Eliza - 14
— Está melhor, Alana? — perguntei, ela me olhou com o rosto desolado, pelo menos, já estava mais calma, não chorava como antes.
— Sim, mas estou muito preocupada com os meninos, será que eles estão bem?
— Devem estar, tirando os machucados... bom, mas quem mandou também eles brigarem...
— Foi minha culpa, se eu não tivesse falado aquilo em voz alta, o Cole não escutaria e nada disso aconteceria.
— O que você falou que ele escutou? — eu ainda não sabia o motivo da briga daqueles dois ogros.
— Tudo aquilo Eliza, sobre a piscina e o fato do Micael ter avançado o sinal, o Cole estava escondido do lado de fora, escutando tudo, no mesmo momento, dito, ele entrou como um furacão e foi para cima do Micael, e então, começou tudo — ela explicou.
Fiquei de boca aberta, o Cole brigou com o Micael pela Alana! O Cole estava loucamente apaixonada por ela, isso era um fato, que sortuda, ele gostava dela e ela interessada em outro... por que, essas coisas tinham que acontecer? Deveria ser proibido não corresponder uma pessoa no amor.
— Ele fez tudo isso por amor, ele te ama Alana, quis te proteger — fiz questão de lembrá-la.
— Eu sei, pior que sei, Eliza, e eu sinto tanto por isso — respondeu, e algumas lágrimas voltaram a cair, me aproximei mais e a fiz deitar a cabeça em minhas pernas. Ela se deitou e eu fiquei ali, conversando e mexendo carinhosamente no cabelo dela. Eu não sabia como era possível, mas, sempre que eu ficava perto da Alana, e quando a via triste, me dava vontade de esquecer todo o lance da gravação e voltar a ser amiga dela, algo me puxava para ela, e eu não conseguia odiá-la totalmente, eu queria ser amiga de uma garota que havia falado coisas ruins de mim, eu não havia aprendido o suficiente com a Bela?
— Por que, você se lamenta pelo Cole gostar de você?
— Porque ele gosta de mim, e eu não gosto dele como deveria, eu o amo tanto, não suporto vê-lo sofrer, ainda mais sabendo que o motivo pelo sofrimento sou eu — respondeu ela, sua voz estava rouca.
— Desculpa a sinceridade, mas acho que você ama o Cole, sim, um amor mais forte do que o de amizade. Notei pelo modo como você ficou ao vê-lo naquele estado, e não me venha dizer que foi pelo Micael, porque não foi. Você só não percebeu ainda, na sua cabeça a obsessão pelo Micael está falando mais alto do que o amor que sente pelo Cole, e isso está te confundindo.
— Está dizendo isso, por que quer que eu desista do Micael, é? — perguntou ela, com a voz falhando.
Eu ri. — Não, sua boba, eu não preciso trapacear para ter o Micael, eu vou ter ele, jogando limpo — disse sorrindo, ela se levantou e cruzou as pernas, ficando sentada de frente para mim.
— Eu deveria ficar brava, mas não consigo, ainda mais no estado deplorável que me encontro — disse ela e riu um pouquinho.
— Percebi, mas não fica assim não, os dois estão bem, sim, quer voltar para sala?
— Quero ver o Cole.
— Viu! Você deveria dizer: "Eu quero ver o Micael", mas o que você disse? Simplesmente disse que quer ver o Cole, é ou não estranho?
— Ah, não Eliza, não vem com essa agora, esquece o que acabei de falar.
— Como quiser.
— Está muito boazinha comigo... — disse ela, com uma sobrancelha levantada.
— Vê se não acostuma, está bem? — brinquei e rimos juntas.
— Vamos voltar para sala, acho que já estou melhor — disse ela, assenti e caminhamos de volta a sala de aula.
Os meninos com certeza foram suspensos, pois não voltaram para sala, e foram os funcionários que recolheram os materiais dos dois, e levaram para fora da sala. Quando a aula terminou, assim que saí da escola, meu celular tocou. Atendi, era a minha mãe, ela estava com a voz exaltada. Parecia nervosa com alguma coisa.
"Filha?"
"Oi?"
