Venice Beach

— Suas sobrancelhas estão coçando tanto assim, Lia? — Justin cochichou com deboche, acotovelando-me.

Por reflexo eu me afastei mais um passo longe dele e olhei-o de esguelha entre meus dedos. Ele estava me olhando diretamente com uma expressão hilária da junção de "qual é o problema dessa mulher?!" e "que criatura bizarra e exagerada".

— Acho que é alergia ao clima — retruquei carrancuda pela provocação enquanto eu tentava inutilmente cobrir o rosto de forma sutil.

Ele riu, jogando a cabeça para trás em puro regozijo.

Tentei desfazer minha careta e puxar meu cabelo mais para a frente. É claro que ele não se preocuparia em andar no calçadão cercado de uma pequena multidão que tirava fotos, filmava, chamavam seu nome e vez ou outra faziam uma ou outra pergunta corajosa. Patrick estava ao seu lado com um braço estendido na frente como um divisor de águas, ordenando espaço com uma carranca mal encarada.

Eu estava numa situação difícil, não queria chegar muito perto para não dar asas a imaginação fértil da mídia ou atrair ódio para cima de mim — se é que já não havia atraído —, mas não podia ficar muito longe para não ser engolida pela massa que tentava a todo custo se aproximar dele. Num geral, todos deviam estar muito confusos com a minha presença ali e com nosso frequente contato — algumas vezes mais positivo do que em outros — nos últimos dias.

— Ei, por favor, se puderem dar licença — Justin às vezes intervia ao perceber que eu estava mais para trás, fora da sua bolha privada.

Assim, Patrick, o segurança branco alto, com a careca brilhante, olhos castanhos e queixo anguloso, dançava um pouco ao redor da gente, fazendo gestos para tentar proteger também os meus flancos, mas sem nunca deixar Justin totalmente desprotegido. Dali a pouco o homem entraria em colapso, não podia dar conta de fazer tudo sozinho. Eu definitivamente não queria estar ali.

Eu não quisera parar para comermos o bagel quando percebi que estarmos parados na barraca na calçada da praia estava atraindo pessoas, mas eles não se dissiparam depois que voltamos a andar, mastigando o alimento recém adquirido. Para mim foi simplesmente desconfortável estar diante de várias câmeras furtivas enquanto tentava comer a coisa. Eu não sei ser tão elegante assim para me alimentar, tive que redobrar minha atenção.

O clima estava ligeiramente melhor, Justin até puxara sua camisa até o cotovelo. O céu estava praticamente azul diluído em cinza, e embora eu não pudesse identificar claramente o sol, sua luz se infiltrava pela névoa que não deixava nenhuma nuvem se distinguir. A brisa que vinha do mar, contudo, estava gelada, quase atravessava o tecido de minhas roupas para arrepiar meus pelos. Mas o aroma de água salgada e areia fresca era pungente e delicioso, como sempre. As boas vindas cantadas pelas ondas também.

Se eu não estivesse tão apavorada teria realmente aproveitado o passeio. Venice é uma praia extensa, o calçadão grande o bastante para que cinco pessoas possam andar lado a lado, intrometendo-se por vezes entre a areia branca que antecede o mar em longa distância. As palmeiras altas plantadas nas beiradas, lojinhas enfileiras e artistas de rua vendendo bijuterias, pinturas e sua música. Justin dissera que podíamos caminhar até o píer de Santa Monica em 45 minutos. Eu não me importaria de fazer isso, em outras circunstâncias. Eu sabia que havia uma pista de skate em algum lugar por ali também, mas Justin não fizera menção de visita-la.

Ele se aproximou de mim outra vez e eu automaticamente me retraí. Se percebeu o movimento, fingiu ignorar.

— É só mudarmos o ritmo que eles vão ficando para trás — murmurou, tentando me tranquilizar — Quer andar de riquixá? — Apontou para os carrinhos enfileirados nos cantos. Parecia um mesclado débil de bicicleta com uma carroça de duas rodas grandes. Imaginei quanta força o condutor precisaria ter nas coxas para pedalar com o peso de duas pessoas na sua "garupa".

Ao mesmo tempo, previ como aquilo poderia ser interpretado como um passeio romântico e quase estremeci.

— Hm, não, obrigada.

Ele suspirou e parou de andar. Antes que eu pudesse perguntar começou a tirar o tênis.

— Nós vamos para a areia agora. Acho que é melhor tirar sua bota — lançou um olhar para o meu calçado.

Eu estaria mentindo se dissesse que não estava louca para me conectar daquela forma com a natureza. E se ele estava certo com a mudança do curso debandar um pouco das pessoas... Obedeci sem precisar pensar duas vezes, enrolei minhas meias e enfiei dentro de um par só.

— Por favor, Patrick — ele entregou seu tênis ao segurança. Eu já estava enganchando meus dedos no meu par quando Justin os tomou de mim e também deixou aos cuidados de Patrick.

— Ah... — comecei a protestar, eu certamente tinha capacidade de segurar meus próprios calçados, mas ele me interrompeu:

— Passe sua bolsa também, Lia.

Eu grudei na alça de encontro ao meu corpo.

— Não é necessário, obrigada. E posso segurar minha bota também — estendi a mão, mas Patrick se afastou com um sorrisinho.

— Não se preocupe, senhorita, pode até me ser bem útil para usar como arma — brincou com uma risadinha.

Senti o rubor subir pelo meu pescoço, a ideia de ter alguém fazendo para mim coisas tão simples para eu fazer me deixava completamente desconfortável. Justin estreitou os olhos com humor para o meu rosto, claramente identificando a vermelhidão tomando conta de mim. Ele apontou para a areia com a cabeça.

— Vamos.

