Capítulo Vinte e Cinco
Scott Prescott:
— Isso quer dizer que o Levi... — Scott começou, e Spike completou.
— É a minha outra metade — Spike confirmou com alegria surgindo em seu rosto. — Estava esperando o momento ideal para me aproximar dele e contar tudo, para conhecê-lo.
Quando olhei para o rosto de Levi, percebi que estava ficando completamente pálido.
Meu irmão deu meia-volta na ponta dos pés e correu para o quarto dele. Ouvi a porta bater com força, e isso me fez sentir pena do que estava passando na cabeça do meu irmão mais velho. Muita coisa aconteceu com a gente nos últimos dias, a ponto de parecer quase loucura.
Depois que Spike se revelou e Levi fugiu, um clima tenso pairou sobre a sala. Olhei para o rosto de Spike com um sorriso sem graça.
— — Não posso deixar meu irmão sozinho, então vou ver como ele está. Lidia, cuide de vocês. — Falei calmamente, virando-me para seguir em direção ao quarto.
Spike gritou em pânico, e eu senti pena dele.
— Acho que foi um grande choque para ele. Se quiser, eu posso ir até o quarto dele e explicar tudo. — Spike sugeriu, e balancei a cabeça sem me virar na direção deles.
— Spike, você não conhece a família. Por que mudou suas próprias palavras em um curto período de tempo? Não posso deixar que fale com meu irmão, que está completamente nervoso por causa dessa revelação. — Falei, estalando a língua.
— Scott, não é certo que eu faça algo para fazê-lo me ouvir depois de tudo que falei aqui. — Spike disse, e soltei um suspiro.
— Não acho que sou eu quem deve conversar com meu irmão, já que estive ao lado dele desde a infância. Deixe que você vá correndo falar com ele desse jeito, quando ele nem parece querer te ver. — Falei, pedindo desculpas por ser ríspido com Spike, mas sempre vou proteger meu irmão e toda a minha família.
Quando uma família é unida e forte, não há catástrofe que a derrube. Nossos dias são muito difíceis, e o desgaste nas relações é frequente. Somos consumidos pelo tempo, e os momentos que compartilhamos nem sempre são proveitosos. No entanto, estamos sempre lá um para o outro, cuidando uns dos outros sem nem pensar duas vezes.
Spike pareceu entender minha posição e abaixou a cabeça em concordância. Assenti agradecendo por sua compreensão.
— Vai cuidar do seu irmão, Scott. Eu e Lidia podemos lidar com as coisas aqui — disse Spike, tentando tranquilizar a situação.
Fui até o quarto e bati na porta, que meu irmão abriu, me dando espaço para entrar. Sem esperar que ele falasse mais alguma coisa, o abracei, vendo que ele estava completamente confuso, como eu havia desconfiado.
— Não tem com o que se preocupar, estou aqui. — Falei, e ele assentiu.
— Estou ainda mais confuso. Mas o que ele falou me lembra de ter visto uma sombra naquela época. — Levi disse. — Scott, eu preciso ficar longe dele e pensar no que fazer.
Compreendendo a necessidade de Levi de processar a revelação, afastei-me dele e assenti compreensivamente.
— Tudo bem, Levi. Tire o tempo que precisar. Estou aqui para o que precisar e, quando estiver pronto, podemos conversar mais sobre isso. — Falei, tentando transmitir apoio ao meu irmão.
A porta se abriu, e Rol surgiu no batente com um sorriso brincalhão.
— Sei que não deveria ouvir a conversa de vocês. — Ele disse, fazendo uma expressão culpada. — Mas que tal a gente ir até a minha casa e a do Santiago? Podemos nos divertir um pouquinho.
— Tem certeza de que o Santiago vai gostar disso? — Perguntei, curioso para conhecer Santiago com base nas histórias que Rol contava sobre ele.
— Ele vai gostar. Então, levantem dessa cama que vamos sair. Lidia disse que vai treinar com o Zack e o Spike, então seremos só nós. — Ele disse.
Levi olhou para mim, ainda com uma expressão confusa, mas concordou em sair.
— Tudo bem, vamos lá. Talvez um pouco de diversão ajude a clarear minha cabeça. — Levi disse, levantando-se da cama.
Rol fez uma careta brincalhona e comentou:
— Eu prometo que a diversão é garantida. Santiago está ansioso para conhecê-los também. — Rol disse, puxando a gente para o lado de fora. — Estamos saindo.
Zack acenou para mim, e Spike tentou chamar a atenção de Levi, mas não deu muito certo. Meu irmão virou a cabeça tão rapidamente na direção que imaginei que ele sentiria um desconforto mais tarde.
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Eu dirigi o carro enquanto seguia as direções de Rol. Quarenta minutos depois, chegamos a uma casa de estilo asiático. A principal característica desse tipo de construção são as linhas simples e retas, combinadas ao uso de madeira em tons claros na fachada.