"Está bem? Aconteceu alguma coisa?", — perguntou ela, com a voz trêmula.
"Estou ótima, não aconteceu nada não, por que mãe? O que aconteceu com você?" — quis saber, ela nunca tinha me ligado para perguntar isso, ainda mais nesse estado.
"Tem certeza que está bem, meu amor? É que senti algo estranho aqui no peito, um pressentimento ruim, como se alguma coisa de ruim fosse acontecer, por isso te liguei, pensei que você estivesse em perigo."
"Estou ótima mãe, não surta, com certeza foi alguma dor, já ligou para o Théo?"
"Sim, ele disse que está bem também."
"Então, mãe... não se preocupe. Seus dois filhos estão ótimos."
"É que o pressentimento está ficando pior filha! Está doendo muito! Parece que vai explodir meu peito de tanta dor, eu nunca tive esse pressentimento ruim, é a primeira vez, não entendo."
"Mãe, se acalma, está tudo bem, já estou voltando para casa, deve ser alguma dor física e você está confundindo com pressentimentos."
De repente, uma confusão se forma em volta de onde estou. Não era tão perto do colégio, mas também não muito longe, e vejo pessoas e estudantes correndo de um lado para o outro, gritando muito, fico assustada e escuto uma pessoa gritar: "Arrastão"!
No mesmo instante, escuto barulhos de tiros, estava tendo um arrastão na rua, e os bandidos estavam armados, atirando! Lembro-me que ainda estava no telefone com minha mãe.
"Filha? Que barulho é esse?" — escuto ela gritar, mas não consigo responder, nesse mesmo momento, sinto mãos me puxarem, olho assustada, e vejo o Manuel.
— Temos que sair daqui, Eliza! Está tendo um arrastão e estão atirando! — gritou ele, me puxando e correndo comigo para a direção do colégio.
De repente, mais barulhos de tiro. Paro de correr e olho para trás, não sei como, mas vejo Alana no meio da confusão, perdida, correndo sem saber para onde ir.
— Temos que ir lá e ajudá-la! — gritei para o Manuel e quando comecei a correr, presenciei a cena mais horripilante de todas, vi o tiro acertar a barriga de Alana, ela caiu no chão lentamente, e só então, percebi que os ladrões ao verem que a acertaram, começam a fugir do local.
Saí correndo em direção a ela, gritando muito. Não só gritando, mas como chorando também, eu estava em prantos.
— Alana! Alana! Por favor, acorda! — gritei, pegando em sua mão, ela estava com os olhos abertos, sua barriga sangrava muito, havia um poço de sangue se formando ao redor dela. Manuel estava do meu lado, as pessoas estavam eufóricas e assustadas ao redor, escutei Manuel chamando a ambulância.
Ela me olhava desnorteada, estava gemendo de dor, Alana estava sentindo muita dor e eu não conseguia fazer outra coisa, a não ser chorar e chorar, parecia que estava morrendo, foi a cena mais trágica que presenciei em toda a minha vida.
— Vou morrer? — perguntou ela, com a voz super baixa, enquanto gemia de dor.
— Não! Você vai viver! Vai viver muito, Alana! Não fecha os olhos! Por favor, não nos deixe — pedi, passando minhas mãos no rosto dela.
— Diga a meus pais que eu os amo, e que... estou feliz em saber que pelo menos, eles vão ter esse novo filho para cuidar, assim... não... vão sentir tanta a minha falta — disse ela, com muita dificuldade.
— Para com isso! Eles te amam tanto, nenhum outro filho vai preencher todo esse amor que eles sentem por você, Alana, não diga besteiras, a ambulância já está chegando! Lute mais um pouco, não feche seus olhos — implorei, chorando muito, minha voz estava falhando também.
— Fala para o Cole, que eu o amo muito e que desejo... o melhor para ele, diga para ele não sofrer tanto, fala... fala para ele, que quero que ele seja feliz.
— Você não vai morrer... para com isso — gritei, balançado a cabeça negativamente de tanto chorar. Ela me olhava com tristeza, lágrimas desciam por seu rosto assustado.