Patrick gritou ordens para abrir uma nova fenda entre as pessoas a fim de que alcançássemos a areia. Eu tentei ignorar os celulares que nos ladeavam, mas meu humor melhorou consideravelmente quando senti a textura arenosa e ligeiramente gelada na planta dos pés, cedendo um pouco sob meu peso. Eu respirei fundo, feliz e Justin sorriu para mim, uma imitação personificada dos raios solares.

— Vamos correr para mais perto do mar? — elevou o queixo na direção mencionada.

Eu senti minhas sobrancelhas arquearem de ansiedade para a imensidão de azul, o peito até apertou e aquiesci, deixando para trás aquele desconforto constante. Justin piscou para mim e partiu na minha frente feito uma gazela saltitante, como se ele precisasse de mais para atrair olhares. Eu ri antes de partir atrás dele.

Esse homem tem pernas do tamanho de palmeiras então ele estava levando a melhor sobre mim. Agora, ao menos, as pessoas saiam da frente ao invés de se aglomerarem ao nosso redor, mais um motivo para o sentimento de liberdade perpassado com o vento correr pelo meu corpo. A atividade aquecia meus músculos outrora tão rígidos e eu tive o desejo repentino de que aquele segundo perdurasse por muito tempo, por óbvio que ainda não sentia efeitos do cansaço e pensei que pudesse correr naquela areia para sempre, extravasando todo meu estresse.

Dobrei a velocidade para alcançar Justin, meus cabelos esvoaçaram no ar, mas daquele jeito ele já estaria no mar e eu ainda não o teria alcançado. Tripliquei o ritmo, dando passadas mais largas e ri sozinha por imaginar que aquilo estava se tornando um pega-pega sem prévio aviso. Ele não olhava para trás, mas eu tinha a impressão de que devia estar rindo dos meus esforços.

Meus pés mal tocavam a areia agora e já estávamos quase onde as ondas lambiam a areia quando ele teve a ideia mais idiota e repentina: paralisou bem ali, enrijecendo o corpo. Eu pensei que ele faria uma curva para que não adentrássemos o mar, mas em nenhuma hipótese cogitara aquela estupidez. Como um trem desgovernado, eu não consegui parar a tempo, tive um milésimo de desespero antes de me chocar com violência nas suas costas.

— AH!

Foi como se todos os meus órgãos se chacoalhassem dentro do meu corpo por um momento e, de alguma maneira que eu não sei explicar, quando abri os olhos eu estava de costas para a areia dura, arfando sem fôlego e sentindo uma dor crescente no cotovelo direito, pernas e pés, tronco e cabeça. Justin pairava sobre mim com uma careta engraçada, seu peso estava parcialmente debruçado sobre mim, o que explicava a maior parte da falta de fôlego, ele estava esmagando meus pulmões. Minha respiração ralhava na garganta agora seca.

— Ai — gememos juntos com desorientação, mas eu podia identificar uma risadinha começando a surgir no canto dos seus lábios.

Ugh, seu desmiolado! O que estava pensando? — Rugi, colocando a mão na testa como se isso pudesse amenizar o latejar.

— Você é muito distraída, Lia — repreendeu. No fim da frase lhe escapuliu uma risadinha.

Eu ainda estava tentando organizar meus pensamentos e deve ter sido isso que fez com que ele finalmente gargalhasse. O fuzilei com os olhos.

— Você fez de propósito, não foi?! — grunhi, me remexendo para ganhar minha liberdade de volta.

Justin apoiou mais do seu peso nos braços que tocavam o chão, mas não fez menção de se levantar de...

Eu paralisei, em choque ao tomar real consciência — antes tarde do que nunca — de que ele estava em cima de mim. Pude diferenciar outros tipos de reações do meu corpo em consequência de sua brincadeira estúpida. Um calor não muito natural pareceu me tomar de baixo para cima e eu me esqueci momentaneamente como se respirava e mantinha meu coração batendo. O rosto dele a centímetros do meu estava completamente desinibido, e mais lindo do que eu já havia visto na minha vida. Seus fios louros alinhados no topete dançavam com certa rebeldia na brisa e a exposição à luminosidade da praia deixava seus olhos num tom esverdeado muito profundo. A pele branca e sensível de porcelana destacava ainda mais a pintinha preta que ele tem perto do lábio no lado esquerdo do rosto, e o contorno da boca atraente, carnuda o suficiente para despertar o desejo de mordiscá-la.

— Não quis te machucar, desculpe. Está tudo bem? — Ele me estudou por pouco tempo, mas não me deixou responder, satisfeito com o próprio inventário — Hmm, você está completamente vermelha e sem fôlego para uma corrida pequena dessas — repreendeu com os olhos brincalhões.

Respirei.

Mantenha a calma. Disse incessantemente para mim mesma. Ele não podia saber que não era apenas pela corrida.

— Nem todos somos super atletas — rebati e minha voz parecia mais entrecortada. Droga.

Ele repuxou o lábio num sorriso petulante e eu soube que não conseguiria me levantar mesmo se não tivesse sido vítima de um trombo daqueles, toda sua presença me abatia, literalmente.

— Está com muito calor? — Encarou-me fixo.

Prendi a respiração e sondei-o desconfiada, ele tinha aquela expressão devassa de quem trama maldades secretas sob uma frase aparentemente ingênua. Mas eu mal conseguia me concentrar para perceber muita coisa que não fosse sua proximidade absurda, quente e convidativa.

— Hã, não, não muito — eu estava surpresa que ainda tivesse a capacidade de falar.

— Mas deu para esquentar um pouco, acredito — inquiriu. Consegui sentir sua respiração rápida batendo no meu rosto e fiquei mais atordoada do que quando caí.

Apertei mais os olhos para sua imponência deslumbrante.

— Um pouco? — Acabei transformando a fala numa pergunta, eu tinha quase certeza que ele acabaria voltando minha resposta contra mim mesma.

