Alana - 1

03 de fevereiro, 2013.

Nunca fui rica, mas também nunca passei por dificuldades financeiras, meus pais sempre tiveram condições para me proporcionarem tudo o que eu queria.

Não me levem a mal, mas desde a infância é assim, tudo o que eu pedia, eu conseguia, meus pais sempre me amaram, me protegeram e me mimaram, faziam de tudo para me agradar, principalmente o meu pai.

Uma vez, quando eu tinha oito anos, eu pedi uma Barbie que não era nada fácil de encontrar, ela era a sensação do momento, estava em lançamento, não tinham muitas no Brasil.

O que eu fiz? Poxa, pensando melhor agora, preciso confessar que foi um ato meio egoísta, mas não me condene, eu tinha apenas oito anos! Era uma criança, deixei bem claro para os meus pais que eu queria aquela Barbie e não outra, falei que se aparecessem com outra eu nem brincaria com ela, era a única forma de chantagem que encontrei na época e eu queria muito aquela Barbie.

Demorou dois meses, foram dois meses terríveis para os meus pais, principalmente para o meu pai, pois eu vivia falando dessa Barbie e ele, claro, fazia de tudo para encontrá-la, e um dia, ele conseguiu e eu fiquei muito feliz, então ele pode dormir tranquilo novamente.

Minha cor favorita sempre foi o rosa, sempre achei uma cor linda, o meu quarto também era rosa e sempre tive tudo o que quis nele. As minhas vontades, sempre foram feitas, menos essa vontade: sempreestudei em escolas particulares, mas em um dia como outro qualquer, tive que ir para uma pública.

Meus pais me tiraram da minha antiga escola contra a minha vontade e me matricularam em uma escola pública. Motivos? Disseram que a mensalidade do colégio estava muito alta e não estavam dando conta de pagar, e minha mãe Cassie disse que se eu quisesse continuar tendo tudo do bom e do melhor, eu tinha que aceitar ir para a escola pública.

Fui obrigada a escolher, eu não tive saída. Claro que preferi continuar tendo tudo do bom e do melhor, não poderia ser tão terrível assim, poderia? Era apenas uma escola! E até que para uma escola pública, ela era bem bonitinha e enorme. Não podia ser tão difícil assim.

Minha mãe Cassie sempre teve o cabelo loiro natural, e os olhos azuis, e eu... bom, eu nasci com o cabelo escuro e olhos escuros. A sorte não foi generosa comigo... mas tudo bem, eu sempre fui muito bonita.

Meu pai, Diego, herdou o cabelo preto e olhos castanhos escuros de sua família, parece que herdei a genética dele.

Quem escolheu o meu nome foi minha mãe. Sim, ela sempre gostou do nome Alana, e ficou feliz ao descobrir que teria menina, assim ela teria a chance de usar o nome que ela tanto gostava em mim. Cresci sendo filha única, às vezes me sentia só, mas a solidão logo passava quando eu pensava que teria que dividir minhas coisas com eles. Eu tinha um namorado na antigaescola, o Álvaro, mas terminei com ele depois que descobri que tinha me traído com a Betina.

Betina era a minha melhor amiga. Era no passado, parou de ser depois do ocorrido. Aquela fingida me enganou direitinho! Eu confiava nela, confiava muito, éramos amigas desde que tínhamos seis anos, vivemos muitas coisas juntas, e no final, ela escolheu pegar o meu namorado, e pensou que eu não fosse descobrir... peguei os dois juntos na casa dele, eu fiquei com tanto ódio, tanta raiva... eu gostava do Álvaro. Gostava, mas parei de gostar depois da traição. No entanto, eu sofri mais em descobrir a traição dela, é horrível descobrir que sua melhor amiga não era tão amiga assim.

Eu iria me vingar deles, mas meus pais atrapalharam, quando me avisaram que aquela não era mais a minha escola.

E em um dia como outro qualquer, lá estava eu, indo de carro para a minha mais nova escola. Confesso que eu estava com medo, medo de odiar aquele lugar.

Minha mãe parou o carro em frente à escola. — Pronto, querida, se comporte e faça amigos — ela falou e deu um beijo na minha testa, esbocei um sorriso fraco.