— Eu te amo, Eliza, eu... gosto tanto de você, é uma pena que tudo isso... tenha acontecido entre nós duas, você é muito boa, merece ser feliz sempre. Desculpa por tudo.
— Para, para, não fala mais! A ambulância já está chegando, ficará tudo bem!
— Não... eu não sei se vai, eu quero me despedir, eu não sei o que me espera Eliza, assim que eu fechar os meus olhos.
— Por favor, não me deixa aqui, não faz isso comigo, eu te amo muito, Alana, não vai embora, você foi a melhor amiga que eu já poderia ter tido em toda a minha vida — falei, entre choros altos.
Ela sorriu tristemente e gritou de dor, um grito bem forte a agonizante, em seguida, seus olhos se fecharam, me desesperei, gritei e chorei ao vê-la com os olhos fechados, como se estivesse sem vida. Ela havia perdido a consciência, sua pele estava fria e pálida.
— Não! Não! — gritei, Manuel segurou na minha mão.
Quando percebi a ambulância já havia chegado, os homens estavam se aproximando, o Manuel me puxou para trás, e os homens colocaram a Alana na maca e um monte de aparelhos respiratórios nela.
Cheguei perto de um que estava comunicando o ocorrido pelo telefone com alguém. Não sei se era com a polícia ou se com alguém do hospital, apenas me aproximei e cutuquei o braço dele, ele parou de falar e me olhou. — O que foi?
— Como ela está? Está viva? — perguntei, temendo pela resposta.
— Está viva, mas ela perdeu muito sangue, por isso, o quanto mais rápido ela chegar ao hospital, melhor vai ser para ela.
— Obrigada — respondi, a voz trêmula. Ele assentiu e entrou na ambulância com os outros, e ela na maca. Manuel me abraçou forte.
— Vai ficar tudo bem, Eliza, ela vai sobreviver — disse ele, tentando me reconfortar.
Lembrei-me da minha mãe, peguei o meu celular, havia 20 chamadas perdidas nele, disquei o número dela e liguei.
"Mãe?" — perguntei com a voz arrasada, eu estava tentando não chorar mais.
"Meu amor! O que aconteceu?"
"Alana..."
"O que aconteceu com ela, meu amor?"
"Foi baleada, mãe, foi horrível." — disse me lembrando de tudo novamente.
"O quê? Vou te buscar agora! E vamos para o hospital juntas!"
"Ok, te espero, te esperarei no portão do colégio." — falei e desliguei.
— E se ela morrer? O homem disse que ela perdeu muito sangue... se ela morrer... eu...
— Não pense nisso, Eliza! Ela vai ficar bem, você vai ver — disse ele e me puxou para seu corpo, me envolvendo em seus braços.
Aninhei-me a ele e fiquei relembrando, ainda em choque, toda a cena, de tanto que chorei, minhas lágrimas secaram. Ficamos aguardando a minha mãe chegar por um tempo, quando ela chegou, entramos no carro e ela me abraçou.
— Querida! Estou aliviada que esteja bem, mas, estou tão... abalada com isso, o que aconteceu com a Alana, dói muito aqui em mim, é como se eu estivesse perdendo outra filha — disse ela, levando a mão no peito.
— Você gostava muito dela, mãe; por isso, está assim, eu também estou... — disse e comecei a chorar de novo, ela me soltou e beijou meu rosto.
— Vai ficar tudo bem filha, vamos pensar positivo, a Alana vai se salvar! — disse ela e então, ligou o carro e partimos em direção ao hospital que ela havia sido levada, o Manuel perguntou as pessoas, e elas disseram na confusão, e no susto, eu acabei esquecendo de perguntar para qual hospital ela estava sendo levada.
Assim que chegamos ao hospital, fomos direto para a recepção perguntar sobre o caso da Alana, para saber em qual andar estava, se era sério, essas coisas. Ao nos informarem, subimos de elevador para o quarto andar.
Avistamos os pais da Alana sentados, preocupados, Cassie estava com o rosto vermelho de tanto que chorou, e seu marido também. Caminhamos até os dois, e os abraçamos, dizendo sentirmos muito, e perguntando como ela estava.
