Capítulo 06
No início da manhã, logo após o café, estava marcado para que Leto junto com Paul e Sophie conhecessem os campos de especiarias que a família tinha ficado como responsável. Os trajes adequados para enfrentar o deserto foram separados, e Sophie para facilitar qualquer outra proteção que fosse necessário ao longo da viagem prendeu o cabelo em uma trança.
Paul observava a garota pelo espelho, lembrando da noite anterior do qual ela parecia assustada, não tendo dito uma palavra sobre o caso como se não tivesse ocorrido.
Ele achou melhor fazer o mesmo para não pressioná-la.
Eles seguiram até a área de embarque, logo notando a doutora Liet Kynes esperando pelo grupo. Gurney, que estava ao lado de Leto, introduziu a juíza da transação.
— Doutora Liet Kynes — Leto cumprimentou, diplomaticamente.
— Milorde duque, bem-vindo à Arrakis — ela fez uma pequena referência, Sophie notou os olhos azuis da mulher característicos da especiaria. Uma outra fremen.
— Você é a ecologista imperial. Obrigado pelos trajestiladores — Paul comentou atraindo a atenção da mulher, que sorriu levemente com a gratidão do rapaz.
— São feitos pelos fremen, e os melhores. Senhor, devo checar a integridade do seu traje.
Antes que ela pudesse dar mais um passo, a lâmina de Gurney encontrou o pescoço de Liet e Leto afirmou que estava tudo bem, até mesmo brincando que estavam nas mãos da mulher.
— O trajestilador é um sistema de filtro de alta eficiência — explicou a doutora enquanto ajustava as falhas no traje do duque de Arrakis — Mesmo de manhã tão cedo, não sobreviveriam duas horas sem um destes. Ele refrigera o corpo e recicla a água perdida pelo suor.
Indo para Gurney, ela continuou: — Os movimentos do corpo geram energia. Dentro da máscara, tem um tubo que permite beber a água que foi reciclada. Em bom funcionamento, o traje perderá pouca água por dia.
— Impressionante — comentou Sophie atraindo o olhar da mulher. Liet olhou o traje da garota, procurando falhas, mas estava tudo no lugar, até mesmo o penteado feito pela menina parecia adequado para o momento. Ela fitou Sophie, e perguntou:
— Já usou um antes?
— Primeira vez.
— Não há defeitos, nem mesmo seu cabelo. Prendeu igual muitas mulheres fremens — explicou a doutora antes de se afastar um pouco, e verificar os trajes de Paul, que também não estava fora do lugar, até mesmo as botas se encontravam em perfeita colocação assim como as de Sophie: — Botas do deserto amarradas no tornozelo, onde aprenderam a fazer isso?
Paul negou com a cabeça, como se o formato fosse óbvio mesmo sem alguém falar: — Parecia o jeito certo.
Liet apenas concordou, murmurando algo que os dois jovens não passaram despercebido, Sophie muito menos.
— Conhecerá seus costumes como se tivesse nascido entre eles.
— Você é fremen — Paul disse após ouvi-la falar na língua natal do planeta.
— Sou aceita tanto nos sietches como nos vilarejos — explicou a doutora, tentando contornar a situação da qual não passou imperceptível como pensava — Vamos, melhor irmos verificar os campos de especiarias.
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Sophie achou Arrakis deslumbrante em seu campo de visão.
As dunas de areia pareciam não ter fim, e aquelas mesmas dunas escondiam vermes de areia assim como abrigos fremen com famílias, pessoas das quais desejavam uma vida melhor além de água em maiores quantidades.
Ela sentiu o desejo de lutar para que essas famílias tivessem essa oportunidade.
No radiocomunicador, ela pode ouvir que o território que entravam tinham vermes de areia e que a nuvem de fumaça era uma máquina de colheita da especiaria em operação. A nave subiu um pouco mais para observarem melhor o que Liet explicava, sobre os vermes e também os equipamentos que o grupo estava visualizando.
Até que avistaram um verme. E pelo que foi dito anteriormente, era um dos grandes.
O grupo informou aos trabalhadores que estavam colhendo especiaria sob o animal que estava vindo, e observaram a ação do equipamento que ajudaria a levantar as máquinas para que toda a produção fosse perdida.
Parecia que tudo iria ocorrer bem, até que eles notaram que uma das garras não estava funcionando como deveria e não tinha pego a colhedora. Sophie ouviu a situação ficar cada vez mais grave, afinal o verme não parava e outra máquina não estava no caminho para ser uma substituta.
