Eliza - 4


Fiquei com pena da Alana, coitada, ser expulsa por um atraso na sala de aula e passar essa vergonha logo na primeira semana de aula. Quando finalmente as aulas terminaram, naquela manhã tensa e cansativa, fui até o Cole. Percebi que ele e Alana se tornaram bem amigos, então, ele deveria saber de alguma coisa, por exemplo, o motivo de ela ter se atrasado para entrar na sala.

– Cole – o chamei, ele parou para poder me responder.

- Eliza! O que foi?

- Você sabe o motivo da Alana ter se atrasado para entrar na sala? – perguntei, ele suspirou fundo.

- Tenho cara de babá da novata agora? – respondeu totalmente sem educação, ele nunca tinha falado assim comigo, poxa, éramos amigos há muito tempo, ele não devia ter me tratado assim. Está certo que o Cole sempre foi meio frio, quieto na dele e um pouco arrogante, mas a arrogância dele nunca era direcionada para mim.

- Qual é Cole? Precisa falar assim comigo? Foi só uma simples pergunta! Eu achei que você soubesse de algo, pois percebi que vocês dois se deram muito bem - respondi, com raiva.

Ele levou a mão direita na cabeça e bagunçou seu cabelo cacheado, os deixando mais bagunçados do que antes.

– Desculpa Eliza, você tem razão, eu não precisava ter falado assim com você, é que essa novata me tira do sério.

Sorri ao perceber que ele estava caidinho pela Alana. Conheço o Cole muito bem, quando ele se interessava por uma garota fica todo defensivo, e muito implicante, chegava ficar bem chato até. É como se ele se fechasse para não poder se apaixonar, as garotas nas quais ele ficava, só duravam dois ou três dias, nunca mais que isso. Ele sempre saía fora antes das coisas ficarem complicadas para o lado dele. Ele sempre foi lindo e legal, as garotas sempre davam em cima dele, mesmo não sendo popular.

– Me conta a verdade Cole, o que está acontecendo entre você e a Alana? – perguntei, segurando o meu riso.

Ele ficou desconcertado com a minha pergunta e chegou até ficar um pouco corado.

– Nada uai, é que nós dois discutimos.

- Para de mentir, vocês dois podem até ter discutido mesmo, mas eu sei que tem mais coisa aí, que você não quer me contar – insisti. Queria que ele me contasse, se abrisse comigo.

Ele bufou. – Tudo bem Eliza, eu estou gostando da novata! Ela mexe comigo de uma maneira como nenhuma garota antes mexeu, ela me tira do sério quando quer e infelizmente ela é como a Bela. E eu odeio pessoas que agem como a minha irmã. Satisfeita agora?

Uau... Sério, ele me confessou e vi em seu olhar confuso o quanto se interessar por ela estava mexendo com ele.

– Eu sabia que você estava gostando dela, mas daí comparar ela com a sua irmã e dizer que as duas são iguais já é de mais Cole, sério, a Alana não é como a Bela, as duas não tem nada a ver uma com a outra, por que disse isso? – defendi aquela garota que eu mal conhecia, eu sentia um carinho muito grande por ela.

- É uma longa história Eliza, não estou com vontade de contar, mas não percebeu o quanto ela é patricinha?

- Não. A Alana não é patricinha e se for, qual o problema? O ruim seria se ela fosse má como a sua irmã.

- Aí que está o problema Eliza. Você ainda não percebeu, mas a Alana quer ser popular, quer ser como a Bela e eu sinto que isso vai acabar acontecendo.

- Não inventa Cole, ela quer tomar o lugar da Bela por vingança, apenas isso, ela já me disse. Eu quero muito que ela consiga tomar o lugar da Bela, eu sei que ela é sua irmã, mas você sabe que... – falei um tanto sem jeito.

- Não precisa se desculpar, eu sei que você não suporta a minha irmã, aliás, você não é a única, até eu mesmo, às vezes não a suporto. Sobre a Alana, esquece tudo o que eu falei, tenho que ir, tchau – ele disse e foi embora.

Fiquei parada vendo a sua imagem desaparecer de minha vista. Vi Micael saindo da escola com seus colegas e corri até ele, o chamando, ele parou e se virou para trás, se despediu dos rapazes.

