Alana - 13

Eu não queria ir para o colégio devido à vergonha que passei na casa do Micael, minha mãe não deixou faltar, mas o que era da Bela estava guardado, bem guardadinho. Ela iria pagar pela mentira horrorosa que inventou sobre mim.

Entrei no colégio, mas fui direto para o ginásio, ainda era muito cedo, a escola estava praticamente vazia e o ginásio então... nem se fala!

Entrei, e tirei meu uniforme, para poder vestir a roupa de dança das aulas da tarde, eu já tinha que ir treinando, tinha que dar o meu melhor na dança, para que a Bela morresse de inveja e de raiva, quando perceber que eu sou muito talentosa.

Estava vestindo a saia rosa no meu corpo, quando senti alguém me abraçando por trás, me virei assustada e dei de cara com o Cole, quem mais seria não é?

— Dá para me soltar engraçadinho? – esbravejei impaciente.

Ele estava sorrindo maliciosamente, ainda com os braços ao redor do meu corpo.

— Na próxima, se troca dentro do banheiro, eu vi tudo... — disse, sem tirar os olhos das minhas pernas, me desprendi dele rapidamente, que tarado!

— Não faça mais isso Cole, não seja abusado — o repreendi.

— Foi mal, me excedi um pouco ao ver você seminua.

— Você é um tarado, sabia? — falei em um tom mais calmo, e o empurrei de brincadeira.

— Isso tudo é para irritar a minha irmã?

— Sim e não, eu quero irritá-la, sim, mas eu adoro dançar, por isso entrei no grupo, mas, confesso que minha maior iniciativa para entrar, foi apenas para ver a cara de idiota da Bela — zombei, e então, me lembrei de que a idiota era a irmã gêmea do meu melhor amigo.

Fiquei séria e pedi desculpas com o olhar, ele riu e me puxou pela cintura, de encontro a seu corpo, meu coração acelerou com aquela aproximação inesperada.

— Não precisa ficar assim quando falar mal da minha irmã, nós dois sabemos bem como ela é, eu sei que vocês duas não se suportam, mas eu não ligo para isso — disse ele, me segurando firme, brincando com as minhas trancinhas com a outra mão.

— Você está muito próximo — disse nervosa com tanta proximidade e, ao mesmo tempo, hipnotizada, viajando em seus lindos olhos castanhos escuros, olhos que estavam radiantes, me olhavam com fervor.

— Sério? Não percebi — disse ele, fazendo pouco caso da minha reclamação, e continuou a brincar com minhas trancinhas.

— O que você tem contra as minhas tranças? — mudei o assunto.

— Nada! Eu amo as suas tranças, por isso estou brincando com elas — disse, e sorriu.

— Engraçadinho... você está atrapalhando as tranças.

— Não estou não, novata.

— Esse apelido vai voltar de novo? Eu não sou mais "novata" Cole! — reclamei, irritada.

— Para mim você vai ser sempre a minha "novata" — disse, acariciando o meu rosto.

Eu não queria sair dos braços dele e nem que ele parasse de me acariciar, estava tão bom, ele estava tão fofo, carinhoso e lindo, o Cole definitivamente era muito lindo.

Mas eu sabia que era errado, ficar tão próxima assim dele, afinal, eu estava ficando com o Micael, e não com o Cole, eu não podia ficar cheia de carinhos com outro que não fosse o Micael.

A minha cabeça sabia que era errado e estava pedindo para que eu me afastasse imediatamente, mas o meu coração estava gostando tanto e queria continuar ali, recebendo os carinhos dele, obedeci ao meu coração e continuei.

— Sua?

— Minha. Você é minha, só minha, novata — disse ele, encostando a testa na minha.

Quando senti que ele estava prestes a me beijar, levantei minha mão e baguncei seu cabelo loiro cacheado. Foi uma tentativa de fugir do beijo, sem magoá-lo.

