Eliza - 20

Chegamos em casa e nossos pais fizeram com que eu e Alana nos sentássemos no sofá, porque teriam uma "conversa" conosco, e pelo menos, deixaram o Théo fora da conversa. Bem feito. Eu estava com muito medo do castigo que os meus pais poderiam me dar. Alana não estava nem esquentando a cabeça, ela estava convicta de que os pais não a castigariam. Eles se sentaram em cadeiras de frente para nós duas. Os primeiros a falarem foram a Cassie e o Diego.

— Em primeiro lugar, as perguntas que fizermos aqui, as duas responderão. Queremos ouvir respostas das mesmas perguntas de vocês duas — disse Diego, sério, olhando para mim e Alana.

Fiquei meio intimidada, eu não tinha ainda muita intimidade com o Diego, com a Cassie era mais ou menos, na verdade, bem menos do que para mais. Fazia muito pouco tempo ainda.

— A primeira a responder será você, Eliza, você será a primeira em todos, ok? — Perguntou Diego, me olhando.

— Eu? — Me espantei.

— Sim, você. Celina e André nos contaram que você não sabe mentir bem, por isso será a primeira. Conheço a Alana com a palma da minha mão e sei que ela vai mentir — disse ele e olhou para Alana. A mesma revirou os olhos e deu de ombros.

Permaneci quieta e muito nervosa, ele se remexeu na cadeira e voltou o olhar para mim, bastante sério.

— Por que você fugiu? — Perguntou. Ótimo! Começou super bem com essa super pergunta.

— Porque eu... Queria ir à festa — respondi.

— Tem certeza, minha linda? — Perguntou Cassie, olhando para mim, com um olhar tão compreensivo, que fiquei com pena de ter feito tudo isso.

— Sim.

— Mas você queria ir muito a essa festa? — Perguntou Diego.

— Claro, queria, mas vocês não deixaram, por isso fugimos.

— Você pensava em fugir antes de Alana dar a ideia? — Perguntou ele, eu não percebi na hora a pegadinha que ele estava fazendo, com uma simples pergunta, ingenuamente e sem querer, acabei entregando Alana.

— Não, isso nem passou pela minha cabeça — disse sem perceber, e Alana me olhou, com os olhos arregalados, então percebi que fiz burrada.

— Viu, como eu imaginava André, a ideia foi da Alana, a conheço bem — disse Diego.

— Mas aceitei fugir porque eu quis! Ela não me obrigou, eu fui por livre e espontânea vontade — disse em desespero, logo em seguida, tentando aliviar para o lado da Alana.

— Não minta, Eliza, eu não te conheço muito, mas Celina e André só falam maravilhas de você, me contaram que não entendem por que fez isso, que você jamais se comportou assim antes e que é muito medrosa para ter esse tipo de ideia — disse Diego, me fitando. Eu não sabia mais o que falar, foi quando a Alana falou com a voz exaltada.

— É, a ideia foi minha mesma! Eu disse a ela para fugirmos e a Eliza realmente não queria ir, pois estava com medo de ser pega, de vocês descobrirem tudo! Sem contar que ela também estava com pena de deixar vocês assim, porque sabia que ficariam chateados, mas usei argumentos bem convincentes para que ela aceitasse fugir! Como todos aqui já sabiam, eu sou a ovelha negra da família! Agora, será que dá para parar com essa coisa ridícula? Vocês já sabem a verdade, a culpa toda é minha! — Gritou Alana, exaltada e com os braços cruzados. Ela estava com muita raiva.

— Aceitei ir, porque eu realmente queria ir nessa festa — tentei dizer. Mas ninguém queria ouvir o meu simples comentário, estavam todos olhando na direção de Alana.

— Ninguém disse que você é a ovelha negra da família, meu amor — disse mamãe para ela. Alana não olhou Celina nos olhos, ficou com o olhar fixo no chão.

