Capítulo Sete

Theodoro Vinro:

Chegamos à bifurcação do corredor. À esquerda, seguimos por outro corredor. À direita, para as escadas. Descemos as escadas e atravessamos mais um corredor, indo contra o fluxo de pessoas que se dirigiam na direção oposta. Olhavam confusos para nossa direção, e devo dizer que o pior foi quando ouviram um estrondo e o chão quebrando, fazendo com que gritassem assustados e fugissem. A cada virada, o tremor pelos corredores aumentava, como se um grito ficasse mais forte, uma corda invisível me puxando na direção certa. Eu nem precisava pensar na direção que precisava ir. Na verdade, era mais fácil parar de pensar e simplesmente deixar isso me guiar, enquanto Simon liderava o caminho e Manu e Raimoy estavam logo atrás de mim, murmurando perguntas sobre o que estava acontecendo.

A tensão no ar era palpável, a urgência de escapar da criatura sobrenatural que nos perseguia tornava cada passo mais desesperado. O tumulto ao nosso redor, misturado com os gritos dos outros estudantes, criava um caos assustador. E, no meio dessa corrida desenfreada, algo sinistro continuava nos alcançando, alimentando a angústia que se acumulava em meu coração.

Finalmente, chegamos à entrada do auditório. Simon empurra a porta com tudo, e passamos.

— Como fez isso sem encostar na porta? — Raimoy perguntou.

— É uma longa história. — Respondi brevemente, sem tempo para detalhes enquanto continuávamos nossa fuga frenética. O som de asas e garras ressoava, lembrando-nos de que a criatura ainda estava em nossa perseguição, implacável em sua busca. O teatro é enorme, com o pé-direito alto e pesadas cortinas vermelhas que escondem o palco.

— Simon, aonde estamos indo? — questionei, buscando uma direção segura.

— Do lado de fora tem um monte de coisas estranhas, assim como o diretor — Simon disse, acenando com a mão em claro desacaso. — Na minha época, tinha uma passagem secreta por aqui que passava por baixo do estacionamento da escola.

— Com quem está falando? — Manu perguntou atrás de mim.

Estremeço, lembrando que os outros dois não conseguem ver Simon. Não é como se eu me esquecesse do que Simon é; isso é bem difícil esquecer quando seu melhor amigo é invisível para o resto das pessoas. Mas é impressionante as coisas com as quais nos acostumamos. O fato de ele me assombrar durante os últimos dois anos inteiros nem é a parte mais estranha da minha vida. Acho que isso diz muito sobre mim.

— É o Simon, meu amigo... bem, amigo é uma palavra complicada para isso — expliquei, sentindo o peso da estranheza da situação.

Manu e Raimoy trocaram olhares confusos, sem entender completamente.

— Não temos tempo para explicar agora, precisamos continuar seguindo Simon e sair desta escola o mais rápido possível. — Falei, tentando focar na urgência do momento.

O corredor parecia interminável, mas finalmente chegamos a uma porta discreta no final dele. Simon a abriu, revelando uma escada que levava para baixo, provavelmente em direção à tal passagem secreta.

— Desçam, rápido! — ordenou Simon, e começamos a descer as escadas apressadamente, deixando para trás o tumulto e o perigo que assolavam o interior da escola.

De repente, dou-me conta do motivo que faz com que eu me sinta mal algumas vezes ao levar-me até ali e notei a energia espiritual inundando algumas paredes com tanta força que quase poderia tocar com as pontas dos dedos, e isso estava diminuindo o calafrio nas costas, ao seguir Simon pelo corredor do subterrâneo em silêncio com as luzes do celular iluminando o caminho.

Raimoy estremece ao meu lado, e eu reviro os olhos.

— Já parou para pensar — observa ele, tentando murmurar baixinho para Manu — que o Theo não se assusta com facilidade suficiente?

— Eu já notei isso, mas estou ignorando porque esse lugar está me dando pavor — disse Manu.

