Prólogo

Scott Prescott:

Posso fazer uma pergunta a você? Já foi traído diversas vezes, em sua vida?

Se não, você tem mais sorte que eu, pois até perdi a conta de quantas vezes fui traído nessa vida. As cicatrizes emocionais são profundas, e a sombra da traição sempre pairou sobre mim, como um fantasma insaciável. Vou te contar algumas das vezes em que fui lançado nas profundezas da traição, onde a confiança foi dilacerada.

A primeira dessas feridas foi infligida quando eu tinha apenas sete anos. Era uma noite escura e silenciosa quando minha mãe decidiu fugir com seu amante. As palavras que ela sussurrara em nossos ouvidos, prometendo nunca nos abandonar, se desvaneceram na brisa noturna. Naquela madrugada, ouvi meu pai chorar em desespero, e meu próprio choro se misturou ao dele, porque sabia que nunca mais veria aquela mulher que havia prometido ser minha mãe para sempre. Era minha primeira lição sobre como as promessas podem ser quebradas.

A segunda traição veio dois anos depois, quando meu pai, que havia se casado novamente, revelou sua bissexualidade. Eu era muito jovem para entender, mas não me importei. Para mim, ter uma família era o que importava naquele momento. Então, minha mãe reapareceu, querendo me conhecer. Meus pais resistiram, mas ela não desistiu. Entrou com um pedido judicial para obter minha guarda e até mesmo manipulou os amigos do meu pai contra ele no tribunal. A traição estava novamente à espreita, agora vinda de amigos de confiança que viraram as costas para nós. No final, ela foi impedida de me ver, e nós nos mudamos para escapar das garras de uma cidade que nos rejeitou.

Foi nesse momento que percebi que essas pessoas, que afirmavam ser amigas de meu pai, não se importavam conosco. Sua lealdade era apenas para consigo mesmas, e isso me feriu profundamente.

Anos mais tarde, outra traição atingiu meu coração. Eu tinha quinze anos, e meu meio-irmão Dezessete, dois anos mais velho que eu. Com a adolescência surgiram novos desejos e relacionamentos, e meu primeiro namorado entrou em cena. Meu pai, sempre ansioso por nossa felicidade, estava feliz por mim. No entanto, a traição me encontrou novamente, revelando que meu então perfeito namorado estava me traindo com um amigo. Foi em uma festa de conhecidos nossos que a verdade veio à tona.

Ao contrário das reações habituais diante de uma traição, eu não chorei, nem senti raiva. Encarei meu namorado e seu amante, enquanto todos na festa observavam com espanto. No minuto seguinte, vinguei-me jogando meu suco em suas cabeças e, num acesso de raiva contida, desferi um chute nas partes íntimas do amante, possivelmente quebrando seu nariz quando meu punho acertou em cheio seu rosto, fazendo-o cair para trás. Talvez tenha sido minha experiência nas aulas de luta que me permitiu agir com tal destemor.

Todos na festa ficaram surpresos e até um pouco com pena, mas eu não deixei transparecer tristeza. Perguntei calmamente se a festa tinha acabado, e todos aceitaram o encerramento, indo socorrer os dois tolos.

Na escola, a notícia se espalhou, mas, estranhamente, ninguém zombou de mim. Meu ex-namorado reconheceu sua grande bobagem em ter me traído, e os pais do outro garoto vieram me confrontar. Quando chamaram meus pais, eles não hesitaram em repreendê-los com palavras afiadas. Graças ao incrível poder de persuasão do meu pai Jacob, o júri ficou ao nosso lado, e a outra família perdeu tudo. Afinal, eles haviam revelado seu preconceito contra meus pais. Minha "mãe", mais uma vez, tentou difamá-los, mas falhou miseravelmente e acabou em um manicômio, onde acreditam que ela não pode mais nos perseguir.

Se derramei uma lágrima por ela, foi apenas uma gota em um oceano de traições. Conforme as pessoas continuaram a me trair, aprendi a não chorar mais. A cada traição, fortaleci minha determinação de seguir em frente, de pé, apesar das cicatrizes emocionais que colecionava. Afinal, a vida era uma longa jornada, repleta de lições dolorosas e traições cruéis. E eu estava determinado a sobreviver a todas elas.

****************

E acredito que a traição que me fez perder a fé em mim mesmo ocorreu cerca de quatro meses depois de todo o tumulto envolvendo meu ex-namorado e a família do amante dele, juntamente com minha mãe, que voltaram a nos atacar.

