Consequências

Lara estava sentada no degrau da porta quando cheguei, olhava a rua ansiosamente ao que pensei ser a minha espera. Tentei me recuperar mais rápido dos efeitos inebriantes do aroma de Justin e o afago na bochecha com que nos despedimos. Tive a impressão de que ele se refreava, mas não soube dizer se por gestos ou palavras proibidas. E, de novo, senti sua falta assim que ele saiu do meu campo de visão.

Minha irmã pulou quando desci do carro e me encontrou no meio do caminho, a expressão grave de quem trazia más notícias. Parei com desconfiança, como se ela pudesse jogar ovo cru na minha cabeça.

— É melhor você não entrar lá agora. Fani chegou há uns cinco minutos como um furacão e chamou seus pais para conversar.

Arregalei os olhos. Então haviam saído notícias, afinal, e o silêncio em meu celular precedia sim à tempestade.

Respirei fundo, buscando uma inspiração madura.

— Quer dar uma volta no shopping? — Foi o melhor que pude pensar.

Lara levantou a sobrancelha questionadora de sanidade. Mas como uma boa parceira de desafios, não levou três segundos para que abrisse o sorriso conspirador.

Chamei o Uber no mesmo instante e batemos os pés de impaciência pelos próximos três minutos, olhando para trás na iminência de sermos flagradas, e quando pudemos desfrutar da segurança ilusória dentro do carro, perdemos os primeiros minutos analisando o motorista baixinho, careca, de pele azeitonada, para garantir de que não seríamos raptadas.

Lara me enviou uma mensagem.

"Não fale uma palavra em português para ele não perceber que somos estrangeiras".

Perspicaz.

"Mas nosso inglês tem bastante sotaque também, não tem? Não sei."

Ela balançou a cabeça, ponderando.

"Me diz você, Justin já deve estar especialista na sua língua. Ele deve ter comentado algo sobre isso"

Num reflexo, bati na sua coxa para puni-la. Isso atraiu brevemente os olhos castanhos do motorista pelo retrovisor e Lara deu uma risadinha. Decidi me vingar.

"Isso tudo é saudade dos afagos do Matheus, hein? Vou mandar uma mensagem para ele"

Seu revirar de olhos foi tão enfático que vi por minha visão periférica.

"Só por isso não vou te contar do surto que ele deu" - e mostrou-me a língua.

Deixei o queixo cair num arfar de indignação. Ela estava me provocando a nos denunciar desse jeito.

"Espera a gente descer desse carro para você ver só."

Para minha gratidão, minutos mais tarde estávamos no centro comercial sugador de capitalistas. Mal me permiti desfrutar do não sequestro e já desci do veículo empurrando minha irmã.

— Me conta! O que houve com o Matheus? Você não maltratou meu cunhado, maltratou?

Ela empinou o nariz, mas com um peteleco na orelha perdeu a pose para uma risada.

— Quem te aguenta quando você está agressiva, Júlia?! Tá bom! Eu falo. Ele surtou pela foto que eu postei com o Ryan no status.

Estagnei e a segurei comigo.

— Você o quê?!

Lara estreitou os olhos para minha reação.

— Ryan e eu tiramos uma foto ontem e eu postei no status, ué.

Eu ainda estava sem palavras. Estendi a mão.

— Me deixa ver.

— Como se você não me tivesse no WhatsApp... Tá, aqui. Eu hein, você não é a única que pode tirar fotos com famosos.

Olhei pra ela e depois para a imagem que me mostrava. Não era nada demais. Uma selfie, os dois sorrindo, um ao lado do outro. Mas senti um estranho ciúme. Incomodou-me o fato de que ela podia ser livre para fazer isso e, também, que tivesse conquistado uma proximidade maior do que a minha com Butler! Que ingratidão da parte dele. Aposto que ela nem o seguia no Instagram, ao menos até o dia anterior. Tudo bem que eu estava um pouco ocupada demais naquela noite (e não abriria mão disso por nada) mas..., mas... não interessa.

— Lara, você postou isso para fazer ciúmes no Matheus — acusei-a.

Ela tomou o celular da minha mão, fazendo uma careta para mim.

— Nada disso! Eu não recorro a esses meios — defendeu-se, desviando os olhos para as vitrines das lojas a nossa volta.

Eu tinha certeza de que ela gostava mais dele do que dos outros, embora não fosse admitir a ninguém, nem a ela mesma. Minha teoria era que subconscientemente postara a foto para chamar a atenção dele sim. Contudo, muito menos esse fato seria reconhecido.

Desisti daquela abordagem.

— Se você diz — dei de ombros — O que ele respondeu, afinal?

— Queria saber se eu estava saindo com "esse cara" — fez aspas com os dedos — Como se isso fosse interessar a ele. Maria me contou que no sábado ele não parecia nem lembrar que eu existia na festa do Carlos. Ficou o tempo inteiro com a Patrícia.

E aí estão os fatos na mesa.

— E você jura que não era pra fazer ciúmes nele, hein?

Lara me olhou de rabo de olho com tédio e eu ri.

— Muito bem, com certeza essa foto sua já deve estar no Twitter e todos estão comentando as mais absurdas teorias sobre eu estar me infiltrando cada vez mais na vida do Justin.

Arqueando as sobrancelhas, me encarou com arrogância.

