Eliza - 16
Era o último dia da Alana no hospital, já estava recuperada, fomos todos juntos buscá-la, ela saberia de tudo no mesmo dia, decidiram assim, não quiseram esperar por muito tempo. Eu disse que receber uma notícia dessas no dia em que está prestes a sair do hospital, não era uma boa ideia.
Aquele dia, quando eu soube da verdade, meus pais me chamaram para conversar, caminhei com os dois para uma área mais afastada do hospital, onde não tinha ninguém para nos incomodar. Lembro-me dos olhares deles sobre mim, mas eu não tive a coragem de levantar o olhar e encará-los, eu estava muito ferida naquele momento, foi quando eu senti braços me puxarem, eram eles.
Meus pais (Celina e André) estavam me abraçando com uma imensa força e com um imenso carinho também.
— Seremos sempre os seus pais, querida! Nunca vamos te abandonar, nunca. Amamos você com toda a força do nosso coração, filha, mesmo que não sejamos os seus pais biológicos, somos os seus pais de qualquer maneira, e você sabe disso, não sabe? — disse mamãe, chorando e me abraçando ao mesmo tempo.
Me emocionei bastante, eu pensei que após descobrir que eu não era a filha deles, os dois não fossem mais querer saber de mim, que fossem me esquecer e que quisessem apenas ficar com a Alana, eu já estava até me imaginando sem pais por aí... Porque, eu também não sabia se Cassie e Diego iriam me querer como filha. Acabei chorando também.
— Vocês têm certeza que querem continuar sendo os meus pais?
— Eliza! Quanta bobagem, o que pensou? — perguntou papai, enquanto me abraçava forte.
— Pensei que vocês dois fossem querer recuperar o tempo perdido com a Alana, e me deixariam, para poder ficar com ela, afinal, ela é a verdadeira filha dos dois.
— Concordo que Alana é nossa filha e sinto tanto, por não ter a criado e a visto crescer, no entanto, você também é a nossa filha, meuamor, cuidamos de você desde que era uma recém-nascida, te vimos crescer, te educamos, é claro que você é nossa filha. Eu jamais te deixaria de lado por descobrir a verdade, seria desumano, é o mesmo que dizer que eu não tenho amor por você, porque, querendo ou não, eu te amo muito. Os pais que abandonam os filhos, por descobrir que não são seus filhos, significa que, na verdade, nunca amaram essa criança, e nós dois, te amamos muito Eliza — disse mamãe, enquanto afagava o meu cabelo.
— Eu também te amo mãe, eu te amo pai, mas, tenho medo de que vocês me esqueçam com o tempo. Agora está explicado o motivo de eu não me parecer em nada com você, e nem com você pai... achei que tivesse te puxado, mas não, era conveniente para mim pensar isso. Alana, sim, se parece com você mamãe, vocês duas são muito parecidas — disse eu, analisando-os, eles me olhavam aflitos.
— Jamais te esqueceremos meu amor — disse papai, e mamãe assentiu me abraçando novamente.
— O que vamos fazer? — perguntei.
— Como assim, querida? — perguntou minha mãe.
— Agora que todos sabem que sou a filha biológica da Cassie e do Diego, e a Alana de vocês dois, o que vamos fazer? Eu vou morar com quem? Com vocês? Com eles? E agora? — perguntei nervosa. Eu não odiava a Cassie e o Diego, mas também, não sabia se os amava. Eu não queria morar com estranhos, mesmo que seja cruel dizer isso, os dois são apenas estranhos para mim, eu não os conheço direito, seria muito difícil me adaptar, eu não sei se conseguiria chamá-los de pais, eu nem sei se conseguiria amá-los como amo os meus pais.
Os dois se entreolharam preocupados, eles não haviam pensado nisso ainda, então, depois disso, eles conversaram com a Cassie e o Diego para assim encontrarem a melhor solução para esse caso.
Mesmo que minha mãe não admitisse na minha frente, era óbvio que ela e o papai queriam recuperar o tempo perdido com a Alana e ficarem mais próximos possíveis dela, não dava para renegar os laços de sangue, é mais forte do que pensam.