Eu me assusto, sim, tanto quanto qualquer um. Acredite se quiser, não quero passar o meu tempo ficando assustado com fantasmas ou espíritos. É só que, se eles estiverem lá, não posso simplesmente ignorar isso. É como saber que tem alguém de pé logo atrás de você e não poder virar. Dá para sentir a respiração no pescoço, e cada segundo sem ver parece pior na nossa imaginação porque, no fim das contas, o que não vemos é sempre mais assustador do que aquilo que vemos, e já estou muito acostumado.

Descemos mais alguns degraus da escada estreita, e o som dos nossos passos ecoava pelos corredores subterrâneos. O cenário ao nosso redor era assombroso, com a luz fraca das lâmpadas tremulantes lançando sombras distorcidas nas paredes.

— Theo, você tem certeza de que essa passagem nos levará para fora da escola? — Manu perguntou, sua voz carregada de ansiedade.

— Simon disse que sim. Ele costumava frequentar essa escola e conhece cada canto dela. — Respondi, tentando transmitir confiança, embora a incerteza ainda surgisse em minha mente.

A escuridão ali era densa, tão densa que demorou alguns segundos para ajustar a visão ao caminho à nossa frente. Um filete de luz passava por debaixo de uma porta à frente. Embora estivesse silencioso, havia uma sensação estranha de movimento por todos os lados, os espíritos pareciam querer vir para esse lugar, mas estavam sendo impedidos de continuar. Então, o barulho foi consumido por um estrondo intenso, e saímos correndo. Notei que o menino fantasma sumiu com uma expressão de choque, como se algo o tivesse pego.

Corremos desesperadamente pelo corredor escuro, o barulho do estrondo ainda ecoando em nossos ouvidos. A luz ao fundo parecia cada vez mais distante, mas persistíamos na esperança de alcançar a saída. A sensação de perigo iminente pairava sobre nós, como se o próprio ambiente quisesse nos deter.

Finalmente, chegamos à porta, a abrimos e nos encontramos do lado de fora, respirando fundo e aliviados por escapar da escuridão opressiva. O ar fresco da noite acertou nossos rostos enquanto nos afastávamos da escola.

— O que diabos foi aquilo? — Manu perguntou, ofegante.

— Não faço ideia. A escola é um lugar estranho, deve ter sido o mau funcionamento de alguma coisa — expliquei, ainda tentando processar o que acabara de acontecer.

Simon apareceu ao meu lado, visível apenas para mim, e seu olhar indicava que tínhamos que sair dali rapido.

— Espera, e o seu amigo Simon... — Raimoy disse, estranhando as palavras, e não o culpo por isso.

— O que está acontecendo e o que é esse Simon? — Manu perguntou.

— Vamos embora daqui. Prometo que vou explicar tudo isso depois. Não sabemos o que mais pode estar escondido nas sombras — sugeri, mesmo a contragosto. Ambos concordaram.

Então, algo irrompeu do chão à minha frente, e uma enorme criatura surgiu. Reconheci o diretor transformado em monstro e fiquei em transe. Manu me olhou confusa, e Raimoy fez o mesmo. Notei que eles só estavam vendo a destruição da rua, não o monstro que surgira.

O diretor monstruoso rugia, causando estragos à sua volta. A cidade estava mergulhada em caos, mas para Manu e Raimoy, a origem desse tumulto era invisível. Tentei gritar um aviso, mas minhas palavras não alcançavam seus ouvidos. A criatura avançava, e eu me sentia impotente, incapaz de proteger meus amigos da ameaça sobrenatural que agora se materializava diante de nós.

— Me entregue o livro, me diga meu nome — O monstro rugiu e atacou Simon com tudo, vindo em minha direção.

O pânico tomou conta de mim enquanto tentava desesperadamente escapar da investida da criatura monstruosa. A rua estava tomada pelo caos, mas para mim, o perigo imediato era essa ameaça sobrenatural que agora se dirigia diretamente a mim. A busca pelo livro e a revelação do nome eram as chaves para lidar com essa entidade, mas eu me via encurralado, com a certeza de que qualquer erro poderia ter consequências terríveis.