— Você não parecia tão preocupada com essas teorias quando decidiu fugir com ele para Los Angeles hoje.

E estava mesmo demorando para que ela tocasse no assunto. Se eu não desviasse, logo viriam os pedidos de detalhes que me deixariam constrangida e saudosa.

— Tá bom. E o que você fez hoje?

Juntando o braço com o meu, ela levantou um ombro.

— Além de tentar te cobrir o dia inteiro? — Jogou na cara — Fizemos um tour pela Old Town, seu pai estava louco por uma viagem histórica velho oeste. Tinha alguns prédios históricos, lojinhas, carruagem, charretes e, ah! Um complexo de lojas chamado Fiesta de Reyes. Eles têm artigos típicos mexicanos, um restaurante muito interessante com aquelas músicas nacionais de fundo. Eles nos disseram para voltar aos fins de semana para uma festa e música ao vivo! Já quero. É claro que você tem que vir junto. Vai poder ou gastará todo seu tempo com Justin Bieber aqui? — Murmurou seu nome com um falso desdém.

Se eu fosse consultar o que meu coração queria...

— Deixa de ser tonta, Lara. Vai ser ótimo ir nesse restaurante com você.

— A não ser que ele te convide para alguma coisa na mesma hora, né?

Olhei com tédio para ela.

— Você vai remeter todos os assuntos a ele até que eu conte o que fizemos hoje, não vai?

O sorriso significativo de Lara indicava para uma resposta afirmativa. Suspirei, mas percebi que no fundo estava contente por poder falar dele e nosso dia. Puxei-a para sentar-se em um banquinho de madeira no meio do corredor e me certifiquei de manter a voz baixa enquanto lhe relatava. Com as pernas cruzadas e os cotovelos apoiados nas mesmas para servir de sustentação ao queixo em sua mão, Lara parecia se deliciar com alguns detalhes (não presentes em partes muito pessoais), uma ótima ouvinte num geral. No fim, pendurou-se em meu pescoço.

Ugh, eu fico tão feliz que você esteja tendo a oportunidade de realizar tantos sonhos de uma vez! Vou sempre rezar para que não receba menos do que isso! E você também fique atenta para não se sujeitar a nada inferior — afastou-se para segurar minhas mãos e olhar atentamente em meus olhos.

Eu sabia muito bem o que ela queria dizer, só não tinha uma resposta satisfatória para uma incógnita como essa.

— Vou tentar.

Ela torceu o lábio, descontente com minha resposta.

— Bom, pelo menos hoje ele foi mesmo um cavaleiro. Então quer dizer que vocês estão... — arqueou a sobrancelha duas vezes.

Franzi a testa para esconder o constrangimento.

— Não estamos nada.

Seus dentes brilharam

— Eu conheço bem esse "não estar" — deu dois tapinhas na minha perna — Tudo no seu tempo, irmãzinha. Agora, veja! Uma livraria! Será que seu livro virá para cá? — Saltou, pegando minha mão.

A dita cuja estava a duas lojas de nós, Verbatim Books. Os livros empilhados atrás da vitrine convidavam os cérebros exaustos da realidade fatigante a um descanso mental no mundo das ideias, onde as nuvens podem ser feitas de algodão e podemos pisar no sol sem nos queimar. Que tal uma caminhada pelo arco íris e descansar na curva da lua nova? Coletar as estrelas para guardá-las num pote e utilizá-las de luminária num quarto escuro. Uma imagem de puro deleite. Ainda que eu não levasse nenhum livro, estar entre tantos deles era uma terapia.

Lara piscou para mim antes de se dirigir ao balcão, onde uma mulher de aparência jovem, maquiagem em dia e um cabelo afro esplendido enfeitado por uma faixa amarela sorria gentilmente.

— Olá! Gostaria de saber se vocês vão ter um livro que vai lançar semana que vem.

Mantive-me a dois passos delas, já sentindo meu rosto esquentar.

— Boa noite, meninas. Qual é o título? — Perguntou já teclando no computador a sua frente.

November — disse minha irmã com evidente presunção.

A atendente levou cinco segundos para responder, um tempo curto para me deixar nervosa, com a barriga revirada.

— Sim, segunda feira já estará aqui. Gostaria de fazer reserva? Já estamos recebendo algumas.

Troquei um olhar esbugalhado com minha irmã e ela quase saltou ao responder:

— Sim, por favor!

Seguiu-se uma sequência de resposta de dados pessoais antes que a vendedora interrompesse o fluxo:

— Nossa, Lara, você tem o mesmo sobrenome que a autora — comentou como se fosse um elogio.

— Ah sim, ela é minha irmã — respondeu orgulhosa, indicando com a cabeça em minha direção.

Sua interlocutora direcionou o olhar surpreso para mim.

— Julia? A autora?

Esbocei um sorrisinho, assentindo.

— É um prazer te conhecer...

— Madelyn! — Informou.

— Madelyn.

— Que legal! Você virá aqui fazer a divulgação? Hoje é meu primeiro dia, não estou sabendo de nada — segredou, desculpando-se.

— Não se preocupe! Eu também não sei, tenho que perguntar a minha agente — confessei.

Ela deu uma risadinha.

— Espero que venha, Julia. Você vai querer manter a reserva, Lara? — Olhou em dúvida para minha irmã. Ela não parecia se ofender com a possibilidade de Lara negar, mas mesmo assim sua potencial compradora não recuou.

