Alana - 3
Cheguei ao colégio no período da tarde, fui até a professora de dança, sim, havia uma professora de dança no colégio, as aulas costumavam ser fora da grade curricular, como se fosse um curso extra para quem quisesse participar, era duas vezes na semana, no período da tarde, como havia muitas garotas na aula, a escola manteve o projeto, assim, eu coloquei em prática a minha primeira vingança contra a Bela.
– Professora, eu quero fazer parte do grupo de dança, para participar das apresentações no colégio – eu disse, ela me olhou como se não acreditasse que eu fosse capaz.
– Você? Tem certeza? Sabe dançar?
- Claro que sei. E mesmo se eu não soubesse você é a professora, deveria ensinar, não?- falei, seus olhos esbugalharam e fingiu uma tosse.
– Você está certa, mas é que levamos muito a sério a dança aqui, queremos fazer bonito nas apresentações, me mostre do que é capaz.
- Agora?
- Sim, algum problema?
- É que estou de calça jeans, não é melhor que eu use uma roupa mais apropriada?
- A claro, como preferir. Vou pegar para você – disse ela, indo em direção a um armário. – Veste P?
- Sim.
Ela me entregou um short saia rodado, da cor rosa e um top rosa, eu já estava com um tênis bom para os movimentos. Fiquei feliz ao ver que a roupa era rosa, minha cor favorita. Troquei-me no banheiro que tinha por perto e fui para o centro do ginásio.
A professora Rita ficou de queixo caído quando me viu entrando com a roupa.
– Nossa você tem um físico perfeito, de dar inveja a qualquer aluna – disse ela.
Sorri. Aluna... sei... não só em alunas, mas como em professoras também.
– Obrigada professora Rita, mas não é para tanto – respondi e vi que as meninas da aula me olhavam curiosas, e Bela estava entre elas, mas ela me olhava com desdém.
- Agora, mostre-me do que é capaz Alana.
- É para já.
Ela colocou a música e quando começou a tocar, eu entrei no ritmo e comecei a dançar, dando o meu melhor. Eu já estava acostumada com os passos, na infância pratiquei um pouco de balé, e quando cresci, passei a praticar dança assistindo vídeos no You Tube.
– Parabéns! Você é ótima menina! Tem talento para a coisa. Você vai nos ajudar muito com as coreografias, e as outras meninas a dançarem tão bem como você.
Ótimo! Eu tinha conseguido o que eu queria.
- Professora, ela nem dançou tão bem assim! Isso não é justo – reclamou Bela, me olhando furiosa.
- Bela, não seja egoísta, vocês duas são talentosas, juntas podem ajudar as outras meninas a melhorarem na dança – respondeu a professora.
Bela cruzou os braços, furiosa e saiu do ginásio, em seguida, a aula terminou, eu havia chegado ao final da aula.
- Você fez por merecer garota – disse a professora e me deu tchau, se retirou do ginásio, me deixando sozinha ali. Quer dizer... quase sozinha, quando ela saiu, quem deu as caras foi nada mais e nada menos que o Cole.
O Cole de novo, ele estava me seguindo ou o quê? Ele entrou batendo palmas para mim.
– Parabéns, novata! Mal chegou e já conseguiu arruinar a vida da Bela, eu sabia que você não deixaria barato – ele falou sorrindo.
- O que é isso Cole? Está me seguindo é? – pergunto, ele chegou mais perto de mim e me olhou de baixo a cima.
- Qual é novata, eu não sou seu fã para te seguir – debochou com desdém, aquilo me lembrou a Bela.
- Então o que está fazendo aqui? No período da tarde? Você também faz dança? – ironizei.
- Eu tive que vir... lembre - se que eu estudo aqui a mais tempo do que você.
Bufei, esse Cole me intrigava. – Você me intriga sabia? – resolvi ser sincera.
Ele sorriu, pegou na minha mão e me rodou de repente, como se estivéssemos dançando como casais.
– Você fica uma gracinha usando essa roupa – ele disse todo sarcástico, eu o empurrei para longe de mim, mas ele se aproximou de novo.
- Cole, qual é a sua?
Ele riu. – Você vai descobrir – respondeu e tirou do bolso um cigarro, e o acendeu logo em seguida, para o meu espanto, aquilo me pegou de surpresa.
- Você fuma? – perguntei perplexa.
- A pergunta é... quem não fuma hoje em dia novata?
- Eu não fumo e você também não deveria fumar seu idiota – respondi e tirei o cigarro da boca dele, fui até o lixo que tinha por ali e voltei para perto dele.
- Você não deveria ter tirado o meu cigarro, novata. – ele falou, me olhando intensamente.
- E o que vai fazer?
- Eu vou fazer isso... – ele disse com uma entonação alta e me puxou pela cintura, começando várias cócegas em minha barriga.
