Capítulo Treze

Theodoro Vinro:

Saímos correndo pela floresta, o som do uivo nos perseguindo como um predador implacável. Cada passo parecia ecoar na minha mente, misturando-se com o pânico que crescia em meu peito. As árvores passavam como sombras escuras ao nosso redor, seus ramos estendendo-se como dedos afiados, arranhando meu rosto enquanto tentávamos desesperadamente escapar.

— Quem é Wolfdraks? — gritei, tentando manter minha voz firme enquanto o nome que havia surgido nas páginas do livro ainda ecoava em minha mente. Notei que Mandara estava segurando minha mão com tanta força que seus dedos tremiam.

Desviamos de uma árvore grossa, quase colidindo com o tronco. Ouvi Simon xingar atrás de mim, sua frustração evidente, mas não havia tempo para olhar para trás.

— Wolfdraks... — Mandara começou, sua voz carregada de uma gravidade que fez meu coração acelerar ainda mais. — Ele é o ex-líder dos Caçadores do Reino Katteasha. Um guerreiro temido, que desapareceu há séculos. Mas se ele está atrás de você agora... significa que ele quer algo muito específico: ele quer recuperar seu nome e o poder que perdeu.

As palavras de Mandara cortaram o ar como uma lâmina. O uivo atrás de nós parecia se intensificar, ecoando entre as árvores e reverberando em meus ossos. As árvores passavam rapidamente, tornando-se um borrão indistinto de marrom e verde, enquanto ramos finos e afiados batiam contra meu rosto, deixando cortes superficiais que queimavam ao contato.

Meu coração martelava no peito, não apenas pelo esforço da corrida, mas pelo medo crescente do que significava estar na mira de alguém como Wolfdraks. O ex-líder dos Caçadores, uma figura envolta em lendas sombrias e temores antigos. Se ele realmente estava atrás de mim, não era apenas a minha vida que estava em perigo, mas talvez algo muito maior. E o fato de que ele poderia estar tentando recuperar seu nome, um nome que provavelmente carregava consigo um poder indescritível, só tornava a situação ainda mais desesperadora.

— Precisamos chegar ao templo... rápido! — Mandara exclamou, seus olhos arregalados refletindo a urgência da situação.

Mas enquanto corríamos, o som do uivo continuava a se aproximar, como se Wolfdraks estivesse encurtando a distância entre nós com uma velocidade sobre-humana. A floresta, antes um lugar de mistério, agora parecia um labirinto de pesadelos, onde cada sombra escondia um novo perigo, e cada passo nos levava mais fundo em um jogo mortal do qual não podíamos escapar.

Apenas o templo poderia nos oferecer algum tipo de proteção... se conseguíssemos chegar lá a tempo.

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Continuamos correndo pela floresta, cada respiração se tornando mais difícil, como se o ar estivesse ficando mais pesado a cada passo. O uivo persistente parecia se aproximar, aumentando a sensação de urgência e terror que tomava conta de nós. As árvores, antes um abrigo, agora se tornavam obstáculos traiçoeiros, suas sombras se estendendo como braços para nos capturar.

Mandara apertava ainda mais minha mão, seus dedos tremendo não apenas pelo esforço da corrida, mas pelo medo palpável que compartilhávamos. Eu podia sentir a energia dele, uma mistura de determinação e pavor, enquanto ele nos guiava por entre as árvores. Simon corria logo atrás, sua respiração irregular e ofegante, mas ele não diminuía o ritmo, impulsionado pela mesma força que nos movia: a necessidade desesperada de sobreviver.

— Mandara, o que ele pode fazer de recuperar o nome dele? — perguntei entre ofegos, tentando entender a gravidade da situação.

— Se ele recuperar.. — Mandara respondeu, a voz dele um sussurro áspero no vento. — Ele está ligado ao seu espírito, à sua essência. Se ele conseguir recuperá-lo, ele não apenas retoma seu poder, mas também pode usá-lo para te controlar, te destruir... ou algo pior.

Essas palavras caíram sobre mim como um peso esmagador. A ideia de que meu próprio nome poderia ser usado contra mim, que poderia ser a chave para minha aniquilação, era aterrorizante. E ainda assim, não havia tempo para processar totalmente o horror disso — tínhamos que continuar correndo.

De repente, o terreno sob nossos pés começou a mudar. A terra se tornou mais rochosa, difícil de atravessar. A floresta densa começou a se abrir, revelando uma clareira. Ao longe, entre as sombras, eu podia ver o que parecia ser uma construção antiga, as paredes gastas pelo tempo, mas ainda de pé — o templo.

