Capítulo 19: Mundo Paralelo
Os raios de sol cintilou na superfície do rio, cujas águas sacolejou e encheu o ambiente com seus sons. O salgueiro torto reclamou com as brisas, rangendo baixinho. Protegi a visão do sol e encarei o céu azulado, seria um dia bem quente pela frente. Suspirei, no mesmo tempo que Irmã Yue se lançou no banco ao meu lado findando meu momento silencioso e meditativo, ela não esperou que eu a saudasse com um "Bom dia", mas começou a falar numa sucessão rápida e direta como tiros.
— Um mundo paralelo! Não tem como ser outra coisa! Não tem!
— Ah, isso de novo? — mal falei e a garota me deu um tapa nas costas, com força o suficiente para arrancar um palavrão da minha boca.
— Como eu dizia. — ela ignorou minha expressão de dor e continuou falando. — Claro, que ainda não sei exatamente quão paralelo o é. Quer dizer, podemos está numa dimensão do próprio planeta Terra ou até mesmo em outro mundo da galáxia! Tipo em outro sistema solar! Por hora são tudo ideias, porém é possível. Certo?
— Bem, por que não? A impossibilidade depende dos olhos de quem ver. — dei de ombros e depois, uma careta de dor pintou minhas feições, como ela podia dar um tapa tão dolorido? Voltei a alisar as minhas costas.
— Nossa, filosofou agora.
— Desculpe, sou um Platão da vida! — repliquei com a mão espalmada no peito.
Yue gargalhou e quase caiu do banco de madeira. Voltou a se equilibrar e deu algumas tossezinhas.
— Agora só falta saber como, raios, fomos trazidos para cá. — ela coçou o queixo, contemplativa. — Deve ter uma razão. Morremos no mesmo dia e mês (13 de Outubro), com 20 anos de diferença (Guilherme morreu em 2017 e Alberta em 2037). Eu escrevi um livro que fala sobre esse mundo e você...
— Sou um estudante universitário sem um tostão furado no bolso. — eu falei completando a lacuna.
— Fazia que curso?
— Medicina, estava no terceiro período.
— Uma escritora e um estudante. Por que nós dois? Qual foi a hora da sua morte?
— Perto das 8h da manhã.
— A minha também. Agora são três coincidências. — ela coçou o queixo pensativa e até eu comecei a ficar mais alerta. Eram similaridades demais.
O que mais havia acontecido naquele dia? Subitamente, lembrei da notícia que tomou a tv, rádio e internet, era sobre um asteroide (Beta-Kappa-Auris) que passaria próximo à terra em sua jornada impressionante e totalmente visível, mesmo durante o dia. Não era assim tão fantástico, já que passou todo o ano e não era nenhuma "super" novidade, mas pensando agora...
— O asteroide? — falei ao mesmo tempo que Alberta.
— Porr*! — ela exclamou. — Dia 13 era uma sexta em 2037!
— Também era uma sexta em 2017!
— Então de alguma forma, aquele asteroide abriu uma fissura interdimensional entre nosso mundo e esse! Como nós dois morremos, nossas almas foram arrastadas até dois corpos recém desocupados e puf! Transmigramos!
Acenei com a cabeça em confirmação, fazia sentido.
— Mas eu vim antes, exatamente 20 anos. — comentei, cruzando as pernas.
— Então você veio para esse mundo e... Reencarnou? Talvez suas memórias tenham ficado esquecidas, mas algo as ativou. Contudo, por que ativou? Por quê? E pra quê?
Podia ser, realmente, podia ser. Entretanto, eu não queria pensar muito mais naquele assunto. Me estiquei no assento, me senti um pouco preguiçoso, mas ainda tinha aula para dar logo mais. Eu ia infernizar, quer dizer, ensinar alguns discípulos, depois verificar o treinamento da minha guarda e a lista de afazeres só continuava, quase infinita.
Com tudo isso, eu ainda cogitava a hipótese de investir na técnica Zhao Min, que fazia "Vínculo Mental". Contudo, esses eram tão frágeis de se manter e tinham curta distância de ação. Entretanto, se eu reforçasse os elos com magia de fada? Eita, que isso podia dar certo e seria como se todo mundo tivesse um rádio para comunicação! O que seria bem eficiente.
— Uma perguntinha. — comecei, atraindo o foco de Alberta.
— Oi? — sobrancelhas erguidas em desconfiança.
— Considerando que intuíste sobre esse mundo, acha que tudo que escreveu pode acontecer aqui? — perguntei, mordendo o topo do meu dedão.