Eu definitivamente não posso com cócegas, eu sinto muitas, tentei fugir dele, mas nesse pega e corre, acabei caindo no chão e ele continuou me fazendo cócegas.
Comecei a rir descontroladamente, ao mesmo tempo em que eu gritava pedindo para ele parar.
– Eu falei que você não devia ter feito aquilo! – ele gritou, rindo também.
- Para! Para Cole! Eu não aguento mais! – gritei, lágrimas começavam a descer por meu rosto, de tanto rir, comecei a me debater no chão como louca, tentando o empurrar para longe de mim.
O ginásio foi invadido pela voz de uma garota que eu conhecia muito bem, a Bela.
– Cole! O que está fazendo em cima dessa cobra aí? – ela perguntou, olhando para nós dois, sua fisionomia estava furiosa. Eu não sabia que ela conhecia o Cole, ele se levantou e bufou ao ver a Bela.
– O que você quer agora? – ele perguntou a ela, sem paciência.
- Eu preciso falar com você agora! – disse ela em um tom bastante elevado, me olhou com fúria e caminhou para fora.
- Você conhece, ela? – perguntei confusa, ele se aproximou de mim e me deu um beijo no rosto.
- É uma longa história, te conto depois. Agora tenho que ver o que ela quer – ele falou, e saiu do ginásio, me deixando sozinha.
Não sei o motivo, mas levei minha mão no local onde ele me beijou e sorri, quando percebi o que eu estava fazendo, convenci a mim mesma que esse beijo e essa cena aqui dentro não significou nada de mais. Não vou mentir, o Cole é lindo, mas eu estou interessada é no Micael e não no Cole. Vou até o banheiro trocar de roupa, para poder ir embora.
Era um novo dia, ainda não era nem 06:30 da manhã e eu já estava na escola, minha mãe me levou bem cedo e como fui de carro, é ainda mais rápido.
Caminhei à toa pela a escola, mas eu só pensava no Cole com a Bela, o que os dois eram um do outro? Por que eu estava tão interessada nisso? Tentei tirar isso da minha cabeça e continuei andando, quando o Micael me chamou e foi até mim.
- Oi – disse ele e sorriu.
- Oi, como está? – perguntei e dei um sorriso tímido.
- Ótimo e você?
- Ótima.
- Eu estava aqui pensando e... você quer sair comigo no Sábado a noite?
Micael estava me chamando para sair! Significava que ele estava afim de mim! Nem precisei me esforçar muito.
– Claro, quero sim, para onde?
- Ainda não sei, mas vou pensar e assim que eu pensar em algo bacana te aviso, pode ser?
- Claro, vou te dar o meu número.
Ele sorriu e tirou o seu celular do bolso para anotar o meu número.
– É 85964246 – falei com calma.
- Ótimo, te mando mensagem, Alana – respondeu ele, sorrindo.
Eu sorri de volta, adorava exibir o meu sorriso.
- Tenho certeza que vamos nos divertir muito – disse ele, me olhando intensamente.
- Eu sei que vamos – respondi, mas o clima foi cortado quando a Eliza chegou perto.
– Oi pessoal – disse ela meio triste.
- Oi – Respondi.
- Oi Eliza – Micael disse e então falou que tinha que fazer uma coisa, saiu com um aceno de tchau para nós duas. Achei estranho o modo como os dois se trataram, eles são melhores amigos, pareciam estar brigados. Será que estavam?
– Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? – perguntei.
- Não, não aconteceu nada – ela respondeu meio seca, então resolvi deixar para lá e iniciamos outro assunto.
Eliza estava me contando sobre algumas coisas que aconteceram naquela escola no ano anterior e eu participei atentamente da conversa, ela me contou sobre muitas coisas, fofocas de alunos, até que em nossa conversa, o nome do Cole foi mencionado, ela me contou que conheceu o Cole a um bom tempo e me arrisquei a perguntar para ela, como os dois haviam se conhecido. Eliza ficou séria, mas resolveu se abrir comigo pela primeira vez.
– É que o Cole é irmão de uma garota que era a minha melhor amiga.
- Sério? Quem era? E por que era? Não é mais? – perguntei, eu queria saber mais.
- Não somos mais amigas. Ele é irmão da Bela.
Arregalei os meus olhos. – A Bela? A mesma Bela que estou pensando? Você era melhor amiga dela? Ele é irmão dela? Espera... mas os dois não são quase da mesma idade?
Eliza riu. – Calma, vou responder a todas essas perguntas, os dois são gêmeos, tem a mesma idade. São gêmeos bivitelinos, por isso você nem notou a semelhança. E sim, a Bela era a minha melhor amiga, mas agora acho que ficou claro que a única coisa que restou entre nós duas, foi uma inimizade gigantesca... – ela brincou no fim e deu um sorriso fraco.