— Ali! — Simon gritou, apontando para a construção. Mas seu grito foi interrompido por um rugido que reverberou pela clareira, ecoando entre as árvores como um trovão.

O chão tremeu sob nossos pés, e eu me virei para ver, à beira da floresta, uma figura emergir das sombras. Era alto, imponente, envolto em uma aura de escuridão que parecia devorar a luz ao seu redor. Seus olhos brilhavam com um brilho vermelho intenso, fixos em nós com uma intenção implacável. Era Wolfdraks. Mesmo à distância, sua presença era sufocante, como se o ar ao nosso redor estivesse sendo drenado de toda a vida.

— Corram! — Mandara gritou, puxando-me com mais força. O templo estava perto, mas Wolfdraks estava ainda mais próximo, cada passo dele fazendo o chão tremer como se o próprio mundo estivesse respondendo à sua presença.

Corremos com tudo o que nos restava, nossos corpos movidos pelo puro instinto de sobrevivência. O templo estava tão perto agora que eu podia ver os detalhes de sua arquitetura, os símbolos antigos esculpidos nas pedras, como um último baluarte contra o mal que nos perseguia. Mas Wolfdraks estava fechando a distância rapidamente, sua velocidade era antinatural, como se ele estivesse deslizando pelas sombras, ignorando as leis do tempo e espaço.

Finalmente, chegamos à entrada do templo, ofegantes e desesperados. Mandara empurrou a pesada porta de madeira, que rangeu em protesto, mas abriu-se o suficiente para que pudéssemos passar. Simon e eu entramos apressadamente, e Mandara foi o último a entrar, empurrando a porta com toda a força, fechando-a com um estrondo.

No silêncio que se seguiu, só podíamos ouvir nossas respirações ofegantes e o batimento desenfreado de nossos corações. Lá fora, Wolfdraks parou abruptamente diante da porta fechada. Seus olhos brilhantes ainda eram visíveis através das fendas na madeira, observando-nos com uma intensidade que parecia queimar. Por um momento, ele ficou ali, imóvel, antes de soltar um rosnado baixo, um som que reverberou pelo templo.

— Isso não vai detê-lo por muito tempo — Mandara sussurrou, a voz carregada de preocupação. — Precisamos nos preparar para o que vem a seguir. Este templo pode nos proteger por um tempo, mas Wolfdraks não desistirá tão facilmente.

Eu sabia que ele tinha razão. Wolfdraks não era uma ameaça comum; ele era um caçador implacável, um ser que não descansaria até conseguir o que queria. E o que ele queria... era o meu nome, minha essência, meu ser.

Dentro do templo, a luz era fraca, filtrada por vitrais quebrados e rachados que lançavam padrões de cores pálidas nas paredes de pedra. O ar estava denso, carregado com a energia residual de rituais antigos, mas ao mesmo tempo, havia uma sensação de segurança, um resquício de poder que ainda habitava aquele lugar.

— Temos que encontrar o coração do templo — Mandara continuou, a determinação voltando à sua voz. — Se conseguirmos chegar ao altar central, poderemos invocar uma proteção mais forte, algo que possa nos dar uma chance contra Wolfdraks.

O uivo lá fora estava ficando mais forte, mais próximo. Sabíamos que o tempo estava se esgotando, e que a batalha pela sobrevivência estava apenas começando.

As portas do templo foram destruídas com uma força devastadora, lançando-me para trás com tamanha violência que o impacto me deixou sem ar. O som da madeira se estilhaçando e as pedras caindo ecoou pelo templo, enquanto eu era jogado contra o chão frio. Mandara gritava algo para Simon, mas o som parecia distante, abafado pelo zumbido em meus ouvidos. Tentei me levantar, minha visão ainda turva e meu corpo dolorido, quando uma sombra gigantesca dominou meu campo de visão.

Lentamente, virei minha cabeça e meus olhos se arregalaram ao ver uma criatura monstruosa emergir das sombras que envolviam as portas destroçadas. Era um cão de caça, mas não como qualquer outro que eu já tivesse visto. Seu corpo era negro como a escuridão, e seus olhos ardiam com chamas azuis intensas, como se o próprio inferno queimasse dentro deles. Suas mandíbulas, cobertas de presas afiadas, se abriram em um rosnado ensurdecedor enquanto se preparava para se lançar sobre mim.