– Oi – falei timidamente.

- Oi, Eliza – ele respondeu, sem jeito.

- Você vai fazer o que hoje à tarde?

- Hoje vou jogar pelada com uns amigos no campinho, por quê? – ele perguntou e coçou a cabeça, ele evitava me olhar, estava tentando se afastar de mim, por que ele estava agindo assim? Só por que eu me declarei? Pensei que pelo menos ele gostasse de mim como uma amiga, estávamos ha tanto tempo convivendo juntos.

– Posso ir para te apoiar? – perguntei.

Ele me olhou confuso, e pegou na minha mão. – Olha Eliza, eu não acho uma boa ideia, sabe, você tem que tirar da sua cabeça e do seu coração esse sentimento por mim, eu te amo muito, mas apenas como uma amiga e eu já te disse que eu não quero te magoar, você sabe como sou – ele falou dessa vez, mantendo os olhos fixos nos meus.

- Isso é ridículo. O que eu sinto por você não pode ser tirado assim do nada do meu coração. Eu não escolhi gostar de você desse jeito, aconteceu sem eu perceber, eu sou a errada por isso?

- Não é, mas mesmo assim, eu não quero que você me siga até o campinho. Vai ser melhor para nós dois nos afastarmos um do outro pelo menos por enquanto – ele falou rispidamente.

- Vai se ferrar – falei e saí andando para bem longe dele. Se ele pensava que eu fosse desistir fácil, estava muito enganado. Eu precisava fazer com que ele gostasse de mim da mesma forma que eu gostava dele. Foi quando pensei na Alana, ela poderia me ajudar, peguei o meu celular e disquei o número dela, na segunda chamada, ela atendeu.

"Alana?" – perguntei.

"Sim, sou eu Eliza."

"Eu preciso muito da sua ajuda, pode em ajudar?" – perguntei e segurei o meu celular firmemente sobre minha orelha.

"Claro, mas te ajudar no que?" – ela perguntou, sua voz estava um pouco diferente do que era pessoalmente.

"Com um garoto aí, posso ir à sua casa, hoje á tarde?"

"Claro, vem sim, pode deixar que eu te ajudo no que precisar."

"Obrigada Alana! Pode me informar onde fica sua casa?"

Ela me explicou com todos os detalhes onde morava, eu conhecia o bairro e já fiquei mais aliviada em saber que não ficava tão longe assim. Quando cheguei em casa, minha mãe reparou que alguma coisa aconteceu comigo.

- Filha, aconteceu alguma coisa? – perguntou, caminhando até mim.

- Não mãe, por quê? – menti, não queria que ela soubesse sobre o Micael.

- Eu tenho certeza que alguma coisa aconteceu e você está com uma carinha triste e com uma expressão de cansaço – ela disse, enquanto passava as mãos pelo meu cabelo.

Eu não gostava de mentir para minha mãe, mas é que eu não queria contar sobre o Micael...

- Engano seu mãe, estou ótima, apenas cansada, como vê – menti e sorri para ela.

Minha mãe sempre foi muito carinhosa comigo, estava sempre dizendo que a melhor coisa que aconteceu em sua vida foi ter seus dois filhos, Théo e eu. Não se cansava de dizer que éramos uma benção em sua vida.

Ela me olhou desconfiada e então sorriu de volta para mim. – Minha Eliza, espero realmente que esteja bem e que não esteja mentindo para mim, eu só quero te ajudar, lembre se sempre disso querida, eu te amo muito – falou, passando as mãos por meu rosto. Adorava quando minha mãe me fazia carinho e dizia que me amava, não conseguia imaginar uma vida em que ela não fosse a minha mãe. Dei um abraço nela e beijei seu rosto.

– Eu também te amo muito mãe – respondi e nós duas sorrimos, fui para meu quarto me trocar para poder almoçar, quando voltei, ao olhar a enorme mesa, fiquei triste, ficava tão vazia sem o papai, o que me alegrava era saber que ele estaria de volta em breve.

- E meu irmão? Onde está? – perguntei ao notar que ele ainda não tinha chegado para almoçar conosco.

