Capítulo 05
Meu amado irmão,
Houve um ataque em nossa casa, felizmente a tentativa não atingiu o alvo porém aumentamos nossas defesas. Gostaria de dizer que estou bem, porém aflita com sua segurança... tenho tido sonhos e neles, eu via você meu irmão. Peço que tome cuidado de agora em diante, e me retorne.
Com carinho,
A pequena estrela guia.
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Era a primeira vez que Paul participava de uma forma mais ativa na política. A reunião do conselho sobre o futuro de Arrakis e análises dos equipamentos que os Harkonnen deixaram para trás havia começado, e sentada ao seu lado, Sophie tentava compreender a gravidade da situação.
E foi quando eles saíram para ver os silos de especiarias, ela compreendeu: foram sabotados.
E isso poderia ser a ruína da Casa Atreides.
— Alguém deve ter fiscalizado tudo, não poderia ocorrer essa transação sem um acompanhamento do Imperador — Sophie palpitou e Paul, compreendendo sua linha de raciocínio disse:
— Não tem algum juiz de transação para supervisionar?
— Quem ele o nomeou? — a garota perguntou.
— Doutora Liet Kynes. Ecologista imperial — Thufir Hawat respondeu — Ela está aqui há 20 anos e ouvi falar que é excêntrica.
— Quero ver os campos de colheita — Leto afirmou.
— Não recomendo, senhor — disse Thufir Hawat.
— Faça a juíza da transação nos acompanhar — respondeu o duque — Esse encontro já deveria ter ocorrido, assim teremos proteção imperial.
Sophie compreendeu o que Leto queria dizer, e o achou inteligente. Afinal, um ataque Harkonnen não aconteceria onde era a fonte de renda do planeta e de todo o Império, de modo que o Imperador seria obrigado a proteger qualquer ameaça contra os Atreides.
Uma refém, na mais simples das palavras.
O barulho das aeronaves fez com que Sophie olhasse para o céu, e a cara de Thufir Hawat demonstrou que era um velho amigo retornando.
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— Duncan!
— Ah, meu garoto!
Sophie observou um pouco mais atrás o reencontro de Paul com Duncan. Sabia que os dois eram amigos, e que o Atreides confiava no mais velho, pareciam dois irmãos que até mesmo se provocavam.
Duncan sorriu quando viu Paul deixá-lo de lado e ficar com Sophie, que também o abraçou feliz por ele ter retornado bem após a sua missão.
— Como você está? Ele deu muito trabalho? Me fala que já dou uns cascudos nele neste momento, Sophie — disse Duncan após soltar a menina, que apenas negou com a cabeça.
— Não será necessário, eu mesmo o coloco na linha — brincou sorridente e vendo o marido revirar os olhos — Mudei de ideia, pode dar os cascudos nele.
— Tenho certeza de que é melhor do que eu chutando a bunda dele.
— Eu ainda estou aqui, ok? — Paul falou e os três riram, antes de se dirigirem para dentro.
Assim que Duncan cumprimentou os amigos mais próximos, ele foi até a sala de reunião com Paul e Sophie atrás de si. Leto o recebeu também como um velho amigo, e logo, começaram os relatos sobre sua missão envolvendo os fremens.
— Por quatro semanas, vivi com os fremen. Escondido no deserto, numa comunidade sietch — explicou — Stilgar, líder desse sietch, veio comigo para conhecê-lo.
— Esse sietch, como está escondido? — perguntou Leto.
— É subterrâneo. Arrakis é cheia de cavernas.
— Esse lugar é grande? — Paul perguntou curioso.
Duncan olhou para ele, e respondeu que havia por volta de 10 mil pessoas. Sophie arregalou levemente os olhos com a notícia, já que poderiam haver milhões de fremens, algo que não se tinha um número exato registrado, apenas uma estimativa dos Harkonnens de 50 mil.
— Eles me observaram por dias, embora não pudesse vê-los. Até que me enviaram um guerreiro para me matar. E eu tenho que dizer... nunca cheguei tão perto da morte — Duncan revelou — Eles lutam como demônios.
— O poder do deserto — disse Sophie e Leto concordou com ela.
— Duncan, muito bem — o duque elogiou o guerreiro, que agradeceu.
A porta se abriu e um guarda anunciou que Stilgar, o homem que era o líder do sietch estava ali mas que não desejava entregar a arma que possuía.