O sorriso se alargou e eu estava prestes a pedir por misericórdia quando ele se afastou. O ar passava com mais facilidade por meu canal respiratório, mas fiquei surpreendentemente infeliz com a liberdade. Sentei-me completamente sem jeito, forjando uma careta que mais tinha a ver com o fato dele ter me deixado ali no chão sozinha.

— Se você quebrou meu celular... — fiz a ameaça nas entrelinhas puxando minha bolsa transversal, que havia caído ao lado da minha cabeça, para verificar o bem estar dos objetos dentro dela. Necessitava de uma distração para que ele não notasse minha insanidade.

— Te darei dois — prometeu —Deixe-me ver — estendeu a mão, já em pé.

Revirei os olhos, claro, dinheiro para Justin equivale a areia na praia. Pela minha vistoria, perplexa e satisfeita, o aparelho não demonstrara danos, mas o entreguei para que ele confirmasse. Não contente, Justin se inclinou para pegar a bolsa do chão também enquanto eu calculava se havia força suficiente em minhas pernas para me manter em pé.

— Ele vai sobreviver. Se apresentar problemas, você me avisa — colocou o celular dentro da bolsa e inclinou o corpo para trás a fim de passar a bolsa ao Patrick que já estava bem ali, nada impressionado com o comportamento do seu pupilo.

Justin me ofereceu sua mão, notando que eu precisava de ajuda para levantar e achando o fato muito engraçado, conforme indicava sua face zombeteira. Eu recusaria por puro orgulho, mas a alternativa seria ficar humilhada ali no chão, então aceitei a ajuda de mal grado.

— Eu estava pensando no que você disse... — começou.

Agarrei seus dedos e me ajoelhei, depois finquei um pé no chão e ensaiei para usá-lo de apoio antes de plantar o outro.

— O que eu disse? — Questionei muito concentrada. Não podia olhar para o rosto dele sob pena de prejudicar ainda mais meu equilíbrio.

— Sobre amar o mar e ter ficado triste por não entrar no de Santa Monica — murmurou despreocupado.

Não prestei muita atenção aonde ele queria chegar com aquilo até que estivesse devidamente em pé, aliviada por não ter vacilado para o chão nenhuma vez apesar das dores e desorientação. Mas então ele deu um passo para trás, os olhos brilhando como os de uma criança atentada e simplesmente tirou a camisa.

Notei várias coisas ao mesmo tempo. A primeira e mais óbvia de todas: Justin não pode ser humano, ele é uma obra grega perdida no mundo dos mortais, seu corpo só pode ser um templo, o peitoral, abdômen e braços tão definidos como nas fotos, e embora eu preferisse que não se enchesse de tatuagens, elas tornam a visão mais chamativa e extraordinária. Desejei ter permissão e tempo para decifrar cada uma delas com as pontas dos meus dedos, com destaque especial para a grande cruz no meio do peito e a coroa e o ano de nascimento da sua mãe, logo ali abaixo das clavículas. Justin Bieber é muito tocável para o seu próprio gosto, representa um atentado a saúde mental das pessoas. Mesmo assim, agradeci aos Céus a oportunidade de ver aquela glória de camarote. Perdi o ar mais uma vez.

Depois, impressionada por meu cérebro ainda funcionar, relacionei sua iniciativa inusitada de tirar a camisa com sua análise do meu amor pelo mar e concluí que ele só podia estar se preparando para dar um mergulho. Com um pouco mais de esforço, resgatei seus traços de pestinha e entendi que ele queria me levar junto.

E então pontuei que eu não havia levado roupa de banho, a temperatura ali fora estava gelada e no mar estaria pior. Ademais, eu não teria uma roupa de troca quando saísse da água. Congelaria.

Minha última inspiração foi correr. Tarde demais. Justin passou um braço por trás dos meus joelhos e o outro nas minhas costas, erguendo-me do chão. Eu arfei com o movimento e passei os braços ao redor de seu pescoço como garantia de que não cairia.

— Justin! — Protestei balançando as pernas. Talvez não fosse uma boa ideia me debater muito para não acabar no chão outra vez.

Ele estava rindo e caminhando muito decidido e tranquilo para o mar, ignorando meus esforços. Minha mente estava muito ocupada tendo que arquitetar um plano para que eu não acabasse na água fria, não espatifasse contra o solo minha bacia de novo e não entrasse em combustão por estar em contato direto com seu peito nu.

Apertei minhas mãos com mais força ao redor do seu pescoço ao sentir o ímpeto de deslizar meus dedos por seus ombros, clavícula, braços... Estremeci com minha imaginação aflorada e só por garantia enrijeci o corpo. Eu queria deitar a cabeça em seu ombro e inspirar o aroma do seu pescoço.

CONTROLE-SE, JÚLIA!!!

Minha melhor solução para o último problema foi fechar os olhos bem apertados. Eu não suportaria contemplá-lo daquele jeito e manter meu autocontrole intacto.

— Me coloque no chão! Essa água deve estar congelando! Eu não trouxe uma roupa de troca! Justin!

Eu podia sentir seu peito vibrar com a risadinha e ouvi-la muito próxima do meu ouvido. Quanto a isso não havia nada que eu pudesse fazer. Como se contém calafrios, pelo amor de Deus?!

— Lia, não fique nervosa, você vai me agradecer depois por isso.

Eu ouvia a água muito mais próxima agora, e se prestasse atenção, poderia notar o impacto quando as pequenas ondas atingiam suas canelas.

Num instinto de proteção idiota me encolhi mais contra ele e escondi a cabeça na curva entre seu ombro e o pescoço. Sim, como imaginei a mistura da colônia masculina se mesclava com o cheiro natural da sua pele de forma muito mais concentrada ali, e poderia mesmo ficar embriagada só com aquele aroma. A pele macia, levemente arrepiada, em contato com a minha quase pedia para ser beijada. Mordi meus lábios para dentro e repreendi-me pela atitude impensada de parar ali no caminho da tentação.