— Vou querer manter, sim, quem sabe consigo até um autógrafo mais tarde.

Nós três demos risada e eu olhei para cima, balançando a cabeça teatralmente como se reprovasse a atitude.

— Boa sorte com as vendas, meninas! — Madelyn abriu um sorriso genuíno e acolhedor que fez aparecer simpáticas covinhas em suas bochechas.

— Obrigada, boa sorte com o primeiro dia, Madelyn.

Assim que nos afastamos para a estante mais próxima, Lara apontou para trás.

— Gostei dela. E você viu, reservas, Júlia, já tem reservas! — Chacoalhou-me como se eu estivesse adormecendo durante a notícia.

Não era uma informação que eu pudesse negligenciar, estava tão nervosa quanto podia sem ter um ataque cardíaco. Passei pela mesma coisa com o lançamento no Brasil, mas pensei que estava menos alvoroçada dessa vez. Pura ilusão.

— Ai — gemi — Será que estão reservando para repudiá-lo publicamente? Talvez fazer uma grande fogueira? Rasgar na TV ao vivo como o Datena fez com o Believe?

Lara passou o braço por cima dos meus ombros, arfando.

— Deixe de ser pessimista, garota, essa não foi a irmã que eu criei. Toma esse livro aqui para acalmar — pegou um exemplar aleatório, enfiando nas minhas mãos. Outlander. Um dos meus preferidos, realmente animador — Você deveria se preocupar com o boicote que Danilo e Ísis estão prestes a encabeçar.

— O quê?

— Eles mandaram mensagem para ver se você tinha morrido ou coisa assim, já que aparentemente não os responde mais.

Devolvi o livro na estante e peguei outro com uma capa de salto alto. Toda sua, era o nome. Hm, eu já vira essa capa algumas vezes. Acho que o gênero daquela estante era... Afastei-me um pouco para uma visão melhor. Ah, sim. Voltei-me para a prateleira de trás.

— Eu vou conversar com eles, só não sei bem como dizer as coisas. Sinto que Danilo vai querer minha cabeça numa bandeja.

Lara riu.

— Eles vão achar que você virou uma esnobe se não falar com eles logo, isso sim.

Ponderei um segundo com o livro "Quem é você, Alasca?" nas mãos.

— Vou falar com eles hoje à noite.

— Depois ou antes de encarar seus pais?

Suspirei.

— Acho que vou dormir fora essa noite.

— Boa ideia. Segunda feira estarei no noticiário explicando que seu livro não será lançado porque você morreu.

Apanhei o exemplar com a capa de lua refletida no oceano, folheando-o.

— Ah, não, aí mesmo que terão de publicar. In memoriam. Não importa o que aconteça, você deve me garantir que esse livro será publicado dia 26. É a sua missão, minha irmã.

Ela levantou uma mão solenemente.

— Prometo.

Abri a boca para fazer mais um comentário, mas fui interrompida:

— Com licença, desculpa, você é a Julia Souza? — o timbre feminino esforçou-se para pronunciar meu nome.

Voltei-me para a criatura franzina de olhos pequenos curiosos, franjinha e cabelo preto escorrido. Eu não a reconhecia de lugar algum com seu sobretudo bege e calça jeans. Vasculhei minha mente por todos os lugares que havia passado.

— Olá, sou eu. E você é...?

— Anne — respondeu já mais animada — Você quem escreve November, não é? Estou ansiosa para o lançamento! Ainda vai ser nessa segunda feira, certo?

No Brasil eu já havia sido reconhecida como autora do livro, mas essa experiência no exterior também era completamente nova. Pipocos de felicidade estouraram em meu cérebro e eu me contive para não pular também. Podia até dar um abraço espontâneo nela apenas por saber meu nome e minha obra. Uma sensação de VENCI NA VIDA que transbordava do meu peito.

— Sim, claro! — Respondi, vibrante.

— Que bom! Eu estava me perguntando se aconteceria mesmo porque... você sabe, o processo.

Claro que ela saberia disso. Quiçá só tinha conhecimento do livro por causa dessa façanha. Talvez só estivesse curiosa devido a polêmica. Contive um suspiro, meu farol de animação se apagando gradualmente.

— Hm, sei, mas não, ainda vai acontecer.

— Legal! Quem sabe você não traz o próprio Justin junto para o lançamento! Você vai autografar os livros, não é?

Eu o levaria, sim, se o amarrasse numa corrente pelo pescoço e o arrastasse comigo até a livraria, depois de pegar sua mão e assinar um termo de desistência do processo.

Agora eu havia me transformado numa forma de alcançá-lo, hm?

— Tudo bem, Júlia, precisamos ir embora agora. Com licença, Anne — Lara guardou o livro que eu segurava e apanhou minha mão, puxando-me.

Acenei para minha insatisfeita interlocutora, deixando-me arrastar por minha irmã para fora da livraria.

— E eu nasci ontem — queixou-se — Não para cima de mim, querida!

Eu forcei uma risadinha, ainda inconformada com o fato de Anne ousar juntar o lançamento do livro com o processo e interesse em conhecer Justin através de mim. Tudo bem, era lógico, só não agradável.

— Se algum dia eu virar famosa não precisarei contratar um segurança. Ter você é o suficiente.

Vincando a sobrancelha e repuxando os cantos dos lábios para trás, Lara fez sua melhor expressão feroz.

