Eliza - 8
Fiquei com o pressentimento de que meu irmão pediu a Raquel para tentar se aproximar de mim e se tornar minha amiga, pois a chata não desgrudava do meu pé desde o ocorrido com a Alana.
No colégio, Théo, entrou na escola com nós duas, além de querer dar uma de namorado carinhoso, ele também queria dar uma de irmão protetor, como se eu precisasse da ajuda dele... mesmo que eu não gostasse de admitir, eu precisava sim, principalmente do carinho desse chato.
Théo estava beijando a Raquel, e sim, eu estava de vela, quando a Alana se aproximou de mim.
– Precisamos conversar Eliza, você não pode ficar com raiva de mim por uma coisa que eu não tive culpa alguma – disse ela, toda paciente.
- Sai daqui Alana! Eu não quero mais conversar com você, esquece que já fomos amigas! – disse em um tom alto, para que ela entendesse que por mais que ela tentasse, eu não iria voltar a ser a amiga dela.
Meu irmão ouviu tudo e se soltou da Raquel, para se intrometer nos meus assuntos.
– Então, você é a Alana? – Théo perguntou, olhando desafiadoramente para Alana, a mesma o encarou, demonstrando não estar intimidada com o olhar furioso que Théo lançava sobre ela.
- Sou sim, e quem é você para se meter na minha conversa com a Eliza?
- Como é garota? Quem você pensa que é para fazer a minha irmã sofrer assim, em? – esbravejou Théo, alterado. Fiquei até com um pouco de pena da Alana, mas não a defendi, eu não faria isso.
Raquel tentou intervir, mas não adiantou muito, meu irmão estava furioso com Alana.
– Eu não sabia que vocês dois são irmãos – disse Alana, meio sem jeito.
- Não sabia é? Não me interessa garota, você é muito baixa mesmo, ficar com o cara que a minha irmã e que "sua suposta amiga" gostava, isso é baixo de mais, isso é coisa de gente falsa, é coisa de uma... – meu irmão falava, até que o Cole chegou, para defendê-la. Ele tinha escutado as coisas que Théo falava a Alana.
- Chega Théo, para de ofender a Alana – disse ele, colocando-se, ao lado dela.
Alana o olhou e expressou gratidão por Cole tê-la defendido.
- Qual é Cole? Vai ficar do lado dessa garota aí, ao invés de ficar do lado da sua amiga?
- Alana também é minha amiga e você não tem o direito de falar coisas a respeito dela, principalmente porque não é verdade, a Eliza sabe que nada foi propositalmente, elas só estão brigadas, Théo, daqui a pouco elas vão andar juntas como antes – disse Cole.
- Isso não é verdade Cole, eu jamais vou voltar a andar com essa aí, agora parem vocês todos, eu não preciso da ajuda de ninguém, obrigada Théo, por tentar me defender, mas eu sei me cuidar sozinha – disse eu, beijei o rosto do Théo e saí de perto de todos eles, segundos depois, Raquel estava correndo atrás de mim.
- O que vai fazer hoje no intervalo? – perguntou ela.
- Não sei, talvez nada.
- Podemos ficar juntas no intervalo, o que acha?
- Não. Você é amiga da Bela, ela não vai gostar nada disso – respondi sem paciência, eu queria me livrar logo da Raquel.
- Mas eu posso ter outras amigas também, a Bela vai ter que entender isso – disse ela.
- Qual a parte você ainda não entendeu? Eu não quero você perto de mim! – esbravejei.
Ela me olhou assustada e seu olhar demonstrava decepção e mágoa.
- Por que não gosta de mim Eliza? O que eu te fiz? Sempre que tento me aproximar de você, isso acontece. Você nunca se abre e não me deixa ser sua amiga, está sempre me afastando, o que eu te fiz? – perguntou ela.
Pela primeira vez na vida, senti pena da Raquel e me senti culpada, muito culpada.
- Você é amiga da Bela, eu não suporto a Bela, ela é patricinha, mimada e cruel – disse eu.
- E só por que a minha amiga é uma patricinha, mimada e cruel, você acha que eu também sou assim?
- E não é?