- Nossa! Que loucura, você já foi amiga da Bela, eu não consigo imaginar isso, e o Cole irmão dela... é muita informação. O que aconteceu para vocês duas chegarem a esse ponto? – perguntei, eu sempre fui muito curiosa.
- É uma grande história Alana... vou te contar tudo.
Em seguida, me contou toda a história, desde quando se conheceram e ficaram amigas, até quando começaram a se distanciar e por fim o plano terrível de Bela contra a ex-amiga no ano anterior. Fiquei horrorizada com tanta maldade da parte da Bela, isso me lembrou da traição da minha ex melhor amiga, mas juro que eu não sabia identificar qual das duas eram piores.
- Nossa, mas quanta maldade dessa garota.
- A Isabela mudou muito, ou ela sempre foi assim e eu nunca tinha notado mesmo.
- Isso é sinistro, Eliza, se eu fosse você me vingava dela – falei em um tom mirabolante.
- Não preciso Alana, mas eu já deixei claro para ela que se ela pisar em mim novamente, eu não vou deixar barato. Não sou mais aquela garota boba do ano passado que era incapaz de se defender.
- Está mais que certa Eliza, eu fiz algo que pode ter irritado um pouco a "Bela" – falei com um sorriso vitorioso, comecei a contar para ela sobre ei ter entrado para a aula de dança do colégio, ela quase não acreditou e quando viu que era verdade, começou a rir.
- Eu queria ter visto a cara da Bela - disse ela.
- Sim, teria sido ótimo, ela ficou com um bico enorme – disse e começamos a rir juntas, como se já fossemos grandes amigas, eu me sentia muito a vontade ao lado da Eliza, eu não precisava fazer esforço para surgir uma conversa boa, simplesmente surgia sem que eu percebesse, e era apenas o segundo dia de aula, mas parecia que éramos amigas de anos, e era justamente isso o que mais me impressionava.
- Você é má garota, mas sabe que eu gosto de você, e tem mais, estou feliz que você tenha vindo estudar aqui, assim a Bela não terá sossego, pois com você ameaçando o reino dela, ela vai pirar.
Foi uma lástima o Cole ser irmão gêmeo dessa garota, os dois não tinham nada a ver um com o outro e não digo isso apenas pela aparência, me refiro à personalidade, eles são completamente diferentes em tudo. Um é o oposto do outro e eu que achava que ter irmãos gêmeos era uma ligação forte, tanto física como sentimental, sempre achei que gêmeos fossem mais ligados um ao outro, mas pelo o que eu vi dos dois, o Cole fica o mais longe possível da irmã, tanto que eu nem percebi que tinham alguma relação familiar.
O sinal tocou e caminhamos para dentro da sala de aula, tivemos sorte que a Bela não era da nossa sala, o que é mais uma coisa estranha em relação a ela e o irmão, os dois são irmãos gêmeos e ficam em salas separadas, pelo visto entre os dois existe uma relação complicada, é o que parece. Deixei escapar um sorriso idiota quando vi o Cole sentado na carteira. Eliza foi para o seu lugar que era um pouco longe de mim e eu fui para a carteira atrás do Cole.
Ele não se virou para me ver, o que me incomodou bastante, toquei no ombro dele, fazendo-o se virar para mim. – Oi novata, o que quer? – ele perguntou e piscou um olho, ele e sua mania ridiculamente idiota de piscar o olho.
- Preciso conversar com você e, por favor, me chame de Alana – pedi, afinal, eu tenho nome por algum motivo, meu nome sempre foi Alana e não novata.
Ele suspirou e riu. – Ok Alana – ele disse e então eu sorri. Fomos pegos no flagra pelo professor de Química que chamou a nossa atenção.
- Pombinhos, por favor, isso não é hora para namorar – ele nos repreendeu. Todos olharam para nós dois, inclusive Micael, e se ele achasse que eu estava tendo um caso com o Cole? Será que nosso encontro ainda rolaria? Tentei corrigir a situação na mesma hora que o professor nos repreendeu.
- Não somos um casal professor – falei um pouco alto, queria que o Micael escutasse.
O professor riu. – Como preferir Alana.
Então ele continuou sua aula, explicando sua matéria chata que eu odiava, mais tarde, quando o sinal do intervalo tocou, aproveitei que todos saíram primeiro. Cole era sempre um dos últimos a sair, ás vezes até o último. Parecia não gostar muito de se misturar nas multidões, ele se levantou da cadeira e ficou me encarando.
– Você quer conversar agora nova... Alana?
- O que você acha?
- Então vamos sair da sala, se não o professor vai reclamar, ele está querendo trancar a porta.