No último segundo, Mandara se colocou entre mim e a criatura, suas duas lâminas brilhando com uma luz tênue que parecia ser a única coisa capaz de cortar a escuridão ao nosso redor. Ele bloqueou o ataque do cão com um golpe poderoso, fazendo faíscas voarem enquanto as lâminas se chocavam contra as presas da criatura. O impacto reverberou pelo templo, o chão tremeu sob nossos pés.

— Simon, leva o Theo para o coração do templo! — Mandara gritou, sua voz cheia de autoridade e desespero. Ele estava lutando com todas as suas forças, cada movimento carregando a urgência de um homem que sabia que a batalha era uma questão de vida ou morte.

Simon correu até mim, ajudando-me a me levantar. Eu mordi o lábio com força, sentindo o gosto metálico do sangue, enquanto assistia, impotente, Mandara enfrentar aquela criatura colossal. A visão dele lutando com tanta determinação, suas lâminas girando e cortando o ar com precisão mortal, era ao mesmo tempo inspiradora e aterrorizante. O cão de caça avançava com ferocidade, suas garras rasgando o chão de pedra enquanto tentava derrubar Mandara.

— Vamos, Theo, não temos tempo! — Simon insistiu, puxando-me para longe da batalha. Relutantemente, comecei a correr ao lado dele, cada passo me afastando do som da luta brutal que ecoava pelo templo. Sabia que precisava confiar em Mandara, mas a culpa por deixá-lo lutar sozinho me pesava no peito.

Enquanto corríamos pelos corredores antigos do templo, o som da batalha se tornava mais distante, mas a sensação de perigo iminente não diminuía. O ar ao nosso redor parecia vibrar com uma energia antiga e poderosa, e as paredes de pedra, cobertas por runas e símbolos esquecidos, pareciam nos observar enquanto avançávamos.

Finalmente, chegamos a uma enorme câmara no coração do templo. No centro, erguia-se um altar antigo, coberto de musgo e com uma aura pulsante de energia. O ar ali dentro era mais denso, como se carregasse o peso de séculos de magia acumulada. Simon me soltou, correndo até o altar e começando a preparar algo que eu não conseguia entender, seus movimentos rápidos e precisos.

— O que está fazendo? — perguntei, ainda ofegante e tentando processar tudo o que havia acontecido.

— Ativando a proteção, Dália me explicou antes de sairmos da casa dela— Simon respondeu, sem olhar para mim. — Mandara não vai conseguir segurar aquela criatura por muito tempo. Precisamos selar esse lugar e usar o poder do altar para nos proteger.

O som de um rosnado monstruoso, seguido por um grito abafado de Mandara, ecoou pela câmara, fazendo meu coração pular. Eu queria correr de volta, ajudar de alguma forma, mas sabia que Simon estava certo. A única chance de sobrevivermos seria ativar a proteção do templo.

Com o altar agora brilhando em um tom dourado, Simon começou a recitar palavras antigas, sua voz baixa e urgente. O templo parecia responder ao seu chamado, as runas nas paredes começando a brilhar suavemente, como se estivessem despertando de um longo sono. Eu me ajoelhei ao lado do altar, sentindo a energia se intensificar ao nosso redor, envolvendo-nos em uma aura de proteção.

Mas o som de passos pesados e o rosnado do cão de caça que se aproximava rapidamente trouxe de volta o terror. A criatura havia conseguido passar por Mandara. Eu sabia que, se não conseguíssemos ativar a proteção a tempo, não haveria escapatória.

Enquanto me ajoelhava ao lado do altar, algo começou a brilhar intensamente na minha frente. A princípio, achei que fosse parte da proteção que Simon estava tentando ativar, mas então, uma figura se materializou ao meu lado. Quando meus olhos se ajustaram à luz, reconheci o sorriso inconfundível de Fred Dawson. Meu coração deu um salto, e minha mente se encheu de confusão. Como ele poderia estar ali?

Fred parecia diferente, envolto em uma aura de poder que eu nunca tinha visto antes. Seu sorriso era cheio de uma confiança que irradiava uma força inabalável, algo que parecia pertencer a alguém que dominava completamente o ambiente ao seu redor.

— Como é bom sentir um pouco de força espiritual depois de tanto tempo — Fred disse, a voz dele ressoando com uma firmeza que enviou ondas de choque pela câmara. Ele estalou os dedos, e a ponta de seu dedo começou a brilhar intensamente, como uma pequena estrela em meio à escuridão.