Ele riu e segurou minha mão.— Ah, não Alana! O que você tem contra o meu cabelo? — perguntou ele, sorrindo.

— Nada! Eu amo os seus cachinhos, não sabia? — respondi brincalhona, rindo dele, fomos interrompidos pela Isabela.

A garota entrou que nem um furacão e arregalou os olhos com raiva ao nos ver juntos de novo. Ela se intrometeu na frente do Cole, ficando de costas para mim.

— O que está fazendo no ginásio, irmãozinho? Vai entrar para o grupo de dança também, é? — perguntou, ironicamente.

Cole fez cara de quem não gostou da ironia dela.

— Estou conversando com a minha amiga, não pode mais?

— Com essa Alana, não! Você tinha que ficar do meu lado Cole, e não do dela! Eu sou sua irmã, ela é apenas mais uma garota na sua vida, eu sei que você está a fim dela, da para perceber no seu olhar, mas isso é só fogo de palha! Tenho certeza, que assim que conseguir o que quer dela, esse fogo vai se apagar e vai esquecê-la rapidinho — disse ela, bem alto, e claro que eu me intrometi, onde já se viu? Falar assim de mim? E insinuar que sou mais uma, dentre tantas garotas que já passou pela vida dele, ela não tinha esse direito.

— Olha aqui, querida! Por que não fica quieta e para de falar besteiras? Usa o seu cérebro pelo menos uma vez na vida!

Ela me lançou um olhar furioso e me ignorou, voltando a falar com o irmão.

— Cole, não vê que essa garota está te usando?

— Do que está falando Bela? Para com essas mentiras idiotas!

— Não são mentiras, Cole, ela está te usando para me afetar! Ela só é sua amiga, para me provocar! E não duvido nada de que um dia, ela possa ficar com você apenas para me irritar mais, é uma vingança, ela quer se vingar de mim, Cole — disse ela, toda manhosa, fingindo ser inocente.

— Não seja ridícula garota, eu converso com o Cole porque gosto dele. Sabe por quê? O Cole é diferente de você, ele é bom, humano, legal, lindo, fofo, carinhoso... é tudo isso, ele é apenas ele! Cole não faz armações como você, ele não conta mentiras, não precisa disso. É por isso que eu gosto dele, não ache que o mundo gira ao seu redor, querida — respondi firmemente, e olhei para o Cole, o mesmo estava me olhando com um sorriso de ladino.

— Bela, eu não acredito em você, então pare de difamar a imagem da Alana para mim, porque você não vai conseguir — respondeu ele.

Bela bufou de raiva e se virou para mim.

— Jura que você quer entrar para o meu grupo de dança?

— Eu já estou no grupo.

— Acredito... você não deve ter nem um pouco de talento, e magrela como é, duvido que saiba rebolar bem.

— Ela rebola bem, sim, Bela, isso posso te garantir — disse Cole, sorrindo, me lembrei da vez que ele estava escondido me vendo dançar para a treinadora, tinha me visto rebolar, no mesmo momento, senti meu rosto queimar e eu sabia que estava vermelha.

— Ela é magra, sim, mas não sei se reparou... você é muito mais magra que ela — disse ele, provocando sua irmã. Soltei uma risada na hora, Isabela ficou vermelha de raiva e olhou para o próprio corpo.

— Fica quieto, Cole! Vou contar tudo para o papai, que você está zombando de mim, por causa dessa "novata" aí!

Comecei a rir mais. — Conta Bela, é só isso o que você sabe fazer mesmo, não é? Contar tudo para o papai, e ele sempre fica do seu lado mesmo, então pouco me importo.

— Você tem raiva de mim, Cole? Tem raiva porque acha que o papai prefere a mim, que a você? — perguntou ela, séria.

Estava vivenciando um caso de família pessoalmente! Mas, claro, que eu não estava achando engraçado, quando a conversa foi para esse lado, fiquei bem preocupada com o Cole, pois eu sabia que o assunto "Pai", abalava muito ele, e como abalava.