- Claro – falei e então saímos da sala, caminhamos para um lugar mais calmo e longe do pessoal da nossa sala.
- Então... o que você quer falar comigo?
- Não se faça de desentendido, você sabe bem o que eu quero falar, então quer dizer que você e a Bela são irmãos gêmeos? – perguntei, não consegui me segurar, ele me olhou de um jeito estranho e me puxou para algum lugar.
- Onde está em levando?
- Você vai ver novata.
Ele me levou para perto da biblioteca. – Por que me trouxe aqui? – perguntei sem entender.
- Calma Alana, ainda não chegamos – ele disse um pouco aflito. Ao lado da biblioteca tinha uma porta fechada, ele pegou a chave e abriu, me empurrando rapidamente para dentro, veio junto logo atrás de mim e fechou a porta. Estava tudo escuro, procurei pela luz e encontrei, acendi, quando tudo clareou, notei que aquela sala não era usada há tempos.
- Alguém sabe que você costuma vir aqui?
- Claro que não, novata – ele disse e olho feio para ele.
– Foi mal, Alana. Ninguém sabe além de você e eu. Ninguém usa essa sala, quase não entra alguém aqui dentro, esse lugar é o meu refúgio, quando quero matar aulas e tudo o mais.
- Você é louco.
Ele sorriu e se sentou em uma cadeira velha. – Não vai se sentar? – ele me perguntou.
- Nem morta que eu sento nessa sujeira aí! Até me arrepio só de pensar nisso – respondi, enojada com a quantidade de poeira e teias de aranha que tinha ao redor do ambiente. Ele franziu a testa.
– Para de frescura, Alana, nem está tão sujo – ele disse, tentando me convencer.
- Já disse que não sento nessa sujeira de jeito nenhum – falei, cruzando os braços.
- Está falando sério mesmo?
Concordei com a cabeça, ele bufou, pegou um pano que tinha por ali e limpou a outra cadeira. – Pronto, alteza, sua cadeira já está limpinha. – ele ironizou fazendo sinal com as mãos para que eu me sentasse, revirei os olhos e me sentei ao lado dele.
- Eu não sabia que você era tão fresca assim.
- Eu não sou fresca, só tenho elegância.
- Isso aí é frescura, parecia até a Bela falando comigo.
- Não me compara com ela. E aí? Não vai me explicar o motivo de não ter me contado que é o irmão gêmeo dela?
- Por que eu deveria contar? É isso mesmo, nós dois somos irmãos gêmeos e só – ele respondeu todo seco.
- Vocês dois parecem distante um do outro, não se dão bem?
- Você está querendo saber de mais.
- É errado querer saber um pouco da vida de um amigo?
- Já sou seu amigo?
- Se fosse meu inimigo, eu não estaria aqui tendo essa conversa com você, não acha?
Ele riu e me encarou. – Tudo bem Alana, vou te contar.
Sorri, e ele começou a contar tudo. – Realmente a Bela e eu não nos damos muito bem, ela é o oposto de mim, o que mais me irrita é que ela não era assim antes, éramos unidos. Depois que ela se tornou popular, tudo mudou, ela mudou. Parece que a fama subiu á cabeça e começou a ater atitudes que eu não gostava e continuo não gostando nem um pouco. Agora ela sente prazer em pisar nas pessoas que não fazem parte do grupo dos populares e isso me irrita, ela se tornou um monstro, Alana.
Vivemos brigando lá em casa, ela tenta se aproximar de mim, conversar comigo, mas tudo o que ela fala agora me da nojo. É como se outra pessoa tivesse usurpado o lugar da minha irmã, ela não é mais a mesma, só fala de coisas fúteis, ela é uma completa patricinha, uma patricinha arrogante e mimada, e para piorar, ela é a favorita dos meus pais, qualquer briga entre nós dois, a culpa é minha, é sempre eu que provoquei, a culpa é sempre toda minha. Nada é culpa dela. Meu pai vive dizendo que eu devia ter a responsabilidade dela, a inteligência dela... Ano passado, eu matei duas semanas de aula, ele descobriu e me deu a maior bronca e ficou fazendo comparações entre mim e ela, disse que ela dava orgulho para ele, que eu deveria seguir o exemplo dela e ser mais responsável. Eles não a conhecem como eu, ela até pode ser responsável nos estudos, mas ela é arrogante com as pessoas, chegando até ser cruel e isso os meus pais não sabem, claro que a Bela vive puxando o saco deles dentro de casa, a história é essa – ele terminou de explicar, parecendo muito cansado só de tocar no assunto.
- Nossa Cole, não sei nem o que te dizer, é horrível essa situação, foi por isso que você começou a fumar?
- Talvez, é acho que foi sim. Minha vida estava um inferno no ano passado, então eu comecei a fumar.