— Não disseram, mas deram a entender, todos aqui já sabiam que dei a ideia de fugir, então para que esse interrogatório tosco? Como todos sabem, a Eliza é a boazinha, é incapaz de cometer qualquer crime, é a santa da família, então me castiguem logo, e acabem logo com isso. Como o Théo diz, eu sou uma péssima companhia para a santa Eliza! — esbravejou, os olhos estavam marejados.

Eu não estava entendendo, por que ela estava falando todas essas coisas de mim, era ciúme?

— Alana! — disse, olhando para ela. A mesma me ignorou.

— Você está entendendo tudo errado, querida — disse mamãe a ela.

— Não estou, eu só disse verdades, todos aqui sabem.

— Já chega Alana! Para com isso! — Gritou Diego. Era a primeira vez que eu o via bravo.

— Você sabe que eu não estou mentindo, pai! Por que não confessa que está amando ter uma filha toda responsável e educada como a Eliza? — Gritou ela, se levantando.

— Você sabe que não é assim, Alana! Você está tirando conclusões erradas! — Gritou ele.

— Eu só lamento por vocês dois — disse ela, se referindo aos meus pais. — Por descobrirem que a filha biológica sou eu! Tenho certeza de que, se pudessem escolher, ficariam com a Eliza — disse ela, em seguida, saiu correndo em direção ao nosso quarto.

O clima ficou tão pesado que papai disse que eu poderia ir para o quarto, mas que mesmo que a ideia tenha sido da Alana, eu aceitei ir, e também estava me divertindo muito na festa, e isso era motivo suficiente para o castigo ser aplicado a mim também. Assenti e saí apressadamente da sala.

Primeiro, fui ao quarto do Théo, entrei sem bater, ele estava sentado na cama, falando no celular com a Raquel. Tomei o celular dele e desliguei sem avisar a Raquel, ele me olhou assustado. — Está louca, Eliza? Por que fez isso?

— Ainda pergunta, seu cínico? Isso é para você aprender a nunca mais se meter na minha vida e na vida da Alana! Isso tudo é culpa sua! Que colocou minhocas na cabeça dos nossos pais para nos proibirem de ir à festa. O pior foi que você se sentiu feliz em ver a nossa desgraça — gritei furiosa. Ele se levantou, ficando de pé.

— O papai está super certo em ter proibido e ter te dado uma bronca, o que vocês duas fizeram foi inaceitável! Fugiram para poderem ficar se agarrando com aqueles manés! Que só querem se aproveitar de vocês duas.

— Isso não é verdade! O Micael me respeita, e o Cole também respeita a Alana!

— Não era o que parecia quando vi vocês duas se agarrando com eles, o pior de tudo foi que eu esperava isso da Alana, mas não de você, Eliza, quando vi você chegando com aquele mané, toda soltinha, sério, eu não te reconheci — disse ele, os olhos repletos de raiva e ciúmes.

— Deixa de ser ciumento, Théo! Eu só estava beijando e abraçada a ele! Mais nada, e a Alana também não fez nada que não tivesse sido isso!

— Vocês dois estavam indo sei lá a onde, fazendo sei lá o quê no meio do mato! — Gritou ele. O empurrei forte e ele caiu na cama.

— Odeio você, Théo! Está insuportável agindo desse jeito tão mesquinho e egoísta! Eu não admito que você pense esse tipo de coisa a meu respeito.

— Tudo o que fiz foi pelo seu bem, eu sou homem, Eliza, sei muito bem do que estou falando.

— O Micael não é como você. Entenda isso, a Raquel já se entregou para você há muito tempo, não é?

— O quê? — Ele quase cuspiu.

— Responda, Théo! Vai fugir agora?

— Sim, ela se entregou, sim, mas foi por amor, porque nós dois nos amamos, eu não a obriguei, ela quis e tomou a iniciativa.

— Não foi porque ela se entregou a você, que significa que vou me entregar ao Micael, e mesmo se isso acontecer, pode ter a certeza, Théo, de que será por amor.

