Capítulo Trinta e Três

Zack Whitlock:

Após a festa do pijama, Levi e Spike foram para o quarto em que estão, e tenho certeza de que já transaram, pois ambos tinham os seus cheiros misturados.

Rol se despediu deles e de mim e Scott, pegou a mala e foi embora. Não vou mentir, Scott chorou ao ver o amigo partir, mas Rol fez a promessa de que vai conseguir recuperar sua liberdade.

Quando Scott e eu fomos dormir abraçados, senti uma pontada de tristeza pelo meu bebê. Até meu lobo parecia sentir a dor de vê—lo dormir chorando, especialmente por causa da faculdade. Rol disse que isso não afetará Scott, pois ele conhece tudo do mundo, estudou desde a infância e ainda aprendeu muito com Santiago e a enorme biblioteca caseira.

Ao observar Scott dormindo, com seu rosto marcado pelas lágrimas que ele não pôde conter, meu coração apertou. A sensação de impotência diante da situação de Rol e da dor que isso causava a Scott era avassaladora. Eu queria poder protegê—lo de tudo, garantir que nada de mal acontecesse conosco ou com as pessoas que amávamos.

Afaguei seus cabelos suavemente, tentando transmitir conforto, mesmo sabendo que as palavras seriam insuficientes para curar as feridas emocionais que se formavam. Scott, muitas vezes tão forte e decidido, agora se via diante de uma situação que estava além de seu controle, e isso o abalava profundamente.

Em meio à noite silenciosa, a única trilha sonora era o som suave do choro abafado de Scott. Eu só podia esperar que o tempo trouxesse consigo alguma forma de alívio e que, juntos, pudéssemos superar os desafios que se apresentavam em nosso caminho.

**********************

Quando acordei de manhã, um papel brilhando em dourado estava sobre o meu peito. Peguei o papel e comecei a ler, sem conseguir acreditar no que estava diante dos meus olhos.

— Só pode ser uma sacanagem — murmurei.

Senti Scott se mexer ao meu lado, e quando ele abriu os olhos, observou o papel.

— Bom dia — Scott falou. — O que é esse papel?

— Bom dia — falei. — É um comunicado. O lorde das fadas irá até a Alcateia para saber se meu pai desistiu do poder! Um dos guardas me mandou falar isso, já que meu pai não disse nada para os outros membros da Alcateia.

Scott me olhou estranho.

— O que vai acontecer se o Lorde chegar na Alcateia e ver que seu pai não fez isso? — Scott perguntou.

— Ele vai matar meu pai e fazer com que nenhuma outra Alcateia faça um acordo conosco! — falei e me levantei. — Ainda bem que hoje é sábado, e não preciso me preocupar com os estudos da faculdade.

— Quer que eu vá com você? — Scott perguntou. — Como não trabalho hoje, poderíamos ir até a casa dos meus pais, ver o meu pai. Mas sei que ele está muito bem cuidado com minha avó e o André cuidando dele.

— Não, não precisa vir — falei e beijei os lábios dele. — Vai ver seus pais. — Scott sorriu após essa cena. — Pode avisar o meu pai, Sao, sobre isso. Ele também faz parte da liderança da Alcateia!

— Vou avisar — Scott falou. — Mas é melhor você ir.

Assenti e saí do quarto, indo para o chuveiro. Tomei um banho rápido, escovei os dentes, coloquei a mesma roupa e peguei uma sacola para as roupas.

Saí do prédio, usando minha velocidade rápida, e segui o caminho que já havia percorrido antes.

***************************

Assim que cheguei na floresta, me escondi atrás de um arbusto para retirar as roupas e as guardei na sacola. Transformei-me e segui o caminho de volta à Alcateia.

Fazia um bom tempo que não me sentia tão livre, correndo na floresta, mesmo que fosse em preparação para uma reunião crucial que decidiria o futuro da minha Alcateia. A cada passo na floresta, minha mente estava cheia de pensamentos turbulentos. A incerteza pairava no ar, e a responsabilidade pesava nos meus ombros como uma carga difícil de suportar. O cheiro da natureza, as árvores que passavam por mim, tudo parecia intensificado pela tensão que envolvia o destino da Alcateia.

