Alana - 17
Eu estava longe do hospital, não aguentava mais aquele lugar, quando acordei, depois do meu surto psicótico que disseram que tive, mas que no caso, eu não me lembro de nada, fiquei me sentindo mal. Minha mãe me contou tudo o que eu tinha feito, desde empurrar a Celina, até empurrar a Eliza e quase tê-la machucado sério.
Fiquei péssima, me senti um monstro. No dia seguinte, pedi a minha mãe que me levasse até a casa da Eliza, para que eu pudesse me desculpar, não só com ela, mas com a Celina também. Quando cheguei, quem abriu a porta foi o Théo, e só então me liguei de que ele era o meu irmão ogro.
Tínhamos o mesmo sangue. Por isso ele havia ido ao hospital se desculpar comigo.
— Pelo visto está bem de novo, mas se recuperar do acidente, não fez de você uma pessoa melhor, ficou pior, não precisava ter empurrado a minha irmã daquele jeito, você poderia ter machucado-a, sabia disso? — Disse ele, ríspido e me olhava com raiva.
Estava mais que óbvio que ele me detestava, não gostava de mim, deve ter odiado saber que eu sou a irmã biológica dele, e só foi se desculpar comigo no hospital por obrigação.
— Não fala assim com ela, ela é sua irmã também, sabia disso? — Se intrometeu mamãe. Cassie estava inconformada com a atitude agressiva e cheia de ódio do Théo por mim.
—Infelizmente eu estou sabendo disso também — disse ele e abriu a porta por completo.
— Você vai se arrepender por estar tratando a sua irmã desse jeito, ela é sangue do seu sangue garoto — falou mamãe, assim que entrava.
— Como se eu me importasse com laços de sangue — respondeu ele.
— Deixa mãe, eu não me importo com isso, tenho tantos problemas, não vai ser esse que vai me afetar — disse eu, entrando.
— Claro que não vai te afetar, pois você tem o coração de gelo — ele revidou.
— Assim como o seu, coincidência não? — joguei na cara dele.
— Eu não sou parecido com você.
— Pois não está parecendo, na verdade, você é até pior — disse eu, ele fechou a cara, entrei e encontrei Celina sentada ao lado de Eliza, as duas estavam assistindo TV.
Ela tinha faltado na escola e eu também, eu voltaria na semana que vem. As duas ficaram surpresas ao me verem entrando, Celina se levantou e foi até mim, enquanto Cassie aproveitou a brecha e foi até a Eliza.
—Oi — disse ela, enquanto me olhava com os olhos escuros cheios de expectativas.
—Oi, me desculpa, por favor, eu estou me sentindo péssima, eu não quero que você pense que sou uma garota mimada e insensível, tem gente que acha que eu sou assim, mas eu sei que não sou. Eu sei que às vezes, eu exagero e passo de todos os limites, só que normalmente, eu costumo ser uma pessoa boa, e ontem, eu surtei, não sei, não me lembro de nada, quem me contou tudo foi a minha mãe, e eu até agora não consigo acreditar que fiz aquilo com vocês duas. Nesse tempo que eu fiquei em casa, pensei sobre tudo o que está acontecendo, eu entendi que nenhum de vocês tiveram culpa com essa maldita troca, a única culpada é essa enfermeira, eu quero que você saiba que mesmo que não pareça, que eu não demonstre, eu gosto bastante de você, Celina e também gosto do André, e estou disposta a fazer de tudo para me aproximar de vocês dois e ser uma boa filha. Eu só não sei, se algum dia eu vou conseguir chamar vocês dois de pais, mas prometo que vou tentar, vou tentar me acostumar com vocês e me acostumar com a ideia de ter duas mães e dois pais. Você aceita as minhas desculpas? — Perguntei por fim, os olhos dela já estavam marejados, mas eram de emoção e felicidade, ela mesma havia me dito, Celina me abraçou, e eu me senti tão bem enquanto a abraçava, aliviada e mais tranquila, pois eu sabia que tinha feito à coisa certa.