— Vou tentar mãezinha, juro que vou tentar — respondi, retribuindo o beijo dela com um abraço apertado.

— Eu te conheço bem Alana, sei que vai se fechar no seu mundinho e detestar tudo que está em volta, sei que você vai se achar superior e que escolherá com quem andar, e é exatamente isso o que você não deve fazer nessa escola. Se quiser ter amigos de verdade, seja amiga deles e se misture, aqui não é um colégio particular, e as pessoas que estudam em escolas públicas não costumam gostar de patricinhas que se acham — ela avisou na maior naturalidade.

— Ei! Eu não sou patricinha mãe. Tudo bem... prometo que vou me misturar.

— Quero só ver.

— Você verá.

Eu pretendia me misturar, pretendia mesmo, mas meus planos não saíram exatamente como o planejado. Me despedi da minha super mãe com beijos em seu rosto, saí do carro e vi vários alunos entrando na escola, alguns me olhavam enquanto eu saía do carro e caminhava em direção ao colégio, tanto meninos, como meninas.

O colégio era enorme, bem enorme... me surpreendi. Assim como a escola particular, a escola pública não era diferente nos seus grupinhos, ela era dividida por muitos grupos, os nerds, os populares, os emos, os góticos, os estranhos e também tinha os normais. Os normais são os sem grupo: não se encaixavam em nenhum grupo citado anteriormente, gostavam de serem amigos de todos, e por isso o grupo ficava um pouco misturado.

Em minha antiga escola, eu me encaixava na categoria dos populares. Sim, eu era muito popular, mas na escola nova eu não sabia bem em qual categoria poderia me encaixar. Claro que eu queria ir para o lado dos populares, no entanto, não foi bem isso o que aconteceu, na verdade, não aconteceu.

Enquanto eu andava sozinha por aquele colégio a procura da minha nova sala, esbarrei em uma garota de cabelo longo, castanho-claro, dona de olhos verdes espetaculares, ela era mais alta que eu.

— Cuidado, sua sem noção! Você não olha por onde anda, não? — esbravejou, seus olhos ficaram furiosos, garota louca.

— Eu não te vi, querida — respondi sem ânimo.

— Está dizendo que sou invisível aos seus olhos? — ela perguntou, colocando as mãos na cintura.

— Talvez — respondi, e quando saí de perto dela, a garota me puxou de volta.

— Olha aqui, novata. Fica longe do meu caminho, não sei se você percebeu, mas sou muito popular aqui na escola, todos querem ser como eu, todos me amam e todos me respeitam, então, por favor, para o seu bem, é melhor não se meter comigo, não fique no meu caminho, pode acontecer com você, o mesmo que aconteceu com a Eliza ano passado e te garanto que você não vai gostar — ela me ameaçou cheia de confiança. O quê? Quem essa garota pensava ser? Ela não podia me tratar assim! Não mesmo...

— Olha aqui você, oh...

— Bela — completou.

Deixei escapar um riso. — Bela... você também não sabe com quem está se metendo, eu não sou essa "Eliza" aí e nem nenhuma garota aqui dessa escola. Comigo você não se mete, posso ser novata para você, mas em breve você vai me conhecer melhor. Quero que saiba que suas ameaças não me assustam nem um pouco — respondi a mesma altura e a encarei com confiança. Ela ficou sem fala.

— Agora vou sair e para o seu bem, você nunca mais vai me tratar assim, "tchauzinho" Bela! Adorei te conhecer — fiz questão de ser irônica.

Eu em... que garota insuportável, eu já tinha um plano na minha cabeça, eu esperava que desse certo, assim, essa Bela se arrependeria do dia em que me ameaçou. Não tem castigo pior para um popular do que esse: Que outra pessoa se torne mais popular, ocupando assim o seu antigo posto, e eu queria ser essa outra pessoa, não seria difícil. Consegui achar a minha sala, já era hora. Segundo ano do ensino médio me aguardava... Eu estava parada em frente a minha mais nova sala, quando alguém tocou no meu ombro direito, me virei imediatamente para trás e dei de cara com ele.