— Você acha?

E então caímos numa gargalhada.

Ocupamos nossos próximos minutos com um jantar de fast-food merecido, discutindo seriamente sobre o sabor da comida naquele país. Era nossa impressão o gosto ser tão peculiar ou não? Ao que parece, faltava tempero. Planejamos uma viagem para a Itália e Paris, lá a comida devia ser melhor.

O mais surpreendente era que ficamos ao menos uma hora e meia ali e não havíamos recebido o chamado para ir embora.

— Alimentada? — Perguntou Lara quando joguei o copo de milk shake finalizado fora, alimento possível apenas porque o shopping estava quentinho.

— Sim.

Ela finalizou seu próprio milk shake e direcionou-me sua expressão de encorajamento.

— Ótimo, agora está pronta para voltarmos para casa. Nossos pais nos esperam. Não se preocupe muito, Fani já foi embora.

Muito.

Estreitei os olhos pra ela.

— Então você estava se comunicando com eles esse tempo todo? — Acusei.

Ela abriu as mãos com impotência.

— Melhor do que ter a polícia estadunidense atrás de nós. Imagina as notícias: Affair de Justin Bieber é procurada pelas autoridades.

Revirei os olhos para sua fisionomia engraçadinha. Eu estava vivendo ou apenas fugindo e levando broncas?

Durante o trajeto de volta ensaiei um discurso muito bem elaborado para justificar o motivo de aparecer em Los Angeles com o homem que estava me processando e não em San Diego com minha empresária.

Tive uma ideia para uma fuga, pouco provável, mas que acalentou parte inconscientemente agitada de mim durante todo aquele tempo. Sem perceber estive em busca de assuntos para conversar por mensagem com aquela terrível criatura causa dos meus maiores problemas. Com um sentimento de rendição, digitei o texto:

"Então, qual seria a possibilidade de você acolher uma jovem sem teto encrencada por uma noite?"

Pensei vários segundos antes de definitivamente mandar. Seria muito idiota? Um assunto indevido? Mandar mensagem passaria que imagem de mim? Quase fechei os olhos ao clicar em enviar, bloqueei a tela e escondi o telefone embaixo da minha coxa.

Ugh. Eu não devia ter enviado nada.

Olhei pela janela para as casas e prédios que rompiam o escuro da noite através do reflexo da iluminação pública. Assim era fácil imaginar que eu estava de volta a São Paulo, ou que nunca havia saído de lá. O que eu estaria fazendo a essa hora? Internada em meu quarto lendo um livro com certeza. Ou dançando com Lara na sala, fazendo maratonas de séries e... meu celular vibrou. Resgatei-o imediatamente.

"Se essa jovem for você, minha casa está de portas abertas para sempre".

Mentiroso duma figa. Por outro lado, meu sorriso idiota acreditou.

"Bom saber. Estou pensando em fugir agora e não quero dormir na rua".

A mensagem mal havia sido enviada e eu recebi uma ligação. Meu coração parou ao ver seu nome na tela. Lara me olhou de soslaio, atraída pelo vibrar. Meus olhos esbugalhados atiçavam sua curiosidade.

— Quem é? — Ela sussurrou enquanto eu atendia.

Além do óbvio, fiquei nervosa porque aquela era a primeira vez que nos falaríamos ao telefone. E sempre fui péssima com isso.

— Hã... Alô? — Pigarreei.

Oi, Lia. Está tudo bem? Onde você está? — Perguntou um pouco agitado. Eu podia ouvir ruídos de movimentação do outro lado da linha.

— Hm... No Uber, indo para casa. Estou bem, e você? — Respondi confusa sob o olhar perfurante de Lara.

Não parei para reparar em como a voz dele permanecia angelical por telefone, grave e suave, de forma a acalentar meu interior como sempre fizera.

Agora mais, na verdade. Toda minha inquietação de outrora parecia besteira.

Para casa? — Agora quem estava confuso era ele, e com mais urgência: — Qual casa?

— Em San Diego, você meio que já veio aqui.

Faltava pouco para virar uma conversa de hospício.

Certo — prolongou a palavra enquanto refletia — Você quer que eu vá te buscar na casa então?

E engasguei com a saliva. Precisei de alguns segundos para conseguir falar de novo e meu cérebro ainda estava em tela azul.

— O quê? — Grasnei.

Pelo que você me disse está desabrigada essa noite então eu... Você só estava me iludindo? — Sua voz transitou da confusão para uma crítica cômica.

Contive o riso, mas não o suficiente para impedir o tom risonho:

— Você achou mesmo que eu estava pedindo para dormir aí?

Um homem não pode mais sonhar? — Reclamou, exasperado.

Dessa vez me permiti rir.

— Deixa de ser besta.

Ele me acompanhou com seu riso adorável, fazia contrair todos os meus músculos como se eu precisasse mesmo entrar em postura de defesa.

— Mas é sério, Lia, se você estiver com problemas pode me ligar. Então não arrumou muitos problemas? Fiquei preocupado.

Não se emocione, coração.

— Ah... Estou indo para a boca dos leões agora, eu saí com a Lara um pouco. De qualquer forma, duvido muito que você me acolheria aí — ceticismo ou provocação? Acho que um pouco dos dois.

Pude ouvir seu muxoxo.

— É claro que te acolheria, Lia.

