Bônus Um
Narrador:
Drytar Wolflord contemplava o sorriso de seu pai quando um de nossos subordinados trouxe um envelope vermelho.
— É do espião? — ela perguntou.
— Sim, é dele — seu pai respondeu, abrindo o envelope e começando a ler o papel, sorriso se formando lentamente em seus lábios.
— O que diz? — ela perguntou, pegando o papel de sua mão e começando a ler o conteúdo. — Eles ainda pensam que podem nos enganar com mentiras tolas.
— Não, só isso, garota — seu pai falou, recuperando o papel. — Eles acham que não podemos forçá-los a nada ou que não temos nossos meios.
— Então isso quer dizer que vamos à guerra. Afinal, como disse, se o futuro líder não se casar comigo, iremos à batalha! — ela respondeu com um sorriso. — A guerra vai acontecer.
— Sim, a guerra das Alcateias vem — seu pai disse, um imenso sorriso surgindo em seus lábios. — E dessa vez vamos ganhá-la.
Ambos estavam se divertindo com isso até que veio o primeiro grito. Seu pai resmungou, levantou-se, e Drytar o seguiu até a tenda onde a bruxa estava aprisionada.
Ao entrarem na tenda, a atmosfera estava impregnada de tensão e murmúrios sussurrados. A bruxa, com suas vestes escuras e olhar penetrante, levantou a cabeça quando os dois entraram, ao redor dela estavam os braços manchados de sangue preto como lodo e a magia dela se desfazendo.
— O que está acontecendo? — indagou Drytar, observando a agitação ao redor.
Seu pai, com a testa franzida, respondeu:
— A situação é mais complicada do que imaginávamos. Parece que nossos inimigos conseguiram derrotar as marionetes da sua irmã que ela criou com sua própria carne e sangue — ele disse, e Drytar sentiu repulsa ao se lembrar disso.
Ambas nunca poderiam ser irmãs; enquanto ele era uma nobre loba com status a manter entre os submundanos, a coisa imunda que via à sua frente era apenas uma criança ilegítima que o pai fez com qualquer bruxa que encontrou em suas inúmeras viagens pelo submundo.
A lembrança ainda persiste da época em que a amante do pai veio até aqui e a abandonou na frente de todos os guardas. Só a aceitaram porque a mãe de Drytar era uma tola que se importou com a criança ilegítima.A pequena foi acolhida por aquele coração generoso, contrastando com a frieza daqueles que a rejeitavam por sua origem impura.
Drytar cresceu sob a sombra dessa história, alimentando seu desprezo pela amante do pai e, ao mesmo tempo, nutrindo um ódio por sua mãe, que simplesmente aceitou uma criança impura e a tratava como se fosse sua filha. Drytar agradece por seu pai nunca ter concedido poder à mãe, que tinha muitas ideias tolas, e impediu a bruxa imunda de sair da alcateia. Poucas pessoas sabiam de sua existência, mas quando a mãe faleceu, a maldição persistiu com um selo que só poderia ser desfeito pelas ordens do pai ou da irmã, enquanto usassem a magia dela a seu bel-prazer.
Com o passar do tempo, enquanto Drytar crescia, ela se tornava cada vez mais bela, o que aumentava ainda mais o ódio de Drytar por Dimetria. Ele fazia de tudo para provocar o pai a castigá-la das piores maneiras, na esperança de torná-la horrenda.
O ressentimento de Drytar contra a meia-irmã se aprofundava à medida que os anos passavam. Ele utilizava toda a sua influência sobre o pai para enredar a meia-irmã em situações desfavoráveis, buscando qualquer oportunidade para fazê-la sofrer. Drytar estava decidido a mostrar ao pai a verdadeira natureza impura da bruxa, na esperança de desiludir completamente o progenitor.
No entanto, enquanto Drytar se empenhava em alimentar seu ódio, Dimetria demonstrava uma força interior notável de querer sobreviver. Apesar de todos os obstáculos colocados em seu caminho, ela persistia com dignidade e resiliência, o que apenas intensificava a frustração de Drytar.
E assim, envolvidos em um ciclo de rancor e intriga, Drytar e sua meia-irmã estavam destinados a colidir em um confronto inevitável, lançando sombras sobre as Alcateias que, até então, pareciam inabaláveis.
Drytar fitou-a com um misto de desdém e desgosto, enquanto seu pai prosseguia com a explicação da traição.
— Essa bruxa insolente teve a audácia de criar marionetes em nome da minha própria carne e sangue e ainda ousar perdxer-las em combate contra aquela titã e o mestiço. Como você ousa se intitula minha filha? — disse ele, cerrando os punhos.
Drytar sentiu a fúria crescer dentro de si. A ideia de sua linhagem nobre ser manchada por uma ligação sanguínea com uma bruxa era inaceitável, mas agora com alguém que consegue ser completamente falho é ainda pior. Ela olhou para o pai com olhos flamejantes.
— Pai, ela é inútil. Por que não nos livramos dela de uma vez por todas? — Drytar disse, e o pai a encarou com indiferença. — Precisamos eliminar essa farsa e restaurar a honra da nossa linhagem. Não podemos permitir que essa impostora ameace nossa posição entre os lobos.
O pai, ponderou as palavras de Drytar com uma expressão imperturbável. Os olhos cansados revelavam a complexidade de suas emoções, enquanto ele refletia sobre o conflito que se desenrolava dentro de sua própria família.