— Meu Deus, eu vou te matar por isso Justchin Drew Bieber!

Ele riu alto.

— Estou disposto a vê-la tentar, Giulia.

Grunhi e cravei as unhas em suas costas, para a sorte dele não estavam tão grandes quanto eu desejava. Ele se encolheu.

— Ai. Isso vai ser muito bom de se explicar para a mídia — disse ele se divertido.

A MÍDIA!

O calor aumentou em meu rosto. Com toda a agitação eu havia me esquecido da minha maior preocupação. Minha preciosa exposição estava muito bem feita. Refiz mentalmente meus últimos minutos e pude ver os olhos arregalados de Fani ao ver as notícias. Se fosse só a Fani estaria até que bom.

Choraminguei.

— Ah, foi muito bom viver enquanto durou — lamentei.

— Alguém já te disse o quanto você é exagerada? Com tanta preocupação assim não ficarei surpreso se já tiver alguns cabelos brancos agora — murmurou em tom de censura.

Ele estava começando a andar mais devagar agora, eu podia ouvir que o nível do mar estava mais alto. A água começou a respingar em mim, e estava, sim, congelante! A pele dele começou a ficar mais arrepiada e os músculos rijos.

Tremi.

— Eu não sabia que você era suicida e assassino. Quer nos matar de hipotermia!

— Lia, você se esqueceu de que eu sou seu aquecedor particular? Não tem como morrer de frio comigo aqui — murmurou com a voz quente e me apertou mais contra si. Meu órgão cardíaco deu um solavanco nada saudável.

Para ser honesta, a simples menção e o movimento despertaram uma nova onda de calor pelo meu corpo, partindo de algum lugar de dentro de mim.

— Claro, sim, você tem toda razão — ironizei — Ah! — grasnei quando a água literalmente começou a bater na minha bunda. Contraí os glúteos, sabendo, contudo, que era inútil — Você é o pior de todos os monstros!

Ele avançou mais um pouco, rindo enquanto a água de gelo me cobria aos poucos até que só metade do meu tronco para cima estivesse a salvo. Eu já estava tremendo de frio e ganindo de agonia.

— Você precisa soltar o corpo e tentar se acostumar com a temperatura, pare de lutar contra ela — instruiu.

O vai-e-vem das ondas quase não nos balançava, o que queria dizer que aquele também não era um mar agitado como eu mais gostava. Claro que no momento o fato era uma benção, já era bem difícil lidar com a água trincando parcialmente calma. Minhas roupas estavam encharcadas, pesadas de forma a me puxar para baixo, até meu sangue parecia correr gelado nas veias.

— Olhe para mim, Lia — pediu, a voz mais baixa e muito persuasiva — Por favor? — Acrescentou quando não fiz menção de me mover.

Respirei fundo, invocando a paciência divina e preparando-me para os ataques hormonais. Afastei a cabeça — o que foi lamentável — e abri os olhos com desconfiança. Foi pior do que pensei, sua cabeça estava inclinada na minha direção, os olhos claros de cílios grandes me fitavam com intensidade, convidando-me a mergulhar dentro deles. Paralisei como uma presa indefesa. Ele sorriu com satisfação.

Sem notar eu havia caído novamente naquela armadilha imbecil de ser alvo do seu olhar.

— Eu tenho várias ideias de como te aquecer se quiser testar alguma — sugeriu, vincando levemente a sobrancelha castanha para demonstrar a sinceridade da proposta. Sua língua umedeceu os lábios rosados com uma lentidão desnecessária e eu poderia jurar que tive uma parada cardíaca.

Engoli em seco enquanto tentava desesperadamente organizar minhas ideias para que não me içasse para ele e...

Ugh.

Num ato de desespero joguei minhas pernas para dentro da água e soltei seu pescoço, fugindo da sensação mais do que confortável de ser carregada e acolhida por seus braços. Meu corpo oscilou devido a minha rigidez quando coloquei os pés na areia sólida, mas Justin segurou minha cintura para me equilibrar o que imediatamente me passou segurança. Eu ofeguei quando o nível do mar subiu acima do meu umbigo, onde outrora estava "seco". A parte positiva foi que a nova onda de frio me ajudou a clarear a mente. Tremi, encolhendo os ombros.

— Você gosta mesmo de testar meus limites — vociferei para sua expressão presunçosa. Certamente aquela era sua ideia desde o início, me fazer pular sozinha para a água — E vocês gringos nunca ouviram a expressão "água no umbigo é sinal de perigo"? — Repreendi.

Ele deitou a cabeça, confuso com minha expressão em português. Traduzi ao pé da letra, eu não fazia ideia se eles tinham uma expressão dessa equivalente:

— Quando a água está no seu umbigo — apontei para o meu, que estava a dois dedos embaixo da água — quer dizer que você corre riscos de se afogar.

Justin olhou para o seu próprio umbigo, a quatro dedos de ser submerso. Eu acompanhei seu olhar, e estremeci de novo quando vi os pingos de água escorrerem do seu peitoral ao abdômen definido, como se caçoassem de mim por terem tamanho privilégio. Nunca admiti a possibilidade de invejar uma substância até aquele momento.

— Eu estou seguro. Posso ser seu salva vidas, também.

Quando voltei aos seus olhos, ele já me olhava com secreta satisfação. O encarei séria.

— Tudo bem — ele cedeu, retrocedendo alguns passos e me arrastando junto, já que ainda não havia soltado minha cintura por algum motivo inexplicável e agradável.

Talvez temesse que eu saísse correndo da água. Eu não sabia o que era pior, ficar dentro do mar congelante ou fora com o vento chicoteando meu corpo molhado.

— Está pronta para um mergulho? — Arqueou a sobrancelha.

Eu gemi, estremecendo só de imaginar afundar no gelo.