Meu irmão se chamava Théo, ele tinha 19 anos e estava cursando a faculdade em nossa cidade, muito bonito, as garotas viviam dando em cima dele, mas ele só tem olhos para uma garota : A insuportável da Raquel! Sério, não aguentava essa garota, Raquel tinha 17 anos e coincidentemente estudava na mesma escola que eu, ela é do grupinho da Bela, as duas são amigas, apesar de Raquel ser um ano mais velha, as duas viviam juntas na escola, certeza que dividiam os mesmos neurônios.

Raquel com seu cabelo castanho claro curto, olhos incrivelmente escuros, alta e exageradamente metida à riquinha! E o pior de tudo? A insuportável namorava o meu irmão! Que ódio dela... sério, quando eu soube que ele estava ficando com ela no ano anterior, eu surtei, praticamente briguei com o Théo e ordenei que ele terminasse tudo com ela, óbvio que ele não me deu ouvidos, tivemos uma briga bem feia e no dia seguinte ele foi até o meu quarto e deixou bem claro que eu teria que aceitar a namorada dele, que a Raquel era muito importante para ele e que gostava muito dela, escutei tudo e revirei os olhos.

Contei para ele como ela é na escola e ele não quis me dar ouvidos, disse que isso tudo era implicância minha, porque ela era popular e amiga da Bela.

O meu irmão sabia muito bem que Bela era minha "amiga" e que me trocou por popularidade, ele pensava que eu tinha ciúmes da Raquel por ela ser a amiga da Bela e não eu, o que é completamente absurdo! Eu queria distância da Isabela, mas por incrível que pareça, a metida da Raquel realmente gostava do meu irmão, estava todo o momento com ele e quando vinha aqui em casa, os dois se mostravam bem apaixonados. Ok! Confesso que a Raquel nunca me fez nada, mas só o fato dela ser amiga da Bela me fazia ter sentimentos ruins por ela, e o fato dela ser popular também não me conquistava muito, tantos garotos no mundo, ela tinha que namorar logo com o meu irmão? E eu tinha que conviver com ela, e fingir uma "falsa simpatia" por ela, sempre achei a Raquel muito superficial, e mimada, nunca gostei de garotas mimadas. Enfim, essa é a história. Apesar de eu não discutir mais com meu irmão por causa dela, isso não significava que eu a amava, não me restou alternativa além de aceitar e ignorar.

- Ele me ligou avisando que vai almoçar na casa da Raquel hoje – respondeu minha mãe, e levou mais uma garfada de comida a boca.

- Aff – resmunguei sem paciência. Mamãe balançou a cabeça negativamente.

– Eu já falei para não ter esses tipos de sentimentos ruins pela Raquel querida – me repreendeu e eu revirei os olhos. Até minha mãe tinha caído no papinho da Raquel! Aliás, minha mãe adorava a Raquel, ás vezes ficava enciumada, me fazendo sentir mais raiva ainda dessa intrusa!

- Eu não consigo, ela é insuportável mãe! Será que não vê isso?

- Isso é birra sua Eliza, e eu sei bem o motivo, ás vezes querida, o fato de uma pessoa ser popular e amiga de uma garota que você não suporta, não faz dela necessariamente má como a outra que é amiga dela. Está me entendendo? Você está julgando mal a Raquel.

- Não estou. Vamos parar de falar dessa metida, já estou até perdendo a fome – retruquei, e me lembrei de pedir a minha mãe, autorização para eu ir na casa da Alana hoje. Aproveitei a oportunidade. – Mãe... – comecei.

- E lá vem, o que você quer agora Eliza?- ela perguntou, mal contendo seu sorriso. Dona Celina me conhecia perfeitamente bem, sabia quando eu queria alguma coisa, sorri e continuei.

- Posso ir à casa de uma amiga hoje?

- Amiga? Que amiga? Eu não sabia que você tinha uma amiga – ela disse tão naturalmente, depois que a Bela se tornou outra, eu meio que só tive colegas, amiga mesmo nunca mais! Acho que peguei certo trauma.

- Ela é novata na escola, nos demos muito bem e acho que se continuar assim, podemos sim, nos tornar grandes amigas.