— O médico não nos disse muita coisa, apenas que era grave e que ela precisava ser operada quanto antes para retirarem a bala de dentro do estômago, parece que a bala perfurou uma região muito delicada, e falaram que podem ter complicações na hora da operação, para poder retirar a bala — disse o pai dela, Cassie não conseguia nem falar. Fiquei preocupada com o estado dela, pois ela estava grávida.
— Que bom que veio Eliza, Alana gostava muito de você, eu tenho certeza — disse Cassie.
— Não fale como se ela estivesse morta, ela está viva, ela vai sobreviver — disse, mais para mim do que para ela, eu tinha que acreditar que a Alana iria sobreviver, Cassie caiu no choro e nos abraçamos no mesmo instante.
— Por que isso tinha que acontecer? Com a minha linda filha? — perguntou Cassie, aos prantos enquanto me abraçava.
— Eu não sei... foi tudo tão rápido, nunca teve arrastões perto do colégio, não entendo como isso aconteceu... — disse, chorando.
Ficamos esperando por longas horas, quando a cirurgia terminou, o médico que a operou saiu para nos informar.
— Conseguimos retirar a bala, apesar de quase termos perdido a garota, tivemos que trazê-la de volta, ela voltou na segunda tentativa, no entanto, o estado dela ainda é muito grave, ela perdeu bastante sangue e precisamos urgente de uma transfusão do mesmo tipo sanguíneo que o dela, para ela se recuperar mais rápido — disse o médico, da melhor forma que ele encontrou. Cassie levou a mão em direção ao coração.
— Sou a mãe, devemos ter o mesmo tipo sanguíneo!
— Claro.
— Ok, doutor, não haverá problemas, somos os pais dela, e com certeza temos o mesmo tipo sanguíneo — disse Cassie, e Diego concordou.
— Precisamos fazer o teste de compatibilidade — o médico avisou.
— Temos que fazer esse teste? Mas somos os pais dela, é claro que temos o mesmo sangue — respondeu Diego, atônito.
— Eu não duvido, senhor, é que temos que fazer o teste de compatibilidade primeiro, pois, se ocorrer de não for o mesmo sangue, isso irá prejudicar a Alana.
— Estou grávida, mulheres grávidas podem doar sangue?
— Lamento senhora, mas não, mulheres grávidas não podem doar sangue — respondeu o médico.
— Eu não posso nem ao menos fazer esse teste de compatibilidade, também?
— Pode, pois vamos retirar apenas uma amostra bem pequena do seu sangue, para ver se é compatível, mas, de nada adiantará se der positivo, você não poderá doar.
— Mesmo assim, eu quero fazer esse teste, ela é a minha filha, se o meu marido não tiver o mesmo tipo sanguíneo, eu tenho que doar.
— Mas é proibido, você colocará em risco esse bebê que está no seu ventre.
— Ela é minha filha, não posso deixar que morra, nunca vou me perdoar, e também, eu sei que a chance de nada acontecer comigo e com o bebê, não é?
— Sim, existe essa possibilidade, mas são poucas, praticamente raras.
— Vou arriscar, por favor, façam esse teste em mim e no meu marido — pediu Cassie, o médico assentiu e os levou para outra sala, para recolherem uma amostra.
Segundos depois, os dois saíram da sala e se sentaram para aguardar a volta do médico, com o resultado que sairia dentro de poucos minutos, Alana não podia perder tempo, tempo era uma coisa que ela não tinha no momento. Ele voltou com os resultados nas mãos, já havia aberto.
— E então, doutor? Qual de nós dois tem o mesmo tipo sanguíneo que o dela? — perguntou Cassie, aflita.
— Lamento informar uma coisa dessas, mas...
— O que foi? — perguntou Diego.
— Nenhum dos dois tem o mesmo tipo sanguíneo que o dela.
— Como assim? Como isso pode? Ela é nossa filha! Como isso pode acontecer? — perguntou Cassie em desespero.
— Esse é o problema Cassie, o tipo sanguíneo de vocês dois não batem em nada com o tipo sanguíneo de Alana, não há chances alguma de vocês dois serem os pais biológicos dela. Alana não é a filha de vocês — disse ele.
