Capítulo 22: O Tapa
Shishu Cheng me jurou coisas terríveis com um único olhar, o ignorei.
Algum tempo se passou e o elfo surgiu. Adentrando o salão, deixando atrás de si os portões de madeira de cor negra. O pequeno príncipe caminhou elegante. Sua vestimenta branca de luto deixava sua pele cinzenta mais pálida.
Saudações suaves e perfeitas foram entregues ao Líder da Seita. Sem rodeios, o Shizun Xian falou, deixando a sua voz grave se alargar e ecoar no recinto.
— Senhor Torden, ontem, próximo à meia-noite, onde estava o discípulo Shun?
— Estava comigo num cômodo anexado a muralha, elaborando estratégias defensivas. — não houve hesitação em sua resposta.
— Certo, saía.
Saudação de despedida foi feita, senti quando olhos dourados e elétricos se fixaram em mim. O ignorei, mantendo a atenção no Líder da Seita.
— Situação resolvida: Discípulo Shun é inocente e discípulo Quon será expulso da Seita.
— Isso é um absurdo! Aquele elfo medíocre está mentindo! — guinchou com fúria o Líder da montanha azul (Líder Cheng).
O cenho do Líder da Seita (Mestre Xian) se enegreceu.
— Nunca chame o senhor Torden de forma desonrosa! Ele foi cônjuge da Arcana-Mestre e merece respeito! Não tolerarei uma segunda ofensa, fui claro, Líder Cheng?
Cônjuge. Cônjuge de quem? Minhas sobrancelhas se ergueram em surpresa, levantei a cabeça para encarar Shizun Xian, eu tentava sanar num único olhar todas as perguntas que se formularam em minha mente. Não obstante, me mantive em silêncio e voltei a minha postura de subserviência. Mais uma vez, me senti uma idiota por ter sido insensível com o elfo. Sou um grande idiota! Afinal, o pobre Torden perdeu sua esposa (Arcana-Mestre Eloísa Muriel, aquela que se sacrificou para salvar os magos da Ordem Lírios ao Vento).
— Sim, Mestre Xian. — respondeu um pálido Mestre Cheng.
— Bom, agora se retirem, tenho mais o que fazer.
Antes que saíssemos, as portas se abriram e Irmão Yang adentrou. Seu hanfu azul-água se agitou entorno de seu corpo esbelto, seus cabelos longos presos num coque perfeito e condizente com a sua postura impecável. Ele se curvou na presença do Mestre Xian. Quando ergueu a cabeça, em destaque em sua face bela, havia algo que destoava. Era um curativo branco, muito chamativo na ponte de seu nariz.
— Mestre Xian, assuntos urgentes lhe pedem atenção. — disse Irmão Yang com tranquilidade, sua voz soava nasalada.
O Líder da Seita franziu o cenho em surpresa descrente, não se mexeu, mas exibiu uma ira flamejante em sua íris escura.
— Discípulo Sênior Yang, o que aconteceu com o seu rosto? — indagou, como um pai superprotetor indagaria ao seu filho querido.
— Ah, isso? — ele apontou para a zona com o curativo, olhos se deslocaram para o meu rosto, uma expressão triste se materializou. — O Irmão Shun perdeu a paciência comigo, devido as minhas rogativas desesperadas. Eu só estava preocupado com ele.
Rosto de mármore, rígido e gélido do Shizun se voltou em minha direção, meu sangue quase congelou nas veias.
— Isso procede? — indagou Shizun Xian.
Fiquei imóvel, o sentimento de puro arrependimento fermentou em minha alma, eu não deveria ter batido em Yang. Era tarde demais. Percebi que cavei a minha própria cova, fechei os olhos em entendimento. Demorei um pouco para responder.
— Sim, procede.
Um tapa, minha cabeça girou e o meu corpo foi arremessado contra o assoalho de madeira. Fiquei estarrecido, minha bochecha estava quente e dolorida, ergui a vista, encarei o Líder da Seita com indignação e confusão.