Liet praguejou baixo diante do cenário, principalmente pelo tempo estar sendo cada vez mais curto e sem soluções.
— Quantos homens? — Leto questionou.
— Vinte e um tripulantes — respondeu a doutora.
— Cada nave comporta seis — disse o duque.
— Mas falta lugar para três — Paul rapidamente fez a conta e anunciou para o pai, que disse que daria um jeito antes de iniciar uma manobra de pouso.
— Aqui é o duque Leto Atreides. Vamos descer para extrair a tripulação da Delta Ajax Nove — disse no rádio, em seguida dando as coordenadas das quais pousaria.
— Cada escudo vale 100kg — Paul foi o primeiro a retirar o cinto assim que Leto pousou na areia, ajustando o traje para que pudesse usá-lo adequadamente fora da nave. Conhecendo o filho e olhando para a nora, Leto deu ordens para que os dois ficassem na parte de trás apenas colocando a tripulação para dentro.
Mas claramente ambos não ouviram o duque.
— Paul, espere.
No primeiro contato com a areia, Sophie se sentiu viva.
Os passos eram calmos, sentindo o vento levantar a areia de forma que seus olhos quase ficavam fechados, mas ela podia sentir as partículas da especiaria entrando no seu corpo pela respiração. Ela não sabia explicar, mas sabia que era o poder do deserto que o império tanto desejava lhe escolhendo naturalmente.
A jovem notou que a tripulação estava demorando, e imaginava que algo estava sendo dito na comunicação do qual não estava participando. Ela olhou para Paul, que lhe encarava de forma diferente como se também estivesse sentindo a especiaria tomar conta da respiração, adentrar nos pulmões e dar uma força da qual ela não sabia distinguir o motivo de estar sentindo naquele exato momento.
Ou sabia, mas não esperava que fosse lhe atingir com tamanha força.
Uma montanha de areia explodiu atraindo a atenção dos dois, que notaram os trabalhadores deixando as máquinas para trás e correndo em direção às naves que estavam ali para ajudá-los.
— EI! — gritou Paul, atraindo a atenção deles — SETE ALI, E SETE NAQUELE!
— VAMOS PESSOAL, VAMOS! — Sophie gritou, notando que o barulho do verme se aproximando estava cada vez mais próximo — VÃO! VÃO! VÃO!
Foi então que a nuvem de poeira a cobriu.
A primeira reação dela foi colocar uma proteção, mas parecia que não era necessária. O vento forte fez com que ela fechasse os olhos, ouvindo apenas os sussurros do deserto chamando por um nome.
Sihaya.
Sophie olhava em volta procurando quem estava dizendo aquilo, mas só ouvia sussurros ao vento até que ouviu novamente uma voz, desta vez familiar. Se aproximando, a jovem notou que era uma mulher que estava da mesma forma que viu da última vez e isso fez com que seu coração errasse uma batida.
— Mamãe?
Era e não era a mulher diante dela, porque os olhos azuis do uso da especiaria estavam presentes. O sorriso doce assim como as feições serenas proporcionaram uma boa sensação na garota, como ver uma lembrança.
— Gaia, acorde.
Sophie não conseguia dizer uma palavra, apenas observar a mulher caminhando pelas areias de Arrakis na sua direção. As memórias e sentimentos dentro da garota eram fortes, tão confusos e nebulosos como a tempestade da qual estava no meio.
Foi então que ela acordou. Não havia ninguém ali, exceto Paul sentado na areia provavelmente tendo algum devaneio como ela. Sophie podia sentir que o verme estava mais próximo do que antes, e que eles precisavam sair dali imediatamente.
— ATREIDES, LEVANTE-SE E CORRA! — ela usou a Voz, fazendo com que ele se virasse e obedecesse.
Gurney encontrou os dois no meio do caminho, até que o monte de areia explodiu fazendo-os cair. Era o verme.
Leto chegou a tempo de que um acidente maior ocorresse com a rampa da nave aberta, Gurney entrou primeiro e Paul deixou que Sophie fosse antes dele, entrando todos no momento exato de observarem a areia ceder com a boca do verme engolindo tudo ao seu redor.
Sophie apenas olhou para o rapaz que segurava, e ambos sabiam o quão encrencados estavam assim que retornassem.
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— Ei! — a voz de Leto estrondou no local assim que a nave pousou em segurança nas instalações pararam os dois jovens no meio do caminho, sabendo que iriam ouvir pelos seus atos — Não podem se arriscar.
