Scott Prescott:

A mensagem do meu pai, Jacob, continuava martelando em minha mente, como um alerta urgente, pedindo minha ajuda. Isso me deixou em estado de alerta, preocupado com o que poderia estar acontecendo em casa.

Scott,

Venha para casa nesse momento é algo muito urgente, só diga isso para o Levi!

Balancei a cabeça e sabia que levaria muito tempo até que eu chegasse à casa dos meus pais. Então, um pensamento surgiu. Será que consigo usar o véu das dimensões, assim como minha avó faz?

Bem, eu sou parte titã e tenho certeza que devo ser capaz de usar magia, mas chega a ser loucura que não pedi para minha avó me ensinar, ou muito menos para meu pai, Gabriel, me explicar como usar. Acho que até Rol poderia ser capaz de me ensinar como manipular esse véu e andar através dele.

Passei por um corredor e me escondi no armário do zelador, concentrando tudo o que tinha em mim. Então, minhas mãos começaram a brilhar em tom vermelho alaranjado, com uma intensidade que iluminou a escuridão do lugar. Continuei me concentrando, e o brilho saiu da minha mão e se chocou com a parede, que brilhou e ficou clara. Através dela, vi os contornos da sala de estar. Sentados no sofá estavam meus pais, com expressões preocupadas e tensas.

Com o coração acelerado, observei meus pais através da parede iluminada. Eles pareciam estar envolvidos em uma discussão acalorada, seus rostos tensos e preocupados. Aproximei meus dedos do portal que se formou e nada foi como se tivesse tocado em algo sólido.

— Um pouco mais — Resmunguei e me concentrei. — E dessa vez com tudo que tenho.

O brilho aumentou, e tudo se iluminou em segundos. Então, o portal brilhou e veio em minha direção com força. Quando entrou em contato com meu corpo, uma bruma branca explodiu ao meu redor, e formas começaram a aparecer na bruma à medida que ela ficava mais densa.

Tudo ao meu redor brilhava em um vermelho alaranjado tão intenso e reluzente. Havia um ruído ao meu redor, como uma tempestade se formando, e em segundos a beira da tempestade me capturou. Fui elevado do chão e carregado. Vi a sala de estar se afastar a uma velocidade incrível, e o som da tempestade se tornou ensurdecedor, me fazendo gritar, que se misturou com os sons de uma ventania impetuosa.

Vi-me caindo no caos, com várias cenas surgindo diante de mim em flashes de paisagens, e por um instante, achei que iria cair entre as dimensões.

Então, o chão surgiu rapidamente. Notei o piso da sala, mármore duro e branco, antes de atingi-lo. A colisão foi forte, fazendo-me ranger os dentes; sentei-me e olhei ao meu redor.

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Meus pais estavam começando a olhar na minha direção, surpresos, como se eu tivesse surgido do nada — o que era o caso.

Pai Gabriel foi o primeiro a reagir.

— O que diabos acabou de acontecer? — ele disse, ajudando-me a levantar do chão e me sentar no sofá.

— Gabriel, olha a boca — Meu pai Jacob disse enquanto franzia a testa, repreendendo-o.

Ele olhou para mim e depois para o local de onde eu havia acabado de sair.

— Eu usei o véu das dimensões, é um ótimo caminho — Falei.

— Mas nós e sua avó nunca te ensinamos isso — Meu pai Gabriel disse, com descrença. — Scott, foi muito perigoso fazer algo desse tipo sem nunca ter treinado antes. Qualquer requisito de magia que você tenha poderia fazê-lo cair em outra dimensão ou, quem sabe, despedaçar todo o seu corpo.

— Sinto muito, mas eu não sabia que tinha magia até poucos dias atrás — Falei com um sorriso. — Mas pela primeira vez, foi um sucesso. — Ele me olhou como se eu fosse maluco. — Então o que aconteceu?

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos antes de meu pai Jacob soltar um suspiro.

— O local onde a sua... — Pai Jacob começou a falar. — Onde sua mãe está internada ligou para o seu pai alguns instantes antes de você mandar a mensagem. — Ele então hesitou, olhando para mim com um olhar cheio de compreensão. Ele sabia que esse era um tópico sensível para mim. — Eles disseram que a sua mãe, Melanie, está em estado crítico. Ela pediu para ver você antes que seja tarde demais. Não é fácil para nenhum de nós, mas ela é sua mãe, e a decisão de vê-la é sua. Não esperamos que você tome uma decisão imediatamente, mas queríamos que soubesse.

Ao ouvir o nome de minha mãe, Melanie, uma enxurrada de emoções me inundou. Ela havia me abandonado quando eu era criança, e, desde então, eu havia passado por uma vida inteira sem ela. A ideia de vê-la agora, em seu leito de morte, era avassaladora. Sentimentos de raiva, tristeza e confusão me preencheram, e eu não tinha certeza do que fazer a seguir.

As lembranças que eu tinha dela eram dolorosas, cheias de idas e vindas, sempre abandonando a mim e meu pai e, em seguida, retornando para atacar a nossa família sempre que tinha a oportunidade. A dor de suas ações passadas ainda pesava sobre mim, e agora, com a notícia de sua condição crítica, eu me via em um turbilhão de sentimentos conflitantes. A decisão de vê-la ou não era uma das mais difíceis que eu já tinha enfrentado.