- Claro que não Eliza. Você não pode julgar uma pessoa, pelas amizades que ela tem, sabe, não é porque eu sou amiga da Bela, que significa que eu sou como ela, eu não sou. Eu sei que sou popular como ela, mas somos diferentes, a minha personalidade não tem nada em comum com a personalidade da Bela, poxa, Eliza, eu gosto muito do seu irmão, eu diria que eu já o amo, amo muito, e todo esse tempo em que eu estive com ele, nós duas nunca trocamos conversas, apenas cumprimentos, é horrível ser namorada do cara que ama e não ter intimidade e uma boa convivência com a irmã dele.
- Me desculpa Raquel, eu fiz um julgamento errado a seu respeito. É que a Bela me decepcionou muito, você sabe que éramos amigas, e hoje somos inimigas, ela aprontou comigo no ano passado e eu não consigo esquecer isso, tudo o que esteja perto da Bela, me incomoda, por isso eu nunca gostei de você, mas prometo que vou mudar – disse eu, envergonhada por ter tratado a Raquel tão mal, por culpa da Isabela.
- Eu te desculpo sim, mas você sempre foi amiga do Cole e ele é o irmão gêmeo da Bela, então como você nunca o odiou?
- É diferente, eu conheço o Cole há muito tempo, eu sei que ele é gente boa e só é mais uma vitima da irmã, assim como eu – expliquei e sorri de lado.
- É... deve ser complicado mesmo ter uma irmã como a Bela, sabe Eliza, não vou negar, eu gosto da Bela, mas eu admito que ela consegue ser cruel quando quer, mas eu nunca estive envolvida com ela, em nenhum tipo de armação, juro. Sempre me mantive fora das coisas ruins que ela apronta, e sempre dei conselhos para ela parar com essas coisas, mas não adianta, a Bela é... impulsiva – disse Raquel. Deu vontade de falar que impulsiva é pouco para aquela cobra, mas resolvi ficar quieta.
- Pois é... e o que ela acha a respeito do seu namoro com o meu irmão? – perguntei, sempre tive curiosidade de saber.
- Ela não gostou no início, mas eu disse a ela que ele era o cara que eu amava e que se ela falasse mal dele ou tentasse me separar dele, a nossa amizade terminaria, ela falou que não faria nada contra, e nunca mais se meteu no meu namoro com ele – explicou.
- Nossa, ela aceitou fácil então – murmurei.
- É... aceitou – disse Raquel e riu. Ficamos conversando, até que o sinal tocou e ela foi para sua sala, quando eu estava indo para a minha, o Manuel segurou minha mão.
- Manuel?
- Oi, Eliza – disse ele sorridente.
- O que você quer?
- Você – disse ele sério. Fiquei em silêncio, sem reação, e ele riu.
- Você fica ainda mais linda tímida, sabia?
- Manuel, você é lindo e é legal, mas eu não gosto de você, me desculpa.
- Eu sei, mas eu não vou desistir de você, eu quero você, e quando quero algo, eu não desisto fácil.
- Eu não sou um troféu para você ganhar e guardar de enfeite, qual é? Me deixa em paz, tem tantas meninas bonitas nesse colégio, vai procurar por elas e desiste de mim.
- Acho que você realmente não se deu conta da beleza que tem, não é mesmo? Se eu quisesse outra garota dessa escola, acha mesmo que eu estaria aqui atrás de você, escolhendo levar toco atrás de toco?
- Eu só não consigo entender essa fixação por mim.
- Você é a garota mais linda dessa escola aos meus olhos, Eliza. E eu tenho certeza que se você me desse uma chance, seriamos felizes juntos - falou super convencido.
- Manuel, desculpa, eu tenho que ir para sala, tchau – me despedi logo, mas ele segurou minha mão e então beijou minha bochecha, senti meu rosto queimar.
– Tchau Eliza, até depois – disse ele com um sorriso lindo.
- Tchau, até – respondi atônita e segui em frente, em direção a minha sala. O Micael estava na porta da sala, impedindo a minha passagem.
- Linda cena ali em baixo com aquele tal de ...
- Manuel – completei e ele fechou o punho, como se estivesse contendo sua raiva.
