3 | capítulo três: em auradon

DEPOIS de tanto tempo sem ver sua irmã caçula e de se acostumar com sua ausência, é estranho para Raven saber que vai finalmente revê-la. Um estranho bom, mas ainda assim estranho. Não apenas pela saudade de Mal, como também por estar a um passo de pisar em Auradon, um lugar que ela jurou ódio eterno. Ao menos, sabe que sua estadia será temporária e que servirá para algo maior.

Quando o veículo onde estão estaciona em frente à grande escola, é impossível conter a surpresa dos quatro. A construção é quase o dobro de tamanho da simples e precária Dragon Hall, e mais colorida também. Raven não se lembra de ter visto tanta cor na vida.

— Puta merda. — Jacques exclama olhando pelo vidro do carro, tão surpreso quanto ela.

Agora sabem que não há como desistir mais, e ao se aproximarem um pouco mais da entrada do lugar, Raven vê a figura de seis pessoas, — provavelmente à espera deles —, e uma se destaca pelo cabelo... espera, loiro? Desde quando Mal tem cabelo loiro? Apesar de estranhar, Raven sente vontade de arrancar o motorista de seu lugar pela lentidão com que conduz o carro e dirigir ela mesma apenas para chegar mais rápido até lá, porém permanece onde está. Por mais que esteja louca para matar a saudade de sua irmã, sua mente já começa a arquitetar os feitiços que tentará realizar quando tiver um tempo livre. Agora que finalmente pode fazer uso de seus poderes, não irá desperdiçar nenhum.

Quando enfim alcançam a calçada e o carro estaciona, os quatro saem do veículo com uma lentidão pior que a normal, principalmente Seth. Auradon é totalmente diferente da ilha, isso não há como negar, porém não o agradou nem um pouco.

— Bem vindos. — A voz estridente da Fada Madrinha atrai a atenção deles, esbanjando simpatia, porém ali, de frente para aquelas cinco pessoas, Raven só consegue seguir até sua irmã e a apertar em um abraço, que é retribuído na mesma intensidade.

— Senti sua falta. — Mal diz, e apesar de ter sentido exatamente o mesmo, ela apenas sorri ao se afastar. Não é do tipo que demonstra afeto em público, e o simples abraço de agora estourou sua cota de afeição do dia.

— Eu também senti.

— Fiquei com medo de que não viesse.

— E não ia vir... — Começa, pendendo a cabeça levemente para o lado. — Mas mudei de ideia.

Mal imediatamente percebe a malícia na frase dita pela mas velha, porém decide ignorar, ao menos por enquanto. Ela sabe que Raven não é flor que se cheire, assim como ela também não era quando chegou ali, mas não quer ter preocupações no momento. Só o que quer é matar a saudade que sentiu.

— Essa cor não ficou boa em você. — Raven não consegue evitar o comentário, se referindo ao cabelo platinado de Mal. Não sabe onde começa ou termina seu rosto, já que a irmã é tão branca quanto. A caçula finge dar de ombros.

— Mudar de vez em quando faz bem. — A sobrancelha arqueada da mais velha demonstra que ela não acredita nisso, porém não tem tempo para dizer mais nada, pois Carlos as interrompe, cumprimentando a todos.

— E ai galera. — Ele sempre foi um garoto o qual Raven tem o mínimo de simpatia.

— Muito prazer Raven, eu sou Benjamin. — O garoto ao lado de Mal também diz, sorridente, olhando também para os outros três jovens atrás dela. — Prazer em conhecer todos vocês. Fico feliz que tenham aceitado fazer parte de Auradon. Nos agradamos em tê-los aqui.

Raven ergue uma das sobrancelhas. Então esse é o tão famoso Benjamin? O analisa dos pés à cabeça, dando de ombros em seguida. Magro, cabelo igual o de uma criança de seis anos e muito pálido. Não achou grande coisa.

— Vocês são muito bem vindos e espero que se adaptem bem, da mesma forma que os quatro fizeram. — A Fada Madrinha continua, e imediatamente, Geneviéve sente seu ouvido zumbir por conta da voz irritante da outra. Quem em sã consciência parece ser tão feliz assim? — Mal e Evie mostrarão a escola às meninas, e Jay e Carlos acompanharão os rapazes. Vão lhes mostrar onde ficam os dormitórios, biblioteca, salas de aula, etc...

Geny franze o cenho com o que escuta, a interrompendo.

— Existe alguma ordem de restrição de meninos pra um lado e meninas pra outro por aqui? — Todos, exceto a própria Fada Madrinha, riem com a pergunta, mesmo que ela tenha sido ingênua. Por prudência, a mais velha decide ignorar o comentário.

— Mais tarde distribuirei à vocês as normas da nossa escola e tudo o que está terminantemente proibido de ser realizado aqui. Sujeito a severas punições. — Continua, o que faz Seth erguer a mão como quem tem uma dúvida. 