Minha mãe sorriu. – Se for para você sair um pouco de casa e conversar com outras pessoas, além do Micael, está ótimo! Pode ir sim, e qualquer dia a traz aqui em casa para que eu possa conhecê-la. Como ela se chama?- perguntou, demonstrando estar muito contente com a possibilidade de que eu possa ter novas amizades.

Minha mãe sempre reclamava que eu desperdiçava a minha adolescência trancada dentro de casa, estava a todo tempo me incentivando a sair e me divertir.

Sempre falou que a vida é uma só e que o tempo passa muito rápido, que se eu não aproveitasse um dia, eu acordaria e perceberia que nunca fiz coisas divertidas, da qual eu poderia ter a chance, mas desperdicei trancada em casa.

Quando ela vinha com esse discurso eu revirava os olhos. Revirar os olhos é a minha especialidade. Fazia isso sempre que não gostava de alguma coisa.

Eu realmente ficava muito tempo, trancada dentro de casa, não costumava sair nos finais de semana, sempre fui um pouco antissocial, preferia muitas vezes ficar lendo um livro, vendo filmes e séries a ter que sair com o "pessoal", na verdade, às vezes eu sentia falta de sair para rua e me divertir um pouco, mas não tinha amigas para me acompanharem, e o Mica... bom, ele estava muito distante de mim neste momento.

- Alana – respondi por fim.

- Lindo nome. Como ela é? É legal? – ela me encheu de perguntas.

- Nossa mãe... calma, ela é legal sim e fisicamente, ela... – tentei descrever a aparência de Alana, e então reparei naquele instante que Alana lembrava um pouco a minha mãe. Que bizarro!

- O que foi filha? Não sabe como descrevê-la?

- Não é isso, é que acabei de perceber que ela lembra um pouco você. Estranho não é?

Minha mãe riu. – Então já vi que essa menina é linda! – se gabou e ri junto com ela.

- Você é muito convencida mãe.

Desci de casa ás 14:00 horas e peguei um ônibus para chegar mais rápido na casa dela. Vi a numeração das casas e logo avistei a casa dela. Número 104.

A casa de Alana parecia ser enorme, olhando assim por fora. Toquei a campainha, alguns segundos depois, uma mulher loira com olhos azuis e muito bonita abriu a porta para mim. Não sabia o motivo, mas não consegui parar de olhar para ela.

– Boa tarde! Eu sou a Eliza, amiga da Alana, ela disse que eu poderia vir na casa dela, ela está? – perguntei nervosa.

A mulher deveria ter mais ou menos a idade da minha mãe, era bem conservada e linda, assim como minha mãe também era.

Ela sorriu. – Ah sim! Então você é a Eliza! Entre, minha filha está no quarto te esperando – respondeu e então confirmei minhas suspeitas, ela é mesmo a mãe da Alana. Que louco! Assim como eu, Alana também não se parecia fisicamente com a sua mãe, pois a mesma que se encontrava na minha frente, era loira e com olhos claros, talvez ela tivesse puxado o seu pai, assim como eu puxei o meu. É, deve ser isso.

– Obrigada – agradeci.

- Você é muito linda Eliza, fico feliz que minha Alana já esteja fazendo novas amizades e se enturmando, pois ela é meio difícil sabe... – ela falou, piscando um olho.

- Entendo, eu também sou difícil de fazer amizades, e a Alana parece ser bem legal. Qual o seu nome? – perguntei, não queria parecer antipática.

- Cassie – ela respondeu muito simpática, subimos as escadas para o andar do quarto de Alana.

- Lindo nome.

- Obrigada querida. Tem a mesma idade de Alana?

- Sim, 16 anos.

- Aqui está Eliza, se divirta com ela, pode entrar – ela falou e se afastou caminhando para algum lugar que provavelmente possa ser o quarto dela. Bati na porta.

– Eliza? – ela perguntou lá de dentro.

- Eu mesma.

Ela correu até a porta, escutei os passos apressados e abriu para mim com um grande sorriso. Ela me puxou pelas mãos e fechou a porta.

– Até que enfim chegou! No que quer que eu te ajude? – ela perguntou eufórica.