- Seus pais sabem disso?
- Não. Se souberem é outro sermão na certa.
- A Bela não conta?
- Nem ela sabe, eu fumo escondido.
- Você apenas fuma cigarro ou mexe com essas porcarias também? – resolvi perguntar. Ele riu e pegou no meu cabelo, começando a brincar com ele.
– Você acha que eu tenho cara de quem se droga? – ele perguntou, fazendo uma careta.
– Na verdade, você não tem cara nem de quem fuma um cigarro, então é meio que provável que agora eu fique na dúvida não é? – respondi, encarando - o, ele continuou com aquele sorriso torto nos lábios e brincando com meu cabelo.
– Eu só fumo cigarro Alana, não precisa ficar histérica.
- Você vai parar.
- Como?
- Você vai parar de fumar – falei de forma autoritária.
- E quem vai me obrigar?
- É simples, ou você para ou... – eu dizia até ele me interromper, com um toque inesperado nos meus lábios.
– Ou o quê? – perguntou, enquanto seu dedo acariciava a minha boca. Ficar tão perto dele me deixou desorientada, o rosto dele se aproximou do meu e eu continuei imóvel. O que eu estava pensando?
Ele pegou no meu rosto e sua boca estava quase tocando na minha, quando acordei para a realidade, o empurrei e me levantei, ficando de pé. – Você ia me beijar?
- Isso era óbvio, não?
- Então você ia me beijar! – disse alto demais, ele riu.
– Sim, eu iria te beijar, qual o problema nisso? Por que se afastou?
- Você não presta Cole!
- Achei que você quisesse.
- Achou errado, eu só quero ser a sua amiga.
O rosto dele mudou completamente, ficou sério. – Está interessado em outro, não é? É o Micael?
- Como sabe?
Ele revirou os olhos e se aproximou de mim. – Eu tinha minhas dúvidas, mas agora elas já foram embora. Quer saber, você é como ela.
- Ela quem?
- A Bela, minha irmã.
- Por que diz isso?
- Você quer o que não pode ter. Você só o quer porque ele é popular, querendo ou não, você sente aí dentro que a Bela gosta dele, e o que você quer, é atingi-la, quer tomar tudo dela, fama, o cara que ela quer, no final das contas, você quer a popularidade da Bela, você é como ela e as amiguinhas falsas da Isabela. Você é só mais uma patricinha metida que se acha a dona do mundo – ele terminou de dizer.
Escutar aquilo me magoou bastante. Primeiro porque eu realmente era uma patricinha, segundo, porque fui ofendida por um cara que querendo ou não, mexe de um jeito diferente comigo e terceiro pelo simples motivo de que escutar aquilo, me fez perceber que ele não estava tão errado assim com as suposições sobre mim, na verdade, ele estava quase certo em tudo. Eu queria mesmo a popularidade dela, queria irritá-la e queria o Micael.
O Micael era o único item que eu não sabia se queria para atingir a Bela ou porque realmente estava interessada. Não consegui me defender, os meus olhos marejaram, ele jogou a chave para mim e saiu primeiro do que eu.
Fiquei uns segundos lá dentro, assimilando tudo o que tinha acontecido, limpei meu rosto, impedindo as lágrimas de descerem, saí da sala e tranquei. Ninguém me viu, eu tinha que devolver a chave para o senhor arrogante e cheio de si, o sinal já havia tocado, todos já estavam na sala. Pedi licença á professora para eu poder entrar, mas ela não deixou.
– Nada disso senhorita Alana. Você está muito atrasada, não pode mais entrar. Arrume suas coisas e vá para a direção. Diga que eu te suspendi da minha aula por hoje e explique o motivo – ela disse alto, e todos escutaram.
- Hoje é o segundo dia de aula professora! Não faz isso – Implorei.
- Pensasse nisso antes de chegar atrasada moçinha! Se não sair agora, pedirei para chamar sua mãe.
- Tudo bem, eu vou arrumar minhas coisas – disse com arrogância, que injustiça! Fiquei com muita raiva, todos me olharam boquiabertos e cochicharam, Eliza fez sinal de tchau para mim, acenei de volta para ela. Cole nem se quer virou para trás, enquanto eu guardava o meu material na mochila, as duas últimas aulas eram dela, então eu perderia duas aulas da mesma matéria.
Joguei minha mochila rosa nas costas e coloquei bem forte a chave na mesa do Cole. Mesmo assim, ele não se atreveu a me olhar, fingi não me importar com isso, saí da sala morrendo de raiva, eu estava sentindo mais raiva do Cole do que da própria professora que me colocou para fora. Durante a minha saída, esbarrei sem querer na Bela, que andava "distraidamente" pelo corredor da escola, parecia que nem estudava, sempre a encontrava andando pelo colégio.