— Jogos de baralho são permitidos? — Apesar de sorrir, a Fada Madrinha nega.

— Nenhum jogo de azar está.

— Que pena. — O rapaz se limita a dizer, mesmo sabendo que definitivamente não irá abrir mão de seu baralho, sendo proibido, ou não.

— Tudo bem, vamos lá gente. — Evie chama, indicando a entrada da escola. — Geny, você está linda. Faz tanto tempo que não te vejo.

A escuta comentar, e assim, todos se colocam a andar pelo enorme jardim do lugar. Raven nunca antes vira uma grama tão verde e bem aparada como essa. A diferença entre Auradon e a ilha é gritante, e isso a revolta de uma maneira incômoda.

— Por incrível que pareça...  — Ela escuta a voz de Jacques ao seu lado de repente, analisando Benjamin cuidadosamente com um misto de indiferença e curiosidade. — Não estou com vontade de torcer o pescoço dele como achei que estaria.

— Não valeria a pena. Eu esperava mais do novo rei de Auradon e, principalmente, do cara que conquistou minha irmã. — Raven responde com o mesmo olhar de indiferença sobre o garoto.

— Em compensação, seria um grande prazer conhecer a tão famosa Bela. — Dizendo isso, ele atrai a atenção de todos para si com a pergunta que faz. — Quando poderemos conhecer os pais?

A Fada Madrinha se vira para o encarar.

— Perdão?

— Os pais, digo, a Bela e a Fera e todo o resto. Seria um prazer conhecê-los. — Ele frisa a palavra "prazer", e apenas os da ilha entendem a duplicidade nela. Sabem que na verdade não seria um encontro nada prazeroso.

— Nossos príncipes e princesas não costumam aparecer por aqui diariamente, apenas em comemorações ou bailes. — A resposta da Fada Madrinha deixa Jacques levemente desapontado. Ele queria muito conhecer a mulher que fez seu pai levar a fama de ser o maior zé mané da França. — Mas não se preocupem, algum dia terão a oportunidade de conhecê-los.

Raven abre um sorriso irônico com isso, sussurrando para si mesma.

— Pode apostar nisso.

O tour pela escola leva alguns minutos, os quais foram torturantes para os quatro jovens, que já não aguentavam mais ouvir a voz da Fada Madrinha explicando sobre a história de Auradon e as matérias das aulas. Seth, o mais incomodado com tudo, sente vontade de dar meia volta e deixar o plano de vingança na mão dos outros três enquanto ele volta para a ilha. Sabe que não conseguirá suportar tudo isso por muito tempo.

Por fim, Benjamin e a fada se afastam do grupo para resolver outras questões que disseram ser importantes, deixando que Evie, Mal, Jay e Carlos os conduzam até os dormitórios.

— Olha só, eu não quero começar isso de pé esquerdo... — Mal começa a dizer de repente, se virando para encarar os outros quatro, principalmente sua irmã. — Mas sejamos sinceros uns com os outros. Não sei qual foi a intensão de vocês ao aceitar virem para Auradon, mas por favor, fiquem longe de encrencas.

— Sabemos que ver a realidade aqui pode gerar uma certa indignação por ser extremamente diferente da ilha. — Agora é Evie quem continua. — E acreditem ou não nós estamos trabalhando para mudar isso. Então pedimos que não tentem nenhum plano que possa prejudicar alguém, essas pessoas não merecem.

Seth ri ironicamente.

— Engraçado você falar isso. Se contaminaram tanto com as coisas aqui que se esqueceram das próprias raízes. A lavagem cerebral que fizeram em vocês foi tão forte assim? — Ele acusa indiferente.

— Não venha pra cima de nós com comentários sobre os quais você não sabe Seth. Você não estava aqui quando tudo aconteceu. — Mal o responde no mesmo tom, o que faz Raven revirar os olhos.

— Não interessa que lado está certo ou errado. O que importa é que Mal tem sua própria turma agora, e fique a vontade para defendê-los, mas eu também tenho a minha, e desde que um não fique no caminho do outro, as coisas vão correr bem. Ficou claro? — Não era a resposta que Mal queria ouvir, pois ela conhece bem sua irmã para saber que a mesma foi escorregadia para não ter que dizer o real motivo que a levou até ali, e isso não é um bom sinal.

— Ei, fiquem calmos gente. Não precisamos de nenhuma confusão. — A tentativa de Carlos de amenizar a situação não funciona muito bem.

— Não precisamos mesmo. — Jacques concorda, porém num tom que claramente os acusa.

Na percepção dele, as coisas podem ser um pouco mais tensas do que o esperado e a turma de Mal pode ser um empecilho no caminho deles, o que não é nada bom. Todos sabem o quanto eles mudaram quando vieram pra cá, e se Jacques os considerar uma ameaça, não hesitará antes de passar por cima de cada um.

━━ ☆ ━━

feliz ano novo
galerinha.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top