Minhas patas batiam no solo com determinação, e, por um breve momento, pude esquecer as preocupações ao me concentrar na liberdade da corrida. No entanto, a realidade logo voltava, e meu coração pulsava com ansiedade pelo que estava prestes a enfrentar.

Ao me aproximar da Alcateia, podia sentir a presença dos outros lobos. O cheiro familiar e reconfortante de Scott e a sensação de união que compartilhávamos eram um alívio momentâneo em meio à tempestade de emoções. O desafio estava diante de nós, e não havia como voltar atrás.

Chegando na entrada da Alcateia, transformei-me e coloquei as roupas da sacola. Cumprimentei os guardas e vi meu pai, Ridard, no centro da Alcateia. Sua face estava cansada e abatida, com uma barba desgrenhada, e seu corpo estava notavelmente magro.

— Pai! — falei quando cheguei à frente dele. — Está na hora de passar o poder!

Pensei que ele iria revidar ou iniciar uma discussão, mas apenas suspirou e deu de ombros.

Ali, consegui perceber que, para ele, compensa mais desistir, já que não havia mais ninguém ao seu lado ou pelo que lutar. Ao testemunhar a resignação nos olhos de meu pai, uma mistura de tristeza e compaixão invadiu meu coração. A sensação de ver alguém que um dia fora um líder forte e determinado agora desistindo, deixava um vazio dentro de mim. Era difícil reconciliar o homem à minha frente com a imagem do líder respeitado que ele costumava ser.

Meus pensamentos estavam em um turbilhão, mas a necessidade de proteger a Alcateia e manter a integridade de nosso povo se sobrepunha. Eu sabia que esse momento inevitável havia chegado, e, apesar das emoções conturbadas, era hora de assumir a liderança e guiar nossa Alcateia para um novo capítulo.

— Te entrego o poder, para ser o líder dessa Alcateia! — disse Pai Ridard. — Pode fazer o que quiser com isso!

Tentei sorrir, mas o clima ao redor dele era tão sombrio e depressivo que me fez desistir de tentar sorrir.

— Vamos tentar consertar a sua relação com meu pai, Sao — falei, buscando animá-lo com essa possibilidade. — Pode não parecer, mas ele também sente sua falta, embora esteja se sentindo traído pelo que você fez.

Pai Ridard suspirou, e quando ia responder, ouvimos trombetas. Virei-me na direção do som e avistei uma carruagem muito decorada se movendo através de uma névoa dourada, com várias criaturas pequenas dirigindo na frente.

A carruagem parou, as criaturas foram para a lateral e abriram a porta. De lá, desceu um rapaz com expressão séria, vestindo roupas elegantes feitas de um tecido leve, uma capa azul prendendo em um ombro, e uma coroa com uma pedra violeta na testa.

— Lorde Brand — falei, fazendo uma reverência, assim como todos ao nosso redor.

— Essa é a Alcateia Whitlock? — Brand perguntou com certa indiferença.

Ouvi uma voz pequenininha e me levantei. Vi que uma das criaturinhas falava no ouvido do lorde, que assentia meio pensativo.

— Entendo, então resolveram o problema do líder? — Brand perguntou, e a criaturinha voltou a falar em seu ouvido. — Não sabemos disso, ou ninguém nos informou.

O Lorde se virou na nossa direção, e engoli em seco, pois seu olhar inspirava medo só de estar em cima de mim.

— Lorde Brand, iremos decidir isso agora — falei, e Brand me encarou. — Não é, pai?

Pai Ridard assentiu.

— Isso mesmo, irei ceder o direito do meu filho Sha ter o poder como líder da Alcateia — Pai Ridard falou, fazendo uma reverência ao ficar ao meu lado. — O tornarei o líder oficial da nossa Alcateia, perante a sua humilde presença.