Outro detalhe importante nas casas de estilo asiático são as grandes aberturas com portas e janelas de vidro. O contato com a natureza também é fundamental nesse estilo, por isso não é raro encontrar casas asiáticas totalmente integradas à área externa.
Para aumentar ainda mais a sensação de estar em uma verdadeira casa asiática, é possível construir um jardim zen, com fontes de água, pedras e bambu.
Rol desceu do carro, e o seguimos. Ao entrar, percebi que tudo era incrivelmente bonito e luxuoso. Nas paredes, vi algumas fotos de um Rol mais jovem rindo ao lado de um homem vestindo uma fantasia de pirata.
Em cada canto, havia alguns quadros dos dois rindo juntos em festas de aniversário e momentos especiais.
— Ele cuidou de mim desde muito novo. — Rol disse, olhando para cada foto. Sorri ao ver o carinho nele ao observar os quadros. — Ele foi meu verdadeiro pai.
Comecei a ouvir uma música clássica, e o sorriso de Rol se ampliou. Ele saiu correndo na direção de um cômodo.
— Pai! — Rol exclamou, e um homem com cabelos brancos foi visto lendo um livro, sentado com um óculos na ponta do nariz, brilhando em dourado.
— Rol, vejo que já chegou dos seus compromissos e ainda trouxe alguns amigos. — Santiago disse, levantando-se da poltrona. — Venha aqui me dar um abraço.
Rol se aproximou, e Santiago o abraçou, ambos rindo. O cheiro dos livros na biblioteca e a textura ao redor eram claros demais para dizer que eram normais.
— Como foi na faculdade hoje? Alguma novidade para me contar? — Santiago disse, bagunçando os cabelos de Rol. — Encostei os meus óculos que você me deu de aniversário, estava aproveitando para colocar a leitura das línguas dos feéricos em dia, mesmo que eles digam a nossa a deles é bem interessante se ver uma dos tempos antigos.
Rol riu e se virou para nós que ainda estávamos encarando os dois.
— Pai, esses dois são Scott e Levi Prescott. Ambos são meus amigos, e acho que falei sobre as mensagens que te mandei. — Rol disse, e Santiago inclinou a cabeça, acenando de maneira delicada, como se estivesse curioso com nossa presença.
— Eles são iguais, como você disse. — Santiago disse. — Rol me contou tudo sobre a descoberta de vocês, e quero agradecer por ter ajudado o meu filho.
— Não, fui eu que o ajudei. Foi mais a alcateia do Zack e aqueles dois irmãos. — Falei, e Santiago sorriu um pouco.
— Vejo que é bastante honesto em relação ao que fez. — Santiago disse, pegando o livro que voou magicamente para uma das estantes.
Notei que a estante era surpreendentemente grande, considerando o design da casa, que não sugeriria tamanha extensão.
— Isso é uma sala mágica. Um feiticeiro fez isso há vinte anos atrás. — Santiago disse assim que viu o meu olhar. — Onde eu estou, ela me segue, se adaptando à minha nova casa.
Olhei para os livros, e Rol entrou na minha frente, sorrindo amplamente.
— Que tal a gente fazer algo para comer e fazermos qualquer besteira que um humano normal possa fazer? — Rol disse. — Há muito tempo eu faço uma lista dessa em como esquecer os problemas, tem umas receitas que posso colocar em dia que serão divinas.
Santiago riu, enquanto os olhos de Rol brilharam até que seu corpo se transformou na sua versão lobo;
— Acho que isso seria uma ótima ideia até para esquecer tudo isso. — Levi concordou, e Rol comemorou. No minuto seguinte, ele virou um lobo. — Sério, ainda não vou me acostumar com isso.
— Você tem que aprender a se controlar — Santiago disse enquanto Rol o seguia até o corredor. — Suas roupas novas estão em cima da sua cama.
Um brilho surgiu na frente do rosto de Santiago, que pegou algo enquanto fazia uma concha com as palmas da mão.
— Me desculpem, mas agora preciso ir para o meu trabalho. — Ele disse e se afastou de nós.
Rol saiu pelo corredor, voltando minutos depois, agora de volta a sua forma humana e vestindo roupas diferentes.
— Então, vamos à cozinha fazer alguma coisa? — Rol sugeriu, olhando para Scott e Levi.
— Claro, por que não? — respondi, animado com a ideia de passar um tempo descontraído.
Levi concordou com um aceno de cabeça, e seguimos para a cozinha. O ambiente estava equipado com utensílios mágicos e ingredientes exóticos, criando um cenário intrigante.
— O que vocês gostariam de preparar? — Rol perguntou, abrindo a geladeira.
— Talvez algo simples, como tacos? — sugeri, enquanto Rol assentiu.
Rol sorriu e começou a reunir os ingredientes necessários. A cozinha se encheu de risadas e conversas leves, proporcionando uma pausa agradável diante das preocupações que enfrentávamos. Enquanto trabalhávamos juntos, parecia que isso animou um pouco o Levi na medida do possivel.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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