Cole realmente achava que seu pai preferia a Bela que a ele, e isso o entristecia muito.

— Não, eu não tenho raiva de você, Isabela!

— Tem sim! Eu posso ver a raiva dentro dos seus olhos, ele gosta de nós dois, Cole! Só que você é tão complicado, que ele está sempre brigando com você.

— Ele briga comigo por qualquer motivo, Isabela! Está na cara a preferência dele por você! — ele gritou.

— Claro que não! Isso é coisa da sua cabeça, Cole! O papai te ama!

— Você e eu, sabemos bem que isso não é verdade. Então não minta! — ele gritou, vi que em seus olhos, lágrimas já estavam se formando, resolvi me intrometer.

— Gente, aqui não é o lugar certo para discussões, estamos na escola — falei.

Bela me olhou e tentou se recompor, parecia afetada.

— É a primeira vez que concordo com essa garota aí, ela está certa Cole, em casa conversamos melhor sobre isso — disse ela.

Cole deu de ombros e caminhou até mim. Eu não sabia o que ele iria fazer, ele me puxou para um abraço e beijou meu rosto, em uma forma de despedida e sussurrou em meu ouvido: "Obrigado".

O apertei forte, antes de nos soltarmos. — Eu te amo Cole, te amo muito, não tem que me agradecer – disse, ele sorriu, e antes de me soltar respondeu.

— Eu também te amo muito, novata. Você sabe, que o meu amor é diferente do seu amor.

Soltamo-nos, ambos ficamos olhando um para o outro, por um breve segundo, depois, ele acenou com um tchau, se retirando do ginásio.

— Tchau para você, também, irmãozinho ingrato! — gritou Bela.

Ele a ignorou e saiu sem a olhar. Meu amor era mesmo diferente do amor dele? Ou eu estava me enganando, e, na verdade, o que sinto pelo Cole é o mesmo amor que ele sente por mim? Balancei a cabeça negativamente, em uma forma inútil de afastar esses pensamentos que não me levariam a lugar algum. Graças a Deus, Rita chegou antes que a Bela pudesse falar algo comigo.

— Por que estão aqui meninas? A aula é no período da tarde.

— Bom, eu cheguei mais cedo para poder treinar um pouco antes da aula da tarde — respondi.

— Eu vim fazer o mesmo, mas encontrei essa intrusa aqui — respondeu Bela com soberba.

— Hum... fico feliz que estejam se empenhando, já que estão aqui, vou contar uma novidade — falou a professora.

Bela esbugalhou os olhos, parecia nervosa com o que a professora poderia dizer.

— Alana é a nova integrante do grupo.

— Só isso? — Bela perguntou em um tom irritado.

— Não, a Alana vai ser a nova líder de vocês, ela dança muito bem e possui ótimos passos, acredito que vai ser uma boa professora de dança, junto a mim. Ela será como minha ajudante.

— O quê? Isso é brincadeira não é?

— Não, Isabela, isso não é brincadeira, é bem sério.

— Mas eu era a líder do grupo! Você não pode me tirar de cena assim! — gritou.

— Tanto posso, que tirei. Isabela, você dança muito bem, é verdade, no entanto, Alana é melhor. Ela sabe mais passos, tem mais jeito. Fica tranquila, Bela, Alana vai te ensinar tudo, você vai ficar tão boa como ela — disse Rita, na maior inocência. Bela ficou furiosa. Eu disse que ela se arrependeria por ter se metido comigo.

— Você está sendo injusta treinadora! Eu sempre fui à líder, as meninas me amam!

— Ou odeiam... — disse eu, zombando.

— Não provoca Alana — pediu Rita.

— Eu não vou mudar de ideia, Isabela, avise as outras meninas, por favor, e diga a elas para comparecerem pontualmente ao treino hoje à tarde.