— Você já está aqui, não vai doer — ele sorriu diante do meu beicinho queixoso — Se quiser podemos afundar juntos — Ele entrelaçou as mãos nas minhas costas, trazendo-me mais para perto devagar.

Meus ossos congelaram, e mesmo estando de boca muito bem fechada, tive a sensação de que engolira 5 litros de água fria que se chacoalhava em meu estômago. Finquei os pés no chão, impedindo-o de me abocanhar em sua teia e, suspeitando que eu fosse uma mosquinha suicida, afundei de uma vez na água, escapando de seus braços.

Meus cabelos flutuaram e a temperatura baixa me tirou o fôlego rapidamente, tão gelada que até parecia quente. Uma lógica que eu nunca vou entender. Permaneci submersa apenas por um segundo e já subi arquejando à superfície, passando a mão em meu rosto para poder enxergar.

Justin estava gargalhando. Eu pisquei para vê-lo com o cabelo completamente seco e deixei o queixo cair.

— Você não mergulhou! — Acusei o óbvio, gesticulando de indignação.

— Eu não podia perder sua subida triunfal. Pensei que seria tão natural como uma sereia, já que parece uma, mas apenas parecia um peixe fora da água asfixiando — ele riu de novo.

— Ah! — Exclamei ofendida e pulei para cima dele. Para ser sincera, meu plano era afogá-lo até que ele se debatesse como a cobra que era, mas ele se esquivou e eu quase caí de cara no mar.

Iniciamos outra perseguição, desta vez marítima e mais lenta — uma vez que é praticamente impossível correr dentro da água se você não for o Aquaman. E eu estava no seu encalço na força do ódio. Ele subia os joelhos para tentar ir mais rápido que eu e eu me jogava na água, parcialmente nadando. Confesso que toda a atividade de fato me esquentou e deixou o sacrilégio menos pior, mas eu ainda teria que enfrentar o pós banho. O que ele planejava? Que fôssemos pingando feito pintinhos em sua Ferrari?

Em um golpe final e já cansada de ficar para trás eu dei um pulo de gato para alcançá-lo. A ponta dos meus dedos arranhou suas costas, mas consegui empurrá-lo. Claro que eu caí mesmo de cara no mar, mas ele também, e apesar da ardência provocada em meu rosto e da água estar ainda mais gelada do que parecia — já que meu rosto estava molhado e exposto ao vento minutos antes — valeu a pena. Emergimos juntos e seu precioso cabelo estava molhado.

Eu ri enquanto ele chacoalhava a cabeça como um cachorro e me encolhi para me proteger dos respingos.

— Lia, como eu vou me explicar lá em casa com todas essas marcas de unha nas costas? — Ele se virou para que eu visualizasse meus estragos.

E lá fui eu perder o fio da meada de novo pela visão de suas omoplatas branquinhas ornadas com a tatuagem do índio a esquerda e a passagem bíblica à direita, as curvas das costas acompanhavam a linha que se aprofundava até chegar na beirada da calça. Esqueci o propósito até que ele batesse a mão em uma das omoplatas.

Ah, as marcas. Apertei os olhos, tentando ser objetiva. Bem próximo aos seus ombros havia quatro meia luas rosadas, nada muito profundo, e na extensão das costas dois ou três riscos avermelhados.

— Hm... E para quem você teria que explicar? — Perguntei despreocupada, até perceber que eu de fato não sabia se ele estava em algum tipo de relacionamento. Nem tudo é exposto na mídia.

A possibilidade me deixou preocupada com minha indelicadeza e possíveis problemas que meu gesto lhe acarretariam salpicado de um incômodo a mais. Coisas de uma fã ciumenta.

Contudo, Justin deu de ombros e sorriu para mim.

— Ninguém.

Fiquei desconfiada. Ele queria dizer ninguém ninguém? Ou ninguém que seja da minha conta saber?

Justin deu um passo estudado na minha direção.

— Então se eu por um acaso deixasse alguma marca dessas em você, você teria que se explicar para quem? Aquele Daniel?

Recuei, reconhecendo a ameaça velada, apesar de que carregar uma marca dele não pudesse ser tão ruim assim...

— Danilo. E não, não teria. Mas eu também não gostaria — levantei um dedo, alertando.

Ele revirou os olhos.

— Você não acha que devemos ter direitos iguais?

Dessa vez eu não esperei meu cérebro fazer as deduções devidas, apenas voltei a correr, para o lado contrário, e fiz bem. Claro que aquilo não foi capaz de me salvar por muito tempo, ele não demorou a agarrar minha cintura, mas eu o surpreendi jogando água no seu rosto e ele acabou me soltando para limpar os olhos. Depois estava declarada a guerra de água. Eu acabei mergulhando mais algumas vezes para fugir ou surpreendê-lo e só paramos com as brincadeiras quando ambos já estavam de músculos exaustos, ofegando.

— Acho que já está na hora de voltarmos — disse ele passando a mão no cabelo molhado. Parecia um ator majestoso de comercial na praia.

Eu suspirei com minha inquietação hormonal.

— Claro — então fechei a cara de novo, eu não estava mais tremendo tanto, mas sabia quanto seria ruim quando saísse da água e não tivesse uma troca de roupa — Scooter vai adorar ver nós dois encharcando o estúdio.

Ele sorriu e me estendeu a mão.

— Não vamos ficar encharcados e não vou deixar você com frio.

Estreitei os olhos para ele e diante da minha ausência de aceitação, Justin pegou minha mão, puxando-me para fora da água. Eu queria entender qual era o problema com a sua mão para dar choques na minha toda bendita vez.

— Você espera que fiquemos pulando ali na areia até secar nossas roupas?

Justin riu.

— Não. Olhe para Patrick.

Seu segurança estava a postos perto da água com duas toalhas brancas nos braços, sabe Deus de onde, e uma sacola ecológica. Eu não havia notado nada ao meu redor enquanto estava na água com Justin. Aposto que não saberia nem se uma quadrilha estivesse assaltando pessoas na areia naqueles minutos.