— Não teria medo de que eu vendesse seu cabelo, suas coisas ou tirasse fotos suas dormindo? — Provocação em gênero e espécie.

— Eu acordaria se você se mexesse já que estaria em meus braços.

O rubor que tomou conta do meu rosto dividia palco da vergonha com um sentimento mais indecente. Na verdade, bem, não era indecente desejar dormir nos braços dele.

Para não denunciar meu estado, resgatei palavras perdidas no meu caos mental antes que ele proferisse algum comentário presunçoso do quanto me deixava abalada.

— Às vezes você é ótimo com as palavras. Com certeza é um dom.

— Vou acrescentar essa na lista dos motivos pelos quais eu te atraio.

O pior: ele estava coberto de razão, desde o início da minha adolescência. Não que eu fosse admitir.

— Cuidado com seu ego, às vezes ele é traiçoeiro.

Há-há — ironizou — Agora uma questão séria: você me acolheria para passar férias no Brasil na sua casa como Heloisa fez com Josh?

O fato dele citar o livro tão naturalmente agora me dava um misto de constrangimento e júbilo. Ele não o estava odiando, afinal.

— Claro, eu sempre fui muito caridosa.

— Você está muito engraçadinha hoje, Júlia.

Derreti-me. Nós precisaríamos combinar que ele não dissesse meu nome assim se não fosse na minha frente. Eu precisava vê-lo formar aquele beicinho para falar.

— Mais uma pergunta antes de desligar. É interessante ver Heloisa negligenciando as amigas dela no decorrer do livro e as mesmas reclamando disso depois. Seus amigos já começaram a reclamar também?

Revirei os olhos mesmo que ele não pudesse ver, estava muito empenhado mesmo em me colocar contra a parede. E não do jeito bom, diga-se de passagem.

— Você está lendo o livro pelo nosso trato ou para usar contra mim? — Resmunguei.

Ele riu.

— Isso quer dizer que eles já estão reclamando?! Incluindo aquele rapaz que te ligou no estúdio? — Por alguma razão desconhecida ele parecia desfrutar cruelmente desse fato.

— Não te direi nada — e lá estava a rua de minha atual casa, o carro fez a reconhecida curva na casinha de dois andares amarela que me servia como ponto de referência. Chorei por dentro — Me deseje força, sorte, vida, estou quase em casa — lamentei.

— Você sabe que pode me ligar quando precisar. Me dê um toque e te buscarei de jatinho.

Para não fazer alarde em quão amável ele estava sendo, fiz um comentário banal:

— Você deve estar gastando muito de combustível esses dias.

Por você vale a pena — pude ouvir seu sorrisinho através do som das palavras e sofri mais do que o necessário por isso.

— Tonto. Obrigada — e o carro estacionou na frente de casa. Gemi — Tenho que descer agora. Tchau.

— Me mande uma mensagem para eu saber que sobreviveu. Até mais, Lia.

Lara agradeceu a motorista — motivo pelo qual estávamos mais tranquilas na volta — e pulou para fora. A imitei, mas caí numa armadilha ao pisar na calçada. Seu sorriso atravessou os limites normais para um rosto.

— Era ele, não era? Meu Deus, você precisava ouvir como sua voz ficou melosa e ver como sua fisionomia ficou abobada!

— Ah, do jeito que você fica falando com o Matheus então?

Funcionou, ela fez uma cara feia para mim.

— Não podemos mais falar do seu romance sem você mencionar essa criatura?!

Dei uma risadinha maldosa e só para um efeito dramático lhe dei as costas, caminhando em direção a casa.

— Bem, espero que essa sua estratégia te ajude aí dentro, então — provocou-me.

Surtiu o efeito desejado, paralisei na entrada e ela me ultrapassou. Próxima a porta, virou-se para mim com um sorriso compassivo.

— Venha, Ju, eu te protejo. Mas só mais uma coisinha... — passou a cochichar — Justin te chamou mesmo para dormir na casa dele ou eu entendi errado?!

Suspirei, voltando a andar.

— Matheeeeeeus — cantarolei, girando o trinco da porta. Eu preferia enfrentar meus pais a ter essa conversa.

Cinco minutos depois preferi ter ficado com aquela conversa. E a história se repete.

— Você precisa entender, Júlia, que a pior parte de tudo isso é a mentira — minha mãe disse, enfatizando as palavras com um leve bater da ponta dos dedos na mesa de jantar depois que meu pai já havia feito minha caveira por 'tamanha irresponsabilidade' — Você não precisava mentir. Se quer assumir os riscos de ficar vendo ele, ok por mim, embora eu não goste, mas desaparecer para uma cidade a duas horas daqui com um desconhecido – para nós ele ainda é um desconhecido, sim – e nos deixar saber sobre isso por matéria de fofoca? Você me decepcionou, Júlia.

E apesar do meu pai ter proferido palavras muito mais bruscas e falado de uma forma mais áspera sobre como não gostaria que eu andasse com uma péssima influência como o Justin que já estava me fazendo mentir e estragar a primeira viagem internacional da família, o que ela disse me fez sentir completamente culpada. Nada no mundo poderia ser pior do que decepcionar minha mãe. Ver seus olhos murchos de traição e as linhas de desaprovação nos cantos da boca. Só me restava uma coisa a fazer:

— Essa não foi minha intenção, mãe, me desculpa — murmurei com o rabinho entre as pernas.