O garoto mais lindo que vi até agora nesse colégio! Era alguns centímetros mais alto que eu, cabelo preto, olhos em um tom de mel que se olhasse em diferentes ângulos, poderiam ser mais escuros e em outros mais claros, era uma mistura dos dois.

Sua boca e nariz eram lindos, ele era encorpado sem ser exagerado. Estávamos bem próximos, ele sorria para mim e em seguida começou a falar.

— Desculpa, mas você está impedindo a minha passagem, está querendo ficar com a sala só para você? — ele perguntou, sorriu e piscou um olho, fiquei gamada nele.

— Perdão, eu nem percebi — balbuciei me retirando da frente da sala, já tinham alunos entrando.

— Não foi nada de mais! É novata no colégio, não é? — ele perguntou.

— Sim, meu primeiro dia — respondi fingindo uma "timidez" que não existia.

— Qual o seu nome?

— Alana e o seu?

— Micael.

Sorri, ficamos nos olhando por algum tempo, quando uma garota loira, alguns centímetros mais baixa que eu, e com os olhos incrivelmente azuis, se aproximou, dando um abraço nele, no Micael. Fiquei olhando toda a cena! Eca.

— Que saudades que eu estava de você Mica! — falou a garota, enquanto se abraçavam forte.

— Eu também estava de você, minha baixinha favorita! — disse ele, enquanto beijava o rosto dela.

— Já disse que eu não sou baixinha.

— Para mim, você é sim — ele falou todo sorridente.

Quando se soltaram, ele nos apresentou. — Eliza, essa aqui é a Alana, ela vai ser da nossa sala.

Então essa era a Eliza... seria possível ser a mesma Eliza que aquela tal de Bela, citou mais cedo?

— Oi, Alana! É um prazer te conhecer, espero que goste daqui, você é novata, não é?

— Sou, sim, tudo isso é muito novo para mim.

— Imagino, mas tenho certeza que logo, logo você vai se acostumar — a garota falou de forma simpática.

— É... espero que sim.

Bateu o sinal e entramos na sala de aula. O que será que a Eliza era do Micael? Namorados ou amigos? Aquilo havia me intrigado, e tinha muita intimidade entre os dois, e a Eliza era linda! Mais bonita que a Bela, ao menos em minha opinião, o que é estranho, normalmente os populares costumam ser mais bonitos, uma garota como a Eliza não deveria se sentir menos que a Bela.

As aulas foram uma chatice e eu só consegui prestar atenção no Micael, que coincidentemente sentava atrás da Eliza. Por vezes eu os via rindo e conversando.

No horário do intervalo, caminhei sozinha até a cantina, peguei minha bandeja e fui até a mulher que servia o lanche. A cantina era dividida por vários grupos que se sentavam por categorias. Eu não tinha ainda nenhum grupinho, será que eu poderia me sentar em qualquer lugar? Antes de sentar, passei o olho ao redor, para ver se eu achava o Micael, e ele estava na mesa dos populares e espera! Sem a Eliza. Como assim? Eliza estava sentada com um grupo onde parecia conterem alunos normais. Aquilo era estranho, bem estranho. Eu estava caminhando em direção à mesa dos populares quando uma menina me gritou, e eu conheci a voz, era a Eliza.

— Alana! Senta aqui comigo, para conversarmos melhor.

Fiquei sem jeito de recusar, todos olharam e vi a Bela rindo de mim do outro lado.

— Oi, obrigada pelo convite — agradeci, enquanto me sentava.

— Você estava indo se sentar no lugar dos populares? — perguntou ela.

— Sim, por quê? Não pode?

— É que... a Bela é a líder delas, e ela não deixaria que você se sentasse lá, e mesmo se você conseguisse, ela faria alguma coisa para te humilhar na frente de todos.

— Isso é sério? — perguntei incrédula.

— Sério, já aconteceu antes. Por isso te chamei, é o seu primeiro dia, seria péssimo se algo desse tipo acontecesse com você — Eliza falou com carinho.

— Ela, que não se atreva a fazer qualquer coisa contra mim, posso ser pior do que ela imagina.