Relaxei um pouco, a toalha era uma regalia que eu não esperava. Ainda assim, saber que teria de permanecer durante muito tempo com roupas molhadas não me animava.

— Valeu, cara — Justin agradeceu enquanto pegava as toalhas.

Ele esfregou o cabelo com o tecido e partiu daí para baixo com a exibição para meus pobres olhos famintos de captar qualquer sinal da sua beleza. Só então pensei que meu cabelo não ficaria dos melhores quando secasse com a água salgada e sem um pente. Nem todos somos agraciados com a perfeição natural. Suspirei.

Por outro lado, concluí que eu não estava ressentida pela brincadeira. Para falar a verdade, havia me divertido muito e sem dúvida apreciado a escultura que era o corpo dele. Além de ser carregada no colo e ficar tão próxima quanto podia. Então... eu poderia até agradecê-lo mais tarde.

Um tremor de frio percorreu meu corpo quando a brisa insensível atiçou as moléculas de água gelada que me ensopava.

Bem, se eu sobrevivesse, claro.

— Vou te manter aquecida — ele prometeu e colocou a mão na base das minhas costas. Outro calafrio me percorreu, sem ter muito a ver com a temperatura — Tem um banheiro público logo depois da calçada, podemos usá-lo, se você não tiver nojo.

— Como é?! — Eu arfei, encarando-o de olhos arregalados.

— Você se importa de usar um banheiro público? Se for assim não tem problema a gente... — ele ficou confuso.

— Depende para o que você está sugerindo o uso de um banheiro público — interrompi, num tom duro.

A cor em meu rosto desanuviou sua expressão confusa e ele gargalhou colocando a mão na barriga.

— Lia! Eu poderia pensar em lugares muito melhores para te fazer essa sugestão.

Fuzilei-o com os olhos por me fazer passar aquela vergonha e me afastei de sua mão, ocupando-me em tentar enxugar minhas roupas — sem sucesso.

— Bom eu só estava falando que trouxe roupas para você — ele apontou para a sacola na mão de Patrick que tentava conter um sorrisinho — e podemos usar o banheiro para trocar. Um de cada vez, se você faz tanta questão assim.

Joguei-lhe mais um olhar mortal, eu só queria enterrar a minha cabeça na terra e nunca mais ser vista por ninguém.

— Então isso foi premeditado, huh? — Apontei para o mar que ficava para trás, desviando um pouco o assunto — E até você estava a par desse esquema — acusei Patrick.

Patrick levantou a mão em sua defesa.

— Eu não sabia que seria contra a sua vontade.

— Mas também não tentou me defender! — Retruquei, ultrajada.

Ele sorriu.

— Ah, eu sabia que ele não te afogaria.

Encarei os dois de mau humor, escondendo todo o meu constrangimento da conversa anterior nele, e pisei duro.

— Homens — bufei — E que roupas você trouxe para mim? Vai dizer que conversou com Lara também e pediu para ela fazer uma malinha? — Olhei de soslaio para a sacola, desconfiada.

— Bom, é claro que eu não tinha como saber exatamente o seu tamanho e... — ele editou um pouco o que falaria e pendurou a toalha nos ombros. Se seu tronco estava seco ele deveria colocar de uma vez sua camisa, eu podia ver a — gloriosa — pele arrepiada. Ele chamava muito mais atenção assim, como eu notava pela minha visão periférica, então talvez esse fosse seu intuito de qualquer maneira — bem, eu tinha deixado alguns pares de calça com Patrick da última vez, pedi para que trouxesse. Não estão sujas. Você pode usar o moletom com cordão de ajuste na cintura para adaptar e dá para dobrar as barras.

Emudeci, lidando com a insanidade de usar alguma roupa dele. Minha fã histérica estava gritando.

O banheiro estava sem fila e ele me deixou ir primeiro. Tirou algum tecido da sacola e entregou-a para mim.

— Pode vestir tudo o que tem aí — instruiu.

Tudo o que? Duas calças?

— Hã, obrigada.

Eu calcei minhas botas superficialmente depois de bater o pé no asfalto para limpar o máximo possível da areia e entrei no banheiro cinzento. Lá dentro estava quase limpo, para minha surpresa. O chão acumulava um pouco de terra molhada nos cantos, mas não fedia a urina. Se limitava a uma privada com a tampa fechada, uma pia branca e um espelho quadrado.

Meus lábios estavam quase roxos de frio então não tive coragem de enfiar a cabeça embaixo da torneira para limpar o sal do cabelo. Apenas lutei para tirar minha calça jeans colada nas minhas pernas grudentas depois de desamarrar o cinto. Peguei a calça moletom cinza dentro da sacola quase entrando em colapso. Franzi a testa ao perceber que a camisa que ele usava antes também estava ali. Hm, então ele pedira uma nova e me emprestaria aquela? Ou havia trocado por engano?

Queria não admitir, mas eu estava mesmo empolgada em vestir essa que ele já tinha usado. Envergonhada de mim mesma, levei o tecido ao nariz e inspirei. Santo Deus, que homem cheiroso duma figa! Coloquei a mão no peito tão duramente atacado.

Abençoado seja Justin Bieber por me permitir viver esse momento.

Vesti a calça de moletom, tomando cuidado de não encostá-la no chão e puxei o cordão para que se ajustasse em minha cintura. Ficou larga, mas não a ponto de ficar estranha. Dobrei duas vezes a barra que grudava na canela. Depois, com um suspiro de felicidade, vesti a camiseta. O cheiro dele estava se impregnando em mim, infestando meu cérebro de uma penumbra densa.

Limpei a sola do pé com papel a fim de deixá-lo mais limpo antes de calçar minha bota direito, com meia e tudo, não pude evitar uma careta porque o calçado em si já estava meio sujo também. Enfiei minhas roupas molhadas na sacola.