E bem lá, no fundo, eu também sabia que a Cassie e o Diego iriam querer se aproximar de mim, me conhecer melhor, e justamente aí estava o problema, nenhum deles iria querer abrir mão de nós duas. Eles teriam que entrar em um acordo, um acordo que não prejudicasse a Alana e eu.
Um acordo que todos sairiam ganhando. Mas era difícil pensar na melhor opção, não é todo dia que se descobre que trocaram as suas filhas na maternidade, juro que se eu encontrar essa enfermeira por aí, acabarei com ela! Por culpa dela, isso está acontecendo! Foi por culpa de um ato inconsequente, que mudou nossas vidas para sempre, ela foi à culpada por Alana e eu termos crescido em famílias que não eram nossas, até os nossos nomes estavam errados, estava tudo errado!
Isso afetou até nos nossos nomes, a vida que tenho, que sempre tive, era para ser a vida da Alana, e não minha, se a troca não tivesse acontecido, eu estaria vivendo a vida da Alana, ao lado dos meus pais biológicos... Que confusão dentro da minha cabeça! Tantas coisas... tanto sofrimento para uma garota de dezesseis anos! E só então, eu me dei conta de que eu teria um irmãozinho ou irmãzinha.
Cassie estava grávida! E essa criança, é sangue do meu sangue, seríamos irmãos. Era estranho, mas foi a única coisa que me deu alegria naquele momento. Mesmo que eu não quisesse admitir, Alana e eu estávamos ligadas. Ligadas para sempre.
Eu ainda não havia ficado perto da Cassie e do Diego para que eles pudessem conversar comigo, eles até tentaram, mas eu fugi, não queria aceitar queeles agora seriam os meus pais, na verdade, eles já são, mas sempre me esqueço.
Eu ainda não sabia o que eles decidiram fazer em relação a "nós duas". Eles deixaram para me contar com a Alana. Fui a primeira a entrar no quarto de hospital, onde ela estava.
Deparei-me com o Cole beijando a mão da Alana, o que foi perfeitamente fofo, pois os dois estavam rindo um para o outro e ainda não tinham se dado conta da minha presença, tive que tossir para os dois perceberem. Eles me olharam surpresos, ainda sorrindo.
— Eliza! Que bom que veio! Vem cá — chamou ela.
— É vem cá, Eli! — gritou Cole, zombando de mim, ele mais do que ninguém sabia o quanto eu odiava ser chamada de Eli, ainda mais, porque quem me chamava de "Eli" era a irmã dele.
— Engraçadinho — disse eu, me aproximando dos dois.
— Tenho que manter o meu senso de humor, sabe como é...
— Mas isso não teve graça, senhor Cole — disse e fiquei próxima a eles.
Alana ria como uma criança travessa, era um alívio olhar para ela e ver que estava bem e viva, eu me assustei muito com o acidente dela.
— Veio me buscar, Eliza? — perguntou ela.
— Na verdade, não só eu, mas como todos.
— Todos, você se refere a quem exatamente?
— Você vai ver — disse, em seguida olhei para o Cole e ele percebeu o que eu estava querendo dizer. Sim, o Cole já sabia de toda a história, que nós duas fomos trocadas, o Micael também sabia, por isso eu pedi a ele, para que não viesse vê-la no hospital hoje, pois tínhamos que dar essa notícia para ela.
Já o Cole... foi impossível convencê-lo a ficar em casa, ele disse que viria de qualquer jeito e que quando eu chegasse, iria embora. Eu também já estava sabendo do namoro dela com o Micael e sinceramente, me doeu bastante, no entanto, me doía mais o fato de eu ter descoberto que não sou filha dos meus pais e toda essa tragédia que acontecera com a Alana. Não era o momento para brigas, ainda mais por meninos.
— Alana, tenho que ir, nos vemos amanhã, pode ser?
— Já? — perguntou ela, desapontada com a partida inesperada de Cole.
— Sim... eu não queria, mais você tem que ficar um pouco com os seus pais, já fiquei tempo suficiente aqui te animando — disse ele sorridente.