Fred olhou diretamente para a criatura que havia acabado de invadir o templo, sua expressão se tornando sombria e determinada.

— Criatura que ousa invadir as terras da minha mestra Ophelia e macular este solo sagrado com sua destruição... Eu te expulso!

Antes que eu pudesse sequer processar suas palavras, Simon foi lançado para longe, como se uma força invisível o tivesse afastado. Ele colidiu com a parede, soltando um grito de dor enquanto o impacto reverberava pela câmara. No mesmo instante, a porta atrás de mim explodiu em uma chuva de escombros, e a criatura monstruosa entrou, seus olhos de fogo azul fixos em mim com uma ferocidade inumana.

Mas antes que pudesse se aproximar, Fred avançou. Ele se moveu com uma velocidade tão surpreendente que era quase impossível acompanhar. Suas mãos brilharam com uma luz cegante enquanto ele se lançava contra o monstro, como uma tempestade de energia concentrada. O cão de caça tentou reagir, mas Fred era mais rápido, mais forte. Cada golpe que ele desferia explodia em luz e poder, fazendo a criatura recuar, seus rosnados de fúria transformando-se em gritos de dor.

Eu assistia, atônito, enquanto Fred enfrentava o monstro com uma força e determinação que pareciam sobrenaturais. Era como se ele estivesse em sintonia com o próprio templo, canalizando o poder do lugar e usando-o para expulsar o invasor. Cada movimento dele era preciso, cada ataque mais devastador que o anterior.

A criatura finalmente soltou um rugido de dor e fúria, suas chamas azuis oscilando e enfraquecendo. Fred não deu tempo para que se recuperasse; ele lançou um último ataque, uma explosão de energia que atingiu o cão de caça diretamente no peito, lançando-o para trás como se fosse um mero brinquedo. O monstro colidiu com a parede oposta da câmara, e o impacto foi tão forte que toda a estrutura pareceu estremecer.

Com um grito final, a criatura começou a se dissipar, seu corpo desintegrando-se em sombras até não restar mais nada além de cinzas. O templo ficou em silêncio, a única luz restante emanando de Fred, que respirava fundo, mas ainda mantinha sua postura firme.

— Está feito — Fred disse, virando-se para mim com um olhar satisfeito, mas cansado. — Mas isso foi apenas o começo. Existem forças maiores em jogo, e precisamos nos preparar.

Enquanto eu ainda tentava compreender o que havia acabado de acontecer, Simon, cambaleante, se levantou e se aproximou de nós, com o rosto contorcido em dor, mas determinado.

— Fred... — comecei, minha voz cheia de perguntas que pareciam todas se atropelar em minha mente. — Como você...?

— Longa história, majestade  — Fred interrompeu, colocando uma mão no meu ombro. — Mas por enquanto, precisa descansar.

As palavras de Fred pairaram no ar, pesadas com o conhecimento de uma ameaça que eu mal podia começar a entender. E enquanto olhava para Simon e Fred, sentia que a verdadeira batalha estava apenas começando.

— Não, preciso descansar... temos que ir atrás do Mandara, precisamos ver se ele está bem — falei, forçando-me a levantar, apesar do cansaço que pesava sobre mim como uma âncora.

Mas antes que pudesse dar mais um passo, meu corpo começou a falhar. Senti um peso insuportável tomar conta de mim, como se a energia que restava estivesse sendo drenada a cada segundo. Minha visão começou a escurecer, as formas ao meu redor se tornando borrões indistintos. Um zumbido ensurdecedor preencheu meus ouvidos, e minhas pernas cederam, incapazes de sustentar meu próprio peso.

— Theo! — Simon gritou, sua voz cheia de pânico.

— Fique comigo, majestade! — Fred também chamou, seu tom firme, mas carregado de preocupação.

Tentei responder, mas as palavras não saíam. Tudo o que consegui foi estender uma mão trêmula na direção deles antes de sentir meu corpo colapsar no chão. O frio da pedra contra meu rosto foi a última coisa que percebi antes de tudo se apagar, mergulhando-me na escuridão total.

Enquanto a inconsciência me envolvia, as vozes de Simon e Fred pareciam distantes, como ecos em um túnel interminável. Queria lutar contra isso, queria ficar acordado e garantir que Mandara estava bem, mas meu corpo simplesmente não respondia. E então, tudo se desfez em silêncio, e eu fui consumido pela escuridão.
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Gostaram?

Até a próxima 😘

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