- Está tão íntima assim desse idiota? – perguntou ele, irritado.
- Licença. Não sei se você percebeu, mas eu quero entrar na minha sala – falei em um tom irritado também.
- Já me esqueceu?
- O quê?
- Foi só beijar aquele palhaço que seus sentimentos por mim, mudaram? Que amor era esse que você dizia sentir por mim? – ele provocou, seus olhos estavam perdidos e pude sentir que ele estava com medo de me perder e com muito ciúme.
- Você não tem nenhum direito de cobrar nada de mim Micael, você estava ficando com a minha... com a Alana! E você sabia que éramos amigas, você nem gosta de mim, então por que está armando essas ceninhas ridículas de ciúmes em?
- Eu já te pedi desculpas, vai me culpar para sempre é? Eu sinto sua falta Eliza, éramos tão amigos, esquece tudo isso vai – ele pediu com a voz manhosa.
- Não. Eu não posso esquecer uma traição – disse e o empurrei, entrei na sala e avistei Alana e Cole conversando e rindo um com o outro, estavam felizes, algo dentro de mim, me dizia que Alana gostava do Cole e que era uma boa garota, que também gostava de mim, mas eu não podia esquecer o que aconteceu entre os dois, imaginar os dois se beijando, ficando juntos... mesmo que não fosse culpa dela, eu não conseguiria voltar ser amiga dela sem ficar possessa de ciúme, imaginando que os dois poderiam estar ficando juntos por minhas costas... o que me irritava era que eu já estava sentindo saudades dela.
Os dois me olharam, e eu desviei o olhar. As aulas foram chatas, cansativas, talvez pelo fato de eu só pensar o tempo todo no quanto minha vida estava bagunçada. Eu queria voltar a ter 12 anos novamente. No intervalo, Bela foi até mim, só para variar.
- Eliza... tenho que falar com você – disse ela, com cara de cachorro sem dono.
- Mas eu não tenho nada para falar com você.
- É sério Eli! – ela insistiu.
- Não me chama de Eli – murmurei irritada. Quando éramos "amigas" a Bela vivia me chamando de Eli, ela era a única, depois do que ela fez, eu nunca mais quis escutar aquele apelido na minha vida.
- Desculpa Eliza. É que é uma coisa importante, é sobre a Alana.
- O que tem ela? – perguntei.
- Vem – disse ela, me puxando para um lugar mais reservado.
Quando chegamos à biblioteca da escola, ela me deu uma gravação. – Escuta só – disse ela, e apertou o play.
Era uma gravação da Alana falando. Uma garota, outra amiga da Bela, tinha perguntado a Alana, se ela gostava de mim como amiga e nisso, Alana respondeu:
"É claro que não, eu nunca gostei da chata da Eliza, nunca. Eu só me aproximei dela, porque eu queria o Micael, ele sempre foi o meu alvo, eu odeio a Eliza, ela é uma burra se pensou que eu fosse mesmo amiga dela, coitada."
Fiquei petrificada, meu coração acelerou e doeu muito, meus olhos já estavam marejados. – Por que me mostrou isso? – perguntei a ela.
- Eu queria que você soubesse quem essa Alana é, sabe, mesmo que não acredite, eu me preocupo com você Eli, e agora estou preocupada com o Cole, pois o meu irmão acredita cegamente nessa mentirosa – disse ela.
- Tchau – disse, estava me virando de costas quando ela pegou na minha mão, a empurrei e a encarei com mágoa e raiva, meus olhos marejados, algumas descendo por meu rosto.
- Eu não imaginava que você gostasse tanto dessa novata – disse ela, enquanto me olhava chorar.
- Não gosto, eu a odeio, assim como também te odeio Bela – disse, limpando minhas lágrimas.
- Desculpa.
- Pelo o quê? – perguntei confusa.
- Por tudo – disse ela, revirei os olhos e fui embora. Como se pedir desculpas a essa altura do campeonato, fosse mudar algo, sem contar que eu não acreditava que esse pedido de desculpas fosse sincero. Ela me mostrou aquela gravação de propósito, tudo para me magoar, porque eu estava começando a criar um laço de amizade com a Alana, mas depois dessa gravação, eu nunca mais vou ser amiga da Alana de novo, ela me enganou, nunca gostou de mim, como eu fui burra.