— Você quis dizer, atentando! Não se engane, você estava me atentando, o que é muito diferente de animando — brincou ela, e os dois riram. Era impressionante como esses dois se entendiam e se davam tão bem, era uma pena que ela não percebesse isso, se notasse, talvez não brigássemos tanto. Se ela ficasse com o Cole, o caminho ficaria livre para mim, estou mesmo dizendo que o Micael só ficaria comigo, caso a Alana se afastasse dele? Como assim? Eu também sou muito bonita e capaz de conquistá-lo, para isso não é necessário que ela se afaste.
Horas, o que estou pensando? Fiz o enorme esforço de parar de pensar nesses assuntos. Não era o momento.
— Me ame menos, novata — brincou ele e então piscou para ela.
— Até parece! — gritou ela e então ele saiu, jogando beijinho no ar.
— Quer água? — perguntei.
— Não, não estou com sede, mas obrigada — agradeceu ela.
De repente, todos entraram. Meus pais junto a Cassie e Diego.
Alana olhou surpresa e sorriu. — Mas o que é isso? Tudo isso por que sairei do hospital? É... acho que sou importante mesmo — ela brincou sorrindo. Todos riram com ela e chegaram mais perto.
— Temos uma coisa para te contar, Alana — disse Cassie, segurando na mão dela.
— O que foi pessoal? — perguntou ela, nos olhando confusa.
Eu estava temendo por ela, pois eu, mais do que ninguém, sabia o quanto aquela notícia afetaria a vida dela, era óbvio que ela não reagiria da melhor forma possível. Se eu não consegui lidar com essa notícia quando descobri, imagina ela.
— Não se assuste, Alana, vamos te contar como tudo isso aconteceu — disse Diego, colocando as mãos em volta do pescoço dela. Ela assentiu e quem começou a falar foi a Cassie.
— Há dezesseis anos, duas meninas lindas nasceram, foi no mesmo dia e uma enfermeira inexperiente e descuidada, se confundiu com as duas meninas e acabou trocando elas no berçário, então...
— Para! — gritou Alana, se levantando, ela estava com os olhos marejados, ela já tinha entendido tudo.
— Meu amor, você vai ser sempre a nossa filha, te amamos incondicionalmente! — Disse Cassie, com os olhos azuis inundados de lágrimas. O mesmo tom de azul dos meus, até nisso eu a puxei.
— Para. Diz que é mentira! Por favor...
— Não é Alana, não é mentira, vocês duas foram trocadas quando nasceram...
— E eu sou filha da Celina e do Diego — completou Alana, olhando para os meus pais.
— É... — disse Cassie chorando horrores, todos ali estavam com os olhos inundados de lágrimas, menos eu, por mais vontade que eu estivesse de chorar, eu me segurei. Eu não queria sentir aquela dor de novo. Duas vezes não.
— Mas você será sempre a nossa filha, Alana, você vai ser sempre a minha princesinha — disse Diego e a abraçou, ela o agarrou com todas as forças e em seguida, Cassie se juntou a ele, para abraçá-la.
O olhar de Alana pousou sobre mim, logo em seguida, ela se soltou deles, e se levantou com certa dificuldade. — Quero ir para casa — disse ela. — Me tira daqui, Eliza.
— Eu? Mas...
— Eu não quero mais falar com ninguém!
— Alana, não terminamos ainda de conversar, temos que contar o que decidimos — falou Cassie.
— Não temos nada o que conversar! Eu não quero saber de nada! Para mim, continua tudo igual, eu continuo sendo a filha de vocês dois e ponto — disse ela. Parecia estarcomeçando a ter uma crise, estava estranha, estava negando a realidade.
— Sim, meu amor, é verdade, no entanto, você não pode fugir do que acabou de descobrir! Você tem outros pais também, e vocês duas são as nossas filhas, não podemos e nem queremos viver sem as duas, por isso decidimos que a melhor opção nesse momento é que todos fossemos morar juntos, assim, nenhum de nós nos separaria. E ainda, ficaremos próximas, para nos conhecermos melhor.