Aquilo foi um choque, para todos nós, inclusive para os pais da Alana que não estavam acreditando e se recusavam a acreditar em tamanha barbaridade.
— Mas como? Isso está errado!Alana veio de mim! Eu a vi crescer na minha barriga! Eu a carreguei por nove meses, doutor! Esse teste está errado! — gritou ela.
— Eu não sei o que aconteceu, Cassie, só sei que definitivamente vocês não são os pais biológicos dela, o tipo sanguíneo de vocês dois é O+ e o dela é A+, é impossível que ela seja a filha biológica dos dois, ela teria que ter o tipo sanguíneo O+ também, para ser a filha biológica dos dois, estão me entendendo?
— Mas como? Não! Isso não pode ser, tem que ser um pesadelo! — disse Cassie, chorando.
— Ela é nossa filha, como pode? Eu estava lá quando Alana nasceu, doutor, eu a vi! — disse Diego.
— Viu o parto? Ou viu ela já no berçário? — perguntou o doutor.
— A vi no berçário — respondeu Diego.
— E você Cassie? Viu sua filha na hora? Ou no berçário?
— Desmaiei assim que ela nasceu, só fui vê-la depois que acordei, a enfermeira a levou para meu quarto — respondeu Cassie, desnorteada.
— Sinto muito, creio que sua filha foi trocada na maternidade, te entregaram a Alana como se fosse sua filha, lamento muito, ela não é a menina que você carregou em seu ventre — disse o doutor, com a expressão cansada.
Imediatamente Cassie e Diego caíram no choro, estavam chocados com a notícia, e então, minha mãe começou a chorar, não entendi nada e fui até ela para saber o motivo do choro.
— O que foi mãe? Está assim pela notícia da Alana não ser filha deles? — perguntei, ingenuamente. Minha mãe não me respondeu, ela correu na direção da Cassie e do Diego, e do médico. Fui atrás, sem entender nada.
— Estou desconfiada de algo, mas preciso confirmar para saber se é verdade — disse mamãe para eles.
— O que foi? — perguntou Cassie, sem entender.
— Onde deu à luz?
— Nesse hospital aqui, por quê?
— Eu também, eu dei à luz aqui, Cassie! E as meninas fazem aniversário no mesmo dia! Que horas deu à luz? — perguntou mamãe.
Então eu sabia o que minha mãe estava pensando, mas era tudo tão louco! Tão coisa de novela e filmes, que eu não podia acreditar! Minha mãe estava desconfiando que eu não fosse à filha dela e que haviam trocado Alana e eu na maternidade, ou seja, se isso fosse confirmado, eu era a filha da Cassie e do Diego e a Alana era a filha da Celina e do André! Não...
Acho que Cassie estava entendendo tudo, ela me olhou e caiu no choro.
— 01:00 da madrugada — respondeu Cassie.
— Eu também — disse mamãe, chorando.
Isso não podia estar acontecendo, não podia! Saí correndo de lá, eu queria fugir para bem longe e nunca mais aparecer, por que aquilo estava acontecendo comigo? Quer dizer, comigo e com a Alana? Não, não podíamos ter sido trocadas na maternidade! Isso é absolutamente louco. Saí correndo, chorando e assustada, não desci de elevador, desci correndo as escadas, Manuel correu atrás de mim me gritando.
— Eliza! Volta aqui! — gritou ele, não dei ouvidos, eu só queria fugir, e não voltar mais, esquecer tudo isso e fingir que tudo é um pesadelo, que eu acordaria logo, e tudo estaria normal novamente.
Alana bem e viva e eu feliz com a minha família, na qual cresci. A dor era tão forte, que não consegui mais correr as escadas, parei e Manuel conseguiu me alcançar, ele me abraçou, o agarrei e chorei sobre seu peito.
— E se eu não for a filha da Celina? Se realmente eu tiver sido trocada com a Alana? Sabe o que isso significa Manuel? — gritei, chorando e o apertando contra mim.
— Sei, sim, Eliza, mas não chora, eu não suporto te ver chorar, tudo vai se acertar, vamos voltar, eles precisam de você — disse ele, parecia estar sendo sincero.
