The first contact

"Cara Rizze Valentine, você é acusada de planejar a morte de seus pais. Por ser menor de idade, não poderei mandá-la para a penitenciária estadual, devido a isso, será condenada há dois anos no Reformatório Municipal para Crianças Problemáticas. E deverá haver um acompanhamento com um psicólogo, após o fim da pena, semanalmente."

Acordei ofegante ao ouvir o som do martelo em minha mente. Minha respiração continuava irregular e o lençol debaixo de mim, forrando minha cama, agora está banhado de suor.

Assim que minha respiração voltou ao normal, deixei-me chorar. Eu revivia a condenação a cada minuto. O som de repulsa na voz da juíza a me condenar, o som dos suspiros aliviados dos meus parentes, ao ver-me sendo sentenciada, e o toque das mãos dos agentes em mim, sempre causava arrepios em meu corpo.

Eu sentia imensa falta dos meus pais. Eu jamais os machucaria. Eu tinha apenas 14 anos. Não seria possível que eu tivesse planejado tudo. Não havia motivos para me acusarem, mas o fizeram. E eu perdi dois anos e cinco meses da minha adolescência em um lugar, onde fui machucada tanto psicologicamente quanto fisicamente. Eu literalmente, me desenvolvi em um lugar onde tive que aprender a ser forte e a não demonstrar minhas fraquezas.

Eu já estava de saco cheio disso. Não aguentava mais viver com aquilo em mim. Só que seria eterno. Aquilo perdurará em meu subconsciente, para o resto da minha vida. Todo o sofrimento ao descobrir que meus pais estavam mortos, os sentimentos de ódio que eu recebia de meus familiares e a dor física causada pelos meus "colegas" de reformatório, ficará gravada em minha mente.

O despertador ao lado de minha cama toca, avisando que, já está na hora de levantar para ir à escola. Escola. Outro lugar onde todos me julgam. Onde todos me olham como se eu fosse um monstro. Como se eu me importasse agora - no início aquilo me doía muito, mas não mais. É melhor ser temida do que amada.

Levantei da cama e senti o chão de madeira frio, contra meus pés. Estremeci e procurei por um sapato. Peguei as pantufas que estavam debaixo da cômoda e fui para o banheiro. Escovei os dentes, lavei o rosto e enquanto o secava me observei no espelho. Eu costumava ser bonita. Mas devido a outros fatores, eu mudei completamente.

Meu cabelo antes era castanho escuro e curto, na altura dos ombros. As bochechas eram rosadas e sempre mantinha um grande sorriso perfeito no rosto. Hoje, meu cabelo está completamente loiro e bem abaixo da cintura, o rubor nas bochechas já não existe mais, e muito menos o sorriso.

Respirei fundo e soltei em um longo suspiro, enquanto prendia meu cabelo em um rabo de cavalo e fui até meu guarda-roupa. Vesti uma calça jeans preta, uma t-shirt da mesma cor e uma jaqueta de couro. Calcei meus All-star, peguei minha mochila, meu celular e sai de casa.

A casa em que nasci, onde todas as minhas memórias estavam, foi consumida completamente pelo fogo. Não sobrou, absolutamente, nada. Quando saí do Reformatório, não havia ninguém me esperando do lado de fora, apenas minha advogada – que alias, foi oferecida a mim pelo estado, e que mesmo sem me conhecer, tentou de tudo para que eu não fosse sentenciada. O máximo que ela conseguiu, foi a redução da minha 'pena'. – esta, disse que meus pais haviam deixado uma grande herança, e que mesmo eu tendo sido acusada, o dinheiro pertencia totalmente, a mim.

Fiquei sabendo, também por meio dela, que alguns 'parentes' que nem sequer foram ao "velório" de meus pais, quiseram uma parte dessa herança, mas, a Dra. Melanie Mitchel, conseguiu que todo o dinheiro fosse direcionado, a mim, assim que fosse liberada. E foi graças ao dinheiro que meus pais deixaram que pude dar entrada ao pedido para estudar na Universidade de Yale, em New Heaven, no estado de Connecticut, a comprar o carro que possuo, alguns moveis e a alugar um apartamento (provisório).

Antes de conseguir encontrar um novo lugar para habitar, voltei ao lugar onde morava com meus pais, no passado. A casa que havia ali, depois de ter sido totalmente consumida pelo fogo, foi substituída por uma nova, já que um novo casal havia comprado o lote.

Depois de entrar no carro, liguei o rádio e coloquei na estação local. A cidade onde eu nasci e para a qual voltei, é pequena. Cerca de 200 mil habitantes. Então, é a típica cidade em que todos te conhecem e sabem da sua vida!

A escola não ficava muito longe. Quando cheguei no prédio, estacionei meu carro na mesma vaga de sempre e saí, indo em direção a entrada principal. As pessoas que passam por mim nos corredores ficam cochichando e olhando-me de lado. Só consegui voltar a minha antiga escola, por que, o diretor era muito amigo dos meus pais.