— Não! Chega! Isso tudo é mentira! É um sonho... um pesadelo! — gritou Alana, totalmente descontrolada. Nunca a vi daquele jeito, a reação dela foi muito pior que a minha, e superou o que eu imaginara, parecia totalmente transtornada, olhei para os meus pais e minha mãe estava chorando, papai tentava consolá-la, fingindo estar forte, mas ele estava sofrendo muito, assim como ela.
— Essa reação é normal, Cassie? — perguntou mamãe, assustada com a atitude da Alana.
— Ela está tendo um surto, uma crise devido à notícia! Ela só teve isso uma vez na vida, quando descobriu a traição do Álvaro e da Betina, depois, nunca mais, mas agora está vindo de novo! — disse Cassie.
— O que fazemos? — perguntou meu pai, preocupado.
— Querida... — tentou minha mãe, se aproximando dela, mas a Alana estava tão surtada que empurrou minha mãe e gritou: sai!
Eu não aguentei ver essa cena sem fazer nada, ver a Alana destratando a minha mãe desse jeito, fez o meu sangue ferver. Na hora eu não estava entendendo o quanto um ataque de pânico fosse grave, pensei que fosse apenas bobeira da Alana para chamar atenção, fui até ela, segurei em seus braços bem forte e comecei a gritar na cara dela.
— Já chega sua mimadinha! Não percebeu que você não foi à única afetada? Eu também passei por isso, eles estão passando! Nós duas estamos passando! Então para de pensar só em você, pelo menos uma vez na vida! — gritei, sacudindo ela forte, de repente, Alana me empurrou tão forte para longe dela, que no impulso, bati na parede com tudo.
Os médicos chegaram e as enfermeiras foram direto na direção da Alana, o médico a segurou pelos braços e uma enfermeira no mesmo momento, aplicou uma injeção no braço dela, meus pais já estavam em volta de mim, tentando ajudar a me levantar, mas outra enfermeira se aproximou.
— Deixe que cuido dela, precisamos verificar se está tudo bem.
Meus pais assentiram e olhei para Alana já desmaiada no colo do médico, ele a deitou na cama e nos colocou para fora do quarto, e eu fui levada para outra ala do hospital.
Cassie e Diego me pediram desculpas pela Alana e disseram sentirem muito. Falaram que sentem um carinho muito grande por mim, disseram que querem se aproximar e me conhecer melhor, eles querem ser tão importantes na minha vida como os meus pais, eu não disse nada, fiquei quieta e fui para a sala de radiografia, motivos? Bati com força a cabeça na parede e meu braço estava doendo de mais, então, tive que fazer as radiografias, mesmo eu sabendo que nada sério tinha me acontecido.
Todo o momento, eu lembrava da cena que presenciei da Alana fora de si, de quando gritei com ela, achando que fosse apenas frescura dela. Quando ela me empurrou com tanta força e com tanta raiva, que juro, que quando olhei nos olhos dela, no momento da confusão, eu podia ver o quanto o olhar dela estava vazio, e tive a certeza de que não era frescura, ela tinha realmente tido uma crise de pânico.
A Alana que conheço jamais empurraria minha mãe daquela forma e muito menos faria o que ela fez comigo. Quando saí dos exames, e viram que estava tudo normal comigo, e que eu não fraturei nenhum osso, eu disse aos meus pais que iria embora para minha casa, eu já estava cansada daquele ambiente. Eles concordaram que eu fosse e quando eu estava indo, Cassie e Diego correram até mim e me puxaram para um abraço.
— Não se preocupe, Eliza, tudo vai ficar bem e vamos recuperar o tempo perdido — disse ela, e beijou meu rosto.
— Quando a Alana acordar e tiver bem de novo, vamos resolver o assunto da mudança — disse Diego, ele beijou minha testa. Fiquei sem reação, apenas murmurei um tchau para os dois, um táxi estava me esperando, meu pai chamou.
Enquanto o táxi não chegava à minha casa, fiquei pensando em tudo o que estava acontecendo. Prefiro acreditar que todo esse sofrimento e complicação está sendo porque essa é a fase da descoberta, onde tudo é estranho e parece ser o fim do mundo, e que depois, quando nos acostumarmos entre nós, será bom e feliz. Assim esperava.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top