Capítulo 1 - Scott
– O que estou fazendo? – resmunguei enquanto me apoiava em uma árvore. Pude sentir o frio penetrando em minhas roupas, minhas mãos estavam geladas sob as luvas. A fumaça branca de vapor d'água misturada com o calor escasso do meu corpo saía constantemente da minha boca, pois eu estava ofegante. Onde eu estava? Já me perdi? A floresta parecia infinita, talvez a neve que cobria tudo desse uma falsa ilusão de uniformidade, ou talvez eu não quisesse encontrar o caminho de volta à civilização...
Eram pensamentos nada reconfortantes, especialmente quando se está sozinho em um ambiente hostil.
– Estou tentando me matar? – Tentei rir, mas meu riso saiu baixo e sem emoção. Continuei caminhando, meus pés afundando na espessa camada de neve. Ainda rindo, mas logo parei, percebendo o quão idiota estava parecendo ou o quão louco eu estava me tornando.
Estou realmente tentando me matar? Perguntei a mim mesmo novamente, desta vez em pensamento. Bem, para um jovem sem nenhum suprimento ou mesmo roupas adequadas para o inverno, aventurar-se em uma floresta nas noites mais frias do ano não era algo muito sensato. É óbvio que seria fácil concluir que esse jovem (ou seja, eu) estava tentando se matar. Já comecei a imaginar os policiais encontrando meu corpo na primavera e escrevendo no relatório: "morte por extrema burrice".
Sim, burrice, porque eu não estava realmente planejando me matar! Não tenho nem um pouco de pensamentos suicidas! Eu só queria escapar! E qual lugar melhor para escapar do que as florestas ao redor da modesta cidade no Alasca, no auge do inverno? É por isso que digo que "burrice" seria o termo apropriado no meu atestado de óbito.
Droga, esses tipos de pensamentos não são nada otimistas!
– Eu sou mesmo um fracassado e idiota! – Declarei para o nada em particular, afinal, estava completamente sozinho, mas sentia que precisava dizer algo, por mais óbvio que fosse. Estava cansado de andar sem rumo, então decidi me sentar perto de outra árvore. Lá, comecei a fazer algo que não costumo fazer muito: refletir sobre minhas ações.
A época não poderia ser mais deprimente. Era a semana natalina, todos estavam com suas famílias celebrando, trocando presentes. E quanto a mim? Meus pais faleceram no ano passado. Minha namorada, que eu considerava minha família, jogou uma bomba terrível no final do ano, revelando que estava me traindo com o meu melhor amigo! Eu deveria ter desconfiado, estávamos namorando há meses e não havia nenhum progresso romântico. Nem mesmo tínhamos nos beijado adequadamente. Quando digo adequadamente, me refiro a beijos como aqueles dos filmes (ou filmes eróticos), com língua, gemidos e prazer. Não. O máximo que fizemos foram selinhos rápidos e segurar as mãos um do outro. Eu já deveria saber que ela não gostava realmente de mim, apenas mantinha essa ilusão, talvez por medo da triste realidade. E quanto ao meu amigo? Ele parecia mais um parasita do que um amigo, sempre pedindo coisas emprestadas e não devolvendo, o que eu considero como roubo. A última coisa que ele roubou foi minha namorada. Bem, na verdade, ela nunca foi minha, pois ela não é um objeto ou algo do tipo... Mas acho que ficou claro a minha analogia.
Para completar a sequência de má sorte e catástrofes, fui demitido. A empresa em que eu trabalhava, um pequeno escritório representante de roupas de banho e afins, acabou falindo. Bem, eu deveria ter percebido que uma empresa desse tipo, no meio do Alasca, não teria vida longa! Eu deveria ter procurado outro emprego, um plano B, mas acabei me acomodando e agora estou enfrentando as consequências de frente!
Agora que estou desempregado, não tenho dinheiro para pagar o aluguel, e minha senhoria, que parece a personificação feminina de Satã andando sobre a Terra, não aceita atrasos. O resultado? Serei despejado!
Apesar de tudo o que está acontecendo, não quero pôr fim à minha vida. Sim, estou passando por um período difícil, mas não desejo a morte! Só queria fugir de tudo e encontrar um pouco de paz. Queria paz no sentido de ficar tranquilo em meu cantinho e chorar até meus olhos ficarem vermelhos e meu nariz se transformar em uma cachoeira de catarro. E não paz no sentido de "Aqui jaz Scott Williams, um idiota em vida e em morte, descanse em paz".
– E quando foi que tomei boas decisões ou escolhas? Certamente não agora que decidi vir para cá! – Digo sarcasticamente, levantando-me novamente. Decido dar meia-volta e tentar discernir meus passos na neve, talvez seguindo-os eu possa voltar à entrada da floresta. Nossa! Senti-me tão esperto agora! Sim! Eu tenho um plano!