Eliza ri. — Nossa, você é corajosa mesmo em.

— Por que você não está sentada com o Micael? Quer dizer, por que ele está lá com os populares e não aqui com você? Pensei que vocês dois fossem amigos — resolvi sondar.

Ela passou as mãos pelo cabelo loiro antes de me responder. — O Micael também é popular, ele é o cara com quem várias meninas daqui sonham em namorar. Têm outros também, os amigos dele, mas o Mica é o mais cobiçado. E tipo, ele é meu amigo desde que tínhamos seis anos, às vezes ele fica comigo no intervalo e outras com o grupinho dos populares — respondeu ela em um tom muito natural.

— Então vocês dois são apenas amigos, entendi — falei e comecei a lanchar. Quando estávamos terminando resolvi perguntar.

— Eliza?

— Sim?

— A Bela já te fez alguma coisa? — perguntei, torcendo para que ela me respondesse com a verdade. Ela jogou o cabelo para o lado, e suspirou.

— Já. Ela me humilhou, eu a odeio com todas as minhas forças. Mas se ela se meter comigo de novo, eu não deixarei barato.

— O que ela te fez? Claro, se você quiser contar.

— Ela pediu para um dos amigos populares dela dar em cima de mim, ele se aproximou e eu caí como boba... achei que ele estivesse realmente a fim de mim, ele me chamou para sair, aceitei. Começamos a nos beijar e então percebi um som de risadas, me afastei dele, olhei para frente e ali, com todas as outras, estava ela, rindo como nunca, debochando de mim. A Bela armou tudo àquilo para que todos vissem e rissem de mim, aquela... — Eliza terminou de falar e apertou os punhos, deu para notar a raiva subindo no sangue dela.

— Que vaca. Bom, mas por que ela fez isso com você? — quis saber, esperava não parecer muito intrometida a seus olhos.

Eliza deu de ombros. — Não sei, ela é louca.

— Não sabe ou não quer me contar? — insisti.

— Não quero contar.

— Tudo bem, não vou insistir — falei.

Eliza me apresentou a outro amigo dela. Ele era alto, magro e extremamente bonito também, tinha o cabelo cacheado, a cor era loiro, e seus olhos eram castanhos escuros. Enquanto eu conversava com Eliza, ele não tirava os olhos de mim, ficou pior quando ela me apresentou formalmente, pois ela tinha se esquecido, eu sentei perto deles e só conversei com ela. Era uma falta de educação, cumprimentei a todos, mas ele estava me deixando constrangida, e eu não costumo ficar constrangida perto de garotos.

Ele beijou meu rosto na hora do cumprimento e eu tinha certezade que ele demorou segundos a mais na hora de me beijar, mas não dissemos nada de mais um para o outro, a não ser um "oi" e "tudo bem".

No caminho de volta para nossa sala, percebi que o garoto, amigo da Eliza, no qual fomos apresentados, estava entrando na mesma sala que nós duas.

— O Cole é da nossa sala? — perguntei para Eliza. Não sei como, ele escutou.

— Sou tão insignificante que você, nem ao menos, me notou na sala de aula, Alana? — ele me perguntou, parei perto da sala, mas dessa vez não foi na frente.

— Desculpa, eu não te vi. Eu estava longe naquele momento.

— Tudo bem, novata — ele respondeu, sorrindo ladino e entrou na sala.

Esse "tudo bem, novata" foi uma provocação? Ou ele apenas se sentiu magoado? Minha cara ficou no chão, quando entrei e o vi sentado na cadeira da minha frente! Sim, eu estava sentada atrás dele e nem reparei. Ele virou a cabeça para trás, sorriu de lado e piscou para mim. O que era isso? Por que ele havia piscado para mim? O pior de tudo é que ele me intrigava e eu não sabia o motivo, apenas me intrigava.

Na saída do colégio, Bela me deu um empurrão de propósito. Minha mochila caiu no chão, me abaixei para pegar, mas ela conseguiu pegar antes de mim e ficou com ela na mão.

— Me devolve agora, sua ridícula, eu falei para não se meter comigo, mas acho que você esqueceu — falei em um tom de ameaça.