Olhei o quarto da Alana e percebi que ela meio que amava o rosa, o quarto parecia muito... de garota patricinha. Era estranho... eu não imaginava que a Alana amasse tanto o rosa, tinha até uma estante na parede do seu quarto que continha várias Barbies, todas eram muito lindas e pareciam novinhas, ela tinha mesmo cuidado com seus brinquedos. A cama era enfeitada por almofadas e ursos de pelúcida, apesar de parecer um quarto de uma garota bem patricinha, tinha que confessar que o quarto era lindo.

- Eu gosto de um garoto, mas ele não gosta de mim do mesmo jeito, e eu quero conquistá-lo, como vou fazer isso? – perguntei sem jeito. Ela riu.

- Quem é o garoto?

Eu não queria contar que era o Micael, tinha muita vergonha ainda, era melhor eu esperar ter mais confiança nela e só depois me abrir, não queria me enganar como aconteceu com a Bela.

– Você não conhece, é de outra escola, mas somos amigos e ele disse que só gosta de mim como amiga – menti, colocando um pouco de verdade nisso.

Ela arqueou uma sobrancelha e logo seu rosto foi invadido por um sorriso estranho.

– É fácil! Você tem que o fazer enxergá-la como uma garota e não como uma amiga.

- E como faço isso?

- Você vai se arrumar mais, vestir algumas roupas mais justas no seu corpo, e vai ficar a todo tempo perto dele, mostrando para ele o que está perdendo e depois você vai fazer ciúmes nele.

- Ciúmes?

- Sim, dá em cima de algum amigo dele ou inventa que está saindo com algum cara, assim ele vai perceber o que está perdendo e quem está perdendo, nesse momento ele vai perceber que gosta de você. Está disposta a fazer isso? Não vai ser difícil Eliza, você é linda e burro seria ele de não te notar como tal – ela falou ao cruzar os braços.

- Eu também pensei nisso, mas eu queria a sua opinião e a sua ajuda. Claro que eu topo, mas e se mesmo assim ele não quiser nada?

Ela sorriu. – Eliza, não seja ingênua, homem não resiste à tentação por muito tempo, ainda mais se for com uma garota linda como você.

- Para Alana! Você é muito mais bonita do que eu – disse envergonhada.

- Nós duas somos lindas e com belezas diferentes uma da outra, e tenho certeza que o seu amigo vai gostar de você – ela falou com tanta convicção, que me fez acreditar. Sorri e começamos a bagunça, o plano, quer dizer.

Eu nunca soube muito bem me maquiar e ela me ensinou com paciência e muito cuidado, o melhor foi que eu aprendi! Ela me deu muitas dicas de roupas, acessórios e muito mais. Falou que eu tinha que usar batom vermelho na frente dele, para ele se sentir mais atraído. Fizemos a bagunça naquele quarto, e nos vestimos com várias roupas diferentes, usei as roupas dela. Ficamos trocando de roupas que nem doidas e tirando muitas fotos loucas juntas, foi bem divertido! Fazia tempo que eu não me divertia assim.

Percebi que ela tinha muitas roupas da cor rosa, mas também tinha várias outras de outras cores, as roupas dela eram lindas, não que as minhas fossem feias, pelo contrário, as minhas roupas eram bem lindas também. No entanto, as dela eram diferentes e chiques. Ela disse também que eu devia comprar roupas mais justas para mim.

Falou que eu me visto muito como uma menina certinha de mais, tiramos muitas fotos juntas, fizemos várias caretas doidas, poses estranhas e fotos sérias. Dançamos na frente do espelho e caímos na cama gargalhando alto.

– Você é de mais Alana! – disse, no meio de uma crise de risos.

- Digo o mesmo de você! Eu acho que esse garoto aí, vai babar por você.

- Espero. E você?

- Eu o quê? – ela perguntou.

- Não está a fim de ninguém? – perguntei, ela suspirou e se sentou na cama, também me sentei de frente a ela.

- Sim, estou – ela respondeu. Sorri na hora, pensei que ela estivesse a fim do Cole.

– É do Cole não é? – perguntei, sorrindo. Ela me olhou sem entender e então começou a gargalhar.