Nós quatro estávamos acampando na floresta próxima à cidade, buscando um refúgio na natureza para escapar das garras implacáveis de nossos passados tumultuados. A noite era escura e misteriosa, e o crepitar da fogueira era o único som que quebrava o silêncio. De repente, fomos assaltados por uma criatura terrível, ágil como um pesadelo. Meu pai, corajoso como sempre, enfrentou a besta, mas enquanto meu padrasto e meu meio-irmão se apressaram em ajudá-lo, minha mente e meu corpo me traíram. Fiquei paralisado, observando com horror enquanto meu pai lutava pela vida.

Ele se debatia com a criatura, e a cada golpe, a tensão aumentava em meu peito. Era como se o tempo estivesse congelado, e eu fosse apenas um espectador impotente da cena. Então, num instante crítico, a criatura estava prestes a abocanhar a cabeça de meu pai, quando um lobo negro surgiu das sombras e avançou corajosamente contra ela. Outros lobos se juntaram à batalha, e a criatura, derrotada, fugiu em desespero, perseguida pelos lobos famintos por justiça.

Corri até meu pai, o alívio inundando meu coração ao vê-lo relativamente ileso. Abracei-o com força, agradecido por ele estar vivo. Quando me levantei para ajudá-lo a se levantar, notei que o lobo negro ainda estava ali, observando-nos com olhos castanhos que tinham um tom amarelado, como se escondessem segredos profundos. Era estranho como aqueles olhos pareciam transbordar com uma curiosidade intrigante. Meu coração começou a bater mais rápido quando o lobo se aproximou de nós.

Meu pai, apreensivo, parecia pronto para atacá-lo, mas algo o fez recuar. Ele fechou os olhos e ouviu o sussurro do vento e o suave balançar das folhas nas árvores da floresta. O lobo se aproximou de meu rosto e me encarou intensamente. Sem pensar, aproximei meu rosto do focinho do lobo, e, no momento seguinte, ele suavemente lambeu a ponta do meu nariz. Uma onda de calor e vergonha inundou meu rosto, e meu pai sorriu ao meu lado.

Pode parecer estranho, mas aquele simples gesto do lobo negro, aquele toque gentil, fez-me sentir uma conexão profunda e inexplicável com a natureza ao meu redor. Era como se a própria floresta tivesse reconhecido minha humanidade e aceitado minha vulnerabilidade. Naquele momento, percebi que havia muito mais neste mundo do que eu entendia, e que a traição humana nem sempre era a mais dolorosa. Às vezes, a traição era superada por atos de bondade inesperados, mesmo que viessem de criaturas selvagens como o lobo negro que, de alguma forma, sabia que precisávamos de um sinal de esperança naquela noite escura na floresta.

Ouvimos um uivo distante ecoar pela floresta, e o lobo negro, como se tivesse recebido um chamado, virou-se abruptamente e partiu em disparada. No entanto, ele parou a certa distância e voltou-se para me encarar mais uma vez, emitindo um rosnado que parecia carregar uma mensagem oculta, como se estivesse dizendo um "até logo" silencioso.

Eu assisti, com o coração cheio de uma mistura de gratidão e perplexidade, enquanto o lobo se afastava rapidamente, desaparecendo na escuridão da floresta. Lá se ia o lobo de olhos castanhos amarelados, uma figura enigmática que havia cruzado meu caminho de forma inesperada.

Naquele momento, algo dentro de mim sussurrou que nossos destinos estavam entrelaçados, que aquela conexão fugaz era apenas o começo de algo muito maior, algo que iria sacudir as fundações da minha vida e revelar segredos enterrados profundamente na história da família do meu pai, segredos que eu nem sabia que existiam.

Se alguém me perguntasse, naquela época, se eu desejaria mudar o curso dos eventos que se seguiriam, minha resposta seria automática:

— A aventura está me chamando! — responderia com um sorriso radiante no rosto.

Afinal, percebi que cada experiência, cada encontro e desafio, por mais estranhos que pudessem parecer, faziam parte de uma jornada que eu estava destinado a trilhar. Se eu tivesse recuado, se tivesse tentado evitar os mistérios que se desdobrariam, nunca teria encontrado meu companheiro, nunca teria descoberto que aquele lobo e eu estávamos de alguma forma ligados, destinados a desempenhar papéis em uma história que ainda estava por se desenrolar.

Ele era meu doce lobo, e eu estava prestes a descobrir que ele era o líder da minha alcatéia, e juntos, enfrentaríamos o desconhecido com coragem e determinação.

 
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Gostaram?

Como uma promessa ao lorde será finalizada em duas semanas, já vou mostrar Qual é o próximo livro do universo Sobrenatural.
  

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