— Se eu não te meto medo, você também não me mete nem um pouco de medo, sua novata — provocou ela, com um sorriso irritante no rosto.

— Nossa... novata? Sério que é só nisso que você consegue pensar? Sua sem noção.

Ela ficou morrendo de raiva, tanto que abriu minha mochila e jogou meu caderno no chão.

— Sua louca! — gritei, eu não parti para violência, não mesmo. A vingança que eu guardara para ela seria bem pior. Ela se arrependeria eternamente de ter se metido comigo. Ela jogou minha mochila no chão e antes de sair pisou de propósito nela, essa Bela iria se arrepender disso e muito. Definitivamente ela não conhece Alana Moreira. Enquanto eu catava minhas coisas e colocava na mochila, Cole parou de pé do meu lado. — Vi tudo novata.

— E o que tem?

— Nada. Admiro sua coragem, mas algo me diz que você não deixará isso barato.

— E como tem tanta certeza disso?

— Vejo no seu olhar. Até mais, novata. — ele falou com um sorriso ladino e piscou um olho.

— É Alana! — gritei.

Que mania dessas pessoas de se dirigirem a mim, com a palavra "novata". Aquilo já estava ficando chato. No dia seguinte eu colocaria a minha vingança contra a Bela em prática. Ela que se prepare, eu iria tomar o título dela e isso não seria nada difícil.

Diário da Cassie

(Mãe da Alana)

Descoberta da gravidez. (1996)

Quatro anos. Na minha juventude, eu namorei sério com o Diego por quatro anos, nos conhecemos aos 17 anos, o início do nosso relacionamento foi complicado, pelo fato de namorarmos escondidos.

Meus pais sempre foram muito rígidos comigo, e eu morria de medo do meu pai me proibir de vê-lo, caso soubesse que eu estava namorando. Diego é o amor da minha vida, lembro exatamente como tudo aconteceu, quando o vi pela primeira vez.

Primavera de 1992.

Na famosa lanchonete que ficava em uma rua próxima a do nosso colégio.

Praticamente todos os estudantes da escola em que eu frequentava, viviam dentro dessa lanchonete, seja em um horário vago na parte da manhã, ou durante a tarde, quando a escola já havia terminado, e até a noite.

Além de ser o lugar em que existiam os lanches mais deliciosos do mundo, também era o nosso ponto de encontro, o ponto de encontro favorito da turma do colégio, estudantes frequentavam a lanchonete como uma maneira de conhecer pessoas, e conversar muito, não apenas para comer, a comida andava junto, claro, mas aquela lanchonete ficava rodeada de alunos alegres e sociáveis.

Era um dia comum, como todos os outros para mim, eu estava acompanhada de um grupo de amigas minhas, éramos quatro, havia alguns rapazes sentados conosco, mas nenhum era meu namorado, eu ainda não tinha um namorado, não sério.

Esses rapazes eram os namoradinhos de minhas amigas, mas nos dávamos muito bem, não tinha essa de atrapalhar namoro, todo mundo ali conversava muito.

Foi quando entrou o Diego. Assim que o vi entrar, ele era apenas um rapaz comum, no entanto, ele havia me chamado muita atenção, eu havia me interessado assim que bati os olhos nele, mas disfarcei.

Seu cabelo escuro, seus olhos castanhos escuros com um brilho diferente, tinha me impressionado, e seu jeito misterioso havia deixado marcas em minha mente.

Ele se sentou em uma mesa de frente a minha, cumprimentou os seus amigos e amigas, e logo depois, se sentou, como todos na lanchonete estavam.

Era uma tarde de primavera, não estava fazendo muito calor, mas o sol estava forte do lado de fora. Eu vestia um vestido branco com estampas de flores, rosas e azuis, uma sandália bonitinha e comum, meu cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo, e tinha um lenço fino amarrado em forma de laço em volta da minha cabeça, era como uma tiara.

Percebi que Diego olhava para mim ocasionalmente, eu o olhava e logo desviava o olhar, até que em um momento, a Eva, uma de minhas amigas, disse algo.