Então, algo atacou o monstro com força, arremessando-o para longe. Olhei chocado para o gato cinza que estava à minha frente; ele lambeu a pata com calma.

Olhei ao redor, e o monstro, aparentemente atordoado, tentava se levantar.

— Obrigado... gato? — murmurei, ainda tentando processar a surrealidade da cena diante de mim.

O gato cinza olhou para mim com olhos penetrantes. Ele se aproximou, esfregando-se contra as minhas pernas, como se dissesse que estava ali para ajudar.

Senti um peso nas costas e caí de joelhos, o gato miou. No entanto, o monstro agora se recuperava e avançava novamente. O gato, por sua vez, assumiu uma postura de desafio, eriçando os pelos e soltando um rosnado feroz.

Então, notei que minha bolsa ainda estava comigo e dentro vinha um certo brilho verde emergindo. Abri lentamente e ali estava o livro. Peguei o livro, que estava brilhando intensamente. Folheando suas páginas, vi um nome surgindo em tons verdes, começando a se apagar lentamente.

— Madara — falei, mas nada aconteceu, e o brilho começou a diminuir com força. Ouvia o som quando o gato foi arremessado para trás, mas ele pulou em pé novamente. Olhei para o livro e vi o monstro avançando na direção de Manu e Raimoy, que estavam confusos com tudo entre o caos da destruição ou do gato voando no ar ou no meu estado ajoelhado no chão. — Madara!! — gritei novamente, tentando desesperadamente invocar o poder do nome.

O monstro mostrou suas presas, levantou a cabeça e se preparou para atacar, quando uma aura ventosa consumiu o gato e se tornou brilhante, fazendo com que o monstro cambaleasse e recuasse para trás. Levantei os olhos e vi que o gato não estava mais ali. Em seu lugar, um rapaz apareceu, com uma tatuagem que lembrava uma coroa e um livro em seu antebraço. Ele usava uma camisa regata e uma calça jeans, com os cabelos negros presos em um rabo de cavalo.

Ele se virou, sorriu para mim, e seus olhos ainda eram os de um gato, verdes, com pupilas negras e felinas. Algo nele me era estranhamente familiar, trazendo um momento de nostalgia.

— Madara... — murmurei, enquanto ele se aproximava, mantendo o sorriso amigável. Seus olhos verdes continuavam expressivos. Ele estendeu a mão para mim enquanto assentia em direção ao monstro recuando.

— Parece que o nome certo foi invocado. Essa é a verdadeira forma do espírito que possui o diretor, uma manifestação de energia sombria — explicou Madara.

O diretor monstruoso, agora enfraquecido, rosnava e tentava se recompor. Manu e Raimoy, perplexos com a reviravolta, observavam a cena enquanto se afastavam cautelosamente.

— Mas o que aconteceu com o gato? — perguntei, ainda intrigado com a metamorfose.

Madara riu suavemente.

— Digamos que era meu estado sem poder me manifestar por completo nesse plano. Aquela é a minha forma como espírito. Obrigado por invocar meu nome e o devolver a mim, Theo. Agora, deixe-me lidar com esse ser que tentou te tocar.

Madara ainda estava com a mão estendida, e eu entreguei o livro a ele, mas o mesmo recusou e me ajudou a ficar em pé.

O espírito se recuperou do susto e investiu contra Madara. Sua cabeça e garras se moviam a uma velocidade fabulosa. Era de se esperar que o rasgassem ao meio, mas ele saltou para o lado, deu três piruetas no ar e aterrissou depois deles, empoleirado em cima de um carro.

Madara flexionou os pulsos, e duas lâminas enormes surgiram em suas mãos. A energia pulsava ao redor dele, os olhos felinos fixos na ameaça que se aproximava. O confronto atingia um novo patamar de intensidade, cada movimento carregado de tensão e determinação.

O monstro avançou com fúria renovada, as lâminas de Madara cortando o ar em respostas rápidas e precisas. A batalha se desenrolava como uma dança caótica de golpes e esquivas, e eu assistia, maravilhado, enquanto Madara atacava com uma graça mortal.