— É claro que eu aceito as suas desculpas minha linda, e eu te entendo perfeitamente, sei que é difícil aceitar tudo isso, nós duas teremos todo o tempo do mundo para nos conhecermos melhor e estabelecer uma relação especial e bonita, eu sei que a Cassie sempre foi a sua mãe e vai continuar sendo, no entanto, eu gostaria muito de que você abrisse o seu coração e desse um espaço para eu entrar. Eu também quero ser a sua mãe, quero que você me ame como tal, mas sei, que isso acontece com o tempo querida, e eu vou respeitar o seu tempo, eu te amo de mais — disse ela, passando as mãos pelo meu rosto, analisando cada detalhe meu.
— Você me ama? Já? — Perguntei surpresa, eu não sabia que ela me amava, pensei que apenas sentisse um carinho por mim e que gostasse de mim. Mas ela falou a palavra amor. E amor era uma coisa muito forte.
— Claro que te amo, Alana, eu te amo desde que você estava na minha barriga, sempre te amei, eu esperava ansiosamente pela sua chegada, eu conversava com você todos os dias. Enquanto estava aqui dentro, não teve um dia se quer que eu não imaginasse como seria o seu rosto, seus olhos, sua boca... Tudo! Todo esse amor continua existindo, só que quando eu dei a luz, e me entregaram a Eliza, eu pensei que ela fosse você e por isso, transferi todo o meu amor para ela, mas eu quero que você saiba que esse amor continua imenso e que amo com todo o coração, vocês duas. Para mim as duas são minhas filhas, e eu quero muito que vocês duas se tratem como irmãs, porque, quando formos morar juntas, é praticamente isso o que vai acabar acontecendo, vocês duas vão se tornar praticamente irmãs.
Meus olhos estavam marejados, era muita emoção para uma garota só, abracei ela de novo e tentei ver o lado bom da situação, pelo menos agora eu teria duas mães e dos pais, quando um não me desse atenção suficiente eu correria para outro, sem contar os presentes, eu ganharia mais de um presente, mas o ruim, seria pedir permissão para todos eles. Na hora de sair ou fazer outra coisa que eu queira. Não poderia ser tão ruim assim, pois todos eles me amavam, o que não faltaria jamais era o amor, então por que eu tinha tanto medo disso? Não havia motivos para medos.
Depois foi a vez de pedir desculpas a Eliza. Minha mãe beijou o rosto da Eliza e saiu do sofá para me deixar sozinha com ela. O André não estava em casa, estava trabalhando. Sentei-me ao lado dela.
— Está muito brava comigo? — Perguntei, evitando um pouco seus lindos olhos azuis.
— Não. Eu sei que você não fez por mal.
— E realmente não fiz por mal, Eliza, eu nem me lembro, quem me contou foi a minha mãe, e estou me sentindo péssima por isso, me desculpa, eu não quis fazer aquilo — pedi mais uma vez.
— Eu te desculpo, Alana, não precisa mais se sentir mal — disse ela e nos abraçamos. Como era bom abraçá-la e sentir que estava tudo bem entre nós duas de novo, ela era tão boa comigo, por que eu ainda estava com o Micael? Ela não merecia sofrer, ela sim gostava dele de verdade, não eu.
— Vou terminar com o Micael — falei, decidida.
—O quê?
— É isso aí, eu não quero ficar com ele e fazer você sofrer, na verdade, eu nem gosto dele tanto assim.
— Eu não quero que você termine com ele, apenas por mim, por estar me fazendo sofrer, eu já disse que posso conquistá-lo quando eu quiser.
— Eu acredito, é sério, você é linda, é claro que poderia conquistá-lo, mas não é só por você, é que eu estou percebendo que eu não gosto o suficiente dele para continuar mantendo essa relação, que por sinal, já começou toda errada, também não é justo que eu o engane.
—Está falando sério? Você não gosta realmente dele?