— Isso não vai ficar assim sua cobra! — disse Bela a mim e saiu me deixando sozinha com a treinadora. Comecei a rir e Rita me olhou com espanto.

— Alana, que coisa feia, não deve rir da sua colega.

— Ela não é minha colega professora, é apenas mais uma rival — corrigi.

— A Isabela não sabe perder — disse Rita.

— Percebi, mas se ela não aprende por bem, vai ter que aprender por mal mesmo — disse eu.

Rita suspirou. — Esses jovens de hoje... — disse, e então se despediu de mim e saiu.

Logo em seguida, vesti meu uniforme novamente e saí do ginásio, não consegui treinar a dança. Fui para o centro da escola, e vi Eliza chegando.

Fui até ela animada. — Oi Eliza! — exclamei, sorrindo. Ela me olhou seriamente, me ignorando. Puxei seu braço, que se virou com uma expressão nada boa.

— O que está acontecendo? Por que não falou comigo? — perguntei ingenuamente.

— Acorda Alana! Somos rivais, rivais não se falam como amigas! — ela gritou.

— Mas ontem nós duas conversamos e eu até penteei o seu cabelo e...

— E nada. Foi só ontem Alana, eu não tive escolha, foi a minha mãe que me obrigou a ir à sua casa, eu não fui porque quis.

— Engraçado, você parecia estar bem à vontade comigo! E gostando de conversar, sério, eu não te entendo.

— Eu é que não te entendo Alana! Você pega o cara que eu sempre gostei, namora ele e acha que eu posso ser sua amiga normalmente?

— Não é só isso, tem alguma coisa mais séria que está te impedindo de ser minha amiga...

— Não seja falsa Alana, você não gosta de mim como diz.

— E você também não! Pensa que eu não descobri sobre suas mentiras? — disse, jogando na cara dela, aquele lance sobre ela ter falado mal de mim pelas costas.

— Não sei do que está falando, me deixa Alana, o que aconteceu ontem entre nós duas, foi uma coisa que não vai acontecer mais. Entendeu?

— Faça como quiser, sua loira burra – respondi, estava com tanta raiva dela.

— O quê? Loira burra? Está louca? Você é uma... mimada sem cérebro! — gritou ela.

Arregalei meus olhos, ofendida. — Eu não sou mimada, sua burra! Deixa de ser invejosa.

— O que está acontecendo aqui meninas? – perguntou Micael, se aproximando de nós duas. Eliza estava séria e eu também.

— Nada — dissemos juntas.

— Alana, precisamos conversar sobre ontem — disse ele.

— Depois conversamos Micael — disse, minha intenção era fugir desse assunto, eu não queria me lembrar de nada.

— Alana, não seja criança, vamos conversar agora.

— Eu não sou criança, eu não quero falar sobre isso agora.

— Vamos conversar agora e pronto! — gritou ele, pegando na minha mão com força, gritei de dor. Ele tinha me apertado de mais, e estava doendo.

De repente, a Eliza o puxou e o empurrou para longe de mim. — Solta ela, Micael! — gritou, seus os olhos azuis estavam assustados.

— O quê? O que foi isso, Eliza? Eu tenho que conversar com ela, você não entende.

— Entendo, sim, ela não quer conversar agora, respeita a decisão dela, depois vocês conversam.

Ele ficou a olhando sem entender, assim como eu, também não estava entendendo nada. Eliza estava me ajudando? Ela era bipolar?

— Vem, Alana — disse ela. Acompanhei-a e andamos juntas, Micael tinha ficado lá.

— Por que me ajudou?

— Eu não queria que vocês dois ficassem sozinhos — respondeu sem muita convicção.

— Ah... Então, foi só por isso — disse baixo, desapontada. Pensei que ela tivesse me ajudado porque se importava comigo.

— Claro, achou que seria pelo quê?

— Nada, nada de mais.

Continuamos andando juntas, quando ela percebeu, deu um jeito de se afastar.

