A noite já havia caído e Jake ainda ouvia, com atenção, Sunghoon ler outra magnífica história em um dos livros deixados por Niki. O garoto estava tão fascinado pela narrativa do livro que quase se esquecia das dores e desconforto causados pela pneumonia.

Quase...

O pobre rapaz tentava de todas as formas ignorar a sensação de enjoo que tomaram seu corpo após comer tanto e se arrependia amargamente por ter cedido aos olhinhos pidões do maior implorando para que comesse mais e mais.

Até que não conseguiu aguentar por muito mais tempo... Sua cabeça doía, a boca salivava em excesso e o mal-estar revirando seu estômago estava tão evidente que suava frio respirando para amenizar aquela tormenta... No entanto, era inevitável, ele iria vomitar.

— Sun... — Foi a única coisa que pode pronunciar antes de despejar todo o lanche sobre os lençóis, sujando a si mesmo e também o pijama emprestado que vestia. — Oh não... não queria... me perdoa.

Sunghoon larga o livro imediatamente e se apressa em socorrer o novo amigo que começa a soluçar por desespero murmurando palavras desconexas.

— Hey, Jake, calma... Não tem problema. — onforta apanhando alguns lencinhos na comoda. — Hey, anjo, olhe pra mim. — Pede erguendo o queixo de Jake, o garoto estava desolado. — Não tem problema. — Ele repete desta vez olhando no fundo dos seus olhos. — Vamos limpar isso e tudo vai ficar bem. Não tem com o que se preocupar.

Jake balança a cabeça assentindo e Sunghoon toma como sua deixa para começar seu trabalho. Ele retira os lençóis sujos da cama, os embolando de qualquer jeito num canto e anda na direção ao garoto ainda deitado, pronto para pegá-lo em seus braços e levá-lo ao banheiro, porém Jake recusa se afastando de Sunghoon.

— Você vai acabar todo sujo se tocar em mim... — O garoto explica sem jeito.

— Deixe disso, Jakey. — Repreendeu ignorando a fala do outro o suspendendo no colo. — Se eu me sujar, tem água e sabão no banheiro...

— Eu sinto tanto... Juro que eu tentei segurar... — Disse abaixando a cabeça mais uma vez, Sunghoon coloca o sentadinho no balção da pia e põe a banheira para encher com uma água morninha. — Espero que me perdoe por isso...

— Não vamos mais discutir... Foi um acidente, não há o que perdoar. — Sunghoon declarou começando a desabotoar os botões da roupa do garoto que se sentia tão mal por aquela situação humilhante que nem questionara sobre um estranho o ajudar a se despir. — Se tem alguém aqui que precisa pedir perdão, essa pessoa sou eu...sinto muito por ter te forçado a comer...

— Não foi culpa sua, Sr. Park. — Murmurou quando Sunghoon o amparou em seus braços mais uma vez para po-lo na banheira. — Eu acho que fui amaldiçoado por ser uma pessoa ruim.

— Você não é uma pessoa ruim, Jake. — Rebateu esfregando, com cuidado, uma esponja cheia de espuma nas costas do jovem — De onde tirou esse absurdo?

— Algum tempo atrás eu... eu... roubei uma confeitaria... — Ele responde envergonhado ao mesmo tempo de Sunghoon congela seus movimentos. — Não é o que você está pensando... Não peguei um centavo sequer deles... Eu só estava muito faminto... Eu sei... Isso não justifica o meu ato, mas aqueles docinhos pareciam estar me chamando... — Ele explica encarando o nada e não podendo ver o rosto de Sunghoon, Jake, não notou as lágrimas gordinhas e silenciosas que escorriam por suas bochechas. — Agora eu entendo, toda essa situação é apenas um castigo do universo... Eu roubei comida e eu não posso mais desfrutar dela sem passar mal... Só espero que um dia o dono da confeitaria me perdoe pelo que fiz...

Sunghoon, estando sem palavras diante daquela confissão tão inesperada, se levanta do banquinho em que estava sentado e deixa o cômodo de cabeça, deixando Jake um tanto decepcionado pela reação dele.

Porém, alguns segundos depois, Sunghoon reaparece trazendo algo em suas mãos e se ajoelhando ao lado da banheira.

— Nós perdoamos você desde o primeiro bilhete, pequeno. — Sunghoon expressa um sorriso estendendo a tão familiar e surrada caderneta de desenhos para Jake. — Por favor, não se torture mais com essa história, não vale a pena...