Capítulo 18: Bruxos

Os raios solares ficou a pino em algum momento entre a corrida e o treino com a espada, as posições e bases eram repetidas (ao exaustão). Pela tarde, me ausentei do treinamento e me fechei com Torden na casa da guarda, onde analisamos por horas os mapas da Seita, apontando possíveis regiões mais perigosas e destacando os locais que teriam vigília.

Logo, só escuridão e o brilho prateado de uma lua minguante adentrou pela janela quadrada e minúscula. As luzes das lamparinas de papel iluminavam o pequeno quarto e afastou um pouco as trevas.

Ao meu lado, o elfo Torden estava sentado e pareceu anotar algo, como o fizera durante todo o momento ao longo de nossa discussão.

- Quantos magos, exatamente, vão nos ajudar? - indaguei ao elfo concentrado em sua escrita com sua caneta-tinteiro.

- Se a Seita permitir, todos os trinta que vieram comigo. - comentou o elfo. - Mas isso ainda depende do Mago-Ancião da Ordem e do seu Líder conversarem, dependendo do que acontecer, Sênior Shun terá ajuda ou não.

Torden comentou em perfeito chinês, eu sabia que o continente Àbrioh tinha dois idiomas como os principais, que eram o chinês e o gaelicíco, variava a predominância da língua de lugar para lugar, mas grande parte das pessoas era bilíngue. Apoiei uma mão no queixo e suspirei.

- Espero que possamos cooperar ou não conseguirei concretizar muita coisa... Aliás, você sabe quem está atrás da Jade Obscura e agora da 'peça' que a Seita tem? - minha curiosidade era maior que minha irritação com a presença do elfo, a quem eu ainda não suportava.

O elfo, com um halo branco devido às movimentações de seus fios perolados, pousou o caderno de couro na superfície da mesa lisa e polida, em seguida repousou a caneta-tinteiro dentro de uma caixa retangular com um veludo negro cobrindo o interior, fechou-o e me lançou um olhar meditativo. Cada movimento foi tão fluido e suave que acabei com a boca entreaberta. Como podia? Como ele conseguia ser tão leve em cada ação? Mas que diabos!!!

- Bruxos. - respondeu por fim.

Ergui as sobrancelhas, surpreso.

- Bruxos? Julguei que eles tivessem sido caçados e mortos há muito tempo... - naquele mundo também teve uma grande caçada e queima de bruxos, só que em vez de mulheres incendiadas, foram homens acusados de manobrar a mais impura das magias.

Havia as histórias, muitas, na verdade, que li nos livros da biblioteca que citavam tais bruxos, conspurcados em negrume e caos, eles queriam viver eternamente e faziam coisas escabrosas para isso. Sugavam o sangue das pessoas, aprisionavam espíritos, invocavam demônios e muitos comiam carne humana no almoço. Um arrepio percorreu a minha espinha. E também diziam que eles ressuscitavam pessoas e coisas, que permaneciam com a marca da sua corrupção.

Fui arrancando de minha contemplação por Torden que se mexeu no banco, as distâncias entre nossos corpos era tênue, o calor da sua perna exalava em direção à minha, mais um pouco e nos tocaríamos. Escorreguei para longe, sua proximidade gerava coceiras no meu coração... Engoli em seco. Que coceira? Ele me irritava só isso!

- De alguma forma eles sobreviveram. Talvez se infiltrando nas Ordens do Magos ou nas Seitas de Cultivação. Impossível saber com certeza. - ele deu de ombros.

- Mas afinal, qual a magia dos... - comecei a perguntar e Torden me interrompeu, seus olhos como duas lâmpadas amareladas.

- Necromancia e outros estudos em busca da longevidade. O medo da morte pode fazer coisas estranhas aos homens.

Acenei com a cabeça concordando com a frase dele, então o que os livros diziam era verdade?! Meu olhar caiu na mesa, onde alguns documentos estavam espalhados numa bagunça. Suspirei, me ergui e enrolei o mapa em couro, dobrei alguns papéis e só naquele momento, percebi que os olhos faiscantes do pequeno príncipe (sim, pequeno príncipe! A culpa não é minha se ele se parece com àquele menino daquela história) estavam grudados em mim, nossos olhares se encontraram e de repente fiquei nervoso. Ele pareceu pensativo, soltou um suspiro pesado. Depois se colocou a reunir outros papéis e os entregou para mim com aquela suavidade irritante, estalei a língua, juntei as papeladas e coloquei debaixo do braço.

- Conhece o caminho para as tendas?

Sim, os Magos não foram aceitos nos pavilhões ou nos quartos vazios da Seita, em vez disso, tendas foram armadas na encosta do pico azul. Portanto, ficava ainda mais claro o fato que cultivadores e magos não se dão muito bem. Por quê? Disputas de poder que empurravam o Rei de um lado para o outro, sem nunca poder escolher lados ou poderia haver uma guerra. Todo o continente tinha medo que um dia isso acontecesse, pois, sabiam que com as forças dos cultivadores e dos magos, o território seria destruído.

A guerra seria o fim para Àbrioh e seu povo.

- Não sou bom em localização. - alegou num fio de voz, ele encarava o chão em acanhamento.

Soltei o ar, meio contrafeito e emburrado.

- Entendo, eu o acompanharei. - peguei e acendi a minha lanterna. Com o interior cintilando e levando outra quantidade de óleo preso ao cinto me conduzi até a porta. Saí com Torden me seguindo, silencioso.

Do lado de fora, os quatro construtores ainda praticavam com as espadas, sendo que há muito o treinamento acabou. Parei. Talvez eu realmente não estivesse errado sobre eles.

Um suave sorriso me tingiu o rosto. Passei por eles.

- Boa noite!

- Boa noite, Shizun e Torden! - responderam enquanto giravam suas espadas e movimentavam o qi.

Passos lentos, a noite ia alta, o céu escuro com seus pontinhos luminares pareciam olhar para o chão com interesse. Escutei o farfalhar dos galhos dos pinheiros e o silvo do vento, grilos cricrilavam ao longe e sapos coaxavam, deviam estar na beira do Rio Duas Cores que descia da montanha azul.

Saímos do caminho de terra e chegamos na estrada principal, com seus degraus se iluminando com os raios lunares. Eu levava a lanterna estendida um pouco a frente do corpo para divisar o véu noturno. Descemos os degraus e depois pegamos outro caminho lateral com pedrinhas redondas, era a rota para o Rio, onde muitos discípulos gostavam de ir se banhar nos dias de calor.

Não muito longe o brilho bruxuleante de fogueira era observado à diante, Torden se afastou e se curvou um pouco, em sinal de respeito e gratidão.

- Obrigado por me trazer.

- Tenha um bom descanso. - respondi num tom seco.

Me virei para ir embora, mas a sua voz me fez hesitar.

- Eu o protegerei dessa vez.

De costas, dei uma olhadela para trás e o elfo já havia sumido por entre os arbustos. Cocei a cabeça, incerto, se eu ouvi aquilo ou foi só imaginação.

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