— Não sei, a que se refere exatamente? — indagou com cuidado impresso na voz.
— Sabe a magia de fada, com o cristal do vento. Você acredita que é realizável? — meus olhos a perscrutavam em ansiedade crescente. Minha vida dependia dessa resposta.
— Possivelmente sim, julgo que só o teste poderia de fato excluir ou não tal hipótese.
Concordei com um aceno de cabeça. Se havia uma possibilidade, havia esperança.
— O que está acontecendo, afinal de contas? — ela perguntou erguendo as sobrancelhas, curiosidade colorindo seu rostinho de porcelana.
— Eu lá sei! Os magos chegaram daquela Ordem dos Lírios ao Vento, se não me engano é esse o nome, tiveram o castelo incendiado e depois Shizun Xian disse para montar uma guarda do portão e foi isso. — eu contei tudo, que se dane. Alberta era a minha única amiga na Seita e era outra transmigrada como eu.
— Estranho... Porém, o mais estranho, foi o número de gente tresloucada que eu me esbarrei. Houve uma das minhas Irmãs juniores, Liu Huan, que começou a gritar com uma parede! Uma parede, chiliquento! A porr* de uma parede! Parecia imersa numa alucinação, ela parecia tão assustada... Os gritos dela ainda ecoam na minha cabeça. — Yue apoiou o queixo na mão, parecia triste e nas bordas de suas íris escuras, eu vi um pouco de medo. — Droga! Eu nunca fiquei tão malditamente nervosa como estou agora! Céus, meus nervos estão a flor da pele, às vezes eu acho que tem alguém me observando... Mas deve ser impressão minha. Droga! Essa Seita parece a porr* de um lugar mal-assombrado, nunca me senti tão aliviada por ser escolhida para ir nessa Reunião. Juro.
Dei palmadinhas nas costas da jovem vestida num hanfu de coloração lavanda, ela tinha a carinha pálida e um ar cansado, como se estivesse dormindo mal ultimamente. Alguém a observando? Até eu sinto isso por vezes... Algo vil e cruel, lançando olhares cortantes e fixos às suas costas, como facas se cravando em seu dorso. Estava sentido isso agora, me virei, analisei o entorno, não havia ninguém ali. Como das outras vezes. Será que estou enlouquecendo? Será que a peça que se unia a Jade Obscura estava fazendo isso comigo? Mas por quê? Qual o sentido dos bruxos virem buscar tal peça? Só perguntas circulavam a minha cabeça, eu suspirei.
— Quando você vai para a Reunião das Seitas? — inqueri, numa óbvia intenção de mudar de assunto.
Ela deu um suspiro, quase agradecido e respondeu:
— Amanhã logo cedo, dizem que são 15 dias de viagem e mais cinco meses em Meritus. Tradução, a gente só vai se rever no próximo ano. — seu rosto foi tingindo nas cores da tristeza, que logo foi substituído por um sorriso. — Quando eu voltar, esfregarei nessa sua cara feia a minha faixa da vitória.
— Ah, claro! Voltará como a maior cultivadora do mundo e se tornar a nova protagonista!
— Falando em protagonista, eu também vi umas cenas esquisitas com Irmão Yang. — ela olhava para nenhum ponto em específico, parecia imersa em seus pensamentos.
— Que cenas?
— Ele estava conversando com alguns juniores e os garotos pareciam com medo... Sabe aqueles olhinhos horrorizados de criança? Então, havia um monte deles e houve alguns que até choraram! Foi bizarro, juro.
— Vai ver estava dando uma bronca nos pestinhas. — dei de ombros.
— Pode ser, mas tem algo errado com Irmão Yang. Não sei dizer exatamente o quê. De qualquer forma, tome cuidado com ele enquanto eu estiver fora. — ela me avisou com um tom de voz preocupada, quase parecendo gente que presta. Fiquei tocado e dei batidinhas carinhosas em seu ombro.
— Sim, chefona monstrinha.
— Vai me enviar cartas? — indagou esperançosa, ela já desistira de reclamar do apelido.
Cruzei os braços e elaborei uma careta instantaneamente.
— Não sou bom escrevendo. — fui sincero.
A única carta que escrevi foi aos 12 anos numa tentativa desesperada de ser notado pela crush, o que deu errado. Talvez fosse como escrevi ou como a entreguei. É talvez gritar "Eu te amo", no meio do pátio do colégio não tenha sido o melhor.
— QUERO cartas. Não é uma opção não enviar. Fui clara? — ela me cutucava doloridamente, a afastei com um empurrão.
— Ok. — falei revirando os olhos. — Mas não reclame depois!
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