Caminhava sem rumo, ainda triste e com raiva da tal gravação, e uma garota que eu nunca vi na vida, chegou perto de mim. Era alta, encorpada e tinha o cabelo preto.
– Você é amiga da Alana, não é? – perguntou ela, afinal, o que estava acontecendo? Todo mundo deu para falar da Alana comigo? Respirei fundo e respondi.
– Não.
- Por que não? Vocês estavam até andando juntas, esqueceu? Eu mesma vi.
- Eu não sou amiga e nem nunca fui amiga daquela sonsa, mentirosa, aquela cobra fingida, eu a odeio, jamais poderia ser amiga de uma garota tão patricinha e mimada e fingida como ela! Então, a resposta é: NÃO! E não volte mais a falar dessa idiota comigo – gritei, eu estava com tanta raiva que falei todas essas coisas sem pensar direito, mas eu precisava deixar claro que a Alana não era mais minha amiga, até porque como eu havia escutado na gravação, ela nunca tinha sido minha amiga de verdade, Alana que se dane.
A garota riu e se despediu rapidamente, o que achei muito estranho, mas não dei importância. Não fiquei no intervalo com o Cole, pois ele agora não se desgrudava da Alana, e eu jamais vou ficar perto dela no intervalo, tive que ficar sozinha, andando pelos cantos, pois ficar com o Micael também estava descartado, apesar de que ele me olhava a todo o momento. E Raquel não estava por ali, deve ter ficado na sala de aula. Para meu espanto, Manuel se aproximou de mim, de novo!
- Eliza, por que está sozinha? – ele perguntou, fazendo uma careta engraçada.
- Não está sabendo da fofoca? – falei, a escola toda sabia do que tinha acontecido, todos comentavam, para quem não estava acostumada a ser o centro das atenções, até que eu estava me saindo bem em ligar o botão do "Não ligo" e fingir que nada tinha acontecido a mim e que eu estava mais que bem. Ele assentiu com a cabeça.
- É, estou sabendo sim.
- Por isso estou sozinha, não tenho mais amiga e o Cole, bom, o Cole está apaixonado pela Alana, por isso está sempre com ela e do lado dela – expliquei.
- E os seus outros amigos?
- Colegas. Na verdade, eu não estou a fim de conversar muito com eles, com certeza, eles pediriam por explicações, e eu não quero ter que contar tudo de novo.
- Entendo. Posso te fazer companhia? – perguntou ele, e me puxou em direção a um banco próximo, se sentando ao meu lado.
Nem consegui responder, ele praticamente grudou em mim, e na hora de conversar, chegava cada vez mais perto com o rosto. Percebi que o Micael olhava para nossa direção o tempo todo e me encarava, me encarava muito. Então resolvi provocá-lo.
- Fica assim não Eliza, tudo vai passar... você vai ver – disse ele, tentando me animar.
- Espero, obrigada por estar me fazendo companhia nesse momento tão triste para mim – agradeci, ele sorriu.
– Não precisa agradecer, eu te faria companhia mesmo que não quisesse.
- Bobo – brinquei e sorri, Micael me olhava muito, os olhares ficaram mais intensos e mais ferozes depois que o Manuel, começou a colocar as mãos no meu cabelo, brincando com eles.
- Manuel – disse eu, baixinho e sem jeito.
- Sim?
- Pode me beijar? – perguntei super envergonhada.
- O quê?
- Quer me beijar? – insisti totalmente tímida. Ele riu. – Isso tudo para fazer ciúmes no Micael? – disse ele, e eu arregalei os olhos.
- Era... mas desculpa, eu entendo que você não queira se submeter a isso, foi uma ideia totalmente malu...