— Drytar, a harmonia das Alcateias não pode ser comprometida por nossos ressentimentos pessoais. A magia que a prende é um vínculo que deve ser manuseado com cuidado. Não podemos ignorar o fato de que ela é parte de nós, de nossa linhagem.
Drytar lançou um olhar de desdém, mas antes que pudesse responder, a Dimetria interveio com uma calma surpreendente.
— Pai, compreendo as preocupações de Drytar, mas estou aqui para servir as Alcateias da melhor maneira possível. Se minha presença é um fardo, estou disposta a fazer o que for necessário para proteger nossa casa. — Ela disse abaixando a cabeça para o pai em um claro respeito.
A tensão pairou no ar, e o pai ponderou as palavras das duas figuras que representavam partes distintas de sua herança. A decisão que ele tomaria moldaria não apenas o destino da bruxa impura, mas também o curso das Alcateias.
— Não ouse falhar novamente ou será a última vez — o pai disse, virando-se e saindo da tenda.
As palavras ecoaram como um trovão na mente de Drytar, mordeu os lábios com força antes de lançar um último olhar de desdém em direção à meia-irmã antes de seguir o pai para fora da tenda.
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Dimetria suspirou, sentando-se no chão e observou os próprios braços. Desta vez, ela havia sido astuta o suficiente para pelo menos inserir uma brecha no círculo mágico das marionetes. Mesmo que isso tivesse um preço, ela sabia que precisava ser cautelosa. Olhou para seus braços, ponderando sobre as implicações da decisão que tomara.
Se esse foi o preço que precisava pagar para conquistar a liberdade, Dimetria estava mais do que disposta a suportá-lo. Seu raciocínio era claro: se revelasse toda a extensão de sua magia, seu pai e Drytar poderiam encontrar uma solução, se preparar a tempo para qualquer ameaça iminente. Ao manter sua verdadeira força oculta, ela tinha a vantagem de surpreender, de fazê-los acreditar que estavam no controle da situação, mesmo que apenas temporariamente.
Com essa estratégia em mente, Dimetria sabia que a arte da dissimulação e da paciência seriam suas aliadas cruciais. Cada passo calculado, cada revelação cuidadosamente cronometrada, era parte de um jogo intricado que ela estava determinada a jogar para manter a ilusão de submissão enquanto secretamente tecia os fios de seu próprio destino.
Ela compreendia que permanecer ali por mais tempo seria perigoso. Conseguia ouvir perfeitamente os lamentos dos mortos, clamando por clemência, até que uma voz sombria surgisse e silenciasse os clamores, substituindo-os por maldições de todos os tipos. Essas palavras malditas ecoavam no ambiente, fazendo com que Dimetria sentisse calafrios percorrendo todo o seu corpo. Cada suspiro parecia carregar consigo uma carga de desespero e agonia, aumentando a sensação de que o próprio local estava imerso em uma aura sinistra e ameaçadora.
Em meio aos ecos sombrios, Dimetria ergueu-se do chão, decidida a não sucumbir ao temor que ameaçava envolvê-la. A voz sinistra continuava a entoar suas maldições, mas ela estava determinada a não ser vítima de suas palavras nefastas.
Com passos decididos, Dimetria deixou para trás o lugar impregnado pela aura sombria, seguindo adiante em direção à incerteza do seu destino. A liberdade que buscava estava entrelaçada com os desafios que enfrentaria, mas ela estava disposta a pagar o preço por sua autonomia.
Os mortos podiam clamar, e as maldições podiam ecoar, mas Dimetria estava decidida a trilhar seu próprio caminho, desafiando as amarras do destino que tentavam prendê-la. O futuro, repleto de incertezas e perigos, estendia-se diante dela, mas a loba estava pronta para enfrentar o desconhecido e forjar sua própria narrativa, longe das sombras que buscavam consumi-la.
Era exatamente isso que ela faria, uma lição que sua madrasta, ou melhor, sua verdadeira mãe, lhe ensinara quando ainda estava viva. Seu coração apertou ao lembrar da mulher que a criou, aquela que desempenhou o verdadeiro papel materno em sua vida.
As lembranças da sabedoria compartilhada, dos conselhos sábios e do amor que transcendeu as aparências eram um tesouro guardado no íntimo de Dimetria. Mesmo diante dos desafios e do perigo iminente, ela se sentia fortalecida pela herança de coragem que sua mãe lhe passou.
Determinada a honrar a memória da mulher que acreditou nela quando ninguém mais o fez, Dimetria avançou, guiada não apenas pela magia que pulsava em suas veias, mas também pelo legado de força e compaixão deixado por sua verdadeira mãe.
Quando sua mãe faleceu, foi como se o significado desvanecesse de sua existência. A perda da mulher que lhe ofereceu amor incondicional e orientação transformou o mundo de Dimetria em uma sombra do que costumava ser. O vazio deixado por sua partida era uma ferida que persistia, apesar do tempo que passou.
A ausência daquela que a conhecia melhor do que qualquer outra pessoa deixou uma lacuna profunda em seu coração. O apoio constante, os conselhos sábios e o calor da maternidade foram perdidos, e Dimetria se viu navegando por um mar de incertezas sem a bússola segura de sua mãe para guiá-la.
No entanto, mesmo na ausência física, a influência e o amor de sua mãe continuavam a moldar a trajetória de Dimetria. As lições transmitidas e o amor eterno eram uma chama que ela carregava consigo, iluminando os momentos mais sombrios de sua jornada. A busca por liberdade agora era também uma homenagem à memória daquela que acreditou nela quando ninguém mais o fez.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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