— Eu não quero voltar, Manuel... eu não quero saber de nada.
— Eliza, você precisa voltar, para as dúvidas serem tiradas, você precisa fazer um teste de DNA com os pais da Alana, só assim você vai saber de quem é filha biologicamente.
Assenti, mas subi contra a minha vontade, quando cheguei onde eles estavam, perguntei onde estava minha mãe.
— Ela está doando sangue para a Alana — respondeu Cassie.
— As duas possuem o mesmo tipo sanguíneo?
— Sim, mais tarde o médico vai fazer um teste de DNA na Celina e na Alana para termos certeza de que são mãe e filha biologicamente, e você precisa entrar ali, naquela sala, para fazer o teste de DNA e tirarmos essa dúvida — disse ela, me olhando de uma maneira triste e carinhosa ao mesmo tempo.
— E quem vai pagar esse teste? Com certeza é uma fortuna.
— Não se preocupe, o hospital se responsabilizou, já que foi aqui, que pode ter acontecido essa troca. Infelizmente, a enfermeira não trabalha mais aqui, eles estão procurando ela, mas duvido que a encontrem, já faz muito tempo.
— Está bem — disse eu, entrei com eles, mesmo que não precisassem fazer o teste novamente, porque já tinham guardado quando tiraram para salvar a vida da Alana, eles entraram comigo e uma enfermeira nos acompanhou, quando o processo terminou, a enfermeira levou o meu sangue para a análise, com os sangues da Cassie e do Diego.
Me levantei, me sentindo estranha e orando para dar negativo. Antes de sairmos, eles falaram comigo.
— Sei que tudo isso é muito louco, Eliza, é muito para sua cabeça, você só tem 16 anos, sei que você quer que esse teste dê negativo, não sabe o quanto eu queria que a Alana fosse a minha filha biológica, eu ainda estou procurando assimilar tudo isso, é tudo tão difícil sabe, descobrir que a minha Alana não é minha filha, que trocaram, que a minha filha foi para outra família... Isso é absurdo, é uma tragédia, mas quero que saiba, que se esse teste der positivo e eu for mesmo a sua mãe, não se preocupe, vamos dar um jeito em tudo, vamos encontrar um jeito de resolvermos essa situação — disse ela, enquanto acariciava minhas mãos.
Diego me olhava de uma forma estranha, até eu os olhava de uma maneira estranha, era tudo muito estranho e surreal.
— Ok — foi só o que consegui dizer, saímos e me sentei do outro lado com o Manuel.
Dormi no colo dele por muitas horas, quando acordei já era noite e ele não havia ido embora. — Por que não foi embora?
— Eu não vou te deixar sozinha em um momento tão delicado como esse.
— O que aconteceu? Alana já acordou?
— Já, sim, ela está bem, fora de perigo, mas ela ainda não sabe sobre sua mãe ser a mãe biológica dela — falou.
— O quê?
— Desculpa, eu esqueci, você dormiu, pegaram o sangue da sua mãe Celina e um pouco que foi perdido pela Alana, e fizeram o teste de DNA, eles apressaram o processo, disseram ser urgente, deu positivo, sua mãe é realmente a mãe biológica da Alana, vocês duas foram realmente trocadas, o seu teste com o da Cassie e do Diego, também deu positivo, você é filha da Cassie com ele.
Agarrei-me ao pescoço dele e chorei. — Vai ficar tudo bem, linda — disse ele, afagando meu cabelo.
Fechei os olhos e pensei o quanto minha vida mudaria a partir daquele momento, não só a minha, mas como a da Alana e todos os nossos familiares.
Diário da Celina
2012 – 15 anos.
Minha filha estava enfrentando muitos problemas, todos envolvendo a Bela. Eu jamais pensei que a Isabela, amiga de minha filha, uma menina amorosa e divertida, pudesse ser a causa de tanto sofrimento da minha Eliza.
Elas não eram mais amigas e Eliza sempre chorava em casa, dizia que não suportava as implicâncias da Bela. Eu queria ter ido ao colégio e resolver a situação, mas Eliza deixou, disse que não adiantaria de nada e que não queria mais problemas, eu só concordei com isso, porque ela jurou que a Isabela nunca fez bullying com ela, que apenas jogava indiretas.