— Tudo bem, deve ser uma dagacris e eles consideram como uma arma sagrada — explicou Sophie, lembrando-se da forma como Shadout reagiu com a arma na mão.
— Sophie disse a verdade — Duncan concordou com a fala da jovem Atreides, imaginando que ela deveria ter estudado.
— Pode deixá-lo entrar — liberou Leto.
Um homem encapuzado e usando trajestilador entrou na sala. Ele caminhava com coragem, e também como se não desejasse estar ali. Assim que ele retirou o capuz, ignorando os sinais de alerta para não se aproximar dos guardas, Sophie observou que ele tinha os olhos azuis, mas sua postura rígida indicava que ele era um líder que havia passado por várias situações.
— Stilgar, bem-vindo — Leto foi diplomata iniciando o diálogo — Respeito a dignidade de qualquer homem que respeite a minha.
Stilgar se afastou um pouco, olhando todos ali. E cuspiu na mesa.
Os guardas ao redor de Leto e da família, incluindo Gurney Halleck que participava da reunião, reagiram no mesmo momento com a atitude do homem. Duncan, notando que poderia gerar complicações, interviu dizendo:
— Obrigado, Stilgar, pela dádiva da sua umidade corporal. Aceitamos no espírito em que foi dada.
Paul olhou confuso para Sophie, que devolveu um olhar mais confuso ainda. Duncan repetiu o gesto de Stilgar, e Leto sem alternativas, também.
— Que bom que veio — o duque voltou a falar — Acho que seu povo e o meu têm muito a oferecer um ao outro.
— Não, vocês são estrangeiros — disse Stilgar -- Vieram atrás da especiaria, vocês pegam e não dão nada em troca.
— Isso é verdade — murmurou Paul.
— Sabemos que vocês sofreram nas mãos dos Harkonnen. Diga o que deseja, e se estiver ao meu alcance, darei sem pedir nada.
— Peço que não procurem nossos sietches — disse o fremen — Não invadam nossas terras. O deserto era nosso muito antes de vocês chegarem. Então, colham a especiaria, mas depois disso voltem para este lado da Muralha-Escudo e deixem o deserto para os fremen.
— Vai tratar o duque por "milorde" ou "senhor" — Gurney disse a Stilgar em um tom nada amigável.
— Gurney, só... Só um momento — disse Leto antes que uma possível confusão começasse e acabasse com seus planos políticos — O Imperador me deu Arrakis como meu feudo para governar e proteger. Não posso prometer não ir ao deserto se o dever me obrigar. Mas seus sietches serão seus para sempre, não serão caçados enquanto eu governar aqui.
O homem pensou por alguns instantes antes de responder: — Isso é uma atitude nobre.
— Pode confiar em nós, Stilgar — Sophie se impôs pela primeira vez, atraindo a atenção do homem para si — Imagino os horrores que passaram nas mãos dos Harkonnens, mas não somos eles. Vamos cuidar de Arrakis, eu prometo.
Ela pode notar que suas palavras mexeram com o homem e resolveu se aproximar. Stilgar notou que ela tinha olhos calorosos, quase que maternais e podia sentir que tudo estava ocorrendo como foi escrito.
— Sihaya? — ele perguntou em fremen.
— Não, eu não sou Sihaya.
— Tão nobre e humilde de não reconhecer que é nossa salvadora. Acreditarei em suas palavras e nas suas ações, minha senhora.
A postura de Stilgar mudou quando estava saindo antes que Paul o chamasse novamente.
— Não vai ficar? Nós vamos honrá-lo.
— A honra pede para que eu esteja em outro lugar neste momento — Stilgar se virou para ir embora, mas voltou e olhou Paul dizendo: — Eu reconheço você.
O homem foi saindo rapidamente para contar ao seu povo o que havia acontecido e principalmente, quem tinha conhecido.
Quando Sophie olhou para trás, viu que todos presenciaram a cena.
— Não sabia que falava a língua dos fremens — disse Leto, surpreso com a ação da nora — Isso pode contribuir com muitas ações futuras, se estiver disposta a ajudar no conselho.
— Seria um prazer — respondeu a garota.
Leto pediu que somente Duncan ficasse na sala junto com Gurney e Thufir, dispensando o jovem casal.