— Vou para sala agora, nos vemos por aí — disse e saiu apressada, me deixando para trás. Tentei procurar o Cole pela escola, o encontrei conversando com uma garota morena, baixinha e encorpada, fui até eles e me intrometi na conversa.

— Cole, não vai para a sala?

— Depois, Alana, estou conversando com a Carolina — ele respondeu sem dar muita importância para a minha presença.

Fiquei desapontada com sua atitude, pensei que ele fosse ir comigo, mas preferiu ficar conversando com essa tal de Carolina. Que, por sinal, era muito bonita.

— Ok... nos vemos depois — disse e saí.

... ... ...

Me sentei na sala de aula e olhei para Eliza e Micael, os dois estavam conversando. Do outro lado, os dois me olharam, e Micael fez um sinal para mim, dizendo que depois conversaria comigo, voltei com o olhar para o quadro, que estava vazio, a professora ainda não havia chegado. Cole chegou logo depois e se sentou.

Mais tarde, quando o sinal tocou para o intervalo, todos saíram apressados da sala de aula, e Micael foi até mim, Cole ainda estava sentado, não tinha saído.

— Você não vai poder fugir mais, Alana, temos que conversar agora — disse ele, me olhando profundamente.

Suspirei e concordei, pedi ao Cole que saísse da sala, para que Micael e eu pudéssemos conversar a sós. Ele assentiu, mesmo não concordando. Só estávamos nós dois dentro daquela sala.

— Sobre ontem, princesa, me desculpa, me desculpa mesmo, eu pensei que você queria, eu sei que passei dos limites com você, estou muito arrependido, eu prometo que não vou mais fazer esse tipo de coisa, sem a sua permissão — parecia estar sendo sincero.

— O que mais me magoa, é saber que você me achava tão fácil assim, a ponto de achar que eu fosse me entregar a você, nesse pouco tempo que estamos juntos.

— Desculpa, é que a Bela disse que você já tinha experiência e como você estava dando todos os indícios de que queria, eu...

— Aí você tomou a liberdade de abrir o meu sutiã e me tocar daquela forma...

— Eu já pedi desculpas, linda! Eu não sabia que... — ele dizia, então, a sala foi invadida pelo Cole, que estava furioso e gritava palavrões horríveis para o Micael, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Cole deu um soco no Micael, que caiu no chão.

— Cole! — gritei assustada.

— Esse cara merece, por ser tão abusado!— esbravejou, seus olhos refletiam raiva, era a primeira vez que o via daquele jeito.

Micael se levantou e foi para cima do Cole, e deu um soco nele, comecei a me desesperar. — Parem! Parem agora! — gritei, mas os dois já estavam se enrolando no chão, um batendo no outro. Corri até eles, e tentei puxar o Cole, segurando em sua cintura.

— Parem os dois!

— Me solta Alana! Sai daqui antes que você se machuque! — gritou ele para mim, me empurrando para longe deles, e voltaram a se bater.

Comecei a chorar, principalmente, quando vi o rosto do Cole todo machucado e sangrando. Micael também estava sangrando, mas ver o Cole naquele estado me apavorou mais do que ver o Micael.

— Vão ter que me machucar também! — gritei e me enfiei no meio dos dois, protegi minha cabeça com minhas mãos, para que eu não fosse atingida, senti braços me puxando para fora da briga, era a Eliza.

— Sua louca! — gritou ela, me abraçando.

Olhei para os dois que haviam parado depois que me meti no meio. Ambos perceberam que tinham ido longe de mais e pararam de brigar, a diretora e os funcionários que trabalhavam, já tinham chegado e os levaram para a direção.

Fiquei chorando, os vi sendo levados para fora da sala, Eliza ainda me abraçava. Agarrei-me a ela, com forças que eu não sabia que ainda tinha, eu nunca tinha presenciado uma briga de perto, ainda mais sendo com pessoas que eu conheço e importantes para mim.