Na época eu achava que respeitar a vontade da Eliza era o correto a se fazer, mas foi o início do meu erro, eu devia ter feito algo para cortar o mal pela raiz. No entanto, eu sabia que a Eliza era forte e que ela arrumaria um jeito de superar essa inimizade.
Uma vez, em uma tarde de quarta-feira, Eliza chegou furiosa em casa e subiu correndo para seu quarto sem nem ao menos me cumprimentar. Fui atrás dela, queria saber o que havia acontecido.
— Aconteceu algo que gostaria de me contar? — perguntei a ela, com doçura.
Ela estava com os olhos inundados de lágrimas e vê-la naquele estado partiu o meu coração.
— Aconteceu que a Isabela é uma falsa! Irritante, patricinha, ridícula, malvada! Ela me irrita mãe! Eu a odeio! — ela gritava com tanta raiva, que até me assustei.
— O que ela fez?
— Eu descobri hoje que ela gosta do Micael! Ela veio até mim, para dizer que gostava dele e que lutaria pelo amor dele! Como ela pode? E tem mais... aquela pau-mandado da Isabela, a tal da Raquel, está saindo com o meu irmão! Aposto que foi a Isabela que pediu para que ela saísse com o Théo, para me irritar e descobrir coisas de mim!
— Vamos por partes, Eliza. Eu até entendo a sua raiva por descobrir que a Isabela queira o Micael, mas por que isso te incomoda? Afinal, você nutre sentimentos a mais por ele sim ou não?
— Sim mãe! Gosto do Micael de uma maneira que eu não deveria gostar! Você estava certa todo o tempo.
— A respeito dos seus sentimentos por ele, eu te aconselho a se abrir para o seu amigo e contar que está apaixonada por ele. Talvez ele também seja e vocês dois estão perdendo tempo, e caso ele não sentir o mesmo, você precisa superar, ser forte e seguir em frente.
— Eu jamais vou contar para ele o que sinto.
— Por que não?
— Tenho medo da rejeição. Eu não sei como agirei se ele me rejeitar.
— Mas se você não se arriscar, nunca vai saber. Não pode viver com medo para sempre Eliza, precisa ser mais confiante. Esqueceu?
— Não, mãe, eu não esqueci. Mas é difícil, é fácil falar, mas na hora de fazer eu congelo.
— Não é bom odiar tanto uma pessoa assim — disse, referindo-me a Isabela.
— Ela faz de tudo para ser odiada.
— Não gosto de te ver com tanto ódio.
— Eu também não gosto mãe, mas é isso o que a Isabela desperta em mim, raiva, ódio.
Suspirei, sentei perto dela e peguei em suas mãos.
— Sobre a Raquel, eu acho que você está errada. Ela não é ruim, ela é gente boa, e gosta muito do seu irmão.
Ela arregalou os olhos, e se levantou rapidamente, dando voltas ao redor do quarto.
— Eu não acredito nisso, mãe! Você já sabia que ele estava saindo com ela e não me contou! Você a conheceu! — ela gritou, parecia descontrolada.
Nunca vi a minha filha naquele estado.
— Desculpa, querida. Mas... ele me contou que conhecera uma garota nova e queria que eu conhecesse, ele é meu filho, eu precisava ficar feliz por ele e apoiá-lo. Conheci a Raquel, ela é muito legal, eu vi em seus olhos, ela realmente gosta do Théo! — tentei explicar com cautela.
— É tudo teatrinho, mãe! Ela é falsa como a Isabela, as duas são amigas, estão no mesmo nível de malvadeza!
Levantei e parei-a, pegando em seus ombros. — Não, você está errada, Eliza. Não é só porque ela é amiga da sua rival, que significa que ela também seja má. E tem mais, eu acredito que nem a Isabela seja malvada, ela só está perdida, mas, talvez um dia, ela volte a se encontrar.
— Que piada mãe! Com a Isabela não tem jeito, esquece.
— A Raquel é legal, você deveria dar uma chance a ela, afinal, é a namorada do seu irmão, e o Théo não iria gostar nada de saber que você odeia a namorada dele.