— Sim, senhor — respondeu Sophie.
— Vocês têm responsabilidades com a casa Atreides, com tudo. Os dois!
O homem tentava ser firme, tinha que brigar com a nora e o filho para compreender melhor a gravidade da situação. Ele tentava não imaginá-los sendo pegos por qualquer trama política, e muito menos pelo verme de areia nos minutos que presenciou há alguns instantes.
Leto sentiu medo.
— Não irá acontecer mais — respondeu Paul, abaixando a cabeça.
— Vão.
Paul apenas pegou a mão da amada e saiu dali. Quando estavam longe o suficiente, ela o puxou para dentro de uma sala vazia e o encarou, sabendo que agora ele não poderia mentir porque o deserto também o afetou.
— O que você ouviu? — a surpresa na face do rapaz confirmou o que ela já sabia — O deserto falou com você, o que você ouviu? — o silêncio dele diante começou a deixá-la desconfortável e um pouco irritada — Me fala e não mente, porque eu vi como você estava. Só acordou porque usei a Voz, e o deserto falou com você.
— Como tem tanta certeza que o deserto falou comigo?
— Porque eu te vi em franze antes de despertar, e ele também falou comigo. Eu vi a minha mãe, Paul! — a agonia na voz dela era presente, seus olhos denunciando que desejava chorar ou ao menos aliviar aquele nó em sua garganta — Minha mãe, que está morta há anos, estava falando comigo no deserto como se estivesse viva todo aquele tempo como uma fremen... e me chamou de Gaia.
— Eu ouvi me chamar de Kwisatz Haderach — respondeu o Atreides — É um termo para O Escolhido que as Bene Gesserit deram, eu ouvi da última vez que a Reverenda Madre conversou com a minha mãe.
Paul olhou a reação de Sophie, notando que ela tinha dado um longo suspiro com a informação que acabara de ouvir, continuando: — E eu tive uma visão sua, em algumas rochas com roupas de fremen, olhos das especiarias e...
— E?
— Você me beijava, enquanto segurava uma faca ensanguentada, uma faca que será importante em algum momento só não sei quando, como ou onde. Alguns pontos foram confusos, mas minha mãe também estava na visão com um bebê no colo, um bebê que usou a especiaria. Isso era cristalino.
A mente de Sophie estava em turbulência, ligando os pontos e todos os sonhos que teve até o momento, assim como a sua relação com Paul ter sido estabelecida quando ambos eram crianças. Todos os estudos, os ensinamentos e treinos.
Tudo parte do plano.
E ela conhecia quem sabia desse plano.
— Vá ao médico, veja se está tudo bem — ela sugeriu ao amado, acariciando a bochecha dele com a mão direita.
— Mas e você? O que você viu além de sua mãe? O que é Gaia?
— Assim como as Bene Gesserit buscaram criar por séculos o Kwisatz Haderach, elas também desejavam recriar Gaia — explicou — Não sei muito a fundo, mas é algo relacionado a vidas. Minha mãe me chamava assim algumas vezes, acredito que eu possa ser ou...
Sophie não disse nada, mas o olhar que deu a Paul fez com que ele começasse a arregalar os olhos levemente.
— Você está... grávida?
— O que? Não! — ela negou no mesmo instante — Eu sei que não estou, acredite. Mas receio que se eu não for a escolhida, um dia, se tivermos uma filha, ela seria. Entende?
— Entendo — o Atreides concordou e olhou a amada por um tempo, imaginando-a com uma barriga saliente carregando um filho do amor deles. Era uma boa visão que chegou até mesmo a aquecer o coração do rapaz — Você não vai ao médico?
— Eu irei depois, apenas preciso pensar primeiro — Sophie abraçou Paul, sentindo que todo o seu preparo de anos começava a ter algum sentido.
— Não existe a menor possibilidade de você estar grávida, existe?
— Não, lhe asseguro que não — ela deu um leve sorriso — Mas se houver, será o primeiro a saber.
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Era fim de tarde quando Sophie buscou por Jéssica para conversarem. A Bene Gesserit estava em uma sala destinada a suas atividades privadas quando a mais nova entrou, e quando se sentou em frente a mulher, suspirou fundo.
— Sei que Paul já conversou com você — iniciou e vendo a mulher concordar, continuou: — E eu sei que era para ter tido apenas filhas, conforme as ordens da irmandade, mas você desobedeceu, dando ao duque um filho como ele desejava. Fez por conta de um acordo com a minha mãe.