— Foi culpa minha, Eliza! — disse, chorando.

— Não... não foi sua culpa. Os dois que são uns selvagens e não sabem resolver as coisas, sem ser com briga — disse ela, afagando meu cabelo.

— Eles estavam muito machucados.

— Eles vão ficar bem, Alana — disse ela, e me retirou com a autorização da professora da sala de aula. Me levou para o pátio, eu estava muito abalada ainda e nervosa, Eliza foi ao bebedouro e voltou com um copo de água para eu beber.

Peguei o copo, ainda com minhas mãos trêmulas e bebi. Ela ficou me olhando beber tudo e quando terminei, ficamos nos olhando em silêncio, uma forma de cumplicidade.


 Diário da Cassie

2011 – 14 anos de idade.

Alana estava namorando um garoto da sala dela, chamado Álvaro. Eu nunca gostei muito dele, tinha algo naquele garoto que não batia.

Mas, ele nunca me deu motivos para eu não gostar dele, então, se eu falasse algo com ela, poderia acabar em confusão.

Alana nunca foi uma garota fácil de lidar, e de certo modo, aquela escola particular a transformava em algo que eu não gostava.

Era como se ela tivesse duas personalidades, na escola ela era a "popular, e mais respeitada", e aqui em casa, ela era a Alana que eu conhecia, porém, tinha dias que trazia a Alana da escola para dentro de casa, e isso me aborrecia, ela se comportava feito uma patricinha malvada em algumas situações.

Lembro-me desse dia com detalhes, pois foi nesse dia, que eu tive a minha primeira briga séria com a Alana.

Era três da tarde, eu tinha saído cedo, e voltei nesse horário. A casa estava silenciosa de mais, Diego estava no trabalho, Alana deveria estar em casa, subi para ver se ela se encontrava em seu quarto. A porta estava encostada, e eu vi o Álvaro deitado por cima dela, os dois se beijando com intensidade, ele sem camisa, e ela de sutiã.

Meu coração acelerou e eu quase não acreditei no que via, meus olhos não mentiam, abri a porta apressada e dei um jeito de acabar com aquilo.

— Alana! — gritei, chocada demais.

Os dois se levantaram assustados por terem sido pegos, Álvaro vestiu a blusa imediatamente e tentou se explicar para mim, mas eu não deixei, eu só queria escutar a explicação de uma pessoa, e essa pessoa era a minha filha.

— É melhor você ir embora — eu disse a ele.

Rapidamente, ele se foi. — Se vista — ordenei a ela.

Alana vestiu a blusa. — Eu quero uma explicação, Alana. Que pouca vergonha foi essa? Está ficando maluca garota? — fiquei exaltada.

— Ele é meu namorado, não tem nada de mais, para de drama — respondeu ela com desdém.

— Como é? Parar com o drama? Você e ele... vocês dois iam...

— Eu sou virgem, mãe! Eu nunca transei, fica tranquila — ela gritou, mostrando raiva.

— E você ia fazer isso hoje? — perguntei ainda alterada.

— Não. Só estávamos nos curtindo. Eu disse a ele que não estava preparada ainda, você arrumou um escândalo por nada!

— Curtindo? Você não devia ficar de curtição com ele dessa forma, ele é homem, acha mesmo que vai ficar na curtição por muito tempo? Ele vai te pressionar até conseguir tudo.

— Fala sério, mãe! Se eu disser que não quero, ele para! Ele não vai me forçar!

— Mas ele pode acabar fazendo chantagem emocional com você, para você topar logo.

— Você acha que eu sou uma qualquer, mãe? Uma garota sem opinião própria? Eu não vou transar sendo pressionada, não sou burra! — ela gritou, seus olhos estavam enfurecidos, não parecia a minha filha.

— Você está apaixonada por ele, e garotas apaixonadas cedem muito rápido.

Ela deu uma risada sarcástica. – Assim como você cedeu ao papai?