Ele me olhou, os olhos arregalados. — Você não pode fazer isso, Eliza, você é minha irmãzinha mais nova, só tem dezesseis anos, não sabe nada da vida.

— Acorda, Théo. A Raquel tem quase a mesma idade que eu. E não é porque sou sua irmã, que significa que serei virgem pelo resto da vida.

— Você e a Raquel são muito diferentes uma da outra, você é ingênua, Eliza.

— Eu não sou ingênua, você que é ingênuo de achar que sou ingênua. Olha, Théo, eu não sou mais aquela criancinha que você pegava no colo há um tempo, eu cresci, sou uma adolescente e tenho um namorado. Você não pode me proteger o resto da vida, eu tenho que aprender a me proteger sozinha, e quanto à Alana, não se preocupe com ela. Alana é muito mais esperta que eu, não se intrometa no relacionamento dela com o Cole, isso só fará ela te odiar, assim como estou odiando você agora. Você iria gostar que seus pais, e eu, atrapalhássemos o seu namoro com a Raquel? Então, pare com isso — disse, e caminhei até a porta, saindo do quarto dele.

Claro que eu não odiava o Théo, ele era o meu irmão, o amava muito, mas eu estava com uma imensa raiva dele, por tudo o que ele fez. Entrei no meu quarto e encontrei Alana deitada na cama chorando. Nossas camas ficavam lado a lado, me sentei na minha, o que fez com que eu ficasse de frente para ela.

— Por que disse tudo aquilo na sala? Eu não te entendo, Alana, pensei que estivéssemos de bem.

— Você não entende nada, Eliza, esse é o problema.

— Me explique então. Desculpe, mas não tem como eu adivinhar os seus pensamentos.

Ela se levantou, ficando sentada de frente para mim, enxugou as lágrimas antes de começar a falar. — Eu vi, eu percebi o quanto os nossos pais, principalmente os que me criaram, estavam pensando sobre a situação. Todos ali me culpavam pela fuga, ninguém estava acreditando que você poderia ter feito tudo sozinha, todos sabiam que a errada fui eu, que fui à má companhia, eu te convenci, mas a verdade é essa, não é Eliza? Eu te convenci. Você nem pensou em fugir.

— Alana, foi graças à sua ideia fantástica de fugir que consegui ficar com o Micael. Se não fosse por você pensar nisso, eu não estaria com ele, eu não teria vivido aquele momento perfeito no lago com ele. Eu não me arrependo de ter fugido, você não é uma má companhia, eu aceitei ir porque eu quis. Você não me obrigou. E os nossos pais te amam, não sinta como se eles não te amassem. Você complica tudo, garota — disse e sorri para ela, a mesma abriu um sorriso.

— Desculpa, Eliza, pelas coisas que eu disse, eu sou tão idiota.

— Você não é idiota, só é impulsiva. Assim como o Théo, você puxou isso dele.

— Não me compara com ele, não! — Disse ela rindo, e rimos juntas.

Peguei meu travesseiro e joguei nela, ela pegou o dela e jogou em mim, e assim começamos uma guerrinha de travesseiros, que jogávamos uma na outra, brincando. Depois que ficamos cansadas da brincadeira, deitamos na cama e ficamos olhando para o teto. — Como foi? — Perguntou ela.

— Como foi o quê, sua doida? — Perguntei, virando meu rosto para o lado dela.

— Como foi que você e o Micael ficaram? Ele se declarou? Foi bom? O que você sentiu?

— Ele disse que queria conversar comigo, mas primeiro me levou no lago aonde íamos quando pequenos.

— Aquele lago, lá para o fundo da casa? — Perguntou ela.

— Sim, esse. Como sabe?

— Eu também fui lá com o Cole, mas não te encontrei por lá — disse entre suspiros.

— Deve ter sido na hora que o Micael e eu saímos e fomos passear por outros lugares — falei, sorrindo.

— É, deve ter sido, vai, continua — pediu ela.