Ela esticou o lábio no que não era nem sorriso nem careta como manifestação de reconhecimento. Meu pai continuava com a cara amarrada.

— E amanhã? Depois da sua entrevista você já planeja fazer alguma coisa? — Quis saber.

Eu e Justin tínhamos de fato uma programação preparada, mas nada havia se confirmado para o dia seguinte. Por outro lado, eu queria manter minha agenda livre para ele.

— Não exatamente.

Eles apreenderam minha evasiva e continuaram me encarando por mais respostas. O que mais eu diria? Que estava esperançosa por uma saída com ele? Olhei para a mesa, reparando com atenção o desenho de flores amarelas da toalha.

Minha mãe expirou.

— Tudo bem. O que acha de irmos ao Balboa Park? Aquele em que tem o zoológico. Tem vários museus por lá, de esportes, aviação, artes... — Sugeriu, esforçando-se para usar um tom mais extrovertido.

Eu não estava esperando a pontada incomoda de frustração e tristeza que me tomou pelo convite. Não podia ser boa coisa, aquele era o sentimento exatamente oposto a expectativa que eu tinha de desfrutar todas as aventuras com minha família no exterior. Ponderei que assim devia mesmo ser necessário passar esse tempo com eles.

— Claro — anuí. Minha animação, contudo, não enganou ninguém.

Subi as escadas com a missão de me desculpar com Fani imediatamente e não mentir mais para eles, especialmente enquanto estivéssemos aqui. Meu pai queria incluir uma vedação de que eu visse Justin novamente, mas um olhar meu e da minha mãe avisava que não dava para conciliar esse pedido com o de não mentir, e ele se limitou a acrescentar:

— Eu gostaria muito que você não o visse mais ou conversasse com ele. Se você não estiver pronta para tamanho amadurecimento, ao menos poderia reservar parte desse seu tempo para a família.

Em defesa do Sr. Daniel, ele conseguia ser tão amável quanto rigoroso. Mas seus momentos trevosos conseguiam me tirar do sério.

Depois de um banho demorado, delineei meus próximos passos. De toalha enrolada na cabeça e pijamas largos e longos me sentei na cama. Ligar para Fani estava fora de questão, eu a veria no dia seguinte mesmo, podia guardar essa conversa para depois ou a teríamos duas vezes. Não podia terminar o dia fingindo que nada aconteceu, também, então mandei uma mensagem:

"Oi, Fani. Me desculpa por hoje. Até amanhã <3"

Patético. Aquilo só a faria ferver de raiva. E falando em raiva, havia mesmo vários recados de Isis e Danilo. Alguns dos meus outros amigos também decidiram entrar para a festa. Até os mais distantes como João e Rebeca, colegas de igreja — com quem eu trocava mensagens esporádicas de meses para saber como estavam — me perguntavam a veracidade do "affair".

Caí de costas no colchão com um gemido. 60 conversas só no WhatsApp. Fani se incomodaria muito em respondê-los para mim?

O iMessage notificou um novo recado, muito mais interessante por sinal:

"O suspense está me matando. Vou precisar organizar um velório para você ou não?"

A satisfação, porém, vinha acompanhada do pesar pelas más notícias que o anunciaria. Quando dissesse elas se tornariam mais reais.

"Pode dispensar a funerária. O espancamento foi só o suficiente para eu continuar viva em agonia"

Alguma coisa em ficar o tempo presa nas telas pequenas de celular me dá nos nervos. Isso só não acontecia quando era para falar com ele. Pelo contrário, me deixava secretamente feliz e submersa.

"Preciso me cientificar de que não envolveu agressão física de fato?"

Eu ri sozinha.

"Não. Só destruíram minha dignidade e espírito mesmo".

Rolei de lado para não ficar segurando o celular acima de mim. Certamente eu o derrubaria na minha cara. Da última vez pensei que havia quebrado meu nariz.

"Menos mal, não precisarei fazer uma denúncia. Deixa-me adivinhar, você está proibida de me ver e eu sou uma péssima influência que vai destruir sua reputação?"

Mordi a boca, pensando. Um pouco da verdade não lhe faria mal.

"A primeira parte não é totalmente verdade. Mas, se você tinha planos de me levar ao topo da estátua da liberdade amanhã, pode cancelar".

Nem a brincadeira diminuiu a verdade fúnebre para mim de que não nos veríamos no dia seguinte.

" :( A Torre Eiffel também está fora de cogitação?"

Besta.

"Acho que não importa muito o lugar."

Dessa vez ele demorou mais para responder. Imaginei se não havia se importado tanto com a notícia ou, pior, se regozijara por livrar-se de mim. Ele devia estar pulando em cima da cama naquele momento agitando um champanhe.

"Nem a noite? Bem, eu tinha planejado te levar para a Disney daqui de L.A. Como sua irmã também gosta, havia pensando em convidar ela e Ryan. Essa pode ser nossa programação de sexta, então?"

— Lara! — Gritei, sentando-me. Ela havia me deixado com os tubarões e se isolado no próprio quarto para não descobrirem que sabia do meu plano de desaparecer. Fingira-se de surda, cega e muda, escapulindo do embate quando surgira. Essa era a maior justificativa para estar fora de casa quando cheguei.

Estávamos surpresas com o sucesso em sua empreitada.

