Eu não vou pirar

      "Aposto que ele bate punheta todos os dias." — Caroline disse com convicção e uma voz sacana.

      "Ele não deve transar há tempos. Aposto que tem pinto pequeno." — Lyn foi mais além.

      Brooke gargalhou com as vozes. Elas eram suas melhores amigas, contudo, Caroline e Lyn não eram as únicas, existiam milhares. Brooke tinha diversos amigos, pena que estavam só na sua cabeça.

      — O que é tão engraçado, Brooke? — Arthur, o psiquiatra, perguntou do outro lado da sala.

      — Você se masturba, Arthur? — sorriu de lado.

      — Não estamos aqui para falar de mim, muito menos disso. — cortou o assunto.

      — Ele é tímido, meninas. — Brooke gargalhou mais uma vez.

      Caroline e Lyn também riram na sua cabeça.

      — Está conversando com elas de novo?

      — Você por acaso é acéfalo? — bufou — Conversamos o tempo inteiro.

      — Sobre o que conversam? — tentou ir por essa linha da conversa.

      — Sobre tudo, curioso! — abriu mais um sorriso.

      Brooke adorava sorrir, sorrir era como uma arma para ela, que parecia doce e frágil, mas que na verdade escondida uma profunda maldade.

      Impetuosa e escadalosa. Brooke gostava de ser vista, principalmente com seu humor ácido.

      Ela era tudo e nada. Certeza e incerteza. Razão e dúvidas. Sanidade e insanidade. Maioria das vezes a insanidade ganhava.

      — Vocês conversam sobre Zach? — tentou entrar no assunto mais delicado possível.

      Brooke o fitou com raiva, suas feições pareciam as de um felino, soltando até mesmo um leve rosnado para o psiquiatra.

      — Não fale sobre ele! — exigiu.

      — Temos que falar sobre ele, Brooke. — insistiu.

      A loira respirou fundo e fechou os olhos com força. Esforçando-se muito, conseguiria imaginar que estava em outro lugar e não ali, onde tinha que dissecar tudo relacionado a Zach. Brooke definhava cada dia mais.

      — Você sente falta dele?

      "Não responda!" — Caroline advertiu.

      "Ele quer ver você frágil." — Alex apareceu na conversa.

      — Você ainda o ama?

     "Esse psiquiatra é um estúpido." — pôde ouvir Lyn bufar impaciente.

      "Apenas permaneça calada." — Anthony deu o ar da sua aparição.

      — Por que você matou ele?

      "Não responda!"

      "Não responda!"

      "Não responda!"

      Brooke sentiu tudo girar ao seu redor e as vozes continuaram repetindo "não responda" e uma série de xingamentos para Arthur.

      — Por que matou seu namorado?

      "Mate-o."

      As vozes começaram a repetir e Arthur continuou perguntando a mesma questão.

      Brooke ficou farta.

      Pulou da cadeira em que estava sentada e foi direto para Arthur, sufocando-o.

      Ele tentou tirá-la de cima do seu corpo, o que acabou sendo uma tentativa falha.

      "O troféu na mesa, Brooke." — Alex lembrou do troféu de psiquiatria que Brooke já estava farta de ver em todas as sessões.

      Ergueu o braço até a mesa que estava atrás deles e puxou o troféu, desferindo logo um golpe na cabeça de Arthur, que tentava sufocá-la para salvar-se.

      Um golpe.

      Dois golpes.

      Três golpes.

      Sangue respingando.

      Quatro golpes.

      Cinco golpes.

      Seis golpes.

      Muito sangue respingando.

      Sete golpes.

      As mãos dele já estavam jogadas ao lado do corpo.

      Oito golpes.

      Nove golpes.

      Mais e mais sangue.

      Dez golpes.

      Enfermeiros entrando.

      Onze golpes.

      E o término de uma vida.

      Os enfermeiros agarraram Brooke e começaram a arrastá-la para fora da sala.

      — Porque ele me irritou. — finalmente respondeu a pergunta de Arthur, ao tempo em que olhava para o seu corpo sem vida e totalmente ensanguentado.

      "Parabéns!"

      "Você conseguiu, Brooke."

      Sim, ela conseguiu.

      Todavia, conseguiu o que? Ah, tanto faz. Está tudo bem.

      Essa era a doce e frágil Brooke que todos temiam.

      Fechou os olhos e deixou-se ser arrastada para o seu fim.

      Ou o seu começo.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top