— Cassie, aquele carinha ali não para de olhar para você — disse ela, sorrindo maliciosamente. Eva era a amiga mais maluquinha do grupo.

Sorri, eu já havia percebido. — Eu percebi.

— Está esperando o quê para ir lá conversar com o gatinho?

— Não. Ele que está me olhando, e não o contrário — argumentei e revirei os olhos, as meninas riram, e o namorado da minha amiga Cassandra se pronunciou a respeito do caso.

— Eu o conheço, estuda no nosso colégio. É gente boa! Deveria dar uma chance a ele, as garotas babam por ele, nunca o viu por lá?

— Não. Eu nunca o vi por lá — disse ainda incrédula por ele estudar no mesmo colégio que eu, e só naquele momento eu ter ficado sabendo.

— Dá uma chance para o cara — insistiu ele. Eu ri, e logo após falei.

— Mas ele não veio em mim, se não veio até aqui, é porque não quer nada comigo, agora vê se esquece desse assunto, e vamos continuar com outra conversa.

— Cassie... — disse Cassandra.

— Hum?

— Então... o carinha com o nome de Diego está vindo para cá, e tenho certeza que é por você — ela falou e assim que escutei, levantei a cabeça e segui com o olhar para frente, percebi que realmente ele estava caminhando em nossa direção, estava quase perto, fingi que não sabia o que ele queria.

— Oi — disse Diego, lançando-me um olhar misterioso, era o que mais me chamava à atenção naquele momento, seu olhar.

— Oi — respondi e o resto das meninas e os namorados delas também o cumprimentaram.

— Seu nome é Cassie, não é?

— Sim — respondi, ficando um pouco tímida.

Ele sorriu. — Quer conversar ali fora comigo? — perguntou ele.

As meninas deram aquele risinho de "meninas malvadas" que sabem muito bem o significado que conversar ali fora significava para um menino na época. Com essa pergunta, eles queriam dizer: "Estou a fim de você, quer ficar comigo?". Era exatamente isso.

Eu poderia ter dito não, afinal, ele era só um desconhecido, um rapaz comum, mas não era isso o que eu sentia ao olhá-lo.

Tinha algo no olhar dele, nele em geral, que me fazia querer ter vontade suficiente de conhecê-lo melhor. A beleza dele também contribuía, mas aquele olhar era de deixar qualquer uma fascinada e curiosa.

— Claro — foi o que respondi, as meninas arregalaram os olhos, surpresas com a minha resposta e eu tentei não olhá-las, se não poderia cair na risada, elas eram muito palhaças.

Levantei e segui com o Diego para a rua, ficamos dando algumas voltas por perto da lanchonete.

— Eu já te vi algumas vezes no colégio — ele disse.

— A é? E por que nunca falou comigo? — perguntei.

— Você namorava.

— O quê? Quem? — quis saber e ri. Ele arqueou a sobrancelha, confuso.

— Pensei que aquele carinha loiro que ficava grudado em você era o seu namorado — ele disse.

O "carinha loiro" era o meu melhor amigo naquela época, meu melhor amigo gay. Vivíamos de agarração um com o outro em público, abraços e beijos no rosto, apenas isso.

Não tive como não rir. Foi até engraçado, alguém imaginar que o meu melhor amigo poderia ser meu namorado. — Ele é apenas o meu melhor amigo — respondi.

— Ele deve ser a fim de você.

— Ele é gay.

Diego me olhou envergonhado e riu. — Eu não sabia, pensei que vocês eram namorados ou que tinham uma amizade colorida. Sou um idiota — disse ele.

— Não. Você não é idiota. Só é um péssimo observador — falei e rimos juntos.

Depois de um tempo andando em círculos e conversando muito, caminhamos para a rua de trás da lanchonete, ficamos conversando de pé, dessa vez, parados, bem próximos. Notei que ele me olhava de mais, e eu também o olhava, reparando todos os seus detalhes, ele deveria estar fazendo o mesmo.