- Não Eliza! Não é o Cole, é outro rapaz.

- Como assim? Você e o Cole tem uma química perfeita e parecia que estavam se curtindo.

- Não. Quer dizer, o Cole bem que quer, ele tentou me beijar, está a fim de mim, mas eu estou a fim de outro carinha – respondeu convencida.

- Tem certeza? Parece que você gosta dele.

- Claro que tenho. Eu não gosto dele assim... foi por isso que brigamos, começamos a discutir e ele falou um monte de coisas.

- Coitado Alana! O Cole é tão lindo, tem certeza que não sente nada por ele?

- Não, se você o acha tão lindo assim, fica com ele então.

- Bobona, você sabe que ele é meu amigo e que gosto de outro.

- Aliás, qual é o nome desse outro, mocinha? – ela me perguntou, mudando o assunto.

- O quê? Sua fujona! Quem é o seu carinha? – perguntei de volta.

- Ele é o... – ela dizia, até a mãe dela abrir a porta do quarto, ela parou de falar e olhou na direção da porta, assim como eu.

- Trouxe um lanche bem gostoso para vocês duas! – A Cassie disse, entrando no quarto e nos entregando um hambúrguer feito por ela e uma coca cola e mais dois copos.

- Obrigada mãe! Eu estava mesmo com fome – ela agradeceu, e pegou o seu hambúrguer, fiz o mesmo.

- Obrigada Cassie – agradeci e sorri.

- Não precisa agradecer meu amor, vocês duas merecem. Aproveitem bem esse mimo, pois não costumo fazer isso todo dia – ela brincou e sorriu, nos olhando admiradas.

- Isso é verdade! Está bem boazinha hoje em mãe – brincou Alana. Cassie fez careta e saiu do quarto.

- Sua mãe é bem legal – falei, e mordi o primeiro pedaço do meu hambúrguer, que por sinal, estava uma delicia! Hum... ela sabia bem como preparar um bom lanche.

- É sim – ela disse e também comeu o seu. Acabou que depois disso esquecemos completamente o que estávamos falando e eu nem me lembrei de perguntar sobre o garoto que ela gostava. Só fui lembrar quando cheguei na minha casa. Ela não escaparia assim tão fácil, estava doida para saber quem era o cara que Alana estava a fim. 

Diário da Celina

(Mãe da Eliza)

2002- 5 anos de idade.

Lembro-me de perceber o quanto o tempo passava rápido e a cada dia, Eliza crescia mais, aquilo me assustava ao mesmo tempo em que me enchia de orgulho. Ao vê-la correndo com seus próprios pés, me lembrei de quando ela não sabia andar, e eu a ensinava.

Com dois filhos lindos, Théo e Eliza sempre foram as minhas joias raras, e eu sabia que tinha que cuidar muito bem dos dois, para que nada de ruim os atingisse.

Quando nos tornamos mãe, começamos a compreender o motivo de tanto zelo de nossos pais, tudo o que fizeram foi apenas para nos proteger, não queriam que nos machucássemos, e eu também não queria que nada de ruim acontecesse com o Théo e Eliza, por eles e por mim mesma. Eu não suportaria a dor se algo acontecesse.

Ser mãe muda completamente uma mulher. Lembro exatamente de um dia, era algo difícil de esquecer, eu levei o maior susto, eu estava colocando as roupas limpinhas da Eliza em sua gaveta, a danada era pequena, mas fazia uma bagunça enorme.

Foi quando escutei um barulho bem alto de algo caindo no chão, e segundos depois da queda, os choros começaram. – Mamãe! Mamãe! – gritava Théo lá da cozinha.

Saí correndo desesperada e agoniada em direção a cozinha, para saber o que tinha acontecido e o motivo da minha pequena estar chorando tanto. Lembro que enquanto eu corria pelos corredores da casa, senti uma dor forte no peito, e pensei no que eu veria quando chegasse ao meu destino, lembro de ter rezado em meus pensamentos para que nada de grave tivesse acontecido com a minha filha.