— O que querem que eu faça? Ela foi embora da minha vida e só voltou para nos machucar — Falei após vários minutos de silêncio.

— Querido, sabemos disso perfeitamente, mas se quiser visitá-la, pode ir sem pensar que iremos colocar qualquer tipo de culpa em você — Meu pai Jacob disse docemente enquanto apertava minha mão.

Meu pai Gabriel olhou para mim em total silêncio.

— Estamos à sua disposição para o que precisar, e só basta dizer que vamos te levar até onde ela está — Meu pai Gabriel disse com cautela, mas conseguia-se perceber que ele estava controlando sua raiva.

O que eu queria dizer era que não queria vê-la nem pintada de ouro em toda a minha vida. Ela me magoou profundamente, e eu sabia perfeitamente que eu deveria ser superior neste momento, ir até ela, estender a mão e oferecer o perdão em seus últimos momentos.

— Eu vou querer ir até lá — Respondi com determinação.

Meus pais assentiram, apoiando minha decisão, embora fosse evidente que a situação era complexa e carregada de emoções complicadas.

— Estamos ao seu lado, Scott, independentemente do que decidir — Pai Jacob disse, sua voz cheia de apoio.

A ideia de enfrentar minha mãe, Melanie, era assustadora, mas também senti que era uma oportunidade para encerrar um capítulo doloroso do meu passado. Eu não tinha certeza de como essa visita se desdobraria, mas estava disposto a enfrentar meus medos e emoções para encontrar uma espécie de encerramento.

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A Clínica das Almas fica a vinte e cinco minutos de carro da cidade. O sol da tarde bate forte sobre o capô do carro. Depois que passamos pelos prédios, centros de comércio e casas, não há muito o que ver, e nada realmente me interessava.

Apenas planícies secas com alguns arbustos e árvores delgadas aqui e acolá. Toda vez que meu pai Gabriel começa a falar, respondo de forma monossilábica e aumento o volume do CD player recém-instalado, enquanto meu pai Jacob fica em silêncio como se quisesse ser neutro nessa situação.

Finalmente, toca uma música — uma canção acústica e melancólica que me deixa em completa calmaria.

Entramos em uma estrada longa e sinuosa. Passamos por uma placa desbotada: Clínica Das Almas: oferecendo paz e sossego a mentes fatigadas desde 1942.

Abro a janela do carro e deixo entrar uma brisa morna. Gizmo descansa enquanto esperamos a resposta do portão automático de ferro. Meu celular vibra, é uma mensagem de Levi perguntando onde estou ou qual é a emergência.

Dirigimos em direção ao prédio de tijolos de quatro andares; o vermelho se destaca em contraste com o céu azul. Parece um bolo confeitado em formato de casa, mas os detalhes brancos no telhado triangular parecem mais dentes afiados do que cobertura de glacê.

Os corredores me desestabilizam com suas macas longas e vazias e luzes amarelas piscantes. Azulejos brancos ecoam os sons e enfermeiras em uniformes listrados verde-água e branco borram minha visão periférica.

Fico contando os segundos enquanto meus pais falam com a enfermeira atrás do balcão para saber o quanto foram chamados pelo responsável pelo quadro de saúde de Melanie. Pisquei os olhos e vi um pequeno brilho mágico surgir e pousar na minha mão, o que me surpreende. Ele voou ao redor de minha cabeça e, em seguida, disparou pelo corredor.

Meu pai Gabriel para ao meu lado enquanto olho na direção que o brilho mágico havia seguido. Estava claro que algo estava acontecendo ali, algo além do esperado na Clínica das Almas.

— Tem certeza de que está bem? Se quiser, podemos ir embora — Meu pai, Jacob, disse.

Balancei a cabeça, concordando, e afastei a alucinação da magia. Isso não era importante naquele momento.

— É que eu não sei o que devo sentir neste momento. — Era apenas uma meia verdade.

Eu queria poder gritar com ela e jogar na cara as consequências de suas decisões, mas também lembrava que, quando ela veio uma vez antes de atacar meus pais há três anos, conversei com ela, querendo entender por que ela havia abandonado o próprio filho e marido. Ela simplesmente riu, dizendo que não se via tendo uma família e que só havia ficado com meu pai por causa de pressões de sua própria família devido à gravidez.

Me disse que quando nasci e me pegou em seus braços, ela sentiu um desprezo ainda maior por tudo, e no final, ela foi embora. Ela até confessou que tinha tido pensamentos sombrios sobre se livrar de mim.

Meus pais me olharam com compreensão nos olhos. Eles sabiam que essa situação era complexa e carregada de mágoas antigas.

A enfermeira finalmente voltou e nos conduziu até o quarto de Melanie. No caminho, tentei me preparar mentalmente para o que iria enfrentar. Entrei na sala e lá estava ela, deitada na cama, frágil e pálida. Seus olhos se iluminaram quando me viram, e uma mistura de emoções passou por seu rosto.

— Scott, meu filho... — Ela sussurrou, com a voz fraca.

Eu não sabia o que dizer. Tantas palavras e sentimentos misturados em meu coração. No entanto, eu estava ali por uma razão, e sabia o que precisava fazer.

— Melanie, estamos aqui para... conversar — Eu disse com determinação, tentando encontrar um equilíbrio entre o desejo de confrontá-la com razão e não deixar minha raiva explodir.

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Gostaram?

Até a próxima 😘