- Aí, sua bruta! – ela reclamou, fazendo drama.
Revirei os olhos e quando comecei a andar, ela foi atrás de mim e começou a falar andando junto comigo. – Se afasta do meu irmão, Alana. Eu não quero você perto dele, está escutando?
- Não enche garota! Eu ando com quem eu quiser e isso inclui o seu irmão, eu não estou nem ligando – respondi e apressei os meus passos, ela me deu um puxão de mão, me fazendo parar e olhar para ela. Ódio! Que ódio.
- Me deixa, Isabela!
- É "Bela" sua coisinha – ela me corrigiu, então percebi que a Bela não gostava de ser chamada de Isabela, o que é ridículo, pois Isabela é mil vezes melhor do que esse apelido besta que é "Bela". Para mim, só existe Bela nos filmes, e é só neles que esse apelido é bonitinho, na vida real, é bobo e infantil.
- É Alana, ok Isabela? – provoquei. Ela fez cara de irritada, mas não se deixou abalar.
- Olha aqui, Alana, eu quero você longe do meu irmão, você não é para ele, nem como amiga e nem como outra coisa... se é que me entende, se afaste dele – ela ordenou cheia de autoridade.
- E se eu não quiser?
- Você vai sofrer as consequências, menina metida.
Comecei a rir na cara dela. – Eu não tenho medo das suas ameaças, Belinha, sabe de uma coisa, eu converso com o seu irmãozinho na hora que me der na telha, e não vai ser você que vai me impedir! Se manca garota, agora me deixa! – gritei e saí andando apressada, rumo à direção do colégio. Como se não bastasse o que me aconteceu, ainda vem essa Bela para completar de estragar a minha manhã, ela conseguiu.
Diárioda Cassie
(Mãe da Alana)
2001- 4 anos de idade.
A cada dia que se passava, Alana ficava mais linda, e sua personalidade era tão forte, que eu ficava impressionada, eu na idade dela era mais calma, "quieta", Alana era o meu oposto! Mas eu gostava disso, os filhos nunca saíam iguais aos pais, não adiantava querer uma cópia sua. Cada um é de um jeito e minha Alana era mandona desde cedo, também tinha uma personalidade mimada, talvez fosse só uma fase, e com o tempo passasse, Diego fazia de tudo para vê-la feliz, sempre estava dando presentes, isso estava deixando-a muito mimada, mas eu também a mimava de vez em quando, então não podia reclamar muito.
Mas crianças nessa idade costumavam ser mimadas mesmo. Alana estava sempre alegre e com respostas na ponta da língua, ela fazia a alegria da nossa casa, ser mãe é maravilhoso, cansativo, mas é um amor único.
Eu tinha percebido que minha princesinha gostava muito de dançar, ela vivia se remexendo pela casa, dançando e cantando junto com as músicas infantis que eu colocava para ela, então, conversei com o Diego e decidimos matriculá-la em uma aula de dança.
Quando soube ficou muito feliz, feliz era pouco, minha menininha ficou maluca de tanta felicidade! Saiu pulando pela casa, gritando que iria dançar feito uma bailarina, era engraçado o jeitinho que ela falava, tão pequenina e se sentindo a bailarina.
Alana entrou no meu quarto, seus olhinhos brilhavam, e em seu rosto estampava um sorriso enorme. – Mamãe! Mamãe! Vamos! Rápido, não quero me atrasar para meu primeiro dia de aula. – disse ela, toda alegrinha e engraçadinha, minha pequena estava feliz, senti vontade de chorar de emoção, mas segurei.
- Calma meu amor, só deixa a mamãe terminar de se arrumar e aí já saímos. Você não vai se atrasar – expliquei.
- Ai mamãe... por que não se arrumou mais cedo? – perguntou ela, cruzando os pequenos braçinhos.
- Não seja apressada, Alana – disse, sorrindo.
- Mamãe... – disse ela, com a voz fofa e engraçada de novo.
- Sim?
- Obrigada.
Eu ri, ela era tão engraçadinha. – Pelo o que meu bem?
- Por ser a melhor mamãe do mundo! – gritou ela, sorrindo, em seguida, correu em minha direção e me abraçou, peguei – a em meu colo e a enchi de beijos, a fazendo rir muito.
- Você que é a melhor filha do mundo! – disse, enquanto a enchia de muitos e muitos beijos.
...
Quando chegamos à escolinha de dança, sentamos na sala de espera, onde ficava a recepcionista, coloquei minha pequena sentada em meu colo e a envolvi em meus braços, a cada momento puxando-a para mais perto do meu corpo e a enchendo de muitos beijos, eu era a típica mãe babona que não se importava em demonstrar muitas ações de amor e carinho com a filha de quatro anos em público.
