Capítulo Dezesseis
Zack Whitlock:
Olhei para o livro que estava à minha frente, enquanto a loucura da faculdade mundana ainda pesava em meus pensamentos. Eu estava tentando assimilar as informações que eles haviam aprendido e compará-las com o que eu havia aprendido ao crescer na alcatéia.
Eles usam uma abordagem mais lógica para explicar todos os eventos em seus livros de história. Cada acontecimento é minuciosamente analisado e contextualizado.
Conforme folheava as páginas, pude sentir a pressão do conhecimento que estava contido ali. Os detalhes, as datas e as análises críticas que preenchiam as páginas me faziam questionar se eu estava pronto para enfrentar os desafios da educação humana.
À medida que lia, percebi o contraste entre a abordagem analítica da faculdade e a sabedoria da alcatéia, que se baseava em experiências e tradições transmitidas de geração em geração. Era um choque cultural que me levava a refletir sobre o valor de ambas as perspectivas e como poderia incorporar o que aprendia na minha jornada.
— Zack, o que está fazendo aqui sozinho? — Scott perguntou, sentando-se na cadeira ao meu lado.
Hoje, eu estava no refeitório da faculdade, imerso na leitura dos livros que havia pego na biblioteca. Já havia conseguido passar por grande parte deles.
— Lendo — Falei.
Scott olhou para a pilha de livros e depois para mim, soltando um assobio com uma expressão chocada no rosto.
— Quando pegou esses livros? — Scott perguntou.
— Hoje pela manhã — Respondi.
— Você leu sete livros de história, cada um com mais de mil páginas, em menos de quatro horas — Scott disse, chocado.
Minha expressão era uma mistura de orgulho e surpresa, mas também um pouco de cansaço.
— É, acho que me empolguei — admiti, esfregando os olhos.
Scott riu e balançou a cabeça.
— Isso é impressionante, Zack. Eu mal consigo ler um livro em uma semana, e você devorou esses em horas. Você está realmente aproveitando a faculdade, hein?
Enquanto Scott falava, percebi que a curiosidade em seu olhar era evidente, como se quisesse saber mais sobre o que eu tinha descoberto nos livros.
— Eu gosto desse lugar, nunca fui muito além da alcatéia e só aprendi o lado dos submundanos, nunca cheguei a ver o que os mundanos apresentaram em sua história — Falei, coçando a nuca um pouco sem graça. — Meu pai, Richard, odeia ter qualquer envolvimento com os mundanos.
Scott assentiu compreensivamente.
— Entendo, Zack. É bom que você esteja disposto a explorar novos horizontes e aprender sobre o mundo dos mundanos. Muitas vezes, há muito a ser descoberto além da nossa própria realidade. A faculdade é o lugar perfeito para isso.
Conversamos sobre a importância de manter a mente aberta e as oportunidades que a faculdade oferecia, enquanto eu me sentia grato por ter encontrado alguém como Scott, disposto a compartilhar sua perspectiva e conhecimento comigo e como ele ouvia meus problemas sem me julgar.
Desde a infância, eu tinha que guardar o que eu sentia e pensava, para que não pudesse ser renegado pela minha alcatéia, e ainda mais pelos meus pais. Isso seria a pior coisa para mim.
— É difícil sentir que você precisa esconder quem realmente é, especialmente de sua própria família e alcatéia. Mas lembre-se de que estou ao seu lado nesse, vou apoiar em tudo se quiser explorar sua identidade e seus interesses. É um novo começo, Zack, e você não precisa mais guardar tudo o que sente e pensa. — Scott sussurrou e sorriu para minha direção, sua mão apertou a minha com delicadeza.
Isso me fez sorrir, essa foi a primeira vez além de quando fiz amizade com a Eloisa que finalmente consegui me abrir com alguém.
— Você é uma pessoa incrível e maravilhosa — Falei, com um sorriso sincero surgindo em meus lábios.
Scott piscou um olho na minha direção.
— Não é para tanto, só estou sendo aquilo que os meus pais me ensinaram a ser — Scott disse. — Estou sendo humilde e estendendo a mão para alguém que precisa de alguém para ouvi-lo.
— Por isso, sei que estou certo em te amar — falei. — Você é uma pessoa perfeita.
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Enquanto as outras pessoas entravam em fila na sala de inglês – a maioria dos rapazes com barbas de alguns dias por fazer e a maioria das alunas usando sandálias de plataforma e pulseiras brilhantes que me fizeram piscar os olhos doloridos –, Scott dava uma revisada em seus cartões de anotação. Naquela manhã, teríamos que fazer um relatório oral sobre qualquer coisa da nossa infância. Todas as nossas aulas são juntas, o que me deixa animado para perceber cada detalhe dele. Scott, quando está pensativo, morde o lábio sem nem perceber.