Fez-se um silêncio, e só ouvimos a respiração de cada um ao nosso redor, além de algumas risadinhas travessas das criaturinhas que estavam sentadas na carruagem, observando tudo atentamente.

— Pois bem! Já que está decidido... — O lorde iria falar algo, mas tossiu.

Um silêncio tenso se fez.

— Quem ousa me interromper? — o lorde perguntou, extremamente frio.

As criaturas voaram até uma direção onde estava um rapaz que usava roupas da realeza dos feéricos. O ar ao seu redor era imponente.

O rapaz feérico olhou para o Lorde Brand com uma expressão indiferente antes de se aproximar e sussurrar algo em seu ouvido. O lorde assentiu, e o feérico se afastou.

— Peço desculpas pela interrupção, Lorde Brand. Mas achei que o grande rei das fadas e esposo do Lorde das Fadas deveria estar presente — Milo disse.

O clima tenso começou a se dissipar enquanto o grande rei caminhava elegantemente em nossa direção. Ele exalava uma presença majestosa e, ao mesmo tempo, gentil.

— Lorde Brand, tenho ciência do que está em jogo aqui. Zack Whitlock, o novo líder da Alcateia, tem meu apoio e a bênção do Lorde das Fadas. — Milo declarou, olhando diretamente nos olhos de Brand.

A tensão diminuiu ainda mais, deixando no ar uma sensação de alívio. Parecia que o destino da Alcateia estava mais seguro com o apoio do grande rei das fadas.

— Como também vim ver se não faria nada tão drástico como uma morte só por se irritar — Milo falou, e eu me surpreendi ao vê-lo dando uma bronca em um Lorde. — E você me prometeu um encontro.

— Querido... — o lorde começou. — Eu só estou resolvendo alguns assuntos.

— Querido, nada me engana, e você disse que sobre esse assunto iríamos resolver juntos — Milo falou, se virando para mim e meu pai. — Olá, sou Milo Almeida, ou melhor, o grande rei das fadas.

— É um prazer, sou Zack Whitlock, o líder dessa Alcateia — falei, e Milo sorriu de orelha a orelha.

— O nome de sua Alcateia é muito conhecido no submundo, mas pelo que aconteceu nos últimos dias, parece que já decidiram quem será o novo líder desse lugar — Milo disse. — Assenti rapidamente, como os outros presentes no local. Milo parecia alguém tão imponente, mas quando olhei para ele por alguns segundos, percebi um brilho diferente em seus olhos.

— Ótimo, então vamos resolver esses assuntos que Brand e eu temos que tratar antes de sair para um encontro — Milo disse, e assim começamos a tratar dos assuntos pendentes.

Em determinado momento, notei que o Lorde Brand olhava para Milo completamente admirado e apaixonado. A dinâmica entre eles era fascinante de observar, e parecia que havia muito mais na relação deles do que se podia perceber à primeira vista.

Passamos algum tempo discutindo e resolvendo as questões pendentes, e ficou claro que o grande rei das fadas, Milo, tinha uma influência significativa no submundo. Seu apoio e intervenção ajudaram a garantir uma transição suave na liderança da Alcateia Whitlock.

Ao finalizar as conversas, Milo olhou para Brand com um olhar carinhoso e disse:

— Agora, meu amor, podemos ir para nosso encontro. E por favor, da próxima vez, não tome decisões impulsivas sem me consultar.

Brand concordou com um sorriso, e eles se retiraram da Alcateia juntos. Enquanto os observava partir, senti um misto de alívio e gratidão por ter o apoio de seres tão poderosos.

A Alcateia Whitlock estava diante de uma nova era, e eu estava determinado a liderar com sabedoria e justiça. Com o comprometimento de todos ao nosso redor, incluindo o suporte inesperado de Milo, acreditava que poderíamos superar qualquer desafio que viesse em nosso caminho.

Assim, com um sentimento de esperança renovada, preparei-me para guiar minha Alcateia para um futuro melhor, com a certeza de que estávamos mais fortes e unidos do que nunca.

________________________

Gostaram?

Até a Próximo 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top