Ficamos em silêncio, e eu sabia o que iria rolar, ele queria me beijar, e eu permitiria, pois eu também queria beijá-lo. Em pouco tempo de conversa, ele conseguiu me interessar muito mais que qualquer garoto que já conversou comigo por semanas. O que era totalmente louco... eu nunca fui de ficar "fascinada" assim em tão pouco tempo de conversa.

Naquele momento eu não sabia, mas Diego seria o meu amor, e o meu marido, o meu companheiro, mas aquele dia fora o nosso primeiro encontro e tínhamos muito que viver ainda.

Ele colocou o braço ao redor da minha cintura e se aproximou mais de mim, se inclinando para me beijar. E nesse dia demos o nosso primeiro beijo, foi o nosso primeiro encontro, primeiro beijo, ele foi o meu primeiro e último amor.

Quando terminamos o beijo, conversamos mais um pouquinho, e voltamos para a lanchonete de mãos dadas, as meninas perceberam tudo e os risos se iniciaram. Também ri e falei para elas não serem palhaças.

E a partir daquele dia, Diego e eu começamos a namorar escondido, pois eu tinha medo da reação do meu pai ao descobrir.

Até que um dia, Diego ficou cansado de ter que se esconder para ficar comigo, foi até a minha casa e contou tudo aos meus pais e no mesmo dia, disse que me amava e que queria poder me namorar sem ter que se esconder, ele disse tudo com jeitinho, e para minha surpresa, meus pais nem ficaram bravos. E desde então, pude vê-lo sem me preocupar com quem estivesse nos vendo na rua.

...

1996 — Tem um ser humano crescendo em meu ventre.

Uma semana após o nosso casamento, eu comecei a sentir muitos enjoos, vomitava, passava mal, eu já estava desconfiada de uma possível gravidez, mas ainda não havia ido para fazer os exames.

Quis esperar para ver se minha menstruação descia e se os enjoos parariam. Estava sozinha em nossa casa, quando estava ajeitando a mesa e tive tontura, e desmaiei.

Acordei em um hospital, Diego estava ao meu lado, ele sorriu, assim que abri os olhos. O médico, logo entrou.

— O que aconteceu? — perguntei.

— Te encontrei desmaiada na cozinha.

— E o que eu tenho? — perguntei, apesar de eu desconfiar, também tinha medo de que não fosse gravidez e eu estivesse doente.

— Você está grávida, Cassie. Parabéns, futuros papais! — disse o médico, sorrindo.

Grávida. Eu estava grávida. Foi como música para meu ouvido, o que eu mais queria era ter um filho com o Diego, meu grande amor.

Eu senti tanta felicidade, saber que tinha um pedaço meu e do Diego crescendo em meu ventre, era incrível, foi uma grande felicidade, tanto para mim como para ele.

Senti uma paz interior muito grande, e a primeira coisa que imaginei foi a respeito do sexo da criança, o que seria? Pena que ainda não dava para saber, pois era muito cedo.

Eu não via a hora de poder saber e de poder ter esse pedacinho meu e do Diego em meus braços. Não foi uma gravidez planejada, apesar de já estarmos casados, mas eu estava muito ansiosa por ser mãe, e eu tinha certeza de que iria amar o meu filho infinitamente.

Minha gravidez foi marcada por muitos enjoos e muitos desejos, eu passava tanto mal, que não via à hora do meu bebê nascer. Quando descobri que era menina, fiquei muito feliz, eu sentia isso, antes de fazer a ultrassom eu sentia que era uma menina e isso só confirmou as minhas suspeitas.

Eu seria mãe de uma linda e adorável menininha. Eu sabia que seria a melhor mãe do mundo para ela, pelo menos, eu tentaria, e sabia que minha filha iria me amar muito e teríamos uma linda relação de mãe e filha.

1997 – 2 de fevereiro.

Era o dia, as dores do parto se iniciaram cedo e Diego me levou imediatamente para o hospital, eu estava passando muito mal, doía muito, eu não sabia que as dores do parto eram tão intensas.

Diego e eu decidimos que nossa pequena filhinha se chamaria Alana. Era um nome de que eu sempre gostei, desde quando eu era pequena, e meu marido, claro, achou lindo e concordou.

