buscando atenção e até me oferece maçãs verdes como ela.
Mas nada disso me interessa.
Continuo olhando para baixo, para aquelas pessoas andando sobre a Terra, quero ser como elas, é o que meu coração deseja.
Minhas roupas brancas me incomodam e meus sapatos brancos são infantis demais. Minha aparência é miserável. Eu não sou assim, por que estou tentando ser ou fingir que um dia fui?
Com o passar dos dias vejo isso mais claramente, o brilho do sol me cega, mas continuo voando para ele com asas queimadas.
Sei que estou florescendo e a maçã vermelha agora é uma doce sedução, aqui no Jardim do Éden onde tudo é perfeito e inocente, não cabe mais a minha forma. Até a superfície do espelho me diz que não sou essa com essas roupas castas, com essas meias 3/4 e esse rosto imaculado.
"Quem eu sou?" me pergunta.
E lá está o meu novo rosto.
Minha inocência se foi e o fruto proibido está entre os meus dentes, serei expulsa e sorrio.
Dou outra mordida e mais outra, quantas forem necessárias, não posso parar.
Me oferecem aquela mentira de perfeição que sempre tomei, dizem que é como a maçã amarela por dentro e vermelha por fora, realmente é, mas o gosto não é igual, apenas mais uma proposta de inocência da qual dispenso. Ele cai e derrama, jamais será limpo.
Das pontas do Jardim mordo minhas maçãs, meus sapatos já não são os mesmos, estou sempre do alto observando. Mais e mais próxima. Pecarei quantas vezes forem necessárias.
Esse não é o meu mundo e não é meu destino. Não quero fazer o que me é imposto.
Quero ter o conhecimento do que é certo e errado por mim mesma.
Chuu não entende e deseja me puxar de volta. Não voltarei.
Se já estou aqui, o que há lá para mim? Talvez quando ela amadurecer entenderá.
Quero mostrar isso ás outras ainda presas naquela caixa de vidro.
A humana me encanta com seu sorriso tímido naquele novo lugar, não posso evitar de a olhar amarrando os cadarços dos patins enquanto os cabelos loiros escorrem sobre o rosto. Nesse momento decido definitivamente que a inocência é algo que jamais quererei de volta.
Não sou um filhote, não sou um pato feio, posso voar para o sol, as asas de um cisne não são de cera.
Quero que o cervo prove da maçã e veja o que eu vejo, pois sei que sente o mesmo que eu. Há outras como eu, o cervo é uma. Ela pode confiar em mim, eternamente poderá, não há medo em seus olhos quando ofereço o fruto proibido.
Ela o morde e toma ciência do nosso universo.
Eu a ensino de mãos dadas, sentindo o seu calor e que ela me olha como a olho, não há dúvida entre nós.
Ela confia em mim, eu confio em mim. Sempre por toda a minha vida, pela minha vida. Posso ser quem eu quiser.
Há outra da qual eu preciso passar o fruto.
O jogo e ela o pega.
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