— Ah, diversão! — Madara disse com uma risada.

O monstro atacou, mas Madara desviava, movendo-se e esquivando-se com uma agilidade incrível. Ele deixava o monstro investir no vazio, enquanto as próprias garras da criatura se voltavam contra ela, entrelaçando-se em seu próprio corpo. Quanto mais o monstro se debatia, mais apertado o nó se tornava. Os movimentos iam para frente e para trás, o rugido de frustração ecoando no ar.

— Pobrezinho — murmurou Madara. — Deixem-me ajudar.

As lâminas cintilaram, e em segundos o monstro se dissolveu em uma enorme pilha de areia, deixando o diretor inconsciente ao lado, mas ainda respirando. Madara olhou para mim, e as lâminas brilharam por mais alguns segundos antes de desaparecerem.

Um silêncio tenso pairou sobre nós enquanto absorvíamos o que acabara de acontecer. A ameaça sombria fora neutralizada, mas o diretor permanecia ali, inconsciente e vulnerável. Madara se aproximou, examinando-o com um olhar de compaixão misturado com cautela.

— Vai sobreviver — Ele disse.

— O que você é? — perguntei, ainda processando a surrealidade de toda a situação.

Madara suspirou, seus olhos felinos encontrando os meus.

— Um espírito que vem te protegendo nos últimos dias — Madara disse e se aproximou de mim galanteadamente.

Madara estendeu a mão em minha direção, um gesto gentil que parecia contradizer sua forma anterior de batalha.

— Eu estava preso em uma espécie de estado latente até que você invocou meu nome. Foi graças a você que pude me manifestar completamente. E agora, estou aqui para ajudar e proteger você e seus amigos — explicou ele, com um sorriso reconfortante nos lábios.

Senti um misto de admiração e gratidão pelo espírito que tinha estado ao meu lado sem que eu soubesse. A energia ao redor de Madara era acolhedora e protetora, e eu me senti seguro em sua presença, apesar de toda a estranheza do momento.

— Obrigado, Madara. Por tudo — murmurei, aceitando sua mão com gratidão.

Ele apertou minha mão gentilmente e assentiu, como se soubesse o que eu estava sentindo.

— Sempre estarei aqui quando precisar. Somos uma equipe agora — declarou ele, com determinação em seus olhos felinos. — Mas agora sugiro que devemos ir para um lugar onde você esteja mais seguro. Há coisas que não posso explicar aqui, Theo. Conheço um lugar onde estaremos protegidos. Mas suspeito que os mortais vivos não poderão nos acompanhar — Madara disse, lançando um olhar para Manu e Raimoy. — Será mais seguro para todos. Você sabe disso perfeitamente.

Eu sabia disso, mas havia uma parte de mim que hesitava em seguir Madara, mesmo após ele me salvar. Olhar nos olhos dele provocava uma sensação estranha, uma mistura de confiança e inquietação.

— Eu vou — declarei, enquanto Simon se aproximava. Trocamos olhares e depois observei meus amigos se afastando na direção oposta, alheios ao mundo sobrenatural que acabavam de testemunhar. O dilema estava estampado em seus rostos, a confusão e a curiosidade se misturando.

— Theo, para onde você está indo? — Manu chamou, notando nossa hesitação.

Olhei para Simon, ponderando sobre o próximo passo a dar. O desconhecido se estendia diante de mim, mas uma coisa era certa: a vida como eu conhecia havia mudado irrevogavelmente.

— Vamos, Theo. Eles ficarão bem — Simon sussurrou, sua voz um murmúrio reconfortante.

Assenti para Simon, indicando que estava pronto para seguir Madara rumo ao desconhecido. Madara ergueu o diretor inconsciente com facilidade, preparando-se para conduzi-lo para longe e o colocou em uma posição melhor.

— Eu tenho que ir! — gritei, correndo para longe com Simon e Madara ao meu lado, ouvindo os gritos de Manu atrás de mim.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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