I
Lena observava todo salão levemente entediada, enquanto bebia uma limonada. Estava um calor bastante inconveniente naquela noite, e tudo piorava com tantas pessoas reunidas em um salão. Sua mãe vinha insistindo naqueles eventos que ocorriam no verão para que pudesse arranjar um marido adequado para ela, sendo que já tinha deixado determinante claro que não acharia um marido naqueles bailes. Seu pai não se intrometia nesses assuntos, seu irmão muito menos, então tinha que se defender sozinha das garras da condessa. Por sorte, ela não estava desesperada ao ponto de casá-la com qualquer um.
— Quanto mais fico aqui, mais eu desejo minha cama. — resmungou. — Se ao menos eu pudesse fugir para a biblioteca e ficar lendo...
— Posso levá-la, senhorita.
Levou um susto quando olhou para o lado e encontrou Matthew McCartney também bebendo uma limonada. Ele era o futuro duque de Kent, filho dos anfitriões daquele baile. Era conhecido por ser um homem reservado, não dialogava com quase ninguém, e era o partido mais cobiçado de toda a temporada. Todos queriam ele, menos ela. Lena sentia medo daqueles olhos esverdeados, pareciam duros como duas esmeraldas.
— Fico agradecida, mas não precisa se preocupar comigo, milorde.
— A senhorita parece tão entediada quanto eu.
Aquilo a pegou de surpresa. Por que ele estava conversando com ela? Penélope Potter era bem mais bonita e declarava aos quatro ventos que iria se casar com o futuro duque de Kent. E diziam que quando ambos nasceram, os pais deles selaram um acordo de casamento. Mas nunca nada foi confirmado.
— Estou acostumada, mas eu gosto de reclamar.
Lena vislumbrou um pequeno sorriso surgir no rosto dele, mas logo se desfez.
— Compreendo. Normalmente eu não estaria em um baile como esse, vim porque minha mãe é extremamente dramática. Shakespeare ficaria com inveja da carta que ela me mandou.
Dessa vez, Lena que não conseguiu se conter, e deu uma leve risada.
— Minha mãe possui a mesma característica dramática, e sempre diz que quando eu tiver um filho, vou entender todas as preocupações dela.
— Devo ter ouvido isso mais vezes do que gostaria. — Matthew bebericou a limonada, mas dessa vez deu um sorriso. — Sinto que compartilhamos as mesmas importunações.
Sentiu vontade de respondê-lo ironicamente, porque jamais eles estariam no mesmo patamar de importunações. Mas, segurou sua língua na boca e apenas assentiu com a cabeça. De qualquer forma, não queria criar um clima ruim com ele. De todas as pessoas que estavam presentes naquele baile, Matthew era o único com uma conversa diferente de casamentos, vestidos e homens.
— Posso ser muito sincero?
— Sim, senhor.
— É a única mulher interessante daqui.
Ambos se olharam no mesmo instante.
Lena achava que tinha ouvido errado, mas ele parecia bastante sincero. O jeito que a olhava, como se quisesse desvendar sua alma, conhecer seus segredos. Sentiu um leve arrepio e sentiu seu rosto ficar quente.
— Malmente me conhece, senhor.
Ele deu de ombros.
— Raramente erro minhas impressões sobre alguém, senhorita.
— E o que faz pensar que sou a única mulher interessante daqui?
— Quando ouvi a senhorita dizendo que queria fugir para a biblioteca, soube no mesmo instante.
— Uma espécie rara? — perguntou ironicamente.
— Talvez.
Lena avistou Penélope vindo com a mãe em direção a eles. Tentou sair para evitar qualquer diálogo com aquelas duas mulheres, mas sentiu a mão dele na altura do seu cotovelo e um pedido para que ficasse subtendido em seus olhos. Por alguma razão, sentiu borboletas em seu estômago.
— Matthew querido! — a voz estridente de Sarah Potter poderia ser ouvida a quilômetros de distância. — Estava se escondendo esse tempo todo? Porque procurei tanto por você!
Você? Lena ficou impressionada com tamanha intimidade.
— Não gostaria de ser encontrado, Vossa Graça.
Se estivesse comendo alguma coisa, certamente teria engasgado.
A duquesa ficou vermelha.
— Bom... Trouxe minha filha para que pudessem desfrutar da próxima valsa.
— Infelizmente terei que deixar para depois, Srta. Clarke reservou essa dança para mim.
Olhou para ele incrédula.
— Vamos, senhorita? — ofereceu seu braço.
— S-sim. — gaguejou.
Sentiu os olhos irados de Penélope sobre ela.
Matthew a guiou para um lugar mais reservado do salão, para que pudessem dançar aquela valsa que não tinha sido planejada. Lena estava se perguntando como estava se deixando ser dominada por ele tão rápido. Jamais imaginou poder ajudá-lo, na verdade, nunca imaginou trocar mais do que duas palavras com ele. Mas a vida era engraçada, ali estava colocando sua mão no ombro dele, enquanto a dele pousava em sua cintura.
Seus olhos se encontraram e foi como se alguma coisa tivesse mudado naquele momento. Os acordes dos violinos preencheram o local com uma música suave, fazendo os casais darem seus primeiros passos, mas eles permaneceram parados.
— Podemos deixar essa valsa, sei que apenas queria fugir delas.
— Perdão, quero muito dançar com a senhorita. Apenas fiquei um pouco distraído. Também a coloquei em uma situação sem sua permissão, peço desculpa.
— Entendo perfeitamente, não consigo manter dois minutos de conversa com elas.
Ele deu um sorriso largo, muito bonito.
— Mais uma prova que é a única mulher interessante daqui.
Lena não pôde deixar de ficar ruborizada mais uma vez com aquele elogio vindo dele.
Ele começou os movimentos, guiando cada passo com graciosidade. Ainda achava uma dança muito intimidante, devido sua proximidade. Mas estava começando a gostar daquela dança pela primeira vez em sua vida. Seria uma boa lembrança para escrever em seu diário quando chegasse em casa. Também iria fofocar com sua criada, Melanie, sobre aquela novidade espantosa.
Nunca pensou em si mesma como alguém interessante, como ele tinha afirmado. Na verdade, ao longo da vida, vinha se descobrindo apenas uma pessoa tolerável. Quando Lena debutou, foi um completo fracasso. Lembrava muito bem o desespero da mãe com aquela situação, porque mesmo sendo filha de um conde e tendo um bom dote, não parecia ser um bom atrativo. Seu corpo não seguia o padrão das moças da sociedade, falava demais o que não deveria, espantava a maioria dos homens com sua inteligência – e achava eles detestáveis também.
Seria muito precipitado achar que Matthew era um bom homem. A única certeza que tinha sobre ele, era seu bom humor e sagacidade para tentar sair de algum problema. Tinha muita coisa para ainda ser descoberta. Mas Lena sabia que depois daquela noite, provavelmente não teriam mais contato. Era um momento único, e por alguma razão ela foi escolhida para vivê-lo.
— Uma libra por seus pensamentos.
— Não vale muito a pena.
Matthew meneou a cabeça.
— Aposto que são pensamentos interessantes.
— Nem sempre, às vezes penso muitas bobagens.
— Ah, bobagens são necessárias em nossa vida, porque seriedade demais não é bom.
— Concordo.
A valsa terminou e eles se cumprimentaram.
— Srta. Clarke, obrigado por essa noite e essa dança. — beijou-lhe o dorso da mão. — Espero revê-la em breve.
Lena fez uma mesura.
Observou ele se distanciar e sumir por uma porta.
Seu coração estava disparado e sua mente agitada.
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