— Nadamos no lago e meio que pintou um clima enquanto estávamos lá juntos. Ele se aproximou de mim, ficou me olhando de um jeito profundo e, quando eu tentei falar com ele, ele me beijou e aí rolou. Depois, ele se declarou e disse que já gostava de mim, só que não queria ficar comigo, porque tinha medo de me fazer mal, vê se pode.

— Deve ter sido muito romântico.

— Foi, foi perfeito, Alana, não consigo nem explicar, foi tudo o que eu sempre quis. Meu coração acelerou e fiquei imensamente feliz, foi lindo — confessei, e sorri ao me lembrar do momento.

— Estou tão feliz por você, Eliza.

— E você, mocinha? Como foi com o Cole? Finalmente, você admitiu que gosta dele.

Alana sorriu. Estava radiante de felicidade, ficava assim só de escutar o nome dele.

— Foi perfeito também, fomos ao mesmo lago que vocês dois foram, só que diferente de você, que nadou lá, não sei como, eu fiquei com pavor, só de me imaginar nadando naquele lago com o Cole, tenho medo de lago, Eliza, assim como tenho medo do rio. Mas entrei, fiquei no raso e, quando vi o Cole lá para frente, quase morri de pânico. Cheguei até a chorar, acredita?

— Sério? Nossa, Alana, eu não sabia desse seu medo.

— Pois é... Ele também não sabia.

— Continua — pedi curiosamente.

— Quando ele me viu chorando, foi nadando até mim e me acalmou. Saímos do lago juntos e nos sentamos abraçadinhos de frente para o lago. Conversamos, até que chegou um momento em que, como você disse antes, pintou um clima e nos beijamos. Ele tomou a iniciativa, mas eu permiti, foi enquanto eu o beijava que percebi o quanto eu amava aquele idiota. Quando o beijo terminou, ele brincou, perguntando se eu não iria ofendê-lo ou bater nele, e foi aí que eu disse que não e confessei o meu amor por ele. Foi assim que ficamos juntos. Foi maravilhoso, Eliza — ela contou, sorrindo, toda boba ao se lembrar.

É tão bom ver a sua amiga feliz, ao mesmo tempo, em que você também está feliz.

— Estou muito feliz por você, Alana! — Exclamei, empolgada por nós duas estarmos namorando.

— Obrigada. Qual será o castigo que teremos? Você tem ideia? — Perguntou ela.

— Não. Eu nunca fiquei de castigo, então, não faço ideia.

— Desculpa, por minha culpa, agora você vai ficar de castigo.

— Não é sua culpa, Alana, eu já disse, eu fugi porque eu quis — ressaltei. Alguém bateu na porta do nosso quarto.

— Quem é? — Perguntamos juntas.

— Sou eu, o André.

— É o seu pai, Eliza — disse Alana.

— Ele também é o seu pai, Alana, esqueceu? — Lembrei-me rindo.

— Ah,é, é que às vezes eu esqueço.

— Pode entrar, pai! — Gritei. Ele entrou e sorriu ao nos ver juntas.

— Posso falar com você, Alana? — Perguntou ele.

— Comigo?

— Sim, temos que conversar.

— Vou sair do quarto, depois nos falamos mais — disse eu, ela assentiu, quando caminhei, papai beijou minha testa.

— Te amo, Eliza, mas continuo muito triste com o que você fez.

— Eu sei, pai. Desculpa — disse e saí do quarto, me sentindo péssima.

Sei que errei ao ter fugido, mas se eu não tivesse fugido, eu não estaria agora com o Micael e nem estaria sentindo metade dessa felicidade que estou sentindo. Então, eu não me arrependo pela fuga nem um pouco, só sinto pelos meus pais, que ficaram chateados, mas até parecem que nunca foram jovens. Lembrei-me do Manuel e fiquei triste por ele. Na verdade, eu podia até imaginar o quanto aquele ruivo ficaria triste ao descobrir o meu namoro com o Mica.

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