Senti o lábio dele tocando o meu, já havíamos nos beijado uma vez, mas eu não lembrava que beijá-lo era tão bom, era estranho beijar outro cara, um cara que eu jamais havia imaginado beijar, e sem contar que ele era praticamente um estranho para mim, no entanto, beijar a boca dele não era nenhum esforço para mim, pelo contrário, era muito bom e eu estava gostando, senti um arrepio percorrendo todo o meu corpo, até que sua língua invadiu a minha, o que tornou o beijo mais delicioso, eu estava correspondendo com toda vontade, sem lembrar ou me importar com quem estivesse ao nosso redor assistindo, no momento em que nos beijamos eu até esqueci que o Micael existia e que ele estava logo ali em frente, assistindo tudo.
O Manuel afastou a boca da minha e para meu espanto, ele beijou meu pescoço de uma maneira tão sensual e natural, que um choque percorreu por todo o meu corpo e soltei um pequeno gemido, gemido esse que me envergonhei segundos depois de ter soltado. Era a primeira vez que um rapaz beijava meu pescoço, engraçado, eu sempre imaginei que o primeiro que fosse fazer isso em meu pescoço seria o Micael, mas foi bem diferente da minha imaginação. Foi o Manuel, um cara que eu mal conhecia.
De repente, vi o Manuel sendo jogado no chão pelo Micael! Levantei-me imediatamente e comecei a interferir. O Micael estava em cima do Manuel, batendo nele.
– Para Micael! Solta ele! – gritei em desespero, puxando a mão dele, tentando em vão tirar o Micael de cima do Manuel.
- Socorro! Alguém ajuda! – gritei, uma multidão de alunos nos cercou em um círculo, para ver a confusão e gritar de maneira infantil: Briguinha! Uns garotos que presumi ser os amigos do Manuel chegaram e empurraram o Micael para longe, ajudando o Manuel a se levantar do chão.
Os amigos do Micael o seguraram. Corri para o lado do Manuel para me certificar de que ele estava bem.
– Está doendo muito? – perguntei preocupada, o Manuel estava com o nariz sangrando.
- Estou sim, Eliza, não precisa se preocupar – disse ele. Me virei para frente e encarei o Micael com fúria.
Caminhei até ele. – Nunca mais faça isso, você não tem nenhum direito de bater em alguém assim Micael.
- Ele estava se aproveitando de você, Eliza, será que não vê? Por isso bati nele! É um safado, um canalha!
- Não me interessa em nada Micael! Eu não quero saber de nada! Acho bom você se acostumar a me ver com quem eu quiser, porque não quero que cenas como essas se repitam, não volte mais a encostar um dedo se quer no Manuel – disse, e fui para perto do Manuel, ajudá-lo com tudo o que fosse preciso.
Não sei quem, mas alguém chamou a diretora do colégio, segundos depois, a Mariza, que é a supervisora foi até onde tinha acontecido a confusão e levou os dois para a diretoria, ou seja, nem consegui ficar perto do Manuel, eu só estava com medo que os expulsassem, mesmo que o Micael tenha sido o único culpado de toda essa confusão, eu não queria que o expulsassem e também não queria que desse problema para o Manuel, ele não teve culpa alguma.
Quando os levaram, o Cole e a Alana vieram até mim. – Que loucura, o que aconteceu entre os dois, Eliza? – perguntou ela.
Que falsa!
- Não é da sua conta, vê se me esquece e para de ficar me incomodando – disse eu, ela me olhou sem entender nada e o Cole me olhou de uma maneira repreensiva, dei de ombros para ele e saí, deixando-os sozinhos. Minha vida estava virada do avesso, não sabia o que mais me faltava acontecer...
Diário da Celina
2006 – 9 anos de idade.
Tinha um circo na cidade, e a Eliza queria muito ir. Seria a primeira vez que ela iria, acho que era mais curiosidade para ver como é, do que vontade.
Mas ela estava pedindo durante toda a semana passada para que eu a levasse, e eu concordei.
Théo que não queria ir, ele estava naquela fase de que acha vergonhoso ir a circo, pois segundo ele, já tinha 11 anos de idade e não era mais uma criança, e claro que eu morria de rir toda vez que ele dizia isso.
Meu filho era o maior crianção que eu conhecia, apenas ele não enxergava. Mas como sempre, Théo não conseguia negar muitas coisas para sua irmãzinha mais nova, principalmente quando ela pedia com tanto carinho, a Eliza sempre foi o ponto fraco dele, por isso, ele sempre a protegia de tudo e todos.