Bem, eu realmente já estava me sentindo melhor.

Não queria olhar no espelho para não ficar triste com meu reflexo de cabelo esponja do mar, mas eu queria ver a roupa dele em meu corpo. As mangas da camisa cinza também estavam grandes, estava óbvio que aquela roupa não era minha, mas de algum modo parecia perfeita para mim. Uma mulher usando as roupas do namorado.

Eu ri baixinho dos meus olhos brilhantes e sonhadores, funguei mais uma vez com liberdade a camisa extremamente cheirosa — feito uma viciada cheirando crack — e passei os dedos pelo cabelo, tentando deixar a situação menos pior.

Desisti com um suspiro e abri a porta. Justin já estava vestido com outra calça, uma saruel preta, a toalha ainda cobrindo os ombros, o peitoral ainda a mostra. Eu nunca me acostumaria com aquela visão. Ele me analisou dos pés a cabeça, e completamente sem graça tentei chamar sua atenção:

— Você já se trocou — observei — Onde?

Ele estava sorrindo ao voltar aos meus olhos.

— Por aí — acenou para trás sem direção certa.

— Ah, bom, você disse que eu podia vestir tudo o que estava ali e sua camisa estava ali então eu pensei...

— Sim, era pra você — socorreu-me no meu discurso sem jeito — Aliás — mais uma varrida rápida por meu corpo — minhas roupas caem muito melhor em você de qualquer maneira. Eu disse mesmo que nada cairia mal em você.

Eu olhei para baixo, fingindo estar analisando o cabimento com crítica.

— Hmm, mas você vai ficar sem camisa mesmo?

— Melhor eu do que você, não?

— A ideia foi sua mesmo, mas se você ficar doente...

Ele deu de ombros.

— Sou mais forte do que isso, Lia. Vamos?

Enquanto retornávamos ao carro e eu me sentia tão confortável quanto estranha usando suas roupas, como se alguém estivesse prestes a apontar para mim e denunciar tamanha ousadia, concluí que aquela era a cartada final para minha moral. Os rumores não poderiam ser outros, eu seria apontada como o mais novo caso romântico de Justin Bieber, e embora uma parte soterrada de mim apreciasse o fato lisonjeiro, as outras consequências falavam bem mais alto. Além do fato de que não era real. Justin apenas adorava se divertir com a minha cara muitas vezes e de muitas formas.

Nosso caminho de volta não acumulou tanto a multidão quanto antes, o que foi uma benção, mas mesmo assim eu estava aliviada quando chegamos no carro — sabia que as câmeras continuavam tão ativas quanto, isso se não mais furiosas, com ele exibindo seu corpo sarado daquele jeito.

— Obrigada, Patrick, foi um prazer conhecer você — eu acenei enquanto Justin destravava o carro.

— O prazer foi meu. Apareça mais vezes!

— Para você e ele caçoarem mais da minha cara? — Apontei com a cabeça para Justin — Talvez não.

Os dois riram e nós dois entramos para o conforto da privacidade. Eu quase me sentia segura ali dentro, sem contar que também estava mais quente. Meu cabelo molhado secava com muita lentidão ao incentivo do vento e o processo não estava sendo agradável.

— E então, o que achou de Venice? Contente por termos vindo? — Indagou enquanto ligava o carro e o aquecedor, seus olhos animados pararam apenas por alguns segundos em meu rosto.

— Bom, tirando sua falta de juízo completo, eu gostei — olhei pela janela para a paisagem espantosamente magnifica, só não ganhava da visão fascinante do homem que dirigia ao meu lado. Eu coloquei minhas mãos ligeiramente gélidas próximas a saída de ar quente. O calor era mais do que agradável.

Ele deu uma risadinha e meu sorriso foi automático. Aquele se tornara meu som preferido, eu não saberia como poderia viver sendo privada de ouvi-lo depois que todo o sonho terminasse. Aconcheguei-me no banco com suas roupas, tinha a impressão de que era como se ele estivesse me abraçando.

— Eu sou o melhor guia turístico que você vai encontrar na sua vida inteira — ele deu a seta para entrar na fila de carros e não foi surpresa para mim a breve tristeza por deixar aquele momento para trás.

— Não tenho dúvidas — murmurei sabendo que ele não levaria a sério, embora eu nunca tivesse sido mais sincera na minha vida — Mas o que você acha que Josh vai pensar de ter você sem camisa no estúdio dele?

— É verdade que seria mesmo muito tentador para ele de forma que não pudesse se concentrar — franziu a testa, fingindo uma expressão séria enquanto apontava com uma mão para o seu corpo. As palavras serviam muito bem como minha verdade e eu ri de um jeito estranho por isso. Se assisti-lo dirigindo já me parecia muito sensual, parcialmente vestido então era o ápice do meu fetiche — Mas, já mandei mensagem para o Scooter passar em casa e me levar duas trocas de roupa. Lá no estúdio tem chuveiro então você pode tomar banho também e vestir outras peças limpas, já que essas daí estão absorvendo sal.

Banho, sim me soava muito bem. Só me deprimia ter de me livrar da camisa que vestia agora, tão impregnada com o seu cheiro. Ele dominava quase todos os meus sentidos, consolidando-se na visão, audição e olfato. Quem me dera no tato e paladar também.

— Vou aceitar a oferta — avisei.

Ele sorriu.

— Imaginei.

Me policiei para manter os olhos longe dele, eu não queria ficar encarando como tinha vontade de fazer, já era bem difícil conter minhas mãos entrelaçadas no colo para não tocá-lo sem ver. Talvez se ele não fosse tão.... Ele.

— Voltando ao lance de guia turístico. O que você disse que tem para fazer amanhã mesmo?

As simples palavras encheram meu peito de um sentimento consideravelmente bom, ele mal havia se despedido de mim e já estava pensando em me ver de novo no dia seguinte.