Enquanto caminhavam pelo corredor, Sophie sentiu a mão de Paul na sua como um pedido para que parasse no meio do caminho.
— Quando ia me dizer que falava a língua deles de forma tão fluente?
— Não sei, não imaginava usar deste modo — ela respondeu com sinceridade. Até porque, saber palavras ou outras é uma coisa, mas conversar do modo que ela fez segundos atrás nunca tinha lhe passado pela cabeça com tamanha naturalidade.
— O que Stilgar te disse? E o que ele falou por último?
— Paul, você irá achar bobagem.
— Eu quero saber, bobagem ou não.
Sophie suspirou antes de começar a contar, mesmo sabendo o que o marido ia dizer sobre toda aquela situação.
— Ele perguntou se eu era Sihaya, e disse que te reconheceu. Provavelmente ele falou isso por conta da profecia que os fremen tem com Lisan al Gaib, e com a Sihaya — explicou — Somente isso.
— Não foi somente isso, ele te olhou como se estivesse diante de um ser celestial. Não que você não seja, mas... era quase como se você fosse uma deusa diante dele. E eu já vi nossa governanta te olhar do mesmo modo.
— Assim como te olham por você ter chances de ser o Lisan al Gaib — explicou a Atreides — Eles esperaram por séculos, Paul. Séculos! No ponto de vista deles, somos a salvação. Eu não sei se realmente somos mas... pode estarmos no caminho de nos tornarmos, mesmo a gente não desejando, pode ser o futuro que teremos que atender em algum momento.
Paul não disse nada, apenas concordou com a cabeça como se estivesse encerrando o assunto e deixou Sophie no meio do corredor, até que ele se virou dizendo:
— Estarei com Duncan, te vejo mais tarde.
Ela apenas suspirou, sabendo que ele não acreditava no que poderia se desenrolar debaixo dele e foi para o quarto.
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Era um local cheio, e Sophie podia notar que vários fremens escutavam Paul falar no centro de tudo. Ela estava ali, ao seu lado recebendo a atenção de todo o povo, enquanto Jéssica com roupas tão diferentes estava no canto também ouvindo o filho.
— Este é o símbolo ducal de meu pai — Paul mostrou o anel em sua mão que continha o símbolo da família Arrakis — Eu sou Paul Muad'dib Atreides. Duque de Arrakis!
A visão de Sophie começou a falhar, e ela piscou tentando aliviar a pontada que lhe atingia na têmpora, mas ela podia ouvir todos gritando em coro um só nome:
Lisan al Gaib.
Piscando novamente, ela se viu diante de um poderoso exército que demonstrava armas de fogo em grande poder de destruição. Bastou somente Paul olhar para ela de um outro ponto que ela entendeu o que significava.
Uma guerra se iniciaria. E ela não sabia quanto iria durar.
As palavras usando o poder da Voz saíram da sua boca com naturalidade, e a última palavra pode ser ouvida enquanto ela começava a despertar.
— DRACARYS!
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— Sophie, acorde.
Assim que abriu os olhos, a jovem notou que estava de volta a Arrakis e Paul lhe olhava preocupado. Ela não disse nada, apenas o abraçou tentando recuperar a respiração que estava desregulada sem que ao menos notasse.
— E-eu tive um sonho estranho... um pesadelo.
— Quer me contar o que houve?
Sophie negou, não queria falar sobre o que viu e o quanto viu. Não, por agora ela desejava apenas uma noite de sono tranquila ao lado do seu amado.
— Depois eu lhe conto, poderia somente me abraçar? — pediu.
Paul a protegeu em seus braços enquanto sentia ela tremer assustada e não dormiu até que Sophie dormisse primeiro.
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Notas da autora: Hey pessoal, como estão?
Chegou Stilgar (assim como estava escrito) e parece que nossa Sophie está sendo cada vez mais reconhecida como Sihaya, mesmo que isso leve ela a ter sonhos com frequência... inclusive, gostaram da referência com dracarys? Eu simplesmente amo essa palavra/comando que não resisti em colocar de alguma forma aqui.
Me digam o que acharam. Quero teorias, palpites e tudo, principalmente da carta no começo do capítulo, o que será que ela irá significar?
Ah! Quem quiser me seguir no tiktok é só buscar por __nandas, eu faço uns edits não apenas do Paul com a Sophie como também das minhas outras fanfics.
Até o próximo!
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