— Nunca mais repita isso contra o futuro Líder da Seita ou será expulso.
Surpresa me sacudiu. "Futuro Líder da Seita". E eu? Nunca fui cogitado para o cargo? Sim, essa era a verdade dolorida a ser enfrentada: um "meio-elfo escória" jamais herdaria tal cargo. Engoli a minha decepção e barrei as lágrimas que teimavam em se formar. Elas não desceriam pelo meu rosto.
Segunda verdade, Shizun Xian me enganou. Eu me agarrei na ideia que podia ser o Líder da Seita, era só aguentar. Bastava aguentar cada humilhação, cada fofoca, cada expressão de nojo. Se eu perseverasse, eu conseguiria. Mas as coisas nem sempre são simples assim. Quando ele me chutou da Seita, foi que entendi que era apenas um obstáculo a ser superado para que o herói brilhasse no fim. Comentou Shun original na minha mente, eu abaixei a cabeça em resposta.
— Sim, Mestre Xian. — gaguejei com o sangue frio e os lábios trêmulos.
O Líder da Seita virou as costas. E naquele momento, entendi que não importava o que eu fizesse, sempre seria o vilão da história.
Andei sem rumo definido pelo caminho que levava a saída da montanha amarela, meus pés me conduzia a frente e meus pensamentos se afogueavam. Eu nunca seria cogitado como sucessor do Líder da Seita, nunca seria respeitado por ninguém, todos me odiariam, apontariam os dedos. Eu seria para sempre o "meio-elfo escória".
Tropecei na caminhada, joelhos contra o chão. Fechei os olhos, herói ou vilão, o que fazemos é o que determina nosso status, mas não é assim quando todo mundo já presume o quão mal você é. Nesses casos, as coisas se complicavam e se tornavam impossíveis de contornar. Percebi o quão tolo fui por acreditar que poderia conduzir as coisas de forma diferente. Como eu efetuaria isso se todos não me dariam uma segunda chance? Quando já presumiam meus erros? Quando já esperavam a minha queda? Não há mudança que eu realize que altere o pensamento deles.
Abri os olhos. Uma certeza me bateu: Se eu ficasse, eu morreria. Plano de fuga, ativar! Me ergui do chão, enxugando as lágrimas e corri para o meu quarto. Abri a porta de madeira, a deslizando para a lateral. Torden estava sentado na minha cama, seu olhar se ergueu para o meu rosto e ele falou:
— Não pode fugir.
Fiquei chocado com sua alegação, como ele sabia? Fiquei boquiaberto.
— Não pode fugir. — ele reafirmou, se ergueu do colchão. — Não agora.
Gargalhei como um doido e corri para o guarda-roupa. Juntei minhas vestimentas. Eu tinha dinheiro escondido, uma Seita abandonada num terreno no Continente Congelado (onde jamais me encontrariam!). Fugir nunca pareceu tão inteligente como agora.
— Ah, eu vou sim. — repliquei cegamente decidido — Eu vou para bem longe do Irmão Yang, do Shizun Xian e todo esse povo tóxico e vou viver a minha vida em paz.
— Que vida? Como poderá viver se o mundo não existir? — o elfo estava de pé atrás de mim, um puxão seu e o meu corpo se virou em sua direção.
Meu olhar se encontrou com o seu, seriedade nublou suas íris douradas, as quais tomaram um tom cinzento como nuvens de tempestade que se aglomeram no céu. O ar faltou em meus pulmões, a beleza dele se equiparou ao esplendor de uma tormenta trovejante, era belo, perigoso e amedrontador, tudo em simultâneo.
— O que disse? — inqueri num fio de voz.
— Você quer saber o que é uma Jade Obscura? Quer saber por que os bruxos a querem? E que peça a Seita guarda?
O encarei, minha vestimenta escapou das minhas mãos...
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