E naquele momento, aconteceu algo que eu nunca pensei que ela faria. Eliza correu para fora de seu quarto e foi furiosa para o quarto do Théo, corri atrás, e o que presenciei foi horrível para mim.
— Seu idiota! Você sabe que a Isabela vive implicando comigo, sabia de tudo o que ela me fez, como teve a coragem de se envolver amorosamente com uma das amigas najas dela? Inútil! — ela gritava, ao mesmo tempo, em que o empurrava e batia nele.
— Não fala assim da Raquel! Ela não é naja, ela é muito diferente da Isabela! Para de ser idiota, Eliza! Você está julgando a Raquel por ser amiga da sua rival! — ele gritou, tentando se afastar dela.
— Não! Você que é um burro Théo! Odeio você, odeio!
— Está sendo ridícula, Eliza!
— Ridículo é você que acha que ela gosta mesmo de você! — ela gritou, e saiu furiosa, batendo com força a porta do quarto do irmão.
— O que foi isso, mãe? Ela ficou maluca? Eu sabia que ela não iria gostar, mas não imaginei que arrumaria esse escândalo idiota — disse ele, assustado, exatamente como eu estava naquele momento.
— Sua irmã está fora de si, a Isabela aprontou com ela hoje, e ela já chegou cheia de raiva, não leve a sério o que ela falou, ela não te odeia, ela ama você — tentei reconfortá-lo.
— Maneira estranha de amar alguém — resmungou.
— Ela só está com raiva, é normal. E cada um tem uma maneira de amar, sua irmã quer o melhor para você, por isso ficou com tanta raiva, ela acha que a Raquel não te merece.
— Está bem mãe, eu vou tentar relevar isso.
— Obrigada, filho, te amo — disse, e o abracei.
Quando saí do quarto do Théo, esperei um tempo, e depois entrei no quarto da Eliza, a mesma estava deitada na cama, escutando música no fone, ela tirou os fones assim que me viu. — Se sente melhor?
— Um pouco. Na verdade, estou me sentindo culpada por tratar o Théo daquela forma.
— Você exagerou mesmo.
— É isso o que a Isabela faz comigo mãe... ela me transforma em um monstro.
— É só você optar por não ser um monstro.
— Eu queria poder gostar da Raquel, mas não gosto e acho difícil eu começar a gostar.
— Se você tiver que gostar dela, vai acontecer com o tempo, não precisa apressar as coisas. O amor é algo simples de se sentir, é só você estar com o coração aberto e sereno, uma hora ou outra, vai aprender a sentir amor pelas pessoas, afinal, tudo é amor, Eliza, tudo — disse e sorri ao vê-la com um olhar mais tranquilo.
— Eu não acho que eu vá sentir amor pela Raquel.
— O fato de você gostar dela, e se preocupar, é um avanço, meu bem, acredite nisso, que você irá sentir.
— Obrigada mãe, de novo, você sempre me dá os melhores conselhos — minha menina me agradeceu, abraçando-me.
— Mãe é para essas coisas.
— Acho que preciso pedir desculpas ao Théo.
— Também acho.
E assim, ela foi até o quarto do irmão se desculpar, e acho que fizeram as pazes, ela demorou a voltar para seu quarto, fiquei feliz pelos dois.
Hoje, percebi que apesar de eu ter criado a filha de outro casal, amado a filha de outras pessoas, isso nunca mudou nada, Eliza é e sempre foi a minha filha, minha e do André. Pode não ser de sangue, mas é de coração, eu a amei desde que era uma recém-nascida e amei com todas as minhas forças.
Quando eu descobri sobre a troca, apesar do meu susto, eu continuei a amare enxergando-a como minha filha, isso não mudou, não teria como mudar.
E eu também amo Alana com todas as minhas forças, eu amava quando ela crescia em mim, e continuei amando, quando a conheci.
André e eu, temos três filhos, Théo, Eliza e Alana, e não importa o que aconteça, o quanto aprontem, os três são nossos filhos amados e nada no mundo mudará isso.
É um amor puro, que ultrapassa todos os limites, é completamente infinito.
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