Embora o assunto não fosse muito comentado na família Asterion, Sophie já tinha ouvido sorrateiramente que sua mãe não atendeu as expectativas da família dando a luz a uma filha mulher, uma vez que a família Asterion criava somente filhos homens quando se casavam com alguém da irmandade.
— Trocamos nossos papéis. Fui ordenada a ter uma filha, e ela a ter um segundo filho. A Reverenda Madre não gostou da nossa desobediência, já que dessa união poderia sair futuramente o...
— Kwisatz Haderach e Gaia antes dos planos delas, eu sei — respondeu Sophie. Jéssica observou a jovem, entendendo onde ela estava chegando — Você sabe que eu sou quem eu sou, não sabe? Por isso teve aquele teste com a Reverenda Madre. Porque não era para saber se estou pronta para ter herdeiros, e sim, se estou pronta para os poderes e conhecimentos que seriam necessários para eu ser Sihaya ou Gaia.
Jéssica deu um sorriso contido, não alterando a postura enquanto fechava o livro que estava aberto em seu colo.
— Sua mãe sempre foi a melhor e mais nobre de todas. Ela era o que se esperava de uma Bene Gesserit, aprendi muito com ela. Mas ela também era extremamente poderosa.
— Você também é — rebateu a jovem.
— Não tanto quanto sua mãe. Não tanto quanto você — Jéssica olhou a jovem — Você foi preparada a anos, basta somente aceitar o seu destino. Os fremens já te reconhecem como a divindade, e você está aceitando sua natureza.
— Me pergunto o quanto aquela velha não deve ter amaldiçoado vocês — comentou Sophie — Porque o Kwisatz Haderach e Gaia eram para serem irmãos, não um casal das famílias mais poderosas e influentes do Império. Um casal que poderá gerar um herdeiro tão poderoso para combater qualquer um que ficasse em seu caminho. Vocês tinham conhecimento do que aconteceria comigo e Paul, juntos.
Jéssica apenas sorriu levemente, dizendo: — Sua inteligência sempre foi avançada desde menina, sempre defendendo aqueles que ama. Então, posso lhe perguntar até onde está disposta a proteger Paul.
Sophie não exitou e olhando fundo nos olhos de Jéssica, que podia sentir que aquela não era a mesma menina que desembarcou em Caladan alguns meses atrás, afirmando:
— Até a morte.
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ANTARES
PLANETA NATAL DA FAMÍLIA ASTERION
A explosão e o grito fez com que os últimos soldados caíssem diante do exército que os atacou de surpresa na calada da noite. Os cantos do castelo ardiam em fogo, fazendo com que paredes fossem ao chão em estrondos grandes, além de também levar à morte de milhares de funcionários.
Heitor, o duque de Antares, observava sua casa e todo o legado da sua família ser engolido pelas chamas enquanto estava amordaçado. Mesmo com o último aviso de Sophie, além dos preparativos que tinha feito antecipadamente, tinha sido traído por um guarda que conhecia todas as formas de agir.
Em frente ao homem, um guerreiro Sardaukar estava lhe encarando enquanto um Harkonnen mirava a espada em seu peito, brincando onde deveria acertar no rapaz.
— Logo sua irmã também cairá com a outra família dela — ele enfiou a espada no estômago de Heitor, que ofegou de dor baixo — E você não poderá fazer nada para impedir.
Ao retirar a arma com violência, Heitor caiu no chão em um baque enquanto seu sangue tomava conta do piso.
O homem, o último da casa Asterion enquanto ofegava tendo dificuldades para respirar só pensava em uma coisa: Sophie.
Observando o trabalho feito, o guerreiro informou através do rádio para os demais.
— Informem que a casa Asterion caiu. E a casa Atreides será a próxima dessa noite.
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Nota da autora: Hey pessoal, como estão?
Mais um capítulo cheio de revelações e com um final que olha... mudará toda a trama a partir de agora. Sophie compreendendo cada vez mais sobre seu futuro, de Paul e de todo o Império que foi tramado antes mesmo dela nascer.
A casa Asterion caiu e a casa Atreídes é a próxima, já estamos nos aproximando do meio da primeira parte do filme então daqui em diante será só tiro, porrada, especiaria e deserto para todo lado.
Quero ler as teorias de vocês, comentários e palpites!
Estou preparando a playlist da fanfic para postar no Spotify e mais alguns edits no tiktok, então não deixem de me seguir lá no __nandas porque pode rolar até uns spoilers....
Até o próximo!
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