— Eu tenho que ir a editora amanhã de manhã... Depois creio que mais nada, a não ser que a Fani invente alguma coisa — por favor que ela não invente nada.

Seu rosto se iluminou, aquecendo meu coração.

— Poderíamos mesmo visitar a calçada da fama e a placa de Hollywood. Pode ser no fim da tarde, se você quiser.

Refleti sua expressão, muito mais animada.

— Claro, eu te informo depois se vou conseguir, mas quero sim — de repente me lembrei de algo — Bom, isso se não te atrapalhar na leitura rápida que me prometeu.

Ele repuxou o canto da boca, descartando preocupações.

— Sou um homem de palavra, não se preocupe — apertei os olhos para seu rostinho ingênuo — Mas me conte uma coisa, se você não fosse ser escritora, qual profissão gostaria de seguir?

— Você já quer que eu pule para a alternativa? — acusei.

Ele sacudiu a cabeça e me jogou um olhar de repreensão por duvidar da sua índole.

— Estou apenas curioso. O que gostaria?

— Professora. É o meu plano. Depois de acertar as coisas aqui vou fazer uma faculdade de Letras no Brasil, não sei se existe esse tipo de curso aqui, provavelmente deve existir, mas é um curso para estudar a língua portuguesa e de idiomas estrangeiros. Adoro me imaginar de chuquinhas ensinando crianças a ler e escrever. Imagine quão grandioso é você ajudar a abrir as portas da comunicação para um ser humaninho — tagarelei, viajando na ideia de rostinhos inocentes e animados com a ânsia de aprender — Letras é um curso que vai me ajudar com minha escrita e abrir a porta para outra profissão se eu precisar.

Nós paramos em um sinal vermelho e ele me deu um olhar mais longo cheio de atenção.

— É um bom plano. Você tem mesmo a doçura necessária para lidar com crianças. É muito paciente comigo — brincou e rimos juntos.

— E você, o que gostaria de fazer se não fosse cantor?

E estávamos andando novamente, ele passou a mão no queixo, refletindo.

— Eu também gostaria de ser jogador de hóquei, você deve saber que é por isso que eu já tinha uma assinatura — olhou para mim a fim de confirmar, e sorriu quando assenti — Mas fora isso, nunca mais pensei sobre... Hmm, acho que engenheiro? É, não sei, alguma coisa assim.

— Você já deve ter dinheiro o bastante para nunca mais precisar trabalhar, então imagino que não deva se preocupar com essas coisas.

Ele franziu o rosto, calculando.

— É, talvez sim — admitiu.

E de repente já estávamos no estacionamento do estúdio. Ele desligou o carro, mas ao invés de descer se virou para mim no meio do meu processo de soltar o cinto.

— Qual é seu maior sonho, Lia? — Perguntou com legítimo interesse.

Eu torci a boca.

— Hã... — pude sentir que meu rosto me denunciava enquanto eu tentava pensar na outra coisa que eu mais queria na vida.

— O que é? — É claro que ele percebeu e já fazia menção de sorrir diante da minha resistência em contar.

Revirei os olhos. O que era um peido para quem já estava cagado. Respirei fundo, mas olhei para frente ao falar:

— O maior sonho da minha vida sempre foi conhecer você — meu rosto queimou e eu cruzei os braços com desconforto.

Esperei que ele risse ou se gabasse, mas depois de alguns segundos Justin puxou minha mão para descruzar meus braços e, hesitante, eu o olhei brincar com meus dedos.

— Se eu soubesse que você existia também seria meu sonho te conhecer.

Qual seria a explicação científica para a sensação física de um coração derretendo? Se eu não soubesse ser impossível, poderia jurar que camadas inteiras escorriam pelas paredes do meu estômago bem naquele momento.

Ele olhou para mim com aquele sorrisinho maldito de canto.

— Você é mesmo muito bom com palavras — quase gaguejei.

Arqueou as sobrancelhas.

— Sou melhor com atitudes — ponderou, levando a outra mão para o meu rosto, com as costas do dedo indicador acariciou minha bochecha, até descer o polegar ao meu queixo. Eu já estava tonta o suficiente para desmaiar. Será que estava desmaiando?

— Convencido — sussurrei quando queria falar em alto e bom som.

Seus olhos se prenderam aos meus e aconteceu alguma conversa silenciosa entre eles.

— Você também testa meus limites, Lia — ele endureceu a mandíbula, como se me confessasse um segredo íntimo.

Eu entreabri os lábios, provavelmente para dizer alguma coisa que passou num átimo pela minha mente, mas quando sua atenção se direcionou a eles eu congelei.


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ENTÃO Demorei, mas cheguei. Minha vida é uma loucura, mas seguimos kakakak PODEMOS FALAR, no quanto eu me diverti escrevendo esse capítulo? ABSOLUTAMENTE TUDO PARA MIM. E eu tive que parar nessa parte, mas sinto que serei assassinada por isso. Fazer o quê KAKAKAAA Eu também literalmente ME DERRETI COM essa fala dele aqui "Se eu soubesse que você existia também seria meu sonho te conhecer.", para que ódio de animal de homem.


Enfim. Eu espero que estejam bem e que eu consiga postar o próximo logo para vocês e eu não morrermos de curiosidade pois nem eu sei direito o que ocorrerá KAKAKAKAKAAgora esse é o maior capítulo que eu já escrevi na minha história da vida, e eu queria tanto escrever mais uns acontecimentos aí, mas nao coube kakak


Se protejam do corona, mascaras e álcool em gel e sem aglomeração!Quem vai votar dia 15 vote com consciência. E um abraço em todas! Obrigada pelos comentários e tudinho, eu amo demais o apoio de vocês. Beijinhos!


PS: ouçam nossa playlist, me inspirei muito em dive e falling for you para esse - ta no link externo. 

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