Nossa pequena Alana estaria para nascer a qualquer momento. Eu já a amava muito antes de nascer, eu a amei desde que soube que eu a carregava em meu ventre, durante todos os meses da gravidez, não teve um dia em que eu não conversasse com ela e a amasse.

Eu estava muito ansiosa para poder ver a fisionomia da minha pequena Alana, como ela seria, se seu cabelo seria loiro como o meu ou escuro como o do Diego, seus olhos seriam azuis como o da mãe ou castanhos escuros como o do pai? E seu rostinho? Seria parecido mais com o meu ou com o dele? Ou seria uma linda mistura nossa? Eu estava muito ansiosa para vê-la, mas para isso, ela precisava nascer, e eu ainda estava no hospital, sentindo as contrações do parto.

As horas pareciam não passar, Diego ficou do lado de fora esperando tudo, o médico pediu para eu fazer força para que minha filha nascesse, e eu fazia, mas a dor estava muito forte, e eu estava a um ponto de desmaiar, estava muito fraca, pensei até que eu poderia morrer no parto, mas tentei afastar essa ideia da minha mente, eu não podia imaginar minha filha crescendo sem uma mãe, seria terrível.

— Força Cassie! Tenha força! Sua filha precisa nascer! Tente por ela — pediu o médico, fiz mais força e consequentemente minha força veio acompanhada de um grito meu, escutei o seu choro, e eu soube que havia nascido. Minha filha estava à salva e estava no mundo, não consegui vê-la imediatamente, me desliguei de tudo, eu havia desmaiado.

Quando acordei, uma enfermeira sorria para mim. — Parabéns mamãe! Sua filha é linda, e está saudável — disse ela.

— Minha filha nasceu... onde ela está? Traga-a para mim, quero vê-la, amamentá-la — pedi.

— A outra enfermeira já foi buscá-la. Daqui a pouco ela estará chegando com sua filha nos braços. Você desmaiou por fraqueza, foi uma verdadeira guerreira no parto — disse a mulher.

— Obrigada, eu tive que lutar pela minha filha. Pensei até que eu morreria — confessei.

— Partos são difíceis para algumas mulheres, mas agora você está bem, e sua filha também.

Assenti e sorri. Segundos depois, a outra enfermeira entrou no quarto, com um bebê nos braços, era a minha pequena Alana, fiquei emocionada antes mesmo dela se aproximar de mim.

— A sua filha — disse a mulher, me entregando aquele ser tão inocente e frágil em meus braços.

Alana estava em meus braços, ela era linda, lembro-me de pensar o quanto ela era diferente do que eu imaginava, mas era minha.

Tão lindinha, pura, muito pequenina. Fiquei observando-a encantada com a beleza da minha filha, com aquele pequeno ser humano que era um pedaço meu e do Diego, estava em meus braços e eu era a mulher mais feliz do mundo, Alana tinha poucos fios de cabelos na cabeça, mas davam para notar serem fios escuros, seus olhinhos eram castanhos escuros também, seu rostinho era perfeito, extremamente linda.

— Seja bem-vinda ao mundo Alana, e eu já te amo infinitamente — disse, sorrindo, e tratei de amamentá-la.

Após a amamentação, a pequena Alana dormiu em meus braços, e Diego entrou no quarto pela primeira vez.

— Como estão as minhas princesas? — perguntou ele, com um sorriso maravilhoso.

Ele se aproximou de mim e ficou olhando para a Alana em meus braços.

— Ela é linda, assim como a mãe — disse ele.

— Obrigada, mas ela puxou mais a você do que a mim.

— Ela é nossa filha, é isso o que importa, vamos amá-la para sempre.

— Sim, vamos amá-la para sempre — concordei e segurei na mão do meu marido, meu Diego, o pai da minha filha, a partir daquele momento eu soube que seria muito feliz.

E eu fui e continuo sendo feliz, está certo que naquela época eu ainda não sabia da troca, e acreditava que Alana era minha filha biológica, mas isso não apaga o fato de eu ter sido muito feliz sendo a mãe dela.

Acontecesse o que tivesse que acontecer, nada mudaria o meu amor por ela, seria infinito.

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