—É super sério, Eliza, eu gosto dele sim, mas não do jeito que eu deveria, entende?
— Sim, entendo. Você gosta e sempre gostou foi do Cole.
— O quê? — Quase engasguei ao ouvir sua frase.
—Fala sério, Alana, ainda não percebeu?
— Eu não gosto do Cole com esses olhos! Eu o amo como amigo — disse eu, tentando me convencer.
—Não, isso não é verdade Alana. Você o ama bem mais, e não é um amor de amigos não, por que não admite que gosta dele? Ele é lindo, o sonho de consumo de qualquer garota, eu mesma já vi um monte de meninas suspirarem por ele naquela escola, e ele não da bola para nenhuma, apenas para você. Ele só tem olhos para você, Alana, não é por ele ser irmão da Bela, é?
— Não, não é isso, eu não estou nem me importando se ele é irmão daquela chata.
— E gêmeo ainda — ressaltou Eliza, rindo.
— Gêmeos desiguais, Eliza! Por que o rosto do Cole não se parece em nada com o da Bela — disse eu, rindo.
— Realmente... Então, por que não admite que gosta dele?
— É que eu não quero aceitar que o amo. Tenho medo de começar algo com ele e depois sofrer, eu não gostava tanto do Álvaro assim, mas fiquei péssima quando descobri a traição dele e da Betina, aquilo doeu em dose dupla, depois daquilo, eu jurei a mim mesma que se eu fosse me envolver com garotos, seria apenas para curtir e não para entregar o meu coração, e com o Cole, eu sinto que o meu coração já está entregue e isso me assusta tanto.
— Eu não sabia que você se sentia assim, você não pode fugir do que sente por ele, por causa de uns idiotas como esse Álvaro e a Betina. Olha, é melhor que você fique com o Cole e seja feliz, do que não ficar e depois sofrer vendo ele se envolver com outra, porque, o Cole, por mais que te ame, não vai te esperar para sempre, ele vai querer ir em busca de outra para te esquecer. E nesse momento, vai doer muito.
— Vou pensar, mas, por favor, me desculpa por tudo, Eliza! Eu fui uma idiota em ter ficado com o Micael, acho que fiz isso apenas para te provocar.
— Não importa mais, vai ficar tudo bem — disse ela, sorrindo.
Théo passou por nós duas. — Mas que lindo, ver as duas amiguinhas se abraçando, só toma cuidado Eliza, para depois ela não te picar, como a Isabela fez.
— Para Théo! Por que está tratando a Alana assim? Ela é sua irmã também, ela é boa, não é ruim como pensa — disse Eliza, em minha defesa.
— Ela não é minha irmã, você sim é a minha irmã.
— Deixa Eliza, eu não me importo com esse revoltadinho, apenas lembre - se que quem tinha que estar revoltada nessa história toda, é a Eliza e eu, não você, não foi você que foi trocado na maternidade Théo — resolvi falar, o encarando com raiva.
— Por que não fica quieta e para de se meter onde não é chamada? Você é uma intrusa na minha vida Alana, nunca vai ocupar o espaço que a Eliza tem aqui no meu coração.
— E eu não quero isso, eu não estou pedindo para você me amar, como ama a Eliza, eu só quero que pelo menos, você goste um pouquinho de mim.
— Isso não vai acontecer — disse ele e saiu, indo em direção ao quarto dele. Bufei e Eliza também.
— Sério, não sei por que o meu irmão está tão incomodado com o fato de você ser a irmã biológica dele.
—Deve ser ciúmes, não sei... Espero que passe, porque eu não vou ficar escutando calada todas as implicâncias dele, vou revidar.
— Nossa, espero mesmo que vocês dois possam se dar bem, porque se o Théo já é difícil de aguentar, imagina vocês dois brigando sempre? Seria a treva — disse ela, rimos juntas e nossas duas mães se aproximaram da gente e se sentaram conosco.
Pareciam mais felizes e tranquilas por estarem nos vendo conversando. Meus pais tinham outra casa, que não usávamos, eles a alugavam, só que os residentes se mudaram recentemente, e a casa ficou vazia.