O mais rápido que pode, minha irmã correu para pular em minha cama, os olhos castanhos atentos.

— Fofoca?! — Chutou.

— Não. Justin quer saber se eu e você podemos ir com ele e Ryan na Disney de L.A na sexta-feira!

Ela colocou a mão no peito como se temesse que ele pulasse para fora.

— Garota?! Me diz que você já aceitou antes que ele mude de ideia! — Exclamou.

— Você acha que conseguiremos a permissão? E sexta de manhã tenho outra entrevista. Por que Fani arrumou tantas assim? — Queixei-me.

Lara estalou os dedos na minha frente.

— Vamos dar um jeito, responda que sim! — Pelo seu olhar ela já estava quase tomando o celular da minha mão para digitar por mim.

"Também imagino que à noite não. Talvez eles precisem de um dia de folga. Lara aceitou o esquema de sexta, depois da minha entrevista, ainda preciso confirmar a hora"

— Pronto, agoniada. Você está tão doida assim para ver o Ryan de novo?

Ela segurou meus ombros.

— Minha querida, esqueça os homens, é a Disney! É claro que daríamos um jeito de arrastar seus pais para lá antes de ir embora, mas, por via das dúvidas....

Balancei a cabeça em falsa reprovação. O celular vibrou.

— Hm, ele responde rápido — comentou sugestivamente.

Fingi não ouvir.

"E a Julia aceita meu convite? Acho que amanhã será um sacrilégio para ela sobreviver sem mim"

E acertou de novo.

"Aceita. Boatos que você é quem vai mais sofrer de saudades, chorando em posição fetal."

Batuquei os dedos na cama enquanto aguardava.

"Não me envergonho em admitir isso. Até mesmo o Céu refletirá meu humor, sem nenhum raio de sol feliz"

Revirei os olhos. Ele despertava muito essa sensação em mim.

"Não levarei esse comentário como ironia então apenas desejo que consiga dormir em paz apesar de não ter boas perspectivas de sorriso para amanhã."

— Hmm... E eu nunca pensei que dava para ficar de vela perto de alguém que está apenas trocando mensagens. Acho que deu tudo certo então, depois você me passa os detalhes. Vou deixá-los em sua privacidade.

E quando eu levantei a cabeça para rebater, só tive visão de suas costas se afastando.

"Não estou sendo irônico. Já sinto sua falta. Durma bem, Lia. Até sexta."

Caí deitada no colchão de novo. Justin Bieber é o mais habilidoso galanteador de todos os seres humanos na galáxia.

Acabei me deixando levar pela emoção e digitei um texto meio revelador demais:

"Cada segundo sem você vai ser eterno".

APAGA, APAGA, APAGA.

"Eu também sentiria minha falta se fosse você".

Insensível demais?

"Tudo bem. Vou sentir a sua também. Boa noite, Justin. Esperarei ansiosamente até sexta."

Ér... Apaga apenas a última frase. Substituí por "te vejo sexta", e pronto. Ótimo.

Aguardei pelo menos um minuto para me certificar de que ele não mandaria mais nada e, um pouco insatisfeita pelo fim da conversa, além de muito fantasiosa pelo teor dela, levantei-me para pentear o cabelo.

Enquanto as cerdas desembaraçavam meus nós, concluí que mandaria para meus confidentes uma bomba que justificasse minha ausência. Não era só porque eu tinha necessidade de continuar falando sobre ele.

"Eu o beijei. Mais de uma vez."

Não demorou dois segundos para receber uma chamada de vídeo em grupo de Isis e Danilo. E assim não consegui dormir até 2 horas da manhã. Uma contradição entre os surtos exultantes de Isis e os raros momentos de consciência do tipo amor-próprio logo dissipados quando ela se lembrava de tantos anos pelos quais esperei ao menos uma menção dele. E a desaprovação constante de Danilo acentuada por sua dúvida quanto as intenções do meu cantor. Muitos argumentos de todas as partes, justificativas e conselhos. Era quase como ouvir meu diabinho e anjinho debaterem minhas ações.



O silêncio no carro de Fani era fúnebre, nem Lara colaborava em extingui-lo, entretida com seu celular. Ela com certeza fora enviada para me acompanhar de modo a garantir que eu não escapulisse de novo. Se eles soubessem que ela fez parte do meu esquema...

Pigarreei. Já estava na hora de acabar com aquilo.

— Fani, eu sinto muito por ontem, minha intenção nunca foi magoar você. Eu só... bom, eu só quero poder tomar minhas próprias decisões às vezes e não me senti a vontade em compartilhar meus planos com vocês. Sei que desaprovariam.

Lara se afundou mais no banco traseiro e Fani respirou fundo.

— Você não precisava ter mentido, Júlia, isso apenas afeta a confiança que temos em você. Já sabe o que eu penso sobre isso, mas se você quer continuar insistindo no erro, a escolha é sua. Apenas seja sincera com seus pais, pelo menos — disse ela sem tirar os olhos da estrada. A tenção no maxilar já indicava o quanto seria difícil reconquistá-la também.

Olhei para minhas mãos inertes no colo, descontente. Eu não suporto clima de desaprovação quanto a minha pessoa, precisava de uma solução.

— Tudo bem. Hm, hoje vamos ao Balboa Park em família, se você quiser vir conosco... Ou ao menos jantar? Gostaríamos muito da sua companhia.