— Não fala do que você não sabe, Alana! Diego e eu nos amávamos de verdade! Ele nunca me pressionou e havia confiança entre nós dois, antes de se entregar a algum rapaz, certifique-se de que ele te ama mesmo, pois a pior burrada que você pode fazer na sua vida, é se entregar para um homem que só quer seu corpo e nada mais.

— A vida é minha e eu faço com ela o que eu quiser! — ela disse com convicção, e saiu correndo.

— Alana! Volta aqui, agora! Alana! Não se atreva a sair de casa! — gritei, correndo atrás dela, mas era tarde de mais, ela já havia saído de casa.

...

Fiquei esperando por horas Alana voltar para casa, ela não atendia o celular, eu estava ficando preocupada, e se tivesse acontecido alguma coisa com ela? E se ela tivesse feito algo que se arrependeria pelo resto de sua vida?

Pensamentos ruins não saíam da minha mente, mesmo que eu fizesse de tudo para afastá-los. Estava quase na hora do Diego chegar do trabalho, eu não queria que ele descobrisse nada do que aconteceu entre nós duas, eu teria que explicar o motivo da nossa briga, e eu não queria colocar Alana nessa situação constrangedora com o pai.

Mas ela havia chegado em casa uma hora antes do horário habitual do meu marido. Fiquei mais aliviada.

Ela se aproximou de mim. — Mãe, me desculpa. Durante o tempo em que eu passei na rua, eu pensei com calma em tudo o que aconteceu hoje, e... admito que eu tive a minha parcela de culpa, mas, eu ainda sou virgem, eu juro. Eu não estou pronta ainda, e acho que vai demorar um tempo para eu estar, e bom, eu quero perder a minha virgindade com alguém que eu tenha certeza que amo, e eu não sei se amo verdadeiramente o Álvaro — confessou, a voz estava branda e seus olhos pareciam confusos.

— Se você sente que não o ama, por que ainda está com ele?

— Eu não sei. Ele é popular e formamos o casal perfeito do colégio, acho que eu me agarrei a isso, eu estou apaixonada por ele sim, mas... ainda não o amo. Mas, talvez, eu consiga o amar, por isso ainda estou com ele.

— Meu amor, isso é besteira. Você deve ficar com alguém por sua vontade e não pela vontade dos alunos do colégio.

— Eu sei, mas eu sinto que posso amá-lo ainda.

— Eu não acho que isso seja possível. Mas, eu vou respeitar a sua vontade. Só me prometa que não vai se entregar sem amor, e tenha juízo, filha, você é muito desmiolada.

— Mãe, eu não sou desmiolada, só tenho pensamentos diferentes dos seus. E eu prometo que não vou fazer nada sem amor, e no dia que acontecer, seja lá com quem for... eu irei te contar — ela disse.

E apesar dessa ideia me assustar, eu realmente acreditei que ela poderia me contar algum dia.

— Tudo bem, eu acredito em você. Eu acho que aquele colégio não te faz bem.

— Besteira, mãe. É uma escola normal, e não tem nada de errado comigo, eu sou assim, um pouco rebelde às vezes, e amorosa em outras. Sinto muito por não ser a filha perfeita.

— Meu amor... você é a filha perfeita para mim. Eu não mudaria nada em você — eu disse, e a abracei.

— Eu te amo mãe, e me desculpa pela briga...

— Está tudo bem agora, e eu também te amo muito, Alana. Para sempre.

Meu amor por ela nunca mudou, mesmo quando eu descobri a verdade sobre a troca ao nascimento, Alana continuou sendo minha filha, podia não ter o meu sangue, minha genética, mas foi criada por mim com tanto amor, eu fui a mãe dela durante 16 anos, como esquecê-la? Impossível, ela era minha, eu fui a mãe dela por 16 anos, foi um choque, mas cada detalhe dela parecia ter vindo de mim.



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