Era menor que a minha casa atual, mas dava para que vivêssemos todos juntos, não iríamos morar para sempre juntos na mesma casa, mas naquele momento, morar juntos era importante, pois precisávamos recuperar o tempo perdido e nos conhecermos melhor.
Para que não ficássemos em dúvida sobre para qual casa ir, eles decidiram que moraríamos na casa que estava vazia, assim, seria novo para todos, eu não levaria todas as minhas coisas para a casa nova, na verdade, eu deixaria muita coisa na minha casa mesmo, só levaria o necessário, não sabíamos até quando moraríamos juntos, mas preferimos deixar isso com o tempo, ele nos diria até quando.
A mudança aconteceria neste sábado, eu teria que agilizar as minhas malas, a casa ficava bem perto do colégio... Esse era o lado ruim, mas fazer o que, resolvi que eu terminaria com o Micael ainda hoje, se possível mais tarde. Quando eu já estava de volta na minha casa, liguei para ele ir até lá, eu não podia ficar andando muito, por causa da cirurgia, que ainda era muito recente. Eu estava no meu quarto, quando ele entrou.
— Oi, princesa!
— Oi, Micael.
Ele se sentou ao meu lado e quando ia me beijar, virei o rosto.
— O que foi? Por que não quer me beijar?
— Eu preciso te falar uma coisa.
— Sobre?
— Desculpa, Micael, eu não queria fazer isso com você, mas é que eu não gosto de você como deveria.
— Está terminando comigo?
— Sim, me desculpa, eu...
— Você gosta do Cole — disse ele, com um sorriso pequeno.
— O quê?
— Está na cara, só que eu pensei que fosse coisa da minha cabeça, mas agora, vejo que é verdade, você gosta dele, por isso não consegue gostar de mim.
— Espera, mas para quem está levando um pé na bunda, você está bem calmo. — disse, estranhando a reação dele.
— Vou te contar uma coisa, mas tem que prometer que não vai dizer nada á Eliza, promete?
— Claro, conta.
—A verdade é que eu gosto da Eliza desde o ano passado, gosto de outro jeito, mas eu nunca disse e nunca quis me envolver com ela, com medo de fazê-la sofrer, apesar de eu gostar dela, ela também é minha amiga e estou junto dela há muito tempo, eu não aguentaria perceber que estou fazendo com que ela sofra, entende?
— Mas como assim a fazer sofrer?
— É que, por mais que eu goste dela, eu não sou o melhor cara para ela, eu sou todo errado, tenho muito medo de que ela sofra por mim, enquanto estiver comigo.
— Isso só vai acontecer se você permitir Micael, nossa, eu não sabia que você gostava dela, acho que nem ela sabe.
— Eu escondo muito bem, essas garotas com quem me envolvo... é tudo para esquecer ela, um disfarce, para mantê-la longe de mim — disse ele, com o olhar triste.
— Então eu era apenas parte do seu disfarce? Você me usou, Micael.
— Você também me usou Alana, mas não se sinta mal, com você foi diferente, eu pensei que você pudesse realmente me fazer esquecer a Eliza, por isso te pedi em namoro, eu tinha essa esperança, de todas as garotas com quem fiquei para esquecer a Eliza, você foi à única que realmente valia a pena, era a única que eu sentia que podia ser especial.
— Nossa, que profundo — disse, e sorri de lado. — Não foi como queríamos, né, às vezes, tentar esquecer uma pessoa se envolvendo com outras, só piora — fiz questão de ressaltar.
— Concordo. Me perdoa por eu ter te usado? — Perguntou ele.
— Claro, estamos empatados, acho que realmente não era para nós dois ficarmos juntos.
— Pois é.
— Mas se você gosta mesmo da Eliza, como diz, lute por ela, diga isso a ela, você nunca vai saber se não tentar — tentei ajudar.
— Será?
— Sim, tenho certeza.
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