Ela deu um sorriso duro ainda sem contato visual.

— Vou pensar. Está pronta para as perguntas?

Sua iniciativa de interação mal me servia de consolo, ela poderia estar apenas sendo profissional.

— Nunca estive.

Quase lhe arranquei um sorrisinho.

— Então vamos lá, você precisa esperar ao menos uma pergunta polêmica.

Entrelacei os dedos. Muito animador.

E bem premonitório.

A sala reservada para a entrevista da revista Books and Dreams estava aconchegante, tapetes de camurça e poltronas afofadas reforçava a impressão. Entre mim e a apresentadora Angela uma mesa de centro apoiava duas xícaras de chá e biscoitinhos de leite. Atrás de nós duas, prateleiras cheias de livros compunham o cenário.

Angela parecia amável com seus óculos finos caídos na ponta do nariz afinado. Os olhos grandes e castanhos pareciam enxergar por trás de nossa pele. Com um vestido florido e uma tiara no cabelo liso da altura dos ombros ela parecia uns dez anos mais nova, se as rugas no canto de seus olhos não a denunciassem nos seus 28/29 anos. E ela realmente usou as primeiras palavras de modo muito reconfortante, me fazendo pensar que eu escaparia das polêmicas.

Entretanto, bastou que Fani me entregasse a versão física do livro e eu a mostrasse para as câmeras anunciando com feliz exclusividade a cara de November que as bombas começaram.

— É lindo, Júlia! Realmente também atrai pelos olhos. Você pensou em entregar uma dessas cópias ao Justin Bieber?

O nome dele devia ser o mesmo do verme no meu estômago. Era a única explicação para a perfuração que ali se iniciava toda bendita vez que era citado.

— Ah...

— Nós sabemos que ele está te processando pelo teor da história, mas será que ele realmente leu o conteúdo para saber? — Apertou os olhos, descrente.

Eu podia revelar que ele estava lendo?

— Não é possível que não se comova só pela capa. Mas acho que você está usando de outra estratégia para convencê-lo. Vocês têm sido flagrados juntos ultimamente, não é? — Ela pressionou, erguendo os óculos com a ponta do dedo. Seus olhos agora pareciam dois fuzis mirando em minha direção.

— Bom, nós estamos tentando chegar a um acordo, sim — murmurei.

— Entendo. E tem se divertido muito nessas negociações, não? Por um acaso essa polêmica foi planejada para divulgação do livro?

Troquei um olhar de socorro com Fani, mas ela só franziu a sobrancelha de indignação e balançou a cabeça em negativa.

— Não, eu nunca faria isso — neguei com veemência.

Ela mal se esforçou para fingir acreditar.

— Você sabe que em 2012 ele lançou essa música, Beauty and a Beat e fingiu que estava sendo hackeado...

— Eu sei, sou fã dele há algum tempo — cortei-a, esforçando-me para manter a voz leve.

— Certo. Então está tentando domá-lo com charme? — Supôs, sorrindo compreensivamente — Ou o contrário? Ele está tentando dissuadi-la te dando seu maior sonho, passar um tempo de qualidade com ele?

Pisquei com impaciência. Que espécie de revista de sonhos e livros era aquela que estava tão interessada em fofocas?!

— Suposições erradas, Angela.

— Mas você desistiria se ele te fizesse viver sua própria "fanfic"? — Fez aspas com as mãos — Você sabe, muitas pessoas estão começando a cogitar essas ideias. Você fez o livro só para chamar a atenção dele? — Inclinou-se na minha direção, eloquente como uma cobra.

— Nada do que você está falando está fazendo sentido — rebati, endurecendo o queixo.

— Então você nega que está apaixonada por ele? — Cruzou as pernas, dando sua cartada final.

Tentei manter a expressão impassível, a câmera que gravava o vídeo não perderia nenhum traço que me denunciasse, mas eram muitas emoções para manter sob controle. E Justin havia mesmo me dito que eu coro fácil.

— O livro estará disponível nas livrarias segunda-feira, obrigada pela atenção — forcei um sorriso para ela e outro para a câmera e me levantei, sem disposição alguma em jogar aquele jogo.

Arranquei o microfone idiota da minha blusa e joguei na mão do operador da câmera, e que eles fizessem o que quisessem sobre aquela saída.

Angela tinha sorte por eu não virar livro na sua cara de sonsa.  



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AMADAS!Demorei? Eu acho que sim. Continuamos tentando aos trancos e barrancos. Essa semana está mais doida que o normal, estou com suspeita de Covid. Sem ter aglomerado e sem receber ninguém em casa ka ka ka, só fui trabalhar na quinta feira. Mas enfim, a vida tem dessas. Se eu sumir por muito tempo me garantam que vão levantar faixas com meu nome quando o Justin vier fazer show no Brasil? OISJDOISJDOSIJDSOIJ eu to brincando, não estou mal assim não.VAMOS FOCAR NO FATO QUE HOJE SAI O JUSTICE E PRA COMEMORAR DECIDI LANÇAR A BRABA AQUI.


Espero conseguir voltar logo. Perdão pela demora. Vocês são tudo!Se cuidem! Alcool em gel, sem aglomerar, usem máscara.


Beijinhos da covidada. PS: Esse capítulo só de consequências batendo na porta da nossa protagonista..... A ten ta.

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