Alana ria toda alegrinha, até que começou a se remexer no meu colo, mostrando os primeiros indícios de que queria sair para fazer algo, crianças... não paravam quietas nunca! A recepcionista sorriu, assim que permiti que minha pequenina descesse do meu colo.
- Não costumo ver mães demonstrando tanto amor por um filho em público – ela comentou.
- Sério? Como pode? – perguntei assustada, eu não conseguia me imaginar ficar por muito tempo sem beijar ou abraçar a minha filha, Alana era tudo para mim, sempre foi.
- Ocupadas de mais... talvez seja isso, você ama muito sua filha, é um amor lindo.
- É o amor mais puro que existe na face da terra, quando você for mãe vai entender – disse a ela, a mesma sorriu, continuando a conversar.
- Alana é muito linda, uma gracinha.
- Obrigada – agradeci toda boba por ter alguém elogiando a minha cria, realmente minha pequena era muito linda, uma gracinha, como a mulher mesma disse.
Alana estava xeretando a mesa na qual a mulher trabalhava. – Isso é um pirulito? – ela perguntou, olhando para o pote no fim da mesa, cheio de pirulitos.
Ah não... Alana e sua mania de enxergar doce onde quer que vá.
- É sim, você quer um? – a recepcionista perguntou, estava encantada com a minha pequena, a pergunta era: Quem não se encantaria pela minha filhota?
- Eu quero! Eu quero sim! Mamãe, ela vai me dar um pirulito! – gritou ela, como se estivesse prestes a ganhar o melhor presente do mundo, foi até engraçado ver tanta alegria e ingenuidade na minha menininha.
- Sim querida, agora agradeça a mulher.
- Obrigada moça! – ela exclamou, pegando o pirulito e abrindo-o toda empolgada.
A recepcionista não parava de rir, e percebi que várias mães com seus filhos e filhas vinham chegando. Em pouco tempo o ambiente estava lotado de crianças curiosas, agitadas, algumas mais quietinhas, outras choronas... Alana estava fazendo amizades com um monte de crianças que chegava perto dela.
Uma mulher com sua filha no colo sentou-se ao meu lado. Minha filhinha que sempre foi muito comunicativa chamou a menina para brincar com o resto ali, tudo isso aconteceu antes de dar o horário da aula começar.
A mulher ao meu lado permitiu e antes que elas fossem brincar, eu pedi para a Alana não fazer muita bagunça, a mesma concordou e levou a menina com ela.
O ambiente era bem grande, tinha espaço suficiente para que as crianças pudessem brincar, após as duas se afastarem, a mãe dessa menininha falou comigo.
- Ela é a sua filha? – perguntou ela.
- Sim. Por quê?
- Eu jamais iria imaginar, quando cheguei, pensei que ela fosse filha de qualquer outra mulher daqui, menos sua.
- E por quê? – insisti. Eu queria entender o motivo da mulher ter pensado um absurdo daqueles, apesar de eu desconfiar.
- Não me leve a mal, sua filha é linda, mas... ela não se parece em nada com você, a diferença é nítida, você é loira e tem o olhou azul, ela tem o cabelo escuro e olhos escuros, e o rosto de vocês duas também não se parecem muito – respondeu ela, com muita naturalidade.
Eu sabia! Era exatamente isso o que eu desconfiava, só porque a minha filha não tinha os olhos e o cabelo claro significava que ela não poderia ser minha filha? Tantas filhas não se parecem com as mães, ora essa...
- Ela puxou ao pai. E eu não sabia que os filhos tinham que ser as cópias perfeitas dos pais – disse, eu não queria ter dito isso, mas não consegui não dizer.
- Claro que não, não me entenda mal, como eu disse, são diferentes, mas se ela puxou ao pai, então, está tudo certo.
- E se ela fosse adotada, não estaria certo? – questionei a mulher.
- Não é isso, claro que estaria certo... então, ela é adotada?
Revirei os olhos perdendo a minha paciência.
– Não. Ela não é adotada, é minha filha mesmo, mas caso eu tivesse a adotado, eu não deixaria de amá-la menos por isso – fiz questão de deixar claro, aquela mulher precisava entender que filhos não nasceram para serem as cópias dos pais e que se ela estivesse falando isso com uma mãe que realmente tivesse adotado um filho, isso não significava que não eram delas só por não terem seus sangues, ora essa!
Cada uma que a gente encontra por aí. – Entendi. Me desculpa – disse, toda sem graça, apenas assenti e dei um sorriso falso.
Quando deu o horário, Alana se despediu de mim com um abraço bem forte e enquanto minha filhinha fazia a sua primeira aula de dança, fiquei dando voltas pela rua até que desse o horário de buscá-la.