Assim que botei meus pés na cozinha, aquela imagem me apavorou, Théo agachado no chão, tentando ajudar a sua irmãzinha só alguns anos mais nova que ele, e ela esparramada pelo chão, com a cadeira em cima de seu corpinho, e claro, ela chorava muito.

Corri desesperada até os dois, tirei a cadeira de cima dela imediatamente, e a levantei do chão, pegando-a em meu colo. Ela não parava de chorar e vê-la chorando me machucava, sua boquinha estava sangrando, havia quebrado um dente de leite que já estava bambo a um tempinho, sua testa estava arranhada, com um pouquinho de sangue, não estava escorrendo como na boca, mas ainda assim era sangue.

Tentei acalmá-la antes de levá-la ao banheiro para limpar sua boca. – Calma meu amor, calma... a mamãe está aqui agora. Vai parar de doer – tentei acalmá-la e me controlando para não chorar na frente deles.

- Eu disse pra ela não subir mamãe! Mas ela queria comer o biscoito que estava guardado lá no alto do armário – contou Théo, que apontava para o armário aberto, e o tal pote lá em cima. Era um lugar muito alto para uma criança tão pequena, alcançar apenas com uma cadeira.

- Ela se desequilibrou e caiu! – gritou ele, lágrimas desciam por seu rostinho.

Como Eliza não parava de chorar, a levei em meu colo até o banheiro para limpá-la. No trajeto até o banheiro, o Théo me seguiu, e quando comecei limpar a boca dela com água, pedi para que ela abrisse a boca para cuspir, ela não quis abrir, e chorou alto, o que me desesperava cada vez mais, era nítido que ela estava sentindo muita dor.

- Mamãe, por favor, faz ela parar de chorar... eu não gosto de ver ela chorando – pediu Théo, com os olhinhos marejados.

Aquilo me comoveu. Théo sempre foi muito carinhoso e cuidadoso com a irmã, e estava triste por ver a irmãzinha naquele estado e não poder fazer nada para ajudá-la.

- Filho, está tudo bem. Eu vou cuidar da Eliza agora, não se preocupe – tentei acalmá-lo.

Ele assentiu calado e ficou esperando as coisas se acalmarem. – Eliza, faça igual quando escovam os dentinhos, o sangue vai parar de escorrer se você fizer isso – pedi.

Ela obedeceu e fez o que eu pedi, até que o sangue parou. Pedi para ela abrir a boca, eu queria conferir se não tinha mais outro dente quebrado em algum canto, mas foi só aquele mesmo. Olhei para a ferida em sua testa, era um arranhão pequeno, joguei água em todo o seu rostinho, ela reclamou que estava ardendo e quase voltou a chorar, mas eu a acalmei, disse que seria rápido.

Sequei seu rostinho com a toalha de rosto. Ela me olhava com os olhinhos assustados.

– Desculpa mamãe – disse ela, com a voz embargada.

- Desculpas pelo o quê, meu amor? – perguntei.

Ela me olhou como se fosse à coisa mais óbvia do mundo. – Por eu ter subido na cadeira escondida e caído. Você disse para eu nunca subir na cadeira e eu te desobedeci.

Inacreditável. Foi o que eu pensei após escutar seus pedidos de desculpas. Uma criança caiu da cadeira, quebrou o dente bambo, machucando a testa, e ainda conseguiu me pedir desculpas por ter me desobedecido. Apesar da minha surpresa, fiquei admirada em notar que minha filha, tão pequenina, sabia reconhecer o que tinha feito errado, não são todas as crianças que depois de uma queda assim, pedem desculpas.

- Você fez errado sim Eliza. Que bom que reconhece isso, uma criança não deve subir em lugares altos, o resultado foi esse. Já te falei que quando quiser algo, é só me pedir que eu pego, e o seu irmão te avisou que não era para subir, deveria ter escutado – falei, até notar que seus olhinhos azuis se enchiam de lágrimas novamente, eu definitivamente não queria continuar vendo minha pequena chorar, ela já havia levado um grande susto, não precisava sofrer mais por isso.

- Mas agora está tudo bem. Você está bem e graças a Deus nada de grave te aconteceu. Não precisa mais chorar – disse, acariciando seu rostinho.