– Droga... – Meus rastros se confundem com outros. Eu andei tanto assim? Agora percebo que meus pés seguiram em várias direções, perdendo-se em intricados caminhos na floresta. Dou uma olhada no meu celular (sem sinal para chamar a polícia ou os bombeiros!), e sua tela indica que em breve será noite. E se já está frio agora, ficará congelante mais tarde!
E o que é isso? Flocos de neve caindo do céu! Perfeito! Em breve, a neve cobrirá meu rastro e não haverá pegadas para serem rastreadas.
– Parabéns, Scott! – Tento manter a calma. Não é possível que tenha andado tanto assim, não é? Não pode ser! Devo ter vagado aqui por no máximo uma hora! Não sou um atleta e não posso ter tanta má sorte assim!
Continuo a andar mais rápido, pelo menos o medo faz com que o frio se dissipe, em parte...
***
Onde estou? Perdi a conta de quantas vezes fiz essa pergunta.
Não consigo dar mais um passo. Nem sinto as pontas dos meus pés! Será que eles congelaram? Tento não pensar nisso, mas as imagens de pés necrosados e sendo amputados vêm à minha mente. Não é o momento para isso! Preciso me concentrar em encontrar a saída, mas parece que estou me afastando cada vez mais do caminho certo na floresta. O que me preocupa é que começo a ver novas pegadas, pegadas de pés maiores que os meus. No início, pensei que fossem as minhas, afinal, que outro tolo se aventuraria na floresta àquelas horas e em pleno Natal? No entanto, agora percebo meu erro! Estive seguindo o rastro de outra pessoa! Todo esse tempo, estava seguindo outro louco que estava passeando pela floresta, em vez de seguir as minhas próprias pegadas!
Essa descoberta pelo menos acende uma centelha de esperança (e Deus sabe o quanto eu preciso de uma chama agora, ou melhor, uma verdadeira fogueira!). Essas pegadas significam que não estou sozinho, não é? Isso pode indicar minha salvação!
Ou talvez seja outro indivíduo desesperado com o verdadeiro objetivo de se suicidar...
– Não... Ele vai me ajudar! – Acho que minha mente não está funcionando muito bem, mas quando ela funcionou bem!? Começo a rir de novo. Sim, estou ficando louco!
Parei de seguir os rastros do meu "desconhecido possível salvador" quando notei algo estranho. Os rastros de pés humanos foram substituídos por... patas? Sim, eu podia ver as pegadas de um grande cachorro!
– Não existem cachorros nas florestas... – Sussurrei, meu coração disparou.
– N-não... Isso não é possível... Nunca ouvi relatos sobre lobos nesta região... – Ri nervosamente.
– Eu não sou um especialista em rastros... Sou um garoto da cidade! Estou confundindo as coisas! O frio está congelando os poucos neurônios que tenho! Deve ser isso!
Continuei a rir. Rindo no meio da floresta, cercado pela neve. Estou chegando ao meu limite. Agora, as únicas pegadas que encontro são dessas patas misteriosas. Minha esperança de encontrar outro ser humano está diminuindo a cada momento...
A neve cai com mais intensidade, parece que uma tempestade está chegando... É claro, as coisas, quando não podem melhorar, tendem a piorar! Minhas pernas não respondem mais, caio de cara em um monte fofo de neve.
Então é assim que vou morrer?
Alguém vai sentir minha falta?
Dizem que quando estamos próximos do fim, um filme passa por nossa mente mostrando todo o nosso passado. Mas não estou vendo nenhum filme. Talvez minha vida não tenha sido emocionante o suficiente para ser transformada em um filme. Eu mesmo não compraria um ingresso para assisti-la.
– Sou mesmo um idiota... – falei, virando-me para encarar o céu. Pelo menos queria morrer vendo algo bonito. No entanto, quando me virei, o que vi não era tão belo assim. Diante de mim estava um magnífico lobo branco. Ele farejava meu corpo e me encarava com olhos estranhamente azuis. Pareciam me analisar. Não consegui falar. Não sabia se estava sentindo medo ou admiração por aquela criatura. Era quase como se fosse mítica. Levantei minha mão, sempre tenho ideias tolas, mas estou morrendo, então não vejo mal algum em fazer uma última tolice antes do fim. Toquei o lobo, acariciei seu pelo... Esperei que ele mordesse ou me atacasse, mas ele nada fez. Continuou a me observar, parecia curioso com minhas ações.
– Bonito... –Sussurrei, sentindo meu corpo ficar pesado, envolto por um sono não natural... E então, a escuridão total e absoluta.
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