EPÍLOGO

      O faroleiro Fradinho, olhava para o mar naquela noite estrelada, imaginando o quão belo era toda aquela paisagem. Baixou a cabeça na direção do seu amigo felino, que sentado ao seu lado, esperava pacientemente.

— Parece um manto negro cravejado de diamantes, não é Klaus?

Recebeu um miado curto e baixo.

Os dois ficaram algum tempo, observando as ondas suaves, indo e vindo beijar a areia.

Tudo estava muito calmo naquela noite e ele estava esperando os dois chegarem. O faroleiro tinha todo o tempo do mundo para receber os recém chegados e aquele casal, lhe eram queridos.

— Ela deve chegar com sua alma gêmea daqui a pouco tempo, amigo. Não vai demorar, está bem?

O homem sentiu uma leve brisa sacudir seu casacão e remexer seus cachos. Estava chegando a hora. Ele sabia.

— Eles estão chegando...

O farol, que girava em um mudo movimento constante e imperturbável, parou num ponto escuro do mar, chamando a atenção do homem. Ele tirou do bolso uma luneta de madrepérola e seguiu o facho luminoso.
Sentia em seu âmago que eles estavam próximos. Outros, antes deles vieram assim e muitos outros, também viriam da mesma forma.

Sorriu.

A chegada sempre era um momento especial. E naquele caso em particular, sua felicidade era ainda maior, pois sabia o quanto a jovem Liandra esperou por aquele momento.
O dia em que iria atravessar o caminho ao lado de sua alma gêmea.

Percebeu com sua delicada luneta o borbulhar nas águas plácidas do oceano infinito, que separavam as duas dimensões. Sabia que não iria demorar para a chegada deles. Guardou de volta no bolso, fazendo um sinal para o gato segui-lo.

Com passos calmos, foi em direção a sua pequena residência, se dirigindo até a escada caracol, que o levaria até o farol. Não tinha pressa alguma, já que tudo ali funcionava no seu tempo perfeito, portanto tinha conhecimento de quando deveria agir. Abriu o compartimento e alimentou o mecanismo do farol gigantesco, com óleo, fechando-o novamente.

Debruçou-se sobre o parapeito, para admirar o luar, antes de descer. A lua deixava o mar em tons prateados, arrancando suspiros dele, apesar de estar ali, por um longo tempo.

— Vamos descer e dar as boas-vindas?

O felino saltou do parapeito para o chão, seguindo a frente do homem, fazendo a descida graciosamente como todo o felino.

O faroleiro riu baixinho ao ver seu gato tomando a dianteira, descendo rapidamente os degraus.

— Ei! Tome cuidado, garoto! — Se dirigiu ao gato.

Assim que ganhou a praia, ficou à espera do casal, para dar as boas-vindas e mostrar o que precisavam fazer para atravessar a ponte de luz.

Não demorou muito, duas penumbras começaram a surgir entre as ondas. E, aos poucos, um casal de adolescentes surgiu de mãos dadas, sorrindo. Ela, no seu vestido longo de rendas azuis e ele vestia um terno marrom escuro, com pulôver xadrez e com pregas elegantes na cintura.

Vinham com um sorriso que iluminava tudo ao redor. Dava para sentir aquela felicidade tão esperada por eles.

Enfim, se reencontraram.

— Sejam bem-vindos, meus queridos amigos! Estou profundamente feliz em vê-los e agora para viverem juntos!

Balthazar, agora com seus dezessete anos, ainda não compreendia onde estava, mas estando ao lado da amada, não importava para ele.

— Faroleiro Fradinho! Como é bom vê-lo novamente! — Lili sorriu, indo até ele, para abraçá-lo. — Obrigada.

Ele sorriu de volta.

Assim que ela voltou a dar a mão para o amado, o faroleiro tocou de leve no ombro do rapaz.

— É chegada a hora, Balthazar.

Ele apontou para o céu cintilante e, como mágica, foi se formando um redemoinho de nuvens, num balé suave. No centro o céu era tão claro como em uma manhã primaveril, jorrando sua luz cristalina.

— Que espetáculo... — Sussurrou, Balthazar.

E neste momento, o farol fez a sua parte. Parou em direção às águas, iluminando uma ponte que ia do mar até este portal iluminado no centro das nuvens.

— Façam uma boa travessia, meus amigos. — Sorriu.

Balthazar olhou para Lili, com lágrimas nos olhos. Se aproximou dela, depositando um delicado beijo em sua testa.

Foram se afastando do bom homem, que acenava para o casal, enquanto eles iam subindo uma ponte rutilada até o portal.

No momento que o casal passou a luminosidade, o redemoinho foi se fechando lentamente e tudo na ilha voltou ao normal. O farol girando, as ondas, a brisa marinha, o cintilar das estrelas, o som da vida.

— Agora eles irão viver por toda a eternidade um do lado do outro, Klaus. Cada um já havia cumprido com sua missão e depois de tantas vidas, conseguiram se reencontrar e nós dois, conseguimos ajudá-los. — Sorriu. — Vamos entrar?

O homem solitário girou nos calcanhares, sendo seguido pelo seu fiel companheiro, satisfeito de ter cumprido com sua missão, mais uma vez e aguardando para as próximas almas gêmeas que viriam até ele.

(817 palavras)

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