Lembro até hoje do quanto ela falou que nem uma tagarela sobre tudo o que ela fez na aula de dança, o que aprendeu, e muitas coisas boas sobre a aula, não tinha jeito, minha pequena nasceu para dançar, ela amava, e eu fiquei feliz por ter percebido isso a tempo.
Para uma criança fazer uma aula que a agrade é incrivelmente prazeroso, e tudo o que eu queria era continuar vendo os olhinhos da minha bonequinha brilhando toda vez que frequentava ou falava das aulas.
Casinha de boneca.
Alana sempre foi apaixonada por bonecas, Barbie, ursos de pelúcias, e tudo o que envolva brinquedo para meninas, e desde cedo notei que ela tinha uma preferência muito forte pela cor rosa, a maioria das coisas que ela me pedia, queria da cor rosa.
Era rosa para cá, rosa para lá, enfim, a vida da minha pequena era resumida no rosa, tanto que seu quarto era rosa.
Ela gostava que eu brincasse de boneca com ela, e eu como a mãe babona que sempre fui, costumava tirar um tempo para brincar de bonecas com a minha filhota, tudo para vê-la feliz e ter um momento nosso de mãe e filha.
A porta do quarto se abriu, Diego entrou, ela se levantou e foi correndo na direção do pai, pulando em seu colo toda contente e eufórica.
- Papai! Papai! Estava com saudades! – exclamava, enquanto Diego a apertava contra si e a enchia de beijos em seu rostinho tão pequenino.
- Eu também estava morrendo de saudades da minha princesinha! Que linda! – ele exclamou, enquanto a rodopiava.
Diego sempre morreu de amores pela filha, desde quando ele a pegou no colo pela primeira vez, naquele momento, ele soube de que iria amá-la para sempre, e bom, ele não estava errado.
Ele a desceu de seu colo, e sentou- se no chão ao meu lado, Alana estava com as bonecas nas mãos e mostrou ao pai.
- Olha papai, essa aqui é a Summer, e essa é a Marissa! – disse.
- Sério? Você deu esses nomes tão diferentes para as duas? – perguntou Diego.
- Sim! Combinam com elas, e tem mais!
- O quê?
- As duas são melhores amigas! Nunca se separam! – disse ela.
- Sério? Nossa, que legal então! É sempre bom ter amigas, não é pequena?
- Claro! As duas são invencíveis juntas! – disse minha menininha, com os olhinhos brilhando.
- Alana, lembra da casinha de boneca, que você tanto queria? – começou Diego, eu sabia que ele não iria deixá-la sem a tal casinha de boneca.
Ela estava a dias falando da casinha de boneca rosa que ela queria, e óbvio que Diego faria a vontade dela, sua primeira filha, ele daria a vida por ela se fosse necessário. Aliás, nós dois daríamos a vida por ela.
- Lembro! Você comprou papai?
- Hum... eu... é claro que eu comprei princesinha! – ele disse, empolgado e sorrindo.
- A casinha é rosa? – perguntou Alana, enquanto abraçava o pai mais uma vez, toda maravilhada que o pai havia atendido ao seu pedido.
- É rosa sim meu amor! Papai sabe que você adora rosa.
- E cadê o presente papai? – perguntou curiosa, ela sempre foi muito curiosa também.
- Vou buscar – ele disse e se levantou para buscar o presente, segundos depois voltou escondendo as mãos com o presente atrás de suas costas, ao se aproximar, ele tirou as mãos de trás e mostrou, era uma caixa bem grande, embrulhada em um papel de presente rosa, com uma fita vermelha no topo, a embalagem era linda, imagina o brinquedo por dentro... Assim que Alana viu o embrulho, ela começou a pular de alegria, colocando as mãozinhas pequenas em seu rosto, e sorrindo muito.
- Pegue princesinha – disse Diego, entregando o embrulho a ela.
- Obrigada papai! Você é o melhor papai do mundo inteiro! – ela gritou eufórica, pegando o presente para si.
- Você que é a melhor filha do mundo inteiro! – ele disse super feliz em observar a filha abrindo o presente que ele havia comprado com tanto amor.
Ela conseguiu abrir sozinha, Diego havia montado antes de entregar a filha, assim que viu a enorme casinha rosa de boneca, ela deu um gritinho de alegria, e ficou encantada olhando toda a casinha, era exatamente o que ela queria, seu mundo encantado ficou mais rosa do que nunca!
- Eu amei papai! É lindo, a Summer e a Marissa vão amar morar na casa rosa! – disse ela, com toda a imaginação que uma criança na idade dela tinha, Diego riu e a abraçou novamente, eu me aproximei, e me juntei aos dois no abraço em família, era nossa única filha e estávamos felizes em tê-la em nossas vidas.
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