- Você me perdoa mamãe? – ela perguntou.

- Oh querida... é claro que sim! Eu te amo meu anjo, amo muito – disse, e a abracei, em seguida, puxei o Théo e o abracei também.

Fiquei com meus dois filhos em meus braços. – Eu amo vocês dois, e não me dê mais sustos como esse – pedi, e beijei o rosto dos dois, enchendo-os de mimos, os dois riram, e já pareciam ter esquecido aquele episódio.

...

Ainda naquele dia, durante a noite, estava em meu quarto com o André, as crianças já estavam dormindo, e nós dois estávamos deitados um de frente para o outro na cama.

- Eu me sinto tão culpada pelo o que aconteceu hoje – contei. André franziu a testa e tocou em meu rosto com leveza.

- Não diga isso Celina. Não foi sua culpa, acidentes com crianças acontecem – ele disse.

- Mas eu me senti uma mãe tão desnaturada, eu não estava por perto naquele momento, a culpa de ter acontecido o que aconteceu com a Eliza, foi inteiramente minha. Se eu estivesse presente, teria impedido e nada disso teria acontecido. Que tipo de mãe sou eu, que deixa os dois filhos pequenos sozinhos? Era minha responsabilidade estar por perto para protegê-los – confessei o que estava me incomodando desde o acidente.

- Meu amor, o que aconteceu com a nossa filha não foi culpa sua, você é mãe sim, mas também é uma pessoa, e como qualquer pessoa, tem responsabilidades com outros assuntos, você estava guardando as roupas dela, como iria imaginar que algum deles poderiam se machucar dentro de casa? Afinal, antes de isso acontecer, os dois estavam bem, então não tinha como imaginar que a Eliza fosse subir em uma cadeira para poder pegar um biscoito, essas coisas acontecem mesmo, e não é culpa de ninguém. Crianças são levadas e por isso, estão sempre se machucando, a única coisa que nós dois podemos fazer como pais, é ficar atentos enquanto estamos presentes, ensinar, para que coisas assim não voltem a se repetir. Tenho certeza que depois de hoje, ela nunca mais vai subir em uma cadeira para pegar algo.

De certo modo, escutar o André me acalmou, aliviou, ele estava certo. Ficar me culpando por uma coisa que eu não tinha o controle naquele momento não mudaria nada. Crianças são arteiras por natureza e eu ficaria mais atenta.

- Você sempre consegue me acalmar, sempre foi assim – eu disse, e sorri, passando minha mão lentamente por todo seu rosto.

Eu sabia que era feliz e realizada, pois eu tinha o meu marido ao meu lado, o homem que eu amo, e quando tive o prazer de ser mãe do Théo e da Eliza, a minha felicidade se multiplicou e o meu amor também.

Era o meu lar, minha família, e eu os amava infinitamente. Demos um beijo intenso, muito apaixonado, de repente, escutamos batidas em nossa porta, paramos de nos beijar e rimos, sabíamos que era um dos nossos dois filhos. E eu estava apostando que era a Eliza, ela já havia feito isso algumas vezes, acordava no meio da noite e ia para o meu quarto.

- Quem é? – perguntei.

- Sou eu mamãe! Posso entrar? – ela perguntou do lado de fora.

- Claro meu anjo – respondi.

A pequena entrou e ficou de frente para a cama. – Posso dormir com vocês só hoje? – ela perguntou, com a voz fraquinha.

- Motivos?

- Eu fiquei com medo de dormir no quarto sozinha, eu sei que eu tenho que dormir no meu quarto como a mocinha que sou, mas eu estou com medo, posso dormir só dessa vez com vocês? – perguntou ela.

- Tudo bem Eliza, hoje você pode dormir com a gente. Mas só hoje em, a partir de amanhã vai ter que dormir sozinha, e vamos ter que conversar a respeito do seu medo amanhã cedo.

- Tudo bem mamãe. Obrigada – ela agradeceu e subiu na nossa cama e se deitou entre nós dois.

André sorriu e eu também, e adormecemos abraçados a nossa filha. Estávamos fazendo um bom trabalho com a criação de nossos filhos, e sabíamos disso, esperávamos continuar nesse caminho.

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