Então, a professora entrou apressada, colocando suas coisas sobre a mesa.
— Tudo bem, turma — começou ela — nós temos um monte de coisas para fazer hoje. Se acalmem.
Uma garota se virou e deu um sorrisinho forçado para Scott.
— Você conseguiu elaborar alguma coisa? Eu fiz, mas só ficou parecendo algo muito louco — Ela perguntou.
— Não deve estar tão mal, Samantha — Scott disse.
— Nunca diga nunca — Samantha respondeu.
— Com isso devo concordar — Falei.
— Tudo bem. — A professora foi até o quadro-negro. — Todo mundo está pronto para o relatório, né? Não tenham vergonha de se apresentar, é só algo sobre um momento de alegria para vocês. Não tem como ninguém errar.
A mão de Scott se ergueu. A professora concordou com a cabeça. Ele foi até o púlpito, na frente da classe. Notei que ele, rapidamente, releu as primeiras marcações em seus cartões de resumo.
— Ano passado, fui a um parque — começou a dizer com um sotaque perfeito em inglês — Meus pais e meu irmão ao meu lado, em perfeita harmonia. — Fez uma pausa. — Imagine a cena: uma fila enorme de pessoas esperando para entrar. Consegui sentir a alegria na pele de cada pessoa ao ver sua expressão de puro divertimento.
Ele deu uma olhadinha para a turma.
— Eu podia sentir a energia, a excitação, a paixão no ar. E era tudo por causa da emoção de ter meus familiares ao meu lado naquele momento de pura alegria — acrescentou ele em um sussurro que ouvi perfeitamente. — Você iria adorar.
— Que legal! — Respondi com um sorriso.
Scott sorriu.
Scott continuou seu relato, envolvendo a turma com suas palavras cheias de entusiasmo. Ele descreveu as atrações, as risadas e a felicidade compartilhada em detalhes vívidos, e sua expressão refletia a paixão que sentia pela experiência. Era como se ele estivesse transportando todos nós para aquele dia no parque, e podíamos sentir a emoção através de suas palavras.
Quando terminou, a sala de aula estava repleta de sorrisos e aplausos. A professora elogiou a apresentação de Scott, e eu sabia que ele tinha conquistado a admiração de todos. Enquanto ele retornava ao seu lugar, seu olhar encontrou o meu, e houve um breve momento de conexão entre nós. Scott era realmente uma pessoa notável.
Ele se sentou ao meu lado enquanto Samantha levantou a mão e começou sua apresentação.
Virei-me para Scott.
— Isso foi incrível — murmurei. — Você falou perfeitamente.
— Não é para tanto — ele disse. — Meu pai Jacob me ensinou a falar várias línguas desde que ele e o Levi começaram a morar com a gente.
— Isso até que faz sentido, considerando como seu pai enviou um monte de livros para mim estudar e também para o Levi — Falei, e Scott sorriu.
Então um celular começou a tocar baixinho. Devagarinho, Scott se abaixou e pegou o aparelho. Havia uma nova mensagem de texto que fez com que ele fechasse a expressão com raiva.
Tentei ver o que era, mas ele desligou e fechou o telefone rapidamente. No entanto, depois o abriu novamente e leu a mensagem de novo. E de novo. Conforme lia, percebi que ele ficava cada vez mais tenso.
— Isso não pode estar acontecendo — Scott sussurrou.
O olhar preocupado de Scott me deixou apreensivo.
— O que aconteceu? — Perguntei em um sussurro.
Scott hesitou por um momento antes de responder.
— É uma mensagem do meu pai, Jacob. Ele diz que algo deu incrivelmente errado e que precisam da minha ajuda imediatamente. — Ele parecia visivelmente perturbado.
— O que você vai fazer? — Perguntei, preocupado.
Scott respirou fundo e olhou para mim.
— Preciso ir até a casa dles o mais rápido possível. Mas prometi que ajudaria Levi com os estudos hoje. Você poderia me fazer um favor?
— Claro, o que precisa?
Scott sorriu agradecido.
— Pode explicar ao Levi que algo urgente surgiu e que tive que partir? Diga a ele que voltarei o mais rápido possível.
Assenti com a cabeça.
— Claro, farei isso. Cuide-se, Scott.
Ele se levantou apressadamente e saiu da sala de aula, deixando-me preocupado com o que poderia estar acontecendo com a família dele.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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