Estava no meu quarto, deitada na cama e abraçada com ela, quando o Théo entrou.
- É hoje que vocês vão naquele circo idiota? – perguntou ele, com um "ar" de superioridade.
- É hoje sim filho, e o circo não é idiota, é apenas um circo, onde as pessoas vão para se divertir assistindo ao espetáculo – expliquei, mesmo que ele já soubesse desse fato.
- Você vai Théo? – perguntou Eliza.
- Claro que não, Eliza. Eu não sou mais criança, é só criança que vai a circo, crianças como você – ele disse.
- Não é verdade. Adultos também vão!
- Para acompanharem as crianças, a mamãe só vai pra te levar sua bobona, porque você é a filha dela – falou ele, se achando o adulto.
Olhei para Eliza, ela estava com os olhos marejados, minha pequena estava com vontade de chorar e se o Théo não concordasse em ir, com toda certeza, as lágrimas desceriam, ela sempre foi muito emotiva, chorava fácil, era muito sentimental.
- Você também é uma criança, seu bobão! – ela gritou.
- Cala a boca, sua pirralha!
- Théo! – o repreendi. Ele me olhou com a cara mais lavada do mundo.
- Eu não vou a esse circo e ponto.
- Você magoou a sua irmã, acha isso legal? – apelei para a chantagem emocional.
- Ela supera – respondeu.
- Primeiro que você não deve gritar dessa forma com ela, segundo, ela é sua irmã e te ama, ela quer que você vá ao circo com a gente, por que não faz isso para agradá-la?
Minha loirinha se levantou da cama, e caminhou na direção do irmão, pegando nas mãos dele.
– Por favor, Théo. Vai ao circo com a gente, eu quero você lá comigo, sou sua irmã, seja um bom irmão, estou triste com você... eu acho que você não me ama – ela falou com a voz rouca e notei que Théo havia ficado abalado.
- Está bem, sua chatinha. Eu vou ao circo, mas se alguém da minha escola me vir lá, você vai ser a culpada. Agora, por favor, não chora, você tem que parar de ser tão chorona, Eliza... e é claro que eu te amo, amo muito – ele disse, e a abraçou.
Sorri com a cena. – Obrigada Théo! Obrigada! – ela agradeceu toda sorridente.
- Agora vêm aqui vocês dois e se deitem ao meu lado - chamei.
Eles vieram como eu pedi, e André entrou no quarto. – Iam se deitar sem mim? – perguntou ele, brincalhão.
- Vem amor! – chamei, sorrindo.
- Anda, papai! – gritou Eliza.
E André se deitou conosco, e ficamos rindo e conversando, como a maravilhosa família que sabíamos que éramos.
...
Fomos ao circo em família, Eliza estava toda encantada com o circo, Théo fingia não gostar, mas eu sabia que estava gostando. Assistimos ao espetáculo inteiro, nos divertimos bastante, e para quem não gostava, Théo estava dando bastante risada.
Após terminar o espetáculo, do lado de fora, havia vários palhaços animando as crianças, fazendo pequenas mágicas, essas coisas... Eliza queria tirar foto com um palhaço.
- Acho que não pode filha.
- Pode sim mãe, o Mica tirou uma vez, eu vi a foto – ela disse, animada.
Suspirei, eu sabia que ela não iria desistir até conseguir tirar a foto.
- Para de falar no Micael, que chatice... você sempre fala dele, estou cansado! – Théo implicou.
- Théo, deixa de ser ciumento – falou André.
- Eu? Ciúme? Até parece!
Eu ri. Minha pobre filha iria passar aperto na adolescência, Théo iria ser um irmão muito ciumento.
- Eu quero tirar a foto...
- Está bem Eliza, vamos lá tirar a foto – falei. A levei até o palhaço mais próximo, perguntei se tinha problema bater uma foto, ele disse que não, e que sua missão era fazer a felicidade da criançada.
E assim, Eliza conseguiu a tão sonhada foto com o palhaço, e ficou tão feliz que deu até gosto ter levado-a nesse circo.
Essa foto está guardada nos álbuns de fotos da família, e sempre que vemos, damos risada.
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