Fui em direção a sala da minha primeira aula. Biologia. O costume era que trabalhassem em dupla, mas eu sempre fico sozinha. Vesti meu jaleco e caminhei até a bancada do fundo. Larguei minha mochila do chão e comecei a mexer no celular.

Não eram apenas os alunos que me tratavam com indiferença, os professores também. O senhor Dorffman, entrou na sala, já dizendo para todos fazerem duplas. As pessoas riam e conversavam alegremente. A menina que estava a duas bancadas a minha frente, virou para trás e olhou-me, com uma das sobrancelhas arqueadas e começou a rir.

Revirei os olhos e voltei a me concentrar no celular. O fato de trabalhar sozinha tinha seus pontos positivos, eu terminaria primeiro, não teria ninguém para discordar de mim. Mas não era legal, ficar ali, sem ninguém.

Depois da Biologia, começou História, Matemática, Inglês e Literatura. Assim que a última terminou, estava na hora do intervalo. Ou como eu gostava de chamar "a selva". Todos ali pareciam animais seguindo seus instintos.

Tinha o grupo dos nerds. As líderes de torcida. Jogadores de futebol americano. Os emos. Os góticos. Os excluídos. E o meu grupo, batizado como 'Os assassinos', composto por apenas um integrante.

Sentei sozinha e saboreei minha maçã. A última aula seria de Química, e eu não estava preparada para suportar aquilo. Sei que a maioria das pessoas gosta química, devido às idas aos laboratórios e o fato de que as aulas praticas são "divertidas". Mas, não é bem a minha praia.

O sinal tocou e todos se retiraram do refeitório. Voltei para meu armário para pegar minhas coisas. Enquanto caminhava pelos corredores, para poder ir para o laboratório, um rapaz veio correndo e esbarrou em mim. E continuou a correr. Apenas o vi de costas e a única coisa que percebi era que seu cabelo era encaracolado e que ele corria feito uma gazela saltitante. Ele não se desculpou. Bufei e voltei pelo meu caminho.

Cerca de meia hora depois - o que pareceu uma eternidade - as aulas acabaram e fui em direção ao estacionamento. Enquanto caminhava para perto de meu carro, ouvi barulho de saltos altos atrás de mim.

"Cara!" - uma voz feminina chamou-me. Antes de virar, respirei fundo e contei até dez. Quando me virei, Denise Campbell estava parada com aquele sorriso de escárnio nos lábios.

"O que foi?" - perguntei rispidamente

"Quem será a próxima vítima?" - Ela perguntou provocando-me. Respirei fundo e arqueei uma sobrancelha olhando-a –"Você é um monstro Cara. Um ser terrível" Desde quando voltei Denise, tenta ao máximo me irritar. Talvez ela seja a próxima vítima, se realmente eu tivesse cometido algo com as primeiras. Todos os dias recebo bilhetinhos dela e das amigas, me atormentando.

Ela não me deu a chance de responder, pois saiu rindo. Segurei as lágrimas até entrar no carro. Deixei que algumas escorressem pelo meu rosto, antes de partir.

Ouvi batidas em meu vidro, assim que dei partida no carro. Sequei meu rosto o mais rápido que pude, para quem quer que fosse não notasse, apertei o botão para o vidro abaixar. Um rapaz com cabelos encaracolados, olhos claros, e intensos, fitava meu rosto e isso fez-me ficar irritada e corada ao mesmo tempo. O rapaz limpou a garganta e falou.

"Hm, você estava passando por mim e eu, bem, sem querer esbarrei em ti." - ele disse olhando para baixo

Oh! Então foi ele?!

"Okay. O que quer?" - perguntei rispidamente e dei partida no carro

"Você" - ele olhou-me – "deixou cair isto." - ele entregou-me um papel. Arregalei os olhos – "Eu não li." - ele disse ao ver minha reação

"Hm. Obrigado?" - falei tentando sorrir.

"Por nada. Você é Cara, não é? A menina que..."

"A menina que foi acusada de planejar e executar a morte dos próprios pais? Sim, sou eu!" - falei já segurando o freio de mão para sair

"Na verdade" – ele deu uma risadinha – "eu ia dizer que você é a menina que está na minha turma de literatura."

Ele só podia estar me zoando.

"Ah. Não sabia." - olhei para ele envergonhada – "Bem preciso ir."

"Vejo-te amanhã?" - ele perguntou esperançoso

"Melhor não... Qual seu nome mesmo?" - perguntei engatando a ré.

"Harry Styles. Você é Cara Rizze." – ele afirmou

"É."- falei saindo do lugar onde estava parada. Olhei pelo retrovisor e o vi segurando